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título: prato principal
data de publicação: 21/04/2021
quadro: picolé de limão – especial de páscoa 2021
hashtag: #prato
personagens: vani, ruy e família do ruy

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei para mais um Picolé de Limão do nosso especial de Páscoa. E hoje eu vou contar para vocês a história do Ruy e da Vani. [risos]. Eu escolhi os nomes de propósito, e quem me conta a história é a Vani. O Ruy e Vani eles são um casal muito divertido, — Eles estão juntos ainda, então lá vai o spoiler [risos] — e a Vani me escreveu para contar como foi a primeira Páscoa dela com o Ruy… E isso tem 20 anos.

[trilha]

A Vani e o Ruy eles estavam juntos ali mais ou menos, quase um ano, quando a família do Ruy que, basicamente, era a mãe do Ruy, uma tia do Ruy e a avó do Ruy, três mulheres morando na mesma casa, pediram pro Ruy convidar a Vani pra ir passar a Páscoa lá. O Ruy estava muito receoso dessa interação, porque ele sabia que as mulheres ali da família dele não eram mulheres fáceis de se lidar, mas ao mesmo tempo, ele também queria que elas conhecessem a Vani pessoalmente, porque elas não conheciam ainda. E não conheciam por quê? Elas tinham uma questão com a Vani. Qual a questão destas mulheres com a Vani?

A Vani ela tem uma perna uns 20 centímetros mais curta que a outra, elas não aceitavam que o Ruy namorasse uma pessoa, na fala delas, na fala preconceituosa delas, que não fosse perfeita. Então aí elas adiavam o Ruy tentou levar a Vani lá em um Natal, não deu certo… E assim também ele foi adiando para poupar a Vani. E aí o Ruy sempre evitou essa fadiga, sabendo que ele tinha ali parentes péssimos, mas uma hora isso teria que ser feito, né? Pelo menos uma vez, enfim… E aí combinaram que seria na Páscoa.

O que foi combinado? Que o Ruy e Vani levariam o bacalhau, que seria o prato principal. Estranho, né? — Porque se é a pessoa que está te recebendo, como assim você vai levar o prato principal? — Mas a Vani tava tão empolgada de, enfim, conhecer a família do Ruy. Até então ela não sabia, que até o momento ela não conhecia ninguém por conta desse preconceito horroroso aí da família do Ruy. O Ruy foi lá no Mercadão da cidade dele, comprou o melhor bacalhau… — E a gente sabe, assim, eu não como animais, mas eu fazia muito bacalhau pro meu tio que já faleceu. E bacalhau praticamente tem o preço de uma moto, né? Caríssimo. —

E o Ruy foi lá comprou o bacalhau caríssimo, a Vani deixou ali o bacalhau de molho, fez toda aquela coisa, tirou as espinhas, deixou de molho e nã nã nã, preparou pra quê? Pra levar para casa lá das horrorosas para assar lá. Ela já levou pronto pra assar lá. Chegaram, entregaram o bacalhau, a Vani super felizinha ali, a tia do Ruy pegou o bacalhau e levou para a cozinha e Vani perguntou onde era o banheiro, né? Ela queria lavar a mão, passar uma água no rosto, que ela estava toda animada, toda eufórica e ela que iria dar uma acalmada. Quando ela estava no banheiro…. Então pensa assim, ó, na casa do Ruy, se você está no banheiro, a janela dá pra uma área de serviço e a área de serviço também dá pra janela da cozinha… E ela escutou da janela a três na cozinha. — O Ruy estava na sala ligando TV… Sabe essas coisas assim? — Escutou as três na cozinha falando assim: “nossa, esse bacalhau aqui e do bom, não sei lá o que lá…. Só assim pra gente aceitar essa perneta”… Desse jeito… E começaram a rir.

A Vani ficou roxa ali, né? Deu aquela vontade de chorar, mas ela falou: “não, não vou chorar”. Ela saiu do banheiro foi até a sala, elas estavam na cozinha ali preparando para colocar o bacalhau no forno, né? E ela falou pro Ruy, falou: “Ruy, eu acabei de escutar a sua tia, sua mãe e sua vó me chamando de perneta e rindo na cozinha. Eu quero ir embora”. O Ruy fico puto da vida, ele falou: “Não, a gente vai embora sim”, e já levantou foi pegando a chave do carro e tal, e a Vani virou para ele e falou assim: “não, a gente vai embora sim, mas eu quero o meu bacalhau de volta”. O Ruy olhou pra ela e falou: “uhum, é mesmo, lógico…” Foi até a cozinha, o forno já estava aberto e o bacalhau em cima da mesa ali da cozinha para ser colocado, ele falou: “com licença”, pegou o bacalhau sem nada, porque acho que elas iam pôr no alumínio em cima ainda, alguma coisa… Pegou o bacalhau, pegou Vani e foram embora. [risos].

Vieram com o bacalhau exposto ali no carro. [risos] Chegaram em casa e fizeram o bacalhau, e elas ficaram aquela Páscoa comendo arroz e salada de palmito. [risos] — Ai, tomara que elas tenham fervido o palmito. [rindo muito] — Ai, é tipo a história da vida do Ruy e da Vani, que foi ali que eles perceberam que realmente eles se amavam e não importava a família, nada, e que eles iam ficar juntos. Não é lindo, gente? Quer dizer, tem toda a parte amorosa da família do Ruy… — Mas ele estava ali do lado dela, apoiou, eles levaram o bacalhau embora… [risos] —

E hoje, 20 anos depois, assim, muitas coisas aconteceram. Tem uns Picolés de Limão familiares nessa história, não referente ao Ruy, porque Ruy e Vani juntos são perfeitos, mas depois de muitos Picolés de Limão e alguns eventos trágicos, essas mulheres se chegaram mais ao Ruy e Vani ali e a Vani perdoou, né? — Eu, você sabe, né? Jamais perdoaria, ia ser até hoje. — Mas hoje eles se dão bem, esse é um assunto que não é tocado em família, essa Páscoa… Já tiveram outras Páscoa lá, mas a Vani e o Ruy eles nunca levam pratos mais… Elas nunca mais pediram. [risos].

E e essa história é uma história de Páscoa e de amor, porque foi ali, com aquele bacalhau no colo, Vani chorando, que o Ruy percebeu que era a mulher da vida dele, que eles iam ficar junto e viu o amor, né? Não é bonitinha a história? [risos] Eu achei ótimo… [risos] A hora que eu li que eles pegaram o bacalhau de volta, eu falei: “não, essa história eu preciso contar”. [risos] Então, essa é nossa história de Páscoa de hoje, gente.

[trilha].

Assinante 1: Olá, meu nome é Anderson, eu sou de Niterói, Rio de Janeiro e hoje moro em São Paulo. Acho que é típico história tipicamente em família, né? A gente sabe que a família é uma coisa complicada, mas a gente sempre tem que ver o lado bom também, né? Quando a relação com a família começa assim com uma coisa controversa, uma coisa bem abrupta, a chance de isso ser irremediável e virar uma coisa muito forte depois, é muito alta. Quando a gente quer fazer tudo perfeito, deu tudo certo, tudo caminha dentro do esperado, as chances de dar um merda depois é alta, na minha opinião, pelo menos. De certa forma, todo mundo passa por uma situação parecida, querendo ou não. No caso da Vani, é uma coisa mais específica, né? Relacionada a deficiência dela, mas com certeza todo mundo tem uma particularidade que pode virar uma rusga com a família dos nossos companheiros e companheiras, né?

Assinante 2: Aqui é Priscila de Belo Horizonte, acho que a Vani tá muito, muito certa. Eu gostei que o Ruy e ela são cúmplices, porque no fim das contas, é isso, né? A gente tem que contar com quem fortalece com a gente. E quantos homens a gente não vê que na hora que a família fala alguma coisa, ficam contra as companheiras, né? Gostei que foi uma história, no fim das contas de amor e de companheirismo. Eu acho engraçado que a Déia não perdoa, né? Mas eu perdoaria sim, dependendo da situação, dependendo de como as coisas se desenrolam… As pessoas são preconceituosas mesmo, principalmente com quem tem algum tipo de deficiência, eu acho que, no fim das contas, a família dele aprendeu uma lição, né? E aí ela foi bacana de perdoar, mas no fim das contas, acho que ela e ele sabem que eles foram feitos um para o outro e os dois é que são o verdadeiro fechamento.

Déia Freitas: Um beijo e até segunda feira.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.