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título: palhacito
data de publicação: 19/09/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #palhacito
personagens: melissa e tia elvira

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. E hoje eu vou contar para vocês a história da Sandra. — Ê, Sandra… — então vamos lá, vamos de história.

[trilha]


Sandra é uma pessoa muito divertida — sabe gente, assim, que é extrovertida, que fala com todo mundo, que qualquer rodinha que chega todo mundo gosta? Sandra é assim, apaixonante — e ela tem um grupo de amigos que todo mundo conhece bem a Sandra ali, está acostumada com o jeito dela e ela tem amigos de outros grupos, então tem o pessoal do trabalho, tem o pessoal do curso de inglês que ela faz e no curso de inglês que ela faz, ela conheceu uma galerinha, assim, mais sofisticada, sabe? — Era um curso mais caro que a empresa paga 50%. Então era um pessoal, assim, mais diferenciado… — E essa galera, uma turminha ali — contando com a Sandra — cinco pessoas e essa galera resolveu que ia passar uns dias na praia. “Ah, feriado prolongado… Vamos pra praia? Vamos pra praia?”, “vamos” e nesse grupo tem uma menina — que a gente vai chamar aqui de Melissa — que a tia dela mora na praia num casarão.

A casa da tia tem oito quartos… — 8 quartos… — Sendo duas suítes e os outros seis quartos e cada três quartos tem um banheiro que serve aquele quarto. — Então, gente, a gente está falando aqui de coisas de rico e a Sandra não é uma pessoa rica, ela é da classe trabalhadora. — Sandra chegou lá, uma casa maravilhosa… E a tia — que a gente pode chamar aqui de tia Elvira, a tia da Melissa — a tia Elvira super hospitaleira, recebeu todo mundo bem… Foi, assim, incrível. Sandra foi instalada num quarto sozinha — cada um ficou num quarto — e um quarto muito bonito, Sandra fez fotos, postou no Instagram e, como eu disse, um banheiro servindo aí a cada três quartos, então naquele lado do corredor o banheiro era para a Sandra, para Melissa e para uma outra moça. E no primeiro dia deu tudo certo, todo mundo foi para a praia, voltou, tomou banho e a Sandra ela gosta, como eu também gosto, de levar meus próprios cremes assim, shampoo para cabelo, essas coisas… E ela levou. 

Como é praia, você acaba tendo que lavar o cabelo todo dia pra não ficar aquela aquele sal do mar… Então ela lavou o cabelo — um box de vidro incrível, maravilhoso, um banheiro de revista de decoração, umas coisas que a Sandra nunca tinha visto, assim… Desde o box que é aquele inteiro até em cima, até a parede inteiro… Box com vidro até em cima, uns metais diferentes, enfim… No banheiro tinha uma estante também, então assim, ó: Onde bota a toalha é um negócio de louça, tipo um cesto, mas de louça que tinha as toalhas… O espelho do banheiro também incrível… Assim, gente, não tem nem o que dizer… — E no primeiro dia a Sandra foi lá, tomou seu banho, lavou seu cabelo, passou seu creme de cabelo, tirou seu creme e depois foi viver, foi fazer suas coisinhas de férias. Segundo dia, voltaram da praia, mesmo ritual… Sandra foi a primeira a tomar banho, o pessoal estava lá embaixo — um casarão, um sobrado, enfim — e ela tava lá, passou shampoo, belezinha… Foi no seu creme, que é um creme condicionador… E  tinha uma prateleira dentro do box, de inox cromado, — muito bonita, assim, coisa fina — e ela deixou o pote ali, usou e não tapou o pote, não fechou o pote, deixou aberto…

E aí tá ali embaixo do chuveiro, tirou o shampoo… [efeito sonoro de água caindo] E como que você usa creme no cabelo? Eu faço igual a Sandra, enfio a mão no pote, pego aquele tanto de creme, jogo no cabelo, é isso… Sandra foi lá, encheu a mão de creme… — Como ela tem o cabelo assim mais para o ondulado, quase cachos, assim, ela abriu o cabelo pra pôr o creme ali perto da nuca, que é onde embaraça mais… O meu também é assim… E o sal, ela passou bastante shampoo para tirar o sal, então o cabelo estava meio palha… — Quando ela botou o creme no cabelo, ela sentiu algo andar… A Sandra falou: “Não, será que bateu a água?”, e aí ela sentiu as patinhas de novo… [trilha de tensão] Naquele momento, Sandra percebeu que tinha um bicho — que não era tão pequeno — na sua cabeça, dentro do seu cabelo, andando rapidamente. — Talvez se enrolando nos fios, tentando sair… — Daqui pra frente, gente, é tudo um borrão… Sandra saiu do box sem abrir o box… 

A sorte é que o vidro do box é temperado e tinha uma película, então ele quebrou, mas ele não estilhaçou… — Antes de conseguir sair dali, ela se agarrou naqueles metais chiques da prateleira e tudo foi saindo da parede… [risos] Saindo do box, ela tropeçou naquela estantezinha chique que tinha dentro do banheiro e derrubou todas as coisas da estante… A estante se inclinou para frente e bateu naquele espelho chique [efeito sonoro de vidro estilhaçando] que ficava na parede de frente para a estante, que era um espelho, sei lá, de uns dois metros por três metros… — Pegava a parede, sabe? — Pelada ela saiu pelo corredor dos quartos, gritando… Nisso já tinham as amigas subindo… E ali, naquele corredor — aqui na minha casa também tem — Tia Elvira com uns móveis assim mais baixos, umas esculturas, umas coisas que ela gosta, uns bibelôs, umas coisinhas, Sandra foi rolando e derrubando tudo… — Pelada. — Chegou no topo da escada, e aí já tinham as amigas… “Pelo amor de Deus, o que foi?” e ela: “Tira, tira, tira, tira”. As amigas seguraram a Sandra e aí tiraram uma barata… — É uma barata que acho que só tem na praia… Ela é maior, mais cascuda. Eu não sei, ela parece um iPad. [risos] Ela, sei lá, é do tamanho de um celular quase, imensa… [risos] — Ainda viva, ainda forte, ainda lutadora a barata. 

Conforme uma das meninas conseguiu tirar do meio do cabelo da Sandra, a barata caiu no chão e saiu correndo. Sandra não se cortou em nada, mas tava com alguns hematomas — porque ela foi se batendo e batendo na própria cabeçe —, com a pele muito branca, então ficou já meio roxo na hora… E você olhava para o corredor, em direção ao banheiro, uma devastação assim… — Uma devastação. Tudo quebrado… Ela conseguiu quebrar móveis. — O banheiro parecia que tinha passado, sei lá, sabe quando invadem assim para quebrar tudo? [risos] Parecia isso. — Tia Elvira, uma senhora, foi subindo lentamente… A hora que ela viu, ela passou até mal. Aí Melissa: “Meu Deus, você tá bem? Você tá bem?”, e aí a Sandra começou a recolher as coisas e ver tudo o que ela quebrou, fotografar as coisas que ela quebrou… E, entre as coisas que ela quebrou, tinha um palhacinho, um bibelô, que era um bibelô antigo, que era um bibelô italiano, que era um bibelô caro… Elas recolheram os cacos… A Sandra fotografou tudo que porque ela sabia que aquilo ali ia gerar uma conta para ela, ela falou isso pra Tia Elvira, ela falou: “Pode chamar alguém para consertar esse banheiro que eu pago… Enfim, veja todos os prejuízos”.

E acabou ali a viagem para elas, elas tinham mais um dia para curtir, mas resolveram vir embora depois de arrumar as coisas, os cacos e tudo… E aí a Melissa ficou muito preocupada, tipo: “Será que a Sandra vai sumir e não vai pagar?”, mas a Sandra falou: “Imagina, conta comigo que eu vou pagar sim”. E ali, depois de dez dias, veio o orçamento do banheiro, aquele espelho gigante, o box que também era caríssimo, o bibelô… — A coisa mais cara que tinha ali era o bibelô de palhacinho, enfim… — A conta da Sandra por causa de uma barata: 26 mil reais. [efeito sonoro de caixa registradora] Tia Elvira deixou ela à vontade para fazer outros orçamentos… Ela fez e ela conseguiu um orçamento um pouquinho mais barato e um pouquinho mais caro… — Sem contar o palhacinho, só o palhacinho parece que era 11 mil ou alguma coisa assim… — De danos, de coisas do banheiro lá e do corredor, de esculturas que ela derrubou uns 15 pau… E aí ela fez os orçamento e falou: “É melhor eu pegar o que tia Elvira mesmo escolheu, porque se der problema, não é problema meu”. 

Então, o que ela fez? Ela pagou esses 15 mil que eram ali algumas obras de arte que ela quebrou — coisa que não era tão cara, mas arte — , o banheiro, esses 15 mil ela pegou um empréstimo na empresa dela e pagou pra Tia Elvira… E o palhacito lá, o bibelozinho que só tinha na Itália, não sei onde, ela conseguiu que uma amiga trouxesse… — Levou o cartão dela para pagar em euro… — E aí pagou lá, era parece que 2.100, 2.200 euros… E ainda ficou naquelas, né? Se parar a hora que voltar, ainda tem o imposto… Mas aí meio que palhacito passou ali nas coisas. [risos] Só conseguiu comprar esse palhacito um ano depois, quando uma amiga foi pra Itália e tal… — Mas eu achei a Sandra muito firmeza, porque realmente ela quebrou tudo… E era uma barata, gente… Eu não julgo, porque talvez faria a mesma coisa, talvez não quebraria tanta coisa porque eu desmaiaria, porque eu tenho pânico real, mas não julgo… E ela pagou todos os itens, todas as coisas e, inclusive, o palhacito… Ela faz inglês nessa escola ainda, né? Ainda hoje… É amiga da Melissa, que tem a tia Elvira, tia riquíssima até hoje… Ela é super bem vinda se ela quiser voltar lá na casa, mas pelo trauma, nunca mais quis voltar. [risos] —

E qual que foi? Ela provavelmente deixou aquele pote aberto a noite toda e a barata ficou ali dentro do pote de creme… — Se comendo, se descansando, se fazendo uma hidratação, não sabemos. — E aí a hora que ela pegou o creme, ela não viu que a barata tava lá e a barata também podia ter corrido, né? Só correu depois do estrago. [risos] Que ódio… Mas Sandra foi firmeza, né? Então aqui a gente tem um caso de uma pessoa que quebrou tudo e arcou com as consequências e pagou por tudo, inclusive pelo palhacito [risos] europeu. [risos] Que ódio… — Ah, mas se quebrar minhas coisas aqui também vou ficar arrasada. Nossa, já é bom saber que eu já não deixo nem ninguém usar meu banheiro. [risos] — O que vocês acham?

[trilha]


Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, oi, Déia, aqui quem fala é Carol, do Rio de Janeiro. Eu sempre tive muito pavor e desespero de barata. Meu filho era pequenininho na época, ele nem andava, tinha meses e eu cheguei em casa tarde da noite com ele, estava a chuva muito forte e eu vi uma barata correndo um pouco antes de acabar luz e eu não sabia pra onde ela tinha ido… Eu tenho pavor de barata. Eu peguei meu filho, na época eu morava em Brasília e morava numa saída da cidade que é um setor onde tem setor de motéis, peguei ele e fui dormir no motel com ele… Mas uma barata já me fez sair de casa e dormi no motel com meu filho… Eu tenho muito pavor, eu teria desmaiado tranquilamente, eu não teria dado esses 26 mil de prejuízo, não, mas eu consigo compreender completamente. Que desespero… Mas que bom que deu tudo certo, amizade continuou e a casa continua aberta pra quando você quiser voltar, né? Só pelo amor de Deus, leva aqueles crimes de “body pump”, sabe? Que você já tira assim direto, não precisa abrir o pote. Um beijo, gente. 

Assinante 2: Meu nome é Luíza, falo do Rio de Janeiro. Sandra, que situação por conta de uma barata… Mas eu super te entendo. Deve ter sido muito desesperador ter um bicho andando na sua cabeça. Com certeza você não quebrou nada por querer, foi um momento de desespero e infelizmente chegou a conta pra pagar. Foi um prejuízo muito grande, mas eu acho que você fez o correto de assumir a sua responsabilidade. Acho que não seria justo a Tia Elvira pagar mesmo ela aparentemente tendo uma situação financeira boa, a responsabilidade infelizmente era sua. Então, eu acho que isso serve de lição pra outras histórias que a gente já ouviu, que as pessoas não assumem a responsabilidade dos seus atos. Um beijo, Sandra. 

[trilha]


Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Sandra. Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]