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título: para sempre
data de publicação: 24/10/2021
quadro: luz acesa
hashtag: #sempre
personagens: sueli e jorge

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Luz Acesa e hoje vou contar para vocês a história da Sueli. Antes de começar a história da Sueli, eu queria perguntar para vocês uma coisa, vocês olham — De vez em quando — embaixo da cama? — Assim, à noite. — Antes você dormir você dá uma checada embaixo da cama? Não? — Hum. — Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Sueli namorava Jorge, era um namoro muito, muito, muito bacana e o Jorge era um cara bem brincalhão. — E por que eu perguntei isso de debaixo da cama? — Porque o Jorge gostava de pregar peças. — Nas pessoas. — E, às vezes, na casa da Sueli, ele chegava primeiro que ela… — A gente está falando de uma história de mais de 20 anos. — E ele chegava primeiro que ela, né? Ela chegava da faculdade ali, ele chegava primeiro, então ele tinha muita amizade com a mãe da Sueli e ele se escondia no quarto da Sueli, embaixo da cama. E, por mais que ele fizesse isso, às vezes ela esquecia que ele tinha esse tipo de brincadeira. 

E quando ela entrava no quarto, quando ela ia deixar a mochila, essas coisas, ele segurava a Sueli pelo tornozelo. E o tempo foi passando, Sueli se formou, Jorge se formou… O passo seguinte era o casamento. E eles começaram a preparar tudo. Eles iam morar numa casa que era da família do Jorge, então eles começaram a mobiliar e a coisa foi caminhando, foi dando certo… Uma semana antes do casamento, o Jorge saiu para ver umas coisas na rua, — Preparativos mesmo, né? Para a festa e tal… — e ele foi atropelado. 

Jorge foi atropelado e faleceu no local. A Sueli quando ficou sabendo, ficou em choque, precisou tomar remédio… Ficou umas duas semanas assim, fora do ar mesmo e, inclusive, passou a data que seria do casamento internada. E aí saiu do hospital e tal, — Ela tinha ficado numa clínica, né? — Saiu da clínica. — E foi tentando levar a vida devagar, tomando remédios ainda… Porque foi um mega baque, eles se gostavam muito. Acontece que um dia, por volta de umas quatro horas da manhã, a Sueli estava acordada. — Ela passava noites acordada ainda, vendo as fotos e os bilhetes que o Jorge, sabe? Mandava para ela… —

E ela estava ali vendo alguma coisa sentada na cama e ela sentiu sede. Levantou, foi até a cozinha, tomou água, voltou e sentou na cama. Só que, antes ela estava sentada na cama, assim, de pernas cruzadas, né? E agora ela sentou na cama com os pés no chão. — E, gente… — Assim que ela se acomodou sentada, ela sentiu a mão… Uma mão no tornozelo dela. E só quem fazia isso era o Jorge. — Se fosse você, o que você faria nesse minuto? Quando você está na cama, sentado e de repente você sente uma mão no seu tornozelo? —

Sueli mesmo sabendo que Jorge tinha falecido, ela ficou feliz e ela gritou: “Jorge?” e olhou… Quando ela olhou, ela viu a mão — Que seria a mão do Jorge. — ensanguentada. Ainda assim Sueli estava feliz. E ela puxou a perna na intenção de puxar o Jorge para fora de debaixo da cama. — Só que, sei lá o que era isso, soltou o tornozelo da Sueli e não saiu debaixo da cama. — E aí Sueli se debruçou, né? Desceu ali da cama que ela estava sentada, se debruçou e olhou embaixo da cama na esperança de ver o Jorge. Só que não tinha nada. — Não tinha nada. —

E aí ela começou a chorar, porque aí, né? Outras lembranças vieram e tal, enquanto ela estava chorando, ela foi esfregar o olho e olhou assim para frente, pro nada, e aí sim ela viu o Jorge. Só que nesse minuto, ela se arrependeu de ter chamado e de ter, por um segundo, sentido essa vontade de ver o Jorge, porque ele estava como no dia que ele foi atropelado assim. Ele ficou muito machucado — No atropelamento. — e ele estava dessa forma. E ele não falava nada. Só que a Sueli entendia, ela não sabe como, que ele estava falando “me ajuda, me ajuda”. E aí ela ficou paralisada vendo o Jorge ali todo machucado na frente dela, e sem conseguir gritar, e ela acha, a Sueli acha que desmaiou… Porque depois ela já acordou, depois de um tempo, deitada na cama. 

E aí passou… Como ela estava tomando muito remédio, ela falou: “bom, eu alucinei, né? Foi coisa da minha cabeça e eu não estou legal”. E mais alguns dias ali, ela ainda em casa, sentada na mesa da cozinha enquanto a mãe dela fazia um arroz ali no fogão… Quando a mãe dela falou: “Nossa, ai, senti um arrepio aqui na coluna, uma coisa ruim”, que a Sueli levantou… — Porque ela estava ali na mesa de cabeça baixa, né? — No que ela levanta para prestar atenção no que a mãe dela estava falando, o Jorge estava do lado da mãe dela, mas assim, do lado, do lado, grudado… E, tipo, como ela estava mexendo ali, a mãe da Sueli mexendo a panela de arroz, alguma coisa, alguma comida e ele estava do lado dela olhando pro fogão olhando pra comida. — Porque tava sendo feita ali. — 

E aí de novo Sueli ficou paralisada, porque ele estava exatamente do jeito que ele tinha ficado, né? Quando ele foi atropelado. E ela tinha visto ele de frente… E agora ela estava vendo ele de costas e, assim, a parte de trás da cabeça do Jorge não existia. Era como se fosse assim um buraco infinito, muito estranho. Sueli disse que não sabe explicar. E a partir desse momento o Jorge passou a rondar ali a casa, e só a Sueli que via. E aí como era ela… Só ela que via, ela ficava ainda com essa questão dos medicamentos, né? De achar que “poxa, só eu que estou vendo, né?” Só que um tempo depois, uns 3 meses depois de várias aparições de Jorge, a mãe de Sueli também viu. 

Ela estava saindo do banho, pegou a toalha ali, começou a secar para botar já uma camisola e depois que ela vestiu a camisola, que ela foi pendurar a toalha ali no box, pelo reflexo do box ela viu um vulto e ela achou que fosse a Sueli. No que ela virou para falar: “Ô, filha”, — Sei lá, qualquer coisa. — era o Jorge. E aí o Jorge assim já foi pra cima dela, ela não sabe também porque… Ela também meio que começou a gritar de olho fechado, [efeito sonoro de gritos] saiu correndo, meio que atravessou o Jorge, porque o banheiro era pequeno e começou a gritar, gritar… [efeito sonoro de gritos] 

A mãe da Sueli começou a ir sempre entre na igreja, a pedir, né? Para ver se conseguia afastar isso da casa e, de certa forma, ela conseguiu. E eles passaram alguns bons anos sem ter nenhuma aparição do Jorge ali. Até que Sueli conheceu um outro rapaz e, no dia que ela trouxe esse rapaz em casa e que ela apresentou ali para a mãe dela e tal, elas estavam na cozinha… — Então pensa assim, ó, a cozinha tinha uma pia. — Em cima da pia tinha uma janela, e a mãe da Sueli deixava ali na beirada da janela, ali pro lado de dentro tipo o azeite, o óleo, o vinagre, sabe? — Uns vidrinhos assim, ne? — E do nada esses vidrinhos começaram a ser arremessados. — Então pensa assim, eles não caíram… —

Eles foram arremessados de onde estavam, na parede oposta. E era tipo, sei lá, três metros. E aí o cara se assustou, e elas também se assustaram e tal. E o cara foi embora… O cara namorou a Sueli um tempo ainda, só que aí o cara começou a dizer pra Sueli que ele estava sendo atormentado por alguma coisa, que ele andava na rua e ele sentia como se alguém colocasse um pé pra ele tropeçar, sabe assim? Sentia beliscões… E aí o cara largou a Sueli, falou: “ah, pra mim não dá”… Porque ela tinha contado meio por cima a história do noivo e tal, e aí o cara largou. Isso já tem bastante tempo também, e a mãe da Sueli acabou falecendo ano no passado de Covid. — Eu sinto muito, muito por isso. — E a Sueli agora segue sozinha. 

Depois desse rapaz ela se envolveu com mais dois e nos intervalos nunca teve nada do Jorge, mas sempre que ela se envolvia com alguém acontecia alguma coisa, começavam assim manifestações, né? Até que a Sueli desistiu, sei lá, de pensar em alguém, né? E aí foi por isso que ela escreveu assim, mais para contar a história dela e, sei lá, gente será que não tem um jeito? A Sueli diz que agora ela está numa fase que ela não tem interesse em ficar com ninguém, né? Mas a gente ficar sozinha porque, sei lá, tem uma assombração atormentando é complicado, né? 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, eu sou a Patrícia do Rio de Janeiro e, Sueli do céu, que isso, cara? Deve ser uma situação horrível se sentir perseguida, tem um encosto, digamos assim, de um antigo amor. O amor ele é bom, mas ele tem também que ser libertador. Uma pessoa que te ama, mas te prende mesmo depois de morta, é complicado. Não sei como você lidou com isso depois de todos os anos e tal, emocionalmente, mas eu teria corrido rapidinho para um centro espírita, alguma coisa assim… Para tentar fazer com que esse espírito se libertasse, que descobrisse o que fazia mal a ele e como consertar isso, porque ninguém merece, ninguém merece ficar com um espírito atrás de você e ninguém merece não conseguir fazer a passagem em paz. Tá doido. Ok? Espero ter ajudado. Um beijão. 

Assinante 2: Oi, meu nome é Claudia, eu falo aqui de Manaus e você disse que não sabe bem o que fazer, né? E, assim, como espírita, dá pra gente pensar que ele ainda está muito preso na história de vocês dois, e que a única coisa que ele precisa nesse momento, que você pode fazer, é orar por ele. Parece clichê, mas isso é tudo o que ele precisa e com o tempo isso vai melhorar… Mas você precisa, e eu acredito que você vá, orar acreditando muito no que você fala e querendo muito o bem dele. Tá bom? Isso vai melhorar logo logo, espero. Um beijo. 

Déia Freitas: E é isso, gente. Um beijo. 

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta] 

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.