título: rata
data de publicação: 14/08/2023
quadro: amor nas redes
hashtag: #rata
personagens: rata
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Amor nas Redes, sua história é contada aqui. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei. Cheguei para mais um Amor nas Redes. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje — de novo — é a Visa e o movimento Escolha Jogar Com Elas. — #EscolhaJogarComElas. — Somos considerados o país do futebol, mas somente do futebol masculino. Por mais de 40 anos as mulheres foram proibidas por lei — isso mesmo que você está ouvindo, por lei — de jogar futebol no país. Essa lei só caiu em 1979… E a Visa, a parceira global da Copa do Mundo Feminina FIFA 2023, que apoia mulheres no esporte há mais de 20 anos, criou o movimento Escolha Jogar Com Elas, um movimento para engajar as pessoas a apoiar o futebol feminino também. Visa quer estimular o brasileiro para que ele assista a Copa do Mundo Feminina FIFA 2023 e assim apoie o futebol feminino. Siga a Visa nas redes sociais para conhecer o movimento Escolha Jogar Com Elas, no Instagram é: @Visa_BR, no Facebook é: @VisaBR e no YouTube também: @VisaBR. #EscolhaJogarComElas.
Eu vou deixar os links aqui e a hashtag certinha na descrição do episódio… E hoje eu vou contar pra vocês a história da Rata. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A menina Iracema foi uma criança e muito arteira, assim, e que descobriu a bola cedo. Ela morava com a família ao lado do estádio Moça Bonita, que fica em Bangu. — Zona oeste do Rio de Janeiro. — E a Iracema gostava de jogo de botão, brincava muito com um jogo conhecido “pregobol” ou futebol de dedo. — Ah, minha infância… Eu lembro disso… Era uma tábua de madeira com preguinhos, fazendo as vezes dos jogadores de futebol e uma moeda pequena, que a gente usava para dar uns petelecos e fazer a vez de bola. Eu lembro muito disso. E quem é da classe C e nasceu ali na década de 70, 80, vai se lembrar do pregobol, [risos] amo… — A Iracema jogava muito, gostava demais do pregobol. Além disso, ela gostava também de corrida de chapinha, de refrigerante na rua… — Vocês lembram disso? [risos] Só as brincadeiras aqui da minha época, hein? — A menina Iracema foi crescendo assim, jogando futebol com qualquer coisa que ela encontrava na rua… Ela gostava de ir chutando, sabe? — E qualquer coisa pra Iracema virava aí uma bola de futebol nos pés dela. —
As suas primeiras memórias são chutando alguma coisa… A paixão pelo futebol nasceu ainda criança. Só que naquela época, gente, as mulheres, eram proibidas de jogar futebol por lei. Pra lei, a prática de desportos como o futebol era incompatível com a natureza das mulheres. E esse decreto — que foi criado em 1941 — ficou vigente até 1979… Quando a Iracema descobriu essa proibição, ela ficou ainda mais apaixonada por futebol, ela jogava escondida e se metia no meio dos garotos para jogar, porque ela amava jogar… E essa era a essência da Iracema. — De desafiar ali as normas e tal desde quando ela era muito pequena. — Iracema ali com seus seis, sete aninhos, jogava futebol com o irmão dela, que era um ano mais velho e jogava também com os moleques na rua. — Escondido? Escondido, mas jogava… — Nas vezes que Iracema tava ali na rua jogando com os meninos, quando ela ouvia o assovio ali do pai [efeito sonoro assovio], ela sabia que tinha dado ruim…
Por ser menina e estar ali jogando futebol, Iracema, infelizmente, apanhava do pai… Que não aceitava de jeito nenhum que a filha dele estivesse fazendo algo que era só para meninos. — E que ainda era proibido por lei. — Mesmo ali apanhando do pai, ela jogava descalça… — Por que quem que ia dar uma chuteirinha pra uma menina? — Jogando descalça, perdendo o tampão do dedo do pé ali, ela continuava jogando… E com 12 anos, Iracema ganhou a primeira chuteira dela… De um conhecido que morava na rua dela ali e sempre via a Iracema jogando descalça. Essa chuteira que a Iracema ganhou ela era muito maior que o pézinho dela, [risos] mas mesmo assim ela ficou super feliz e começou a usar a chuteira. — Aquela coisa, né? Minha mãe que falava isso: “Pé de pobre não tem tamanho, [risos] você bota um pano na frente, uma meia na frente ou aperta o pé e é isso”. [risos] —
No caso da Iracema, ela botava bastante jornal amassado na frente ali e um pouco de jornal amassado atrás — fazia tipo uma caminha para o pé de jornal — e ia jogar. Mas era muito melhor jogar com uma chuteira cheia de jornal, uma chuteira maior que o pé dela do que jogar descalça. E a gente pode pensar aqui: “Poxa, Iracema, audaciosa, né? Quem ela puxou essa audácia toda? Essa coisa…” e aqui a gente precisa falar da mãe da Iracema, dona Alzemira. [efeito sonoro de fita rebobinando] A dona Alzemira, vendo que a filha gostava muito de futebol, montou um time feminino de futebol. O time não durou muito, porque era uma época que ninguém apoiava, mas foi graças a esse time… O nome do time era “Flor de Maio”, que uma amiga de Iracema que também jogava com ela, vendo ela jogar e vendo como ela desarmava qualquer garoto e como ela tinha habilidade e tal, durante um treino deu o apelido da Iracema de “Rata”. — Vocês conseguem imaginar para época uma mulher vendo a sua filha que curtia futebol, falar: “Poxa, vou montar um time, vou juntar as meninas e elas vão jogar sim”. É muito louco isso, né? Dona Alzemira, já amo… —
No Rio de Janeiro, alguém chamado de “Rato” ou “Rata” era sempre alguém conhecido como ligeiro, sabe? Por ter um gingado, assim, por conseguir fazer a outra pessoa de bobo tal, e aí o apelido pegou… Iracema, a partir desse time de futebol da mãe dela — o Flor de Maio — e dessa amiga que vendo ela ali, o jeito que ela jogava, que ela tirava a bola das pessoas e tal, ela foi apelidada de “Rata” e o apelido pegou. Sem apoio, o time não durou muito e o pai realmente ele não concordava que ela jogasse futebol. Um dia ela chegou em casa — toda suja de ter jogado futebol na rua — e o pai dela falou: “Já chega, é o futebol ou a família… Se você continuar nessa de futebol, você pode pegar suas coisas e ir embora”. — A Iracema tinha 12 anos… — O pai da Iracema queria que ela casasse… Ela tinha 12 anos, mas era uma época que ali com 14 anos, as meninas já casavam. A minha avó casou com 14 anos. —
As meninas já estavam prontas pra casar e era isso que o pai da Iracema queria para ela… Só que a Iracema falou que não, ela não ia casar. Ele falou: “Então, bom, você tem que sair de casa”. A dona Alzemira ficou desesperada, porque óbvio que ela não estava de acordo com a decisão do marido, né? Só que ela tinha outros 17 filhos para criar… E, embora muito triste, a dona Alzemira não conseguiu fazer com que o marido voltasse atrás e Iracema, menina, juntou aí suas coisinhas e pegou carona — olha o perigo — com um caminhoneiro para Itanhaém. Ela tinha um pouquinho de dinheiro que a mãe tinha dado pra ela, assim, num desespero tipo: “Leva o que a gente tem pra você não ficar tão desamparada” e Iracema ficou dormindo alguns dias na praia, passando fome e frio… Até que ela conheceu uma pessoa na praia mesmo e essa pessoa acolheu a Iracema na casa dela e ela ficou uns dias lá…
Depois de uns dias, a Iracema pediu que essa pessoa que abrigou ela a levasse até a casa de uma tia na Mooca. — Era um endereço que a mãe dela tinha anotado num papelzinho para ela ir, mas ela tinha conseguido carona para Itanhaém, enfim, né? — Chegando na casa da tia, ela conseguiu ligar para os pais e disse que estava lá… E aí o pai de Iracema já estava arrependido e dona Alzemira falou pra ela voltar pra casa, que era para ela voltar. E aí o irmão mais velho da Iracema foi lá e buscou ela na casa da tia. Quando ela voltou para o Rio, Iracema resolveu ficar na casa de uma namorada que ela tinha. — Os pais dessa namorada não sabiam que as duas namoravam, achavam que elas eram apenas amigas, né? Por conta de todo o preconceito e tal. — Iracema ficou ali um tempo na casa da namorada, depois ela morou em Santa Cruz, Realengo, Bangu, perto da casa dos pais, mas também não voltou a morar com os pais. Não voltou para casa… Só que sempre jogando futebol.
Não tinha salário, mas tinha uma ajuda de custo, então com isso ela conseguia dividir essas moradias com outras jogadoras… Mas elas passavam muita dificuldade, assim, porque era só uma ajuda de custo que às vezes mal dava pra pagar o aluguel inteiro e comprar comida… Era uma coisa ou outra. Até que um dia, a Rata ficou sabendo que teria uma peneira para jogar aí no primeiro time feminino de Bangu. A vaga ali era de zagueira. Era o time da esposa de um grande contraventor da época. A Rata foi lá, participou da seleção e passou nessa peneira para jogar nesse time de Bangu. Ela jogou um tempo nesse time e depois até a Rata participou aí de uma outra seleção para uma outra peneira, um time chamado “Esporte Clube Radar”, time que foi um marco do futebol feminino no Brasil… E a equipe que foi formada nas areias da praia de Copacabana migrou para o campo e se tornou a primeira potência no futebol feminino no país.
E lá, nesse time Radar, a Rata ainda menor de idade — ela tinha 17 anos na época — precisava da autorização do pai para sair com o time do país. — Pensa, aquele pai que nunca aceitou que ela jogasse futebol. — O time formado pelo Radar iria representar a seleção do Brasil nos Estados Unidos, no Chile, no Suriname, na Venezuela e na Espanha e, para a Rata ir, ela precisava dessa autorização assinada pelo pai. — Como ela ia fazer se eles não se falavam mais e ela morria de medo dele ainda, né? — O técnico do Radar, um homem chamado “Eurico”, foi então com a Rata na casa dos pais dela e a Rata ficou escondida [risos] atrás de seu Eurico, assim, olhando para o pai meio ressabiada… Esse Eurico bateu ali na porta [efeito sonoro de campanhia tocando] da casa dos pais da Rata… O pai da Rata mesmo atendeu e esse Seu Eurico falou tudo, né? O que estava acontecendo, que ela precisava de autorização nã nã nã e nã nã nã e precisava da assinatura dele.
Para surpresa de todos — e de uma Rata boquiaberta — o pai dela abraçou a Rata, assinou a autorização e mesmo eles dois nunca mais tocando no assunto, a Rata e o pai se tornaram melhores amigos. A partir desse dia da autorização, o pai da Rata nunca disse com palavras, mas com ações ele mostrava que estava do lado dela e que se arrependia muito de ter batido nela porque ela jogava futebol… Um arrependimento que ele tem muito grande é de ter expulsado a Rata de casa, né? A partir desse dia, eles ficaram amigos e o pai dela se tornou um dos maiores incentivadores do futebol da Rata. E essa reconciliação com o pai foi um divisor de águas na vida da Rata, assim… Foi por conta do preconceito mesmo da época que o pai dela havia rompido com ela, né? E essa reconciliação não foi importante somente para a Rata, porque a partir dali é que o pai dela passou a ser um dos grandes apoiadores do futebol feminino.
Ele passou a ir na casa… — Olha isso, gente… O pai da Rata, que era contra ela jogar futebol, depois que eles fizeram as pazes… — Este homem passou a ir na casa das colegas da Rata — que também jogavam — pra pedir para que os pais delas deixassem que elas jogassem e que apoiassem elas também. Então ele, como pai que tinha preconceito, foi convencer outros pais que tinham preconceito a que eles deixassem as filhas jogar futebol. — Cara, isso é muito grande. — A Rata diz que talvez esse seja o maior troféu que ela ganhou na vida, se reconciliar com o pai e ter o pai ali, apoiando a rata 100% no que ela mais gosta de fazer na vida, que é jogar futebol. — A mãe da Rata, Dona Alzemira a gente não precisa nem falar, né? Também sempre apoiou a filha… Mas como a família é grande, ela não conseguia fazer muita coisa na época que os dois tinham desavença e tal, então ainda bem que deu certo aí, de pai e filha se reconciliarem. —
Com essa assinatura em mãos, reconciliada com o pai, a Rata muito feliz começou a pensar mesmo, de verdade, que ali foi o primeiro passo pra ela se sentir uma jogadora profissional. Mas mesmo que ela tenha sido convidada para participar dessa competição no exterior, ainda assim, a Rata e as outras mulheres que jogavam não eram consideradas profissionais aqui no Brasil. O time da Rata derrotou por um a zero o time dos Estados Unidos — Isso era em 1982… — na casa delas. E, enquanto o time masculino de futebol do Brasil tinha todo apoio, o time feminino sem apoio nenhum — e mesmo sem ser considerado profissional — ganhou da Espanha de onze a um. O time não perdeu nenhum jogo fora do Brasil… Elas ganharam no Chile, ganharam no Suriname, ganharam nos Estados Unidos, na Venezuela e ganharam na Espanha. — Ganhamos tudo… — O pai da Rata acompanhava ela em alguns jogos e, inclusive, tem uma foto que a Rata leva na carteira da mãe e do pai juntos num jogo dela em São Paulo.
E olha que legal isso… A mãe dela passou a ser chamada de “Dona Ratona”. [risos] — E o seu pai de “Seu Ratão” [risos] pelas colegas ali do time, [risos] porque eles estavam sempre nos jogos… Pensa que gostoso ver sua família ali, te prestigiando e te apoiando. — Dona Ratona e Seu Ratão eles não apoiavam só ali torcendo, eles ajudavam… Eles faziam cafezinho pras meninas, ajudavam a recolher as roupas do time para lavar… — Pensa, eles davam mesmo esse suporte, esse apoio ali para as meninas na época. — Tudo corria muito bem, até que um dia, jogando pelo Radar, a Rata estava disputando um campeonato contra um time do Madureira e quando ela estava com a bola dominada na área, a atacante do Madureira foi pela lateral e entrou com a chuteira no meio do joelho da Rata. — Ela estava com o pé de apoio no chão e sofreu uma lesão grave. —
A Rata teve que operar imediatamente e passou por duas cirurgias. Mas mesmo assim, mesmo com essas duas cirurgias, com médicos renomados, o joelho da Rata nunca mais voltou a ser o mesmo e ela nunca mais conseguiu jogar da mesma forma e acabou se afastando do futebol aos poucos. — Isso é muito triste, né? — Depois dessa lesão, a vida da Rata sofreu um grande baque, né? Porque foi quando as coisas começaram a melhorar para o futebol feminino, melhorar em relação ao que a Rata e as outras jogadoras já tinham enfrentado… — Um preconceito absurdo, a proibição por lei, a falta de apoio e patrocínio — Quando o cenário começou a mudar e a favorecer, a Rata foi lesionada de uma forma bem definitiva, asim, e não conseguiu jogar mais. E a Rata estava sentindo uma dor muito grande por não poder participar do primeiro campeonato mundial de futebol feminino, por não poder ter a experiência qualificada em outros campos.
Arrasada por não poder jogar o futebol e por não poder ter a sua carteira de trabalho assinada como atleta… A Rata não pôde representar e o nosso país lá fora e, de repente, ter uma carreira internacional, conseguir ganhar um dinheiro para auxiliar a família, ter fama como jogadora… Então, a lesão veio bem no momento dessa mudança para melhor no futebol feminino. — E a Rata não pôde fazer nada disso. — A partir daquele momento, a Rata teve que se reconstruir. Ela teve que inventar uma nova Iracema, se refazer, porque não dava para ficar chorando e se lamentando a vida toda, né? E a Rata sabia das condições que ela estava vivendo e sabia que do jeito que tinha sido a lesão no joelho, ela não ia mais jogar como jogava antes, não ia mais conseguir chegar onde ela queria chegar e que ia ser muito difícil ela ter uma oportunidade de disputar um campeonato mundial com o joelho dela do jeito que estava. Então a Rata começou a estudar…
Ela prometeu a si mesma que nunca mais ia passar necessidade na vida e ela passou muito… Que nunca mais ia passar fome e sentir frio, ela tinha passado… — E depois, quando dividia moradia com as outras jogadoras que buscavam oportunidades, ela também tinha passado muita dificuldade, né? — Então ela falou: “Bom, para esse esse lado eu não volto mais”. E aí, dali em diante, a Rata começou a estudar muito, se dedicou como nunca aos estudos, teve ajuda de uma das suas irmãs, a Araci… Ela ia para bibliotecas, pedia livro emprestado… E foi estudando, estudando, estudando, até que a Rata passou em quinto lugar num concurso público e entrou numa Universidade Federal, onde ela trabalha até hoje. Hoje a Rata é mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Assunção, no Paraguai. — E, como durante a sua vida inteira, ali também a Rata foi vítima de preconceito e discriminação. —
Rata terminou o mestrado em 2016 e, por conta da pandemia, só esse ano, em 2023, Rata conseguiu pegar o seu diploma. Rata é Iracema Ferreira, reconhecida hoje como uma das pioneiras do futebol feminino no Brasil. A Rata sente muito orgulho da carreira que ela construiu no futebol, né? — Até onde foi… — E também da carreira acadêmica que ela construiu agora. Caminhando aí para os seus 60 anos, a Rata está muito feliz de ver as meninas hoje tendo esse reconhecimento que há muito tempo já deveria ter chegado e que a Rata foi uma das que lutou para que as meninas tivessem o reconhecimento que elas têm hoje. — É a realização de um sonho. — E aqui a gente precisa reconhecer junto com a Rata, a importância desse time Radar, dessas outras jogadoras também e das outras jogadoras, dos times adversários que foram pioneiros aí… Numa época que a mulher ainda não era considerada uma jogadora profissional.
O futebol feminino merece cada vez mais visibilidade, reconhecimento… Já passou da hora de começar a receber o seu devido valor, né? Precisa ser reparada todas essas injustiças. Se a gente pensar que era a lei, proibido mulher jogar futebol… É surreal isso. A Rata ela tá com uma esperança muito grande de poder voltar a sonhar com o futebol feminino. — Quem sabe receber uma proposta para trabalhar como “professora Rata” em algum time e colaborar de alguma forma com o futebol feminino atual? Eu estou aqui na torcida, quero muito… Sei que a rata hoje é Mestre, tá toda na pegada do acadêmico, mas poxa, a Rata aí uma treinadora, hein? Eu quero… Amo… Já amo. —
[trilha]Rata: Eu sou Iracema Ferreira, conhecida como Rata. A menina Iracema era um menininho… Eu sempre gostei muito de futebol. Quando eu não jogava futebol, brincava de jogo de botão, jogar aquele negócio que tinha… Antes tinha muito isso, aquele joguinho de botão, que também era futebol. Ou então com aquelas moedinhas pequenininhas que a gente botava os preguinhos e fazia um campo de futebol de preguinho… Jogava futebol de dedo, né? Ou aquele de chapinha de refrigerante que a gente fazia na lama, na rua e botava corridinha com aquele negócio de chapinha. [risos] Ou então jogar futebol com qualquer coisa que eu via na rua e fazia de bola de futebol… Eu falo que eu nasci… Eu acho que antes de eu nascer eu já gostava de futebol, [risos] gostava muito, gosto muito… Sou muito apaixonada por futebol. Futebol pra mim era um desafio muito grande, porque eu já gostava muito de futebol e, quando eu descobri que era proibido, acho que isso aumentou o amor, né? [risos]
Era futebol para os meninos e, na maioria das vezes, eu jogava escondido. Eu acho que essa coisa de não poder fazer é que é muita a cara da Rata, né? Quando alguém fala para você que você não pode, isso cresce dentro de você com uma força… É um desafio… Que aí você faz tudo na vida para você fazer exatamente aquilo que tentaram te proibir. Eu acredito muito que eu sou até hoje assim… Eu nunca gostei de ouvir um “não” como resposta. Assim foi quando eu era criança e assim eu sou até hoje. Eu recebi vários “nãos” para não fazer um mestrado e hoje eu sou uma pessoa que eu sou muito, muito, muito feliz. Embora eu tenha encarado várias barreiras, vários preconceitos para conseguir realizar o meu sonho, [risos] eu acho que esse lance do “não” me excita, me excita pra vida. Eu gosto desses desafios. Eu me apaixono muito mais ainda pela coisa…
Eu acho que isso aumentou o amor pelo futebol, meu amor pelo futebol. Graças a Deus eu tive esse presente também de Deus, de ter me reconciliado com meu pai. Para mim foi muito importante e pra ele, com certeza. Embora a gente nunca ter conversado, nunca tivemos essa oportunidade de falar, mas ele teve atitudes que na minha vida e na vida até de outros atletas, de outros jogadores que não precisava de palavras… E isso pra mim com certeza foi a minha maior vitória… Conhecer meu pai de verdade e ele me conhecer, ele conseguir compreender… Ali o amor falou mais alto. Depois desse dia, ele foi me acompanhando em alguns jogos… Inclusive, tem uma foto dele e da minha mãe que anda comigo na minha carteira… Passou a ser chamado de “Seu Ratão” e ela de “Dona Ratona” pelas meninas do futebol. O Eurico deu muita força para eles também… Foi importante também o Eurico ter conversado com eles, ter convencido os dois e eu fiquei muito feliz que todos os jogos eles participavam quando eles podiam viajar…
Foram pra Brasília também, no jogo de Brasília eles estavam presentes, fazia cafezinho, ajudavam a recolher a roupa do time pra lavar… Pra mim foi muito importante. Meus pais foram muito importantes para mim e para o futebol feminino também. Eu tenho muita certeza disso e estou muito feliz de ter conseguido passar por tudo isso e hoje conseguir falar… É claro que eu vou falar sobre isso e sempre vou chorar, não tem como não chorar…
[trilha]Déia Freitas: A Rata nunca jogou uma Copa do Mundo Feminina FIFA…. Ela sofreu uma lesão bem na época da primeira edição, em 1991, então ela não foi convocada e se aposentou aí sem ter essa experiência. Por esse motivo, a Visa levou a Rata para a Austrália. [efeito sonoro de crianças contentes] Pela primeira vez, a Rata está participando de um evento como esse — esse grande evento — e não poderia estar mais feliz aí… Você vai poder acompanhar o desfecho desse convite nas redes sociais aí de Visa. O Instagram — eu vou repetir aqui — é: @visa_BR, Facebook e YouTube: @VISABR. #EscolhaJogarComElas, um movimento de Visa que apoia mulheres no esporte há mais de 20 anos. — Valeu, Visa, pela parceria e pelo apoio aí. — Um beijo, gente, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]