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título: promovida
data de publicação: 07/07/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #promovida
personagens: dona vilma, seur ronaldo e jéssica

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. E hoje eu vou contar pra vocês a história da Dona Vilma. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Dona Vilma, uma senhora já de cinquenta e três anos, que estava desempregada e procurando emprego… Procurando emprego, não achava nada, aquele inferno, as contas ali tudo acumuladas, e Dona Vilma lá procurando qualquer ocupação. E ela já tinha trabalhado em empresa grande na recepção, e aí ela mandou ali uns currículos, foi numas agências e tal e conseguiu uma vaga. Finalmente Dona Vilma conseguiu uma vaga, numa firma aí da rede Pônei. E ela estava muito feliz, porque assim, era um prédio lindo, um prédio que tinha assim, na frente do prédio tinha um espelho d’água, uma coisa finíssima. E Dona Vilma ia trabalhar ali de uniforme, né? Ela recebeu um uniforme, ela estava muito animada, porque era uma coisa que ela sabia fazer, né? Que era ficar ali na recepção, era uma recepção informatizada, então você tinha, cada funcionário tinha o seu cartão e, conforme o funcionário passava o cartão na catraca, ali na tagzinha, aparecia no visor — Ali da recepcionista, né? — quem era e de que setor era. 

Todo mundo tinha essa tag, até o presidente da empresa. E esse prédio que Dona Vilma foi trabalhar era o prédio que tinha o presidente, então tinha uns cargos altos ali e, raramente dava problema na tag, porque aí quando dava, ela tinha que conferir identidade, tinha um protocolo pra seguir, né? Das coisas. E também quando chegava gente pra reunião e tal, ela que tinha que fazer o cadastro ali, tirar aquela fotinho, — Que a gente sai horrível, sabe? Na recepção dos prédios. [risos] — e era ela que fazia tudo isso. E Dona Vilma, uma mulher assim muito animada — A Dona Vilma é aquele tipo de pessoa que você percebe tudo pela expressão do rosto, então, se ela tá feliz, ela tá bem feliz, se ela tá meio triste, ela tá com aquela cara meio amassada, meio chateada, se ela tá brava, tudo você percebe pela cara dela, ela é muito expressiva, Dona Vilma. — E aí Dona Vilma ali na recepção, passou o primeiro ano, tudo certo, todo mundo conhecia Dona Vilma, porque realmente ela se destacava, né? Uma pessoa bem humorada e tal. 

E aí um dia, ela tá ali na recepção e uma mocinha chamada Jéssica, que era de um setor lá, tipo… — Vai, contando lá do prédio do vigésimo pra baixo — que era do décimo oitavo, vai, do setor ali financeiro, passou a tag, né, a tag autorizou ali, só que no visor, a Dona Vilma viu outro nome, e ela conhecia aquele nome. E a mocinha passou rápido, entrou com essa tag, e Dona Vilma ficou cabreira, mulher vivida, falou: “Eita, como que pode?”, porque essa moça, essa Jéssica, ela era tipo uma estagiária, não fazia sentido ela estar com a tag que ela estava, mas Dona Vilma resolveu ficar quieta, ela podia ter parado Jéssica, — Jéssiquinha — falar: “Jéssiquinha, vem cá, essa tag não é sua, irmã, o que tá rolando?”, era o papel da Dona Vilma, inclusive. Só que ela falou: “Não, não vou fazer isso”, e ficou atenta. — Ficou tenta. — Deu ali, gente, uns quarenta minutos, chega ele, vice-presidente da rede Pônei, um senhor casado, um senhor com netos, um senhor aí de uns quase setenta anos, muito distinto assim, muito arrumado. Chegou ele, passou a tag e aqui tem um detalhe, por exemplo, chegou uma correspondência, alguma coisa pra um funcionário específico, ela podia colocar o aviso na catraca e aí a tag desse funcionário não passava, aí ele ia até a recepção, eles olhavam e via lá “encomenda”. 

E Dona Vilma, depois que Jéssiquinha passou, tinha colocado um alerta naquele cartão de Jéssiquinha, — Por que Jéssiquinha não estava com o cartão dela, né? — Então ela queria saber quem estava com o cartão de Jéssiquinha, e não dava pra toda hora ela olhar todo mundo e ela colocou aquele alerta. Quando esse grandão da rede Pônei chegou e passou a tag, o cartão dele apitou, ele estranhou porque, né? Vice-presidente, o cartão, sei lá, até brilha. — E esse é o detalhe, todos os cartões são iguais, nenhum cartão tem foto, nada, o seu crachá fica junto desse cartão, esse seu acesso você tem que deixar junto ali com seu crachá, né? Mas ele não está escrito nada. — E aí apitou, este senhor foi até recepção assim contrariado, né? “Como que apitou?”, e aí Dona Vilma já veiaca, ela que tinha colocado o aviso e era o cartão da Jéssiquinha, ela falou: “Boa tarde senhor, Ronaldo, ah, deixa eu ver o que aconteceu”, ela olhou — E ela é muito expressiva — ela olhou para o computador e olhou pra cara do Seu Ronaldo e falou: “Este cartão é da Dona Jéssica, Jéssica Pereira do décimo oitavo andar”. 

E ela falou num tom, que assim, ela não estava ameaçando o Seu Ronaldo, mas ela queria mostrar que ela sabia. — Mas, gente, por pura fofoca, por pura fofoca… — O velho ficou roxo. E aí conforme ele foi ficando roxo, Dona Vilma ficou olhando pra ele assim, deu uma pausinha, sabe? E aí depois dessa pausinha ela falou: “Óh, já liberei aqui”, e deu uma piscadinha pra ele, tipo: “Ah, eu tô sabendo”, mas gente, não foi pra chantagear, pra nada, era pela fofoca. E aí esse senhor passou na catraca ali e foi para o vigésimo andar, que era o andar dele e, pra sair, as pessoas também passavam ali a tag, né? E na saída Jéssiquinha com uma cara péssima, passou a tag e era o cartão de Jéssiquinha. — Então, quer dizer, eles trocaram, né? Trocaram o cartão. — E a partir desse dia, porque antes, este senhor Ronaldo, ele não falava bom dia ali na recepção, ele passava a tag dele e entrava, não era aquela pessoa que dá bom dia, sabe? — Dona Vilma disse que também ele não era um cara que destratava as pessoas, ele só passava direto assim, ela falou que isso não era uma característica só dos grandões assim, que tinha grandão lá que parava, dava risada, mas também tinha funcionário ali que estava no mesmo nível dela que também não dava bom dia, então não era um critério isso. — Para Dona Vilma. —

E a partir desse dia, este senhor chegava: “Bom dia, Dona Vilma” e Dona Vilma muito expressiva, olhava pra ele, piscava, e falava: “Bom dia”. [risos] E assim, o que Dona Vilma achou que, sei lá, tinha passado, né? Porque ela só queria saber pela fofoca, tipo, “Eu vi que você estava com o cartão da Jéssiquinha”, sabe aquela coisa? Deu mais um tempo ali, Dona Vilma foi chamada no RH, e ela nem imaginava porque, né? — E ela já tinha esquecido dessa história. — E, gente, Dona Vilma foi promovida. Ela sairia agora da recepção e iria pra um lugar lá, — Eu vou inventar uma função aqui, porque eu acho que se eu falar a função, sei lá… Sei lá, chefe de cadastro. — Então ela sairia da recepção e ela seria agora chefe, ela nem iria para o setor de cadastro, ela iria como chefe do setor de cadastro. 

E era uma promoção, assim, gente, do nada, do nada, e que veio como ordem deste senhor vice-presidente da rede Pônei, então aí a Dona Vilma me escreveu pra contar a história dela… Que de uma fofoca, que ela só queria a fofoca, ela só queria, tipo, que ele visse que ela viu, que alguém sabia, sabe? Não foi uma chantagem, não foi nada, o cara deve ter ficado com medo, sei lá, vai saber, porque ela não tem nem como perguntar e ela foi promovida e estava lá no RH. A moça falou que era uma promoção que vinha diretamente da vice-presidência, olha que chique. [risos] E o idoso de setenta anos, aí eu perguntei pra Dona Vilma: “Que idade tinha Jéssiquinha?”, aí ela falou: “Ah, uns vinte e cinco assim”. — Uns vinte e cinco. — E aí é assim… — Parte boa e parte ruim. — Ela estava agora ganhando mais, ela era chefe, parte ruim é que na recepção ela via tudo, então ela via quem saía pra almoçar, tipo, duas pessoas e voltava os dois de cabelo molhado, sabe assim? [riso] Ela sabia muita coisa, porque a fofoca na recepção era muito boa, então ela perdeu esse item: fofoca gostosa da recepção. Mas se não fosse a fofoca gostosa da recepção, ela não teria subido de cargo, né? Então parabéns aí Dona Vilma pela promoção que aquele velho safado, casado, com neto, né? Teu deu aí por causa de Jéssiquinha.

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente. Ana Flávia, Pirassununga, São Paulo.  Dona Vilma, a senhora é maravilhosa, maravilhosa. Só ali na recepção, pegando as fofocas do pessoal, e ainda conseguiu uma promoção, pena que a senhora tá agora num setor que não tem mais acesso facilitado a fofoca, mas eu tenho certeza que conforme vai passando o tempo, você vai pegar ainda mais coisas, viu? Tudo de bom, beijão. 

Assinante 2: Oi, gente, aqui é a Nayla do Rio de Janeiro. Em primeiro lugar, meus parabéns pra Dona Vilma por ter sido promovida, e agora tocar o barco, né? Agora uma coisa que eu acho engraçada é: Por que Seu Ronaldo sendo tão poderoso não promoveu [risos] a possível amante dele que é estagiária e promoveu a Dona Vilma? Mas enfim, parabéns de qualquer forma, Dona Vilma. 

Déia Freitas: Então é isso, gente, um beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.