título: palmira
data de publicação: 25/07/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #palmira
personagens: ana e dona palmira
TRANSCRIÇÃO
Este episódio possui conteúdo sensível e deve ser ouvido com cautela.
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]
Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. E hoje eu não estou sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje novamente é o Sebrae. Estão abertas as inscrições para o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios para o — Prêmio PSMN — que valoriza e inspira mulheres por meio de histórias de empreendedoras. O prêmio já beneficiou mais de 100 mil mulheres através de cursos, mentorias e workshops direcionados ao público feminino. Você pode se inscrever em cinco categorias disponíveis no prêmio Pequenos Negócios, Produtora Rural, Microempreendedor Individual, Ciência e Tecnologia e Negócios Internacionais.
As inscrições são gratuitas, vão até o dia 30 de julho. — Então, até o final desse mês, corre lá. — E para se inscrever, as candidatas deverão gravar e enviar um vídeo de até dois minutos. O tutorial já está disponível aí nas redes do Sebrae e eu vou deixar o link aqui na descrição do episódio, mas já entra aí, ó: sebrae.com.br/PremioMulherdeNegocios. — Essa história é uma história difícil aí, com gatilhos. — E hoje eu vou contar para vocês a história da Ana. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Ana desde que nasceu foi criada aí por sua avó Palmira. O relacionamento com a sua mãe — a filha de Dona Palmira e que deixou a Ana aos cuidados de Dona Palmira — sempre foi muito distante, porque ela resolveu seguir a vida em outro estado, então a Ana viveu sempre ali com a sua avó. E a Ana, até ela completar ali 12 anos, ela não entendia muito bem por que a mãe deixou ela com Dona Palmira. — Não quis criar a Ana, enfim. — E a Dona Palmira, que sempre foi muito honesta, muito direta, falou: “Ana, vem cá que a gente precisa conversar sobre isso, eu vou te contar a verdade, por que é que a sua mãe te deixou comigo?”. A mãe da Ana, casada, traiu o marido, engravidou de outro homem… Que era nítido… Então, assim, quando nascesse a criança, ela ia saber quem era o pai. — Porque na época ela era casada e saía com outro homem. — Quando nasceu a Ana, era nítido que a Ana não era filha do marido da mãe dela. — Era nítido. —
Então ali foi revelada a traição da mãe da Ana, ela era fruto dessa traição e ela tentou com que o pai da Ana assumisse a Ana, mas ele não assumiu porque ele era casado. Então a mãe da Ana era casada e traía o marido com um homem casado e nenhum dos dois — nem a mãe da Ana e nem o pai da Ana — quiseram largar os seus casamentos. O marido da mãe da Ana perdoou ela, mas falou: “Eu te perdoo, contanto que você não fique com essa criança”, e aí a mãe da Ana deu a Ana para a Dona Palmira. E a Ana, na época com 12 anos, ficou muito chocada, porque assim ela não imaginou que fosse essa história, mas a Dona Palmira contou tudo para ela. Mais um tempinho se passou e, ali com 15 anos, a Ana percebeu que ela não tinha interesse nenhum por meninos, mas que ela tinha interesse por meninas. Lá foi a Ana conversar com a Dona Palmira, ela foi muito acolhida por Dona Palmira, mas a dona Palmira falou: “Olha, a nossa família é uma família complicada… Aí na rua eu também fico muito preocupada com você. Então, por enquanto você é menor de idade tenta não ser tão espalhafatosa”. — Ela quis dizer assim: Seja mais discreta por enquanto, para você não sofrer, para a família não te xingar, enfim… —
E ali a Ana entendeu isso, mas quando Ana estava ali com seus 18 anos ela conheceu uma mocinha — que a gente vai chamar aqui de “Angélica” — que também tinha 18 anos e elas começaram a namorar. A primeira coisa que ela fez foi apresentar Angélica para Dona Palmira e ali tudo deu certo. Mas qual que era a preocupação da Dona Palmira? Como que seria na rua, se ela seria hostilizada, se ela sofreria alguma violência, enfim, Dona Palmira se preocupava muito com isso. Nessa mesma época — que ela tinha completado 18 anos —, a mãe da Ana, que a Ana conversava raramente, voltou a morar ali no estado e na cidade que a Ana morava. Ela ainda estava com aquele marido, foi o marido que não aceitou a Ana e Dona Palmira foi muito clara e falou: “Olha, aqui na minha casa você não vem morar, então você que alugue um lugar aí com o seu marido e vá morar aí com seu marido onde você quiser, mas aqui não. Aqui moro eu e mora a Ana”. Esse retorno a um convívio mais próximo com a mãe foi péssimo, porque assim, elas conheciam muito pouco e a mãe da Ana não é uma pessoa religiosa, mas ela é uma pessoa muito da moral e dos bons costumes.
E aí aqui eu digo: Oi? A pessoa traiu o marido com um homem casado, que ela sabia que era casado, porque segundo Dona Palmira, ela era também muito próxima da mulher do cara casado, então, além de trair, ainda foi talarica com a amiga. Como assim? Da moral e dos bons costumes? E a mãe da Ana começou a desconfiar da amizade da Ana com Angélica, começou a perguntar sobre isso para dona Palmira e a Dona Palmira falava: “Olha, não é da sua conta… O que a Ana faz da vida dela é só problema dela”. Um dia a Ana acordou, a sua vó sempre acordava antes, fazia café, fazia as coisas e a vó não tinha levantado. Ana foi até o quarto de sua avó Palmira e Dona Palmira tinha falecido ali durante a noite, morreu dormindo, enfim… Foi uma tragédia. — Uma tragédia, uma tristeza, enfim, a Ana ficou muito mal… — E para a gente ter uma noção do que é a família da Ana, enquanto a Ana estava no velório, os tios da Ana e as tias — que também são filhos de Dona Palmira — tiraram as coisas da Ana da casa e não deixaram a Ana voltar pra casa que ela sempre morou desde que nasceu. — Porque a casa ali era de Dona Palmira, então era dos filhos. —
A Ana se viu ali sem ter para onde ir e mãe dela — mãe de Ana — neste momento resolveu acolhê—la. — Porque ela não tinha realmente para onde ir. Angélica que estudava ali na cidade, morava num pensionato de mulheres, de garotas, então, a Ana ficou muito zonza ali com as coisas, muito perdida e foi morar com a mãe… — E a partir dali a vida dela virou um inferno. Chegou um ponto que a Ana não tinha mais como esconder que Angélica era sua namorada, porque a mãe dela começou a fazer tipo uma limpa nas redes sociais, sabe assim? E aí ela falou pra mãe que realmente ela era lésbica e que ela tinha um relacionamento sério, um namoro com a Angélica. — Angélica também uma moça muito boa, estava estudando e trabalhando, uma moça batalhadora… Agora com 19 anos, a Ana também já estava trabalhando, também já tinha conseguido uma bolsa na faculdade, que provavelmente agora ela ia ter que trancar porque era a avó que ajudava ela a pagar, ela tinha uma bolsa de 50%. Enfim, um caos a vida… — E, a partir do momento que ela falou “sou lésbica sim”, esta mãe começou a ofender a Ana.
Eu não vou repetir as coisas que ela falou, mas são coisas muito pesadas… Mas entre as coisas, ela gostava muito de chamar a Ana de “imoral”… [efeito sonoro de carro freando] A mulher que traiu o marido com um homem casado, que era casado com a amiga dela, que deixou a própria filha com a mãe porque não quis criar, porque, enfim, era fruto de uma traição, estava chamando alguém de imoral. A vida da Ana começou aí a ficar muito ruim e, paralelo a tudo isso, os irmãos da mãe da Ana — os tios e tias da Ana — começaram um inventário. A história piorou e ao mesmo tempo melhorou para Ana. Piorou porque ela passou a ser mais utilizada pela família por causa desse inventário e pela mãe por ela ser lésbica. — Então, assim, era por todo lado que ela tinha gente xingando ela. — E por outro melhorou, por que o que fez Dona Palmira? Dona Palmira tinha um seguro de vida, o seguro de vida estava somente no nome da Ana. Dona Palmira tinha uma previdência privada e essa previdência privada estava como beneficiária somente a Ana. Nem seguro de vida e nem previdência privada entram no inventário, entram na partilha. — Eu não sabia disso, fiquei sabendo disso por essa história. —
Então, aquele dinheiro automaticamente era da Ana… Então a Ana saiu de um espacinho que ela tinha na casa da mãe para um dinheiro que ela conseguiu comprar a casa própria. — Simples e tal, mas uma casa dela. — Esses irmãos e agora a própria mãe dela eles entraram na justiça — contra a Ana — por conta dessa previdência privada, desse seguro e eles tentaram, né? — Porque aí houve uma conversa entre os advogados, porque a Ana teve que conseguir um advogado. — O próprio advogado da família deles — dos tios — orientou que aquilo não ia dar em nada, mas ainda assim eles quiseram entrar na justiça e parar o inventário. Nem a Previdência e nem o Seguro entraram no inventário, isso não foi brecada e a Ana teve o dinheiro ali. — Teve o trâmite certinho, os dias lá que a seguradora pede e nã nã nã, mas o dinheiro foi para a conta da Ana. — Mas tinha o inventário e Dona Palmira tinha deixado 50% do que ela tinha, que era um dinheiro no banco, um terreno numa outra cidade e a casa — então, veja, [risos] 50% do que ela tinha ela deixou para Ana — e a família caiu matando em cima da Ana.
E aí todo mundo passou a chamar a Ana de imoral, de isso e daquilo e usar aí o fato dela ser lésbica para tentar difamar a Ana ali na cidade, que é uma cidade pequena, mas nem tanto, enfim… Hoje a mãe da Ana, que nunca criou — nunca — faz post chorando no Facebook dizendo que a Ana roubou a família, que a Ana iludiu a mãe. Tanto a previdência quanto o seguro, a Dona Palmira fez quando a Ana tinha cinco anos de idade, então não tem nem como a Ana ter influenciado, nada. São planos muito antigos… Isso o advogado falou também — o próprio advogado da família — que aconselhou a família não entrar ali contra a Ana. A Ana tem um primo — que a gente vai chamar aqui de “Pablo” — que é tipo um informante dela. [risos] O Pablo quer mais é que a família também se lasque e tudo que acontece lá ele conta pra Ana. Ela recebeu normal, a previdência, o seguro — tudo — só que o inventário está parado porque tem esse processo agora que não vai dar em nada porque a Dona Palmira pode dispor de 50% do patrimônio dela do jeito que ela quiser…
E os outros 50% tem que ser dividido certinho ali pelos herdeiros, só vai demorar mais pra galera poder vender a casa, poder vender o terreno e poder mexer nesse dinheiro que tá na conta de Dona Palmira. — Que aparentemente parece que são 35 mil reais, que estão lá na conta da Dona Palmira. — E aí tem que dividir por cinco, pelos quatro irmãos, os quatro filhos de Dona Palmira, dividem metade, e a outra metade inteira fica pra Ana.
Fora do Facebook a mãe da Ana chama a Ana de vagabunda, de vadia, e sempre chama a filha de imoral. E, recentemente, Pablo contou que tem um boato na família, uma briga paralela, de que a mãe da Ana está saindo com um primo… Um primo casado. — Então, veja, ficarei em silêncio porque não posso dizer as coisas que eu gostaria de dizer aqui sobre essa genitora. Porque não é mãe, né? Mãe foi Dona Palmira. Dona Palmira foi mãe, foi avó, foi tudo… Deixou aí a Ana amparada e Ana já tem a sua casinha própria, já tem seu dinheirinho, trabalha, estuda, não teve que parar a faculdade e ainda vai pegar aí metade da grana, dos bens desse inventário, que Dona Palmira foi uma mulher esperta, uma mulher porreta… Que com cinco anos de idade da Ana ali percebeu que era a Ana pela Ana. Então ela só tinha Dona Palmira ali por ela e Dona Palmira deu seu nome. —
A mãe tenta fazer chantagem com ela de todo jeito, mas tá sempre xingando ela pessoalmente, xingando muito, muito baixo. Pra vocês terem uma noção, essa mãe desejou que a Ana fosse pega a força — por um homem — para ela saber o que era estar com um homem, porque aí sim ela deixaria de ser lésbica. Isso tem um nome, o nome disso é “estupro corretivo”, é uma violência, muitas lésbicas são ameaçadas disso, né? E é crime, mas esse foi um dos desejos dessa criatura que pariu aí, mas não criou, enfim… — Ela é desse naipe e ela se acha uma boa pessoa e agora ela está tendo um caso com o primo casado. Então, olha… Aqui… São nesses momentos que o meu… A minha sororidade vai a zero. [riso] E, sei lá, olha, eu não posso falar… Realmente eu não posso falar o que eu gostaria, que são coisas, são coisas pesadas. — O que vocês acham?
[trilha]
Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, meu nome é Mariana. Dona Palmira, uma rainha, uma diva, uma querida que já deixou tudo preparado porque conhecia os filhos trambiqueiros que tinham. Ana, espero que você esteja muito bem e com a terapia em dia, porque ser bombardeada desse jeito pela sua família é surreal. Eu acho interessante que essa galera se acha tão na moral, tão no direito de ofender os outros e quem é que estava cuidando de Dona Palmira? Quem é que ia visitá-la? Enfim, eu acho isso surreal.
Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, eu sou Vivi de Vitória da Conquista, sou gerente de banco e fico muito feliz com dona Palmira, esse exemplo maravilhoso… O seguro de vida e a previdência privada podem ser deixados para um beneficiário exclusivo ou você pode dividir entre vários beneficiários que você queira, pode determinar percentual… Você pode mudar inclusive essa composição. Se você não fizer essa determinação, vai para os herdeiros legais e, se fosse o caso, a Ana não teria direito, porque ela seria herdeira da mãe e não herdeira de Dona Palmira. Então, nesse caso, a Dona Palmira fez tudo de caso pensado para deixar a neta amparada, maravilhosa. Beijo.
[trilha]Déia Freitas: As inscrições para o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, o Prêmio PSMN, estão abertas até o dia 30 de julho e são gratuitas. Se você é uma empreendedora brasileira, não perca essa oportunidade. Quando sua história inspira, todas as mulheres ganham. Acesse: sebrae.com.br/PremioMulherdeNegocios e faça já a sua inscrição. Valeu, Sebrae, um beijo, gente, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]