Skip to main content

título: passos
data de publicação: 26/06/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #passos
personagens: emília e dona maria

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje cheguei pra um Luz Acesa. Hoje eu vou contar para vocês a história da Emília. É uma história que ainda está acontecendo e eu espero que alguém aí possa ajudá-la. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Emília há mais ou menos uns três anos mora numa casa que no mesmo quintal são duas casas, a casa dela e a casa da Dona Maria… A dona Maria — dona do imóvel — alugou uma casa nos fundos pra Emília e elas estavam super bem, dona Maria uma senhora muito ativa.  — Por exemplo — Quando dava ali cinco horas da manhã a dona Maria já estava de pé. Então ela já estava ali pelo quintal, você já podia escutar ela andando por ali, [efeito sonoro de algo sendo varrido] ela varrendo… — Ela fazendo alguma coisa, né? — Cinco horas você já sabia que dona Maria estava acordada. E ela era uma senhora gentil a ponto de que, quando ela ia na padaria, ela perguntava sempre se a Emília queria pão. E elas tinham um acordo lá — tipo, sei lá, a Emília deixava com ela 20 reais. — aí na semana ela trazia uns pães, umas coisas que a Emília precisava.

Então, às vezes a Emília acordava e tinha o pãozinho ali já para ela comer e tal. A Dona Maria via que ela já estava acordada e falava: “Eu comprei o pão e tal, vem aqui pegar”. Então elas tinham uma boa relação. — Boa mesmo. — E, de se falar todo dia, eram vizinhas de quintal, né? No mesmo quintal… Então, pra Emília entrar e sair ela tinha que passar pelo corredor ali, na casa da dona Maria, na lateral e saía no portãozinho. E o tempo foi passando… Tudo dando muito certo, dona Maria com o cachorrinho dela… — Que a gente vai chamar aqui de Bob. — Dona Maria tinha uma rotina com o Bob, o Bob dormia dentro de casa e, quando era de manhã, ela soltava e tal e ficava ali pelo quintal, tinha ali a casinha dele e nã nã nã. [efeito sonoro de latido de cachorro]

E chegamos agora ao final do ano… No final do ano, no começo de dezembro, a Emília acordou, a Emília de home office, mas sempre dava bom dia ali para a dona Maria, elas conversavam e tal… E ela falou: “Ué, né? Que estranho, o Bob não está aqui fora”, já era quase nove horas, né? Aí ela começou a chamar o Bob para ver se de repente ele estava lá na frente e chamou: “Ei, dona Maria, já acordei, tem pão?” e nada… E aí o Bob começou a latir de dentro de casa… [efeito sonoro de latido de cachorro] Ela falou: “Tá estranho isso aí”, a Emília deu a volta, lá pela frente ela conseguia ver pela janela do quarto da Dona Maria e Dona Maria estava deitada. Dona Maria estava morta… [efeito sonoro de tensão] E aí, nossa, foi aquele auê, né? Até avisar os familiares dela, dona Maria com dois filhos e tal… E um vizinho ali arrombou a porta, a família pegou o Bob e colocou lá dentro da casa dela, porque aí começa um entra e sai, né? Ela falou: “Pelo menos o Bob não escapa”. o Bob ficou lá dentro da casa dela, do portãozinho pra dentro ali da casa da Emília e tal.

E aí aquela tristeza… Todo mundo gostava da Dona Maria ali naquela rua e tal, né? E aí foi feito o funeral, passou… A Emília resolveu ficar com o Bob… — Porque ninguém queria, os filhos de dona Maria não queria o Bob, ela falou: “Eu fico pra mim, não tem problema”. — Pegou as coisinhas todas do Bob e botou lá na casa dela. E o Bob já estava acostumado com ela, então ele ficou tristinho nos primeiros dias e depois meio que, né? A rotina dele ele seguiu ali, só que agora não acordando tão cedo e dormindo dentro da casa da Emília… — E aí um dia, gente… — Era umas cinco e pouquinho da manhã, [efeito sonoro de latido de cachorro] o Bob começou a latir de dentro dali da casa da Emília. A Emília falou: “Meu Deus, será que tem ladrão no quintal, né?” e ela escutou passos… Falou: “Tem, tem ladrão no quintal”. — E a Emília é meio que como eu… Na hora do vamos ver mesmo, você esquece até 190, de ligar 190. —

E aí ela tentava segurar o Bob para ele parar de latir… Em vez de ela já ligar para a polícia, ela foi tentar olhar pela janela ali, ainda estava escuro, pra ver se ela via alguém. E os passos estavam como se fosse, assim, na frente da casa dela, só que não tinha ninguém… E ali não tinha como entrar por trás. Pensa assim: a Casa da Emília é no fundo do quintal, não tem como você ir para trás da casa, tipo, a casa dela já é o fundo. Então tem duas janelas pra frente do quintal, uma janela do quarto e a outra janela da sala e da cozinha e, no meio, a janelinha do banheiro, tudo virado para frente, não tem atrás. Atrás já é, tipo, a casa da outra pessoa que dá pra outra rua. Então, tudo tem que vir ali pela frente, não tinha como… — Ou a pessoa estava andando no telhado e aí poderia ser a pisadeira, só que não era o caso. —

Os passos eram ali no quintal, por onde a dona Maria andava… E aí o Bob latiu, latiu, [efeito sonoro de latido de cachorro] depois o Bob deu uma choradinha e foi ficar ali embaixo, tipo, da mesa da cozinha e aí a Emília ficou olhando pela janela, não viu nada, mas ela escutou os passos… [efeito sonoro de passos] E aí foi dando ali quase seis horas, foi clareando, ela ficou mais segura e saiu… E não encontrou ninguém, não encontrou nada, enfim… Alguns dias — da mesma semana — ela escutou passos novamente, sempre essa hora, que era a hora que a dona Maria acordava. E aí ela falou com algumas vizinhas e elas mandaram rezar missa e tal para a dona Maria. Um dos filhos da dona Maria falou: “Olha, eu gostaria que você ficasse aí de inquilina e tal, eu venho morar aqui agora em janeiro”.

O cara se mudou lá para frente com a esposa, — eles não têm filhos ainda — e aí tiraram as coisas da Dona Maria e tudo da casa, trouxeram as coisas deles… Isso no comecinho de janeiro. Aí depois de uma semana, a mulher do cara não queria mais ficar lá, porque falou que ele escutava passos dentro da casa e que era a dona Maria. E aí o filho que não via nada, falou: “Não, imagina, vamos ficar”, e aí deu mais ali uma semana e a moça foi para casa da mãe dela, tipo, não ficou morando mais lá… E aí ela não sabe o que o cara decidiu, o cara falou: “Eu vou deixar a casa aí fechada”, não sabe se ele foi morar com a moça, se eles se separaram, ela não sabe… O que a Emília sabe é que a casa está fechada… A casa, como eles tinham tirado todas as coisas da dona Maria, agora a casa está vazia, então às vezes ela escuta passos dentro da casa e com aquele eco de casa vazia, sabe? E Emília falou: “É a dona Maria…”. 

Ela não está nem mais com medo, porque assim, não é uma presença assustadora, é a dona Maria andando pelo quintal. Então, Dona Maria, está perdida? O que será, né? E ela não sabe o que fazer… O Bob meio que também acostumou e às vezes ele late, às vezes ele rosna, às vezes ele abana o rabo… Então, vai saber… Será que quando ele rosna é a dona Maria? E ela ouve passos, gente… A Emília ouve passos… Só não ouve dentro da casa dela. — Ainda não aconteceu… — Pelo menos até agora. Ela ouve passos no quintal e, pelo eco, ela ouve passos dentro da casa da dona Maria. Não ouve derrubar nada, não ouve a vassoura, tipo, porque Dona Maria já acordava, já varria ali o quintal e tal, trocava a água do Bob, essas coisas… Não têm esse tipo de barulho, só tem mesmo ela andando, tipo, anda na frente da casa da Emília, vai ali pelo corredor e aí dali de onde a Emília está ela não ouve, né? Lá na frente. Então, os passos somem um pouco… — Provavelmente, ela está andando lá na frente… — Depois volta pelo corredor, vai de novo na frente da casa da Emília ali. — E fica nisso, gente… — 

Então, essa é a dona Maria perdida? O que fazer? Missa já mandaram rezar e não adiantou. Então é por isso que ela escreveu, ela diz agora a Emília, que ela não tem medo, mas às vezes ela dá uma cisma, assim, um aperto no coração, sabe? Será que a dona Maria está perdida, será que ela está precisando de ajuda? E, enfim, o que fazer, gente? Com a dona Maria andando no quintal… Eu vou ser bem sincera, eu já tinha já passado a mão no Bob e me mudado. A Emília disse que ela não vai se mudar, porque a casinha ali é boa, o valor de aluguel é bom e ela está gostando de ficar ali… O Bob está ali desde pequeno, então ela quer ficar ali, gente, ela não quer sair, ela quer que a dona Maria tenha paz. Aí eu fico pensando, e se isso evoluir? Um dia ela está ali a noite e ela olha pra janela e vê a dona Maria? [efeito sonoro de tensão] Gente, por mais que a pessoa seja boa e foi legal com você, agora ela tá morta, eu sempre falo isso, tipo, meus parentes… Pô, minha mãe, meu pai, meus tios, todo mundo que eu amava morreu e eu não quero que ninguém apareça para mim… Está com saudade? sinto muito, assim… Morreu acabou para mim, eu não quero ver. Mesmo… Não quero ver nada.

Então aparecer, assim, na janela a dona Maria, já pensou? Se com o tempo, sei lá, ela vai ficando mais firmona e vai aparecendo, assim… Porque agora, sei lá, tá transparente… — Não consigo entender, sabe? — Mas e se, sei lá, ela cria corpo? Então para mim não dá, assim. O meu conselho pra Emília foi: “Se você puder mudar, sair daí, muda…”. Mas ela não quer, ela disse que não é uma possibilidade, que ela está bem lá, a casinha é ótima, ela gosta do bairro, conhece todo mundo já… É todo mundo muito acolhedor, então, ela não sabe se o filho vai pôr a casa da frente para alugar, se não vai… A casa está vazia. Dona Maria anda lá dentro. Então, para mim, é assustador isso, assim… Mais do que “ai, sei lá, monstro, sabe?”. Coisa assim… Para mim é uma coisa mais concreta, que são os passos e, de repente, pode aparecer a dona Maria real assim, fantasma, sei lá…

Então, se alguém tiver alguma dica pra Emília que não envolva ela sair de lá, porque ela não vai sair do imóvel.

[trilha

Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, aqui quem fala é Matheus de Ouro Preto. Emília, antes de procurar qualquer ajuda espiritual, tenta procurar problemas no nosso próprio plano… Na minha cidade, aqui em Ouro Preto, é muito comum a gente ter problemas com camundongos e ratos no centro histórico, onde as casas são muito antigas e o sistema sanitário ainda é precário. Então, eu já escutei inúmeros relatos de turistas que vem pra cá e acham que são espíritos, mas são ratos que estão [risos] passando por algumas edificações. Talvez isso seja o seu problema por aí, tá certo? Um abraço.

Assinante 2: Oi, eu sou a Gabi de São Paulo. Eu queria falar pra Emília que, assim, o problema dela dá pra ser resolvido… Não só o da Emília, mas o de quase todos os Luz Acesa… Dá pra ser resolvido com uma [risos] vela, sabe? [risos] Eu sou da umbanda e, na umbanda, a gente tem uma coisa chamado “firmar o anjo da guarda”. Essa prática consiste em te proteger do mundo astral mesmo, né? Teu anjo da guarda te proteger, te cuidar porque você sozinha não tá conseguindo, sabe? Então, aconselho a Emília a procurar como que se firma um anjo da guarda, conversar com pessoas da religião de matriz africana ou com pessoas que são do espiritismo. Eles vão saber orientar como que faz ou até pedir pra alguém da religião ir lá na casa dela e rezar por ela, porque assim, muitas das coisas a gente consegue resolver com uma vela e uma boa reza… Um Pai Nosso ou algo do tipo assim, resolve…

[trilha]

Déia Freitas: Por favor, deixem lá suas dicas no grupo do Telegram e, sei lá, os passos só começam mesmo a partir das cinco da manhã. Então, vai das cinco até ali umas seis até clarear assim e aí acaba. E aí eu fico pensando, né? A Emília não sai, não vai pra uma festa, nada… E agora já pensou, ela chegando cinco horas da manhã e dar de cara com a dona Maria? Isso não é vida pra mim. Então, se alguém tiver alguma dica, o nosso Telegram é só jogar lá na busca “Não Inviabilize” que aparece. Deixa as suas dicas pra nossa amiga Emília. Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.