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título: projeto
data de publicação: 24/08/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #projeto
personagens: felipe e pedro

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Picolé de Limão, e a história de hoje é uma história de dois caras, o Pedro e o Felipe, que se conheceram numa palestra, num workshop. Eles são da mesma empresa e foram colocados no mesmo projeto, então era uma coisa assim, que era um projeto que ia dar muita visibilidade para ambos e eles se conheceram e se apaixonaram, então a história de hoje, o nome da história é “Projeto”. 

Quem me escreveu foi o Felipe, e assim, eu não vou dar muitos detalhes da empresa e nada, mas ele gostaria que vocês entendessem um ponto… Este projeto antes mesmo de qualquer relacionamento… Os dois não são da mesma área, mas ali alguém ganharia uma promoção para uma terceira área muito boa e esse projeto era decisivo para isso. Então era uma coisa que ambos estavam batalhando, né, para conseguir e, agora que eles se conheceram e estavam saindo, estavam apaixonados, o quê que o Felipe pensou? “Vai ser mais fácil, né? Porque eu subo na minha área, ele sobe na área dele e quem for melhor, ou quem, sei lá, se destacar mais consegue aquela terceira vaga, de boa, tranquilo”. 

Então era uma coisa que eles conversavam muito sobre, né? E um ajudava o outro neste projeto que envolvia mais um monte de outras pessoas, envolvia delegar funções, envolvia relações internacionais, um monte de coisa. E o relacionamento foi fluindo e o projeto também foi fluindo, agora que o projeto acabou e que tudo aconteceu de uma maneira que vocês vão entender um pouquinho mais para frente, o Felipe começa a lembrar de certas coisas do tipo: quando ele estava ali empenhado em fazer a parte dele e fazer as coisas que ele tinha que fazer, que ele tinha prazo, o Pedro estava sempre, assim, numa vibe “ah não, amor, deixa isso para depois, fica comigo”, “vamos fazer uma baladinha”, “vamos numa festa”… — quer dizer, tentando o tempo todo desconcentrar o Felipe. Ou fazer com que o Felipe adiasse algumas coisas e, assim, foi o que eu falei para o Felipe: isso não tira a responsabilidade dele porque ele sabia que ele tinha a tarefa dele para cumprir lá, o trabalho dele para fazer e ele preferia deixar para um pouco depois pra curtir o amorzinho dele com o Pedro, então assim, ele tem responsabilidade sim.

Mas o Pedro sempre insistia, quando via que ele estava firme ali no negócio, sempre insistia para eles ou saírem, ou sei lá, “vamos fazer uma viagenzinha curta”, sempre rolava esse tipo de coisa. Até que um dia, uma parte de um dos trabalhos do projeto que eles tinham que entregar lá para o chefe, uma parte do trabalho do Felipe sumiu… Sumiu do computador do Felipe, sumiu. E assim, aí eu falei: “ô Felipe, mas você não guardava as coisas na nuvem e tal?”, ele falou: “Andréia, meu, eu tinha acabado de terminar, deixei ele no meu computador, salvei, estava salvo sim e não consegui achar mais”. Não conseguia mais achar e ele falou que, assim, como ele salvou ele não colocou um nome, sei lá, que ele pudesse identificar depois, salvou por número lá, data, não sei, eu sei que ele fez busca no computador e não achou, então não é que ele tinha colocado numa pasta errada, o arquivo sumiu. 

E aí agora, depois que tudo passou, ele acha que tem o dedo do Pedro, porque o quê que aconteceu, gente? Esse nem é o ápice da história. O Pedro realmente deu um golpe no Felipe, ele começou a sabotar todas as etapas lá do projeto, acontecia alguma coisinha e quem se destacava? Era só o Pedro. E o Pedro sempre vinha com aquele papinho de “ah, por que você não me apoia, por que você não fica do meu lado? Que só porque fui eu que me destaquei, você não se destacou…”, e aí o Felipe ficava naquela “pô, será que eu tô com inveja? Será que eu realmente estou sendo o namorado que não tá apoiando porque eu tô com inveja?”, então aí ele ficava na dúvida, né, que sentimento era aquele, porque ele se sentia frustrado, né? Porque ele fazia, fazia e ele não sabia que ele estava sendo sabotado

E aí, óbvio, o projeto terminou e quem foi promovido, quem ganhou a promoção e aumento, essas coisas? O Pedro. O Pedro ganhou tudo, Pedro levou Felipe para comemorar, e assim, Felipe estava arrasado, tinha esse lado que, pô, o outro ganhou, tudo bem, mas não foi só que ele não foi tão bom quanto o Felipe… Tipo, ele foi uma droga, foi uma bosta o trabalho dele, entendeu? E era isso que ele não estava conseguindo digerir, não estava conseguindo aceitar. Só que, né, ele falou: “poxa, eu vou comemorar com meu namorado, ele ganhou, ele tá feliz, eu vou ficar feliz por ele”. 

Trabalho do Pedro dali para frente: vida nova, promoção, felizinho, tudo ótimo. Trabalho do Felipe: bem mais ou menos, ele frustrado, ele não rendendo tanto, mas assim, cumprindo as coisas que ele tinha que fazer. Bom, da promoção do Pedro dali uns três meses, o Felipe foi demitido do nada, porque não havia motivo, não tinha corte na empresa, nada, e foi um puta baque. E aí, quem que estava ali para socorrer ele, para dar o apoio? O Pedro. Felipe foi demitido, o Pedro não se afastou, óbvio, continuou namorando, continuou dando força e a vida deu mais uma seguida ali. 

Depois de um tempo, porque assim, você sai da empresa, mas com algumas pessoas você continua na amizade, né? As pessoas que você gostava pelo menos você não corta da sua vida, né? E tinha uma moça que trabalhava no RH, vamos chamá-la de Mariana, e a Mariana gostava muito do Felipe, o Felipe também gostava dela, só que assim, os dois trabalhavam muito e nem conversavam tanto. E aí outra coisa, o namoro deles não era público, o namoro deles só ficou público depois que o Felipe foi mandado embora, deu ali mais um tempo e aí o namoro ficou público. 

E aí, nessa ocasião do namoro público, de assumir Facebook, de colocar statuszinho, essa Mariana viu que os dois estavam namorando e levou um choque. E como ela era muito amiga do Felipe ela nem escrever escreveu, ela pegou o telefone e ligou pro Felipe, e falou: “Felipe, você tá namorando o Pedro?”, “ah, tô, a gente já namora, pra você eu posso contar, desde o começo do projeto. Então já tem praticamente dois anos e pouco que a gente namora”. E ela muda. E ela trabalhava no RH. Aí ela falou: “olha, eu não vou nem fazer rodeio, vou ser sincera com você, quem pediu seu desligamento da empresa foi o Pedro” [efeito sonoro de surpresa] — gente, foi o Pedro —, o Pedro que pediu para que o Felipe fosse mandado embora, e ele assim, ele não conseguia acreditar e a Mariana falou: “olha, eu não posso te fazer cópia de relatório, de nada, mas eu estou dizendo como sua amiga que foi ele”.

E aí é lógico que ele não ia colocar essa Mariana numa situação ruim e ele pegou e falou para o Pedro que tinha recebido uns prints de documentos de um anônimo — e ele nem tinha documento nada, ele estava jogando verde —, de alguém anônimo e que lá no relatório era um pedido do Pedro para ele ser demitido. Aí o Pedro começou a chorar, — as lágrimas de crocodilo dele — dizendo que fez por amor, que fez porque estava chegando num ponto insustentável, que alguém ia descobrir que os dois estavam juntos e ele seria prejudicado. Só que como ele tinha agora um cargo executivo e o Felipe tinha um bom cargo também de gerência, um bom cargo difícil dele conseguir agora de novo em outro lugar, ele achou que seria mais fácil e que com o que ele ganhava dava para os dois até morarem juntos se o Felipe quisesse, quer dizer, inventou uma mega-história que foi por amor. 

E o Felipe assim, não é que ele não acreditou, quer dizer, não tinha que acreditar, né, Felipe? Mas ele ficou assim, ele ficou mexido porque ele gosta do Pedro, eles estão separados, mas ele gosta do Pedro. A Mariana deu uma ideia para ele, porque assim, como esse relacionamento tem mais tempo, é desde lá do projeto, se o Felipe quiser ele pode processar a empresa alegando que foi o namorado dele que pediu a demissão dele, entendeu? Pode rolar uma treta assim. Mesmo que ele não volte, que ele não seja reintegrado, ele pode ferrar com o Pedro, e aí ele tá na dúvida porque ele gosta do Pedro, eles estão separados, mas ele gostaria de voltar. 

Eu não entendo isso, para mim me vem aquele meme lá, “o senhor levou tantas facadas e ainda quer voltar com ela?”, sabe aquele memezinho lá do Twitter? Gente, eu não me conformo, mas assim, tudo bem, né… — Coração da gente é burro às vezes. E aí ele tá na dúvida se ele ferra com o Pedro e abre esse processo porque ele tem provas que eles namoram há muito tempo, ou se ele perdoa e fica com o cara — gente, como que perdoa um negócio desse?

Bom, eu não sou Jesus, eu não perdoo. Agora vocês, o quê que vocês acham? Ainda mais agora, em época de coronavírus, onde que você vai trabalhar, Felipe? Você não vai trabalhar, você pode já ir pedindo, independente do que você escolher aí se você vai denunciar o cara ou se você vai voltar com o cara, pode pedir um dinheiro, porque você não vai ter como sobreviver esse tempo. Pelo amor de Deus, gente, não aguento isso.

Então, gente, comenta lá no grupo, a hashtag é “projeto”, e vamos que vamos, quê que é isso, Felipe? Não me conformo, não me conformo…

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.