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título: ponto de ônibus
data de publicação: 07/10/2020
quadro: luz acesa – especial halloween
hashtag: #ponto
personagens: deise e caveira

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente, voltei. História que eu vou contar pra vocês é a história da Deise aqui de São Paulo e o nome da história vai ser “Ponto de Ônibus”.

[trilha]

A Deise trabalha num shopping, ela entra às quatro da tarde e sai dez da noite, só que nem todo dia ela consegue sair às dez da noite, às vezes acontece alguma coisa ou tem cliente na loja ainda e ela fica até mais tarde. Dependendo da época, se for época de final de ano, Natal, ela chega a sair meia-noite. Não era esse o caso, mas foi um dia que [inicia som de trânsito na rua] ela saiu mais tarde, ela saiu da loja umas dez e quarenta e o pessoal que pega ônibus na porta do shopping, a maioria já tinha saído, porque tem o pessoal que sai às dez horas aí o ponto fica lotado, aí dá uma esvaziada. O ponto dela não era tão perto do shopping. Depois volta a ficar cheio de novo com o pessoal que sai às onze, então ela estava naquele intervalo ali, não estava mais o pessoal das dez no ponto e ainda não tinha chegado o pessoal das onze da noite no ponto.

Quando a Deise chegou no ponto de ônibus tinha ali umas três pessoas, e vem um ônibus, vem outro e daqui a pouco a Deise estava sozinha no ponto de ônibus. E assim, o maior medo que a gente tem além de ser estuprada, né? Toda mulher tem medo de ser estuprada, é também de assalto, então de alguém passar ali querer seu celular, te dar um tiro porque não tem ninguém em volta pra ver, né? Então, o medo da Deise era esse de estar ali no ponto. E ela me falou que tinha mais medo de tiro do que do estupro, porque ela podia sair correndo, sei lá, e se o cara atirasse meio de longe ela ia morrer com o tiro. E ela estava ali no ponto e olhando pra ver se o ônibus dela vinha vindo, nada do ônibus, poucos carros passando e, de repente, passa um carro, um Palio. 

O Palio passou por ela devagar, ela viu que tinha um cara dentro do Palio. Nós que somos mulheres também já estamos acostumadas com idiota passando e mexendo. E ela ficou cabreira, o cara passou devagar e foi embora. Só que ela continuou olhando pra frente pra ver se o ônibus vinha vindo, ela não olhou pra trás pra ver se o cara tinha parado o carro ou não, e o cara tinha parado e descido do carro. Então, veja, ela estava olhando, estava no ponto, de lado, olhando pra direção que o ônibus vinha assim, de frente, o ônibus viria de frente pra ela, o cara passou de frente por ela e parou mais pra frente nas costas dela. Então quando o cara parou e desceu, a Deise não percebeu, né? Foi um vacilo porque normalmente a gente acompanha o carro pra ver se o cara vai parar e se parar a gente sai correndo, né? Eu pelo menos sou assim.

E o cara parou, desceu do carro, veio até a Deise, ela não percebeu e o cara pegou a Deise pelo pescoço [efeito sonoro aterrorizante] até aqui nós não temos nenhum fantasma na história, era um cara de carne e osso. Conforme a Deise sentiu aquele tranco no pescoço, a bolsa que ela estava caiu no chão e ela tentou segurar a mão do cara e tirar, ela nem sabia que era o cara do Palio ou quem estava atrás dela se era homem, se era mulher, porque o cara pegou ela por trás assim, ela estava de costas. E ela sentiu que o cara estava meio que tentando arrastar e ela fazendo força pra permanecer no lugar e tentar soltar do cara. 

Nisso ela ainda de costas, sem conseguir ver o cara, ela escutou um grito assim, o cara gritou na orelha dela tipo “ai, caralho”, assim, um palavrão, e soltou o pescoço da Deise e saiu correndo. E, assim, ela falou que foi um grito de terror, e quando ela conseguiu virar, ela viu o cara correndo em direção do carro, ela ficou tão nervosa que ela não conseguiu ver placa, nada. E no ponto de ônibus tinha uma idosa, tipo, foi a idosa que ajudou ela a se livrar do cara que, sei lá, e ela não sabia se a idosa tinha dado um soco no cara, o que a idosa fez, porque o cara largou e saiu correndo, mas era uma idosinha, né? E que não estava com nada na mão, não tinha um guarda-chuva pra, de repente, dar uma guarda-chuvada no cara, não tinha nada na mão. [trilha musical assustadora]

E assim, ela descreveu a senhora como uma senhora de cabelo branquinho, cabelo como se tivesse um coque, meio despenteado assim, com uma blusinha de lã, de saia e um sapatinho qualquer assim, uma roupa meio puída, então, ela julgou ali que é porque a senhora era uma idosa pobre. E aí ela não conseguia nem respirar porque o cara tinha apertado o pescoço dela, né? E a idosa falou pra ela: “Filha, fica tranquila, eu vou ficar com você aqui no ponto”, e ela toda chorosa ali não conseguia falar, totalmente assustada, não sabe quanto tempo passou, mas ela acha que foi tudo muito rápido e o ônibus dela veio. 

Conforme o ônibus dela foi chegando, ela deu sinal e a preocupação dela foi “Eu não posso deixar essa idosa aqui no ponto nem se eu tiver que levar ela pra minha casa”, e aí o ônibus foi parando [som de veículo freando] e ela foi falando pra idosa assim: “Vem, vamos comigo, vamos comigo”, estendendo a mão e a idosa fazendo que não. E aí a hora que ela foi pegar, porque até então ela não tinha encostado na idosa, que ela pegou assim na blusinha de lã, no braço, pra meio que tentar trazer a idosa pra ir com ela mesmo, ela sentiu que não tinha carne, [efeito sonoro de susto] era dura assim, como se fosse só o osso, e ela olhou pra mão da idosa e realmente era só osso. [trilha assustadora] 

E aí ela assustou, largou e subiu no ônibus assim, meio tropeçando, caindo, e o motorista virou pra ela e falou: “Você tá doida, você estava falando com quem no ponto de ônibus? Você estava sozinha, falando sozinha?”, e ela ainda assustada de ter visto aquela mão que era um esqueleto, mas o rosto ela falou que não era, o rosto era com carne mesmo assim, né? Não era um esqueleto, mas as mãos e o braço onde ela pegou era puro osso. E ela meio ali esbaforida falou pro motorista: “Não, aquela idosa, eu não quero deixar ela no ponto”, e o motorista deu uma paradinha e falou: “Olha, não tem ninguém no ponto, você estava sozinha no ponto”, e ela vendo a idosa e o motorista não vendo a idosa… E aí ele arrancou com o ônibus e ela ficou assim, além dela tá super assustada pelo cara ter segurado ela pelo pescoço, tentado arrastar ela tipo numa gravata assim, de ter colocado a mão nessa senhora e ser um esqueleto.

Ela também não sabe o que é isso, ela nunca tinha passado por nada sobrenatural. E, gente, o que é isso? Tipo, era uma pessoa? Era um cadáver? Era um fantasma do bem? Por que era um esqueleto? Eu sinceramente não tenho a menor ideia, o quê que vocês acham? A Deise nunca mais viu essa senhora, nunca mais teve nenhuma experiência desse tipo e esse é o nosso Luz Acesa do bem aí, né? Porque bem ou mal era um fantasma, uma caveira, mas foi super parceira, né? [risos] Achei que ela foi incrível. Por favor, não esqueçam de usar a hashtag lá no grupo pra comentar, a hashtag dessa história é “Ponto”, então coloca lá “Ponto”, e aí faz seu comentário e eu volto com mais uma história. 

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta] 

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.