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título: religiosos
data de publicação: 27/10/2025
quadro: picolé de limão
hashtag: #religiosos
personagens: joel, thalita e césar

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem tá aqui comigo hoje é a Rádio Novelo. — Vocês não vão acreditar… Lembra que nas lives que eu faço aí em algumas quintas—feiras eu sempre falo que a nossa caixa de e-mail fica lotada com as histórias mais inacreditáveis possíveis? Então, parece que não é só a gente que tem acesso aí às histórias mais incríveis e absurdas… E essa história é tão grande que virou um podcast inteiro e, ó, é tipo aquelas histórias de pirâmide que sempre aparecem ali pra gente, só que essa história tem penas, plumas e até cílios postiço… Eu não tô brincando. — Ali, pelo final dos anos 90, começo dos anos 2000, uma pergunta era muito ouvida por alguns brasileiros: você sabia que dá pra investir em avestruz e ganhar um bom dinheiro? 

Sim, gente, a ave… Era vendida a ideia de uma oportunidade imperdível de investimento, e que ninguém podia ficar de fora… E muita gente não perdeu a oportunidade. Naquele momento, o Brasil vivia uma moda quase esquecida: a febre do avestruz. Em grande parte, graças aí a Gerson Maciel, um empresário paulista que, em questão de anos, virou o Rei do avestruz. Construiu um império sob o guarda-chuva da empresa Avestruz Master. O prometido era investir em avestruzes, um esquema de uma simplicidade, assim, comovente… Investir numa ave ou em um ovo e obter lucros absurdos. — Basicamente, uma pirâmide financeira, né? Só que com penas e ovos. — E, claro, como toda pirâmide, terminou em tragédia. 

Mas, gente, com cada personagem que olha… Só ouvindo mesmo. Ouça agora Avestruz Master, uma série da Rádio Novelo, disponível no Spotify, no YouTube e em todos os demais tocadores de áudio. — Olha, só o Brasil mesmo pra entregar uma história dessa, né? — Hoje eu vou contar pra vocês a história do Joel. Então, vamos lá, vamos de história.

[trilha]

Joel era muito religioso da Igreja Católica. Vivia em grupo de jovens da Igreja Católica e lá ele conheceu Thalita. Thalita era muito boazinha… — Uma querida a Thalita. — Joel estava com 25 e Thalita estava com 22, idade boa ali que eles acharam pra começar esse relacionamento já pra casar. Os dois muito católicos, né? O casal… Os pais também das duas famílias, muito católicas… Entre namoro e noivado, durou um ano. Família do Joel queria muito que eles casassem, então agora com 26 anos, ele ia se casar. — Tem uma corrente na Igreja Católica que é tipo igual evangélico, assim… — Casaram ali na Igreja Católica, teve uma festa, mas o mais importante pra eles era a questão religiosa. Os dois casaram virgem, então aquele comecinho ali meio que uma briga de foice. [risos] “Ah, como é que?”, quase tendo que ver um tutorial no YouTube. [risos] Conseguiram ali se resolver e Joel falou: “Bom, é isso então o sexo”. Thalita também falou: “Bom, é isso então?”.

E aí eles começaram o casamento deles… Os dois, muito amigos, muito parceiros, mas com pouca interação sexual. Isso não era uma questão pra eles, até que Thalita engravidou e eles tiveram uma bebezinha. Nossa, felicidade, que incrível e tal… Assim que Talita teve a bebezinha, ela falou pro Joel: “Joel, eu queria entrar numa academia, queria voltar ao meu peso de antes da gravidez, mas eu não queria ir pra academia sozinha. Vamos nós dois? Não sei como é o ambiente de academia, fico receosa e tal, então eu queria ir com meu marido”. Isso, a bebezinha já estava com uns cinco pra seis meses, né? Quando a Talita teve essa iniciativa de entrar na academia. E aí o Joel falou: “Ah, tá bom, vamos então, né?”. Se matricularam numa academia e os dois começaram a fazer ali musculação, fazer as coisinhas de academia. Thalita, que nunca tinha trabalhado, tinha sido incentivada pelo Joel, depois que o bebê nasceu, tudo, a fazer um concurso pra um banco. E Thalita passou… A vaga era lá essas coisas? Não era lá essas coisas, era o inicial assim, mas estava ótimo. Concurso, enfim, ela tinha uma estabilidade. 

Joel já trabalhava num banco privado. Poxa, a vida dele estava legal…  — Assim, tirando essa questão do sexo, né? — Eles eram muito companheiros, iam pra academia juntos… Depois, Talita começou nesse trabalho, teve que mudar o horário da academia, mas aí ela já estava acostumada com o ambiente. Pra ela, foi até melhor porque ela ia antes do trabalho e tinha bastante senhoras e Talita é meio tímida, então pra ela ficou ótimo. O Joel passou a ir depois do trabalho. O tempo passou, agora bebezinha com três anos, Thalita começou a ficar diferente… Começou a ficar muito triste. Ela era tímida, mas uma personalidade assim, agradável e tal, e ela estava muito fechada, muito pensativa, assim, preocupada e o Joel: “Bom, vou ter que conversar com ela, né?”, tentou esperar uns dias pra ver se aquilo ia passar… Enfim, né? Homens tentando evitar aí conversas sérias, né? O Joel mesmo disse isso: “Ah, Andréia, eu tentei realmente evitar até o ponto que eu falei: ‘não, tenho que falar com ela'”.

Quando o Joel foi falar com a Thalita, ela começou a chorar e ela falou que no trabalho dela ela saía com as amigas pra almoçar e, no restaurante, ela conheceu um moço. Ela não tinha ficado com esse moço, nada, mas ela tinha sentimentos pelo moço. Assim, sempre que ela chegava perto do moço, ela ficava muito zonza até, e ela sentia coisas físicas… — Que eu acredito, né, Thalita, que a gente pode dar um nome aí a: tesão. — E ela tava num conflito, porque ela sabia que era pecado… — A gente tá falando aqui de pessoas religiosas, tá? — Mas era um pecado gostosinho. [risos] Isso eu que tô falando… [risos] isso eu que tô falando, tá, gente? [risos] Ela nem conversava com o cara, o cara só tentava se aproximar, falar: “Boa tarde”,” ah, você aqui de novo no almoço” e ela não respondia, mas ela ficava mal, sabe assim? Precisava de um banho. [risos] 

Ela contou pro Joel e, assim, ele entendeu a Thalita e ele disse pra Thalita: “Olha, eu te amo muito, nós somos muito amigos, mas a gente sabe que no sexo a gente não se dá bem. Eu também não sei, a gente não conhece nada.,, Se você quiser, você pode ficar com esse cara, eu não vou me importar. Eu não vou encerrar o nosso casamento”. Só que a questão pra Thalita não era só o marido achar ok, era Deus, era Jesus, sei lá, Santo Antônio, sei lá, as crenças dela, entendeu? Foi aí que o Joel começou a perceber o quanto ela tava sofrendo por causa disso, né? Porque se fosse o caso, ali ele falou: “Andréia, se fosse o caso, a gente se separava. Ela ia ficar com esse cara que ela queria, obviamente, ela queria transar com ele e vida que segue. Só que tinha essa questão da religião”. E o Joel começou, junto com a Thalita, a fazer um desmame, acho que seria a palavra, da religião. Tentar falar: “olha, não vamos tentar seguir a nossa vida, nós dois? Deixar um pouco de lado a coisa do padre, a coisa da bíblia? Vamos tentar? Você não quer ir lá? Vai lá, tenta conversar com esse cara. Não sei”. 

Tinha uma terceira questão, porque todo mundo ali na repartição da Thalita sabia que ela era casada, então como é que ela tá dando mole pro cara no almoço? Como é que ela ia passar o telefone dela pro cara? Porque agora ela já tava dando essa evoluída. [risos] — Ou seja, né? Jesus, dá um tempo aí, pera aí, deixa eu só ver como eu vou passar o telefone aqui pro cara”. Ao mesmo tempo, Joel foi vendo que ela foi voltando a ficar feliz, assim. Bom, se pra isso minha mulher precisa trepar com outro, pra mim tudo bem. Paralelo a isso, Joel quando começou a fazer academia, ele reparou que ele ficava de pau duro quando qualquer instrutor, não era um específico, vinha ali botar a mão nele pra ajustar o movimento. Se era uma moça que vinha arrumar um braço dele, ele não sentia nada. [risos] Ê, Joel… E aí Joel o falou: “Andréia, quando eu era, sei lá, adolescente, eu também sentia essas coisas, só que pecado… Então, o que eu fazia? Muita oração, muito banho frio e é isso… Mas agora, ali na academia, quando alguns rapazes, os instrutores…” e assim, gente, instrutores, galera profissional, ninguém tava ali assediando o Joel, entendeu? Tava fazendo o trampo dele, só que ele tava ficando de pau duro.

Complicado pra você fazer um exercício, como é que você me vai fazer um leg press de pau duro? [risos] Ele começou a deixar de ir na academia por causa disso, mas ao mesmo tempo, ele descobriu ali também uma coisa que ele já sabia que ele gostava, mas que era pecado. — Então, por um lado, Thalita queria pecar com o rapaz do almoço, e ele ali olhando os rapazes da academia. — Joel pra incentivar a Thalita falou: “Olha, Thalita, você tá falando aí desse cara, e eu preciso te contar também que na academia, quando um rapaz põe a mão em mim, eu fico excitado…”, “Misericórdia, verdade? Jamais desconfiei”, [risos] ou seja, Thalita também já desconfiava dele, mas falou: “Bom, na nossa religião a gente sabe que é pecado, então assim, ela achou que teve filho com ele e tudo, a menininha ali e tal…” e eles tinham muito essas conversas e nunca passavam de conversa, até que um dia, Thalita chegou e falou: “Ai, consegui, dei um jeito, dei meu telefone pro rapaz” e ela trocou mensagem com o rapaz, e o rapaz chamou ela pra sair. 

Só que, assim, ela não podia… Gente, sair? Você é uma mulher casada, você não vai sair. Onde você vai? Aí ela falou: “Olha, eu não posso ficar circulando por aí, eu sou uma mulher casada”, ela usava uma aliança grossíssima, acho linda aliança grossa… E aí o cara falou: “Ah, eu posso te levar pra um motel”. Thalita fez um charminho, mas falou: “Ah, vamos” [risos] e foi… E, assim, gente… Thalita recebeu o básico da rola. Joel falou: “Andréia, eu acho que eu não dava nem isso, eu não tenho uma pegada hétero assim, né? Então, assim, eu fazia o que eu conseguia, eu dava o meu máximo. Talvez o meu máximo não alcançasse o mínimo”. [risos] E Thalita voltou enlouquecida, falou: “Gente, então é isso que é ter prazer? É isso? Eu gostei disso”. A partir dali, eles esqueceram essa questão da religião, de Deus, de Jesus, e focaram mais nas coisinhas da carne… Só que aí a Thalita começou a se apaixonar por esse rapaz e esse rapaz por ela. E aí ela teve uma conversa com o Joel: “Olha, Joel, eu sei também que pra você vai ser mais complicado, porque você tem atração por homens, então vai ser mais difícil do que tá acontecendo comigo, mas eu acho que a gente vai ter que separar, mesmo as nossas famílias sendo contra, porque eu tô apaixonada, eu amo você, você é o pai da nossa filha, a gente é amigo, mas eu tô apaixonada por outro rapaz”. — Que a gente pode dar um nome, sei lá, de “César”. — “Eu tô apaixonada pelo César”. 

Thalita pediu o divórcio sabendo que ela não poderia casar na igreja católica, mas César não tem religião nenhuma. Então, ela divorciou em junho e, quando foi em fevereiro, ela estava casada… Casada com o César. E está casada com o César até hoje e César se dá bem com o Joel… Enfim, todo mundo se dá muito bem. — A história poderia terminar aqui, né? Seria ótimo. Saírem da religião porque vocês sabem o que eu penso sobre religião, lembrando que você estar numa religião ou você acreditar em Deus, em Jesus, não tem nada a ver uma coisa com a outra. A religião ali que estava prendendo eles e falando que era pecado. Você pode acreditar em Deus, acreditar em Jesus, amar Jesus e ser gay, ser lésbica, não ser casada na igreja, entendeu? Isso, quem fala pra você que não pode, que você é uma aberração, é a religião. Por isso que eu sou contra. — Foi difícil com a família? Foi, mas gente, é aquela coisa: a família está lá, você está aqui, você vai viver a sua vida. Nem tudo dá pra você agradar os seus familiares, sinto muito. 

Ah, minha mãe vai chorar? Terapia pra sua mãe, ela que vai resolver as questõezinhas dela, que vai falar com o padre, com a freira, com o diabo a quatro, com quem ela quiser. Thalita, firme ali, casou com o César e, no final, a família acabou acolhendo o César ali. — Porque a vida da Talita mudou, gente, agora ela tinha um cara que realmente, além de dar o afeto, poxa, tem toda uma questão aí também, né? Que você precisa dar uma coisinha. Então, o cara estava ali, né? Sentando a lenha na Thalita, gostosinho. Ah, foi pecado? Não foi? Isso aí nós vamos deixar pra quem é religioso. — Thalita agora casadíssima, transadíssima, felicíssima, mudou… Joel falou: “Andréia, o rosto da Thalita mudou [risos] porque realmente eu não estava suprindo, né?”. E aí, Joel, ele continuava com desejos por homens, mas com um conflito interno… Agora, pensa, gente: o cara já tá com 30 anos, 31… Olha o tempo que ele perdeu, o quanto de pênis que ele podia ter conhecido… E não conheceu, sabe? E não teve um beijo de um cara, um abraço de um cara, que era o que ele queria.

Podia ter tido isso, sei lá, desde de novo, novinho ali, sei lá, 16, 17 anos, sei lá, quando que os jovens hoje começam, né? Na minha época a gente começava com 20 anos, sei lá. Hoje em dia, não sei, mas enfim, ele podia… Olha quantos anos ele perdeu, né? Quantos pipis ele perdeu. Por quê? Porque ele falou essa palavra pra mim: ” Andréia, eu me considerava uma aberração perante Cristo”. Agora você acha que, sei lá, Jesus, pelo histórico que a gente tem do cara ser super legal, né? Que realmente ocorreu tudo, é, pô, o cara era super gente boa, você acha que ele ia falar: “Pô, ó, Joel, não chupa um pênis”, ele não ia falar isso… O que que isso vai interferir na vida das outras pessoas? Nada, sabe? Então, quem que fala isso? São os religiosos. Não é Jesus… Jesus aí a gente sabe que o cara era super gente boa, ele não ia falar: “Ai não, você é gay, morra”, não ia falar isso, Jesus, pelo histórico que a gente tem, né? 

E a Thalita falando: “Eu já amaciei as famílias pra você”, porque assim, foi um escândalo, né? E o Joel deu força pra ela, falou: “Não, eu também quero separar”, porque senão ficava só ela, né? Tipo, a Thalita quer separar, tá rompendo o lar… O Joel falou: “Não, a gente quer separar, nós dois”, mas quem enfrentou mais coisas foi ela, porque logo depois ela apareceu com o César e logo depois casou, então, assim: “Agora vai também viver, pelo menos… Então, começa escondido, vai ver o que que é isso do pênis, né? Poxa, prova uma rola, vê se é isso”. O Joel, um dia, tomou coragem e falou: “Ai, olha, quer saber? E se eu baixar um aplicativo?”. Baixou o aplicativo, só que assim, a partir do momento que ele baixou o aplicativo, ele se arrependeu, viu ali uns matches e tal, né? Algumas combinações com ele, mas não teve coragem, desinstalou, rezou uns Pai—Nossos, umas Ave—Marias… — Pra gente ver como a religião realmente ferra a cabeça da gente, né? E aí vai ter um monte de gente que vem aqui e vai defender a religião. Gente, não defendam suas religiões, pra mim, porque eu não gosto de nenhuma. Você vai perder seu tempo, faz outra coisa com seu tempo. —

Fez as orações ali, passou… Era um sábado. No domingo a academia funcionava até meio—dia, “ah, quer saber? vou malhar”, foi pra academia, agora ele já conseguia se concentrar pra não ficar de pau duro, porque é chato pra caramba, né, gente? Poxa… Ele conseguia se concentrar, então ele ia ali fazer os exercícios dele e ia embora. Só que ali na academia tinha um cara que era um instrutor novo, que tinha acabado de entrar e esse instrutor estava com um olhar que ele nunca tinha recebido dos outros instrutores. — E aí é aquela coisa que eu já falei aqui, que o Clodovil falava: boi preto conhece boi preto. Esse instrutor fez um olhar de “vamos”, “vem”, enfim, “estou aqui, quero”. Ele estava ali no aparelho e o cara foi lá para o vestiário. Joel, com o coração quase explodindo, assim, saindo do peito: “Ai meu Deus”, já com tesãozinho, “Vou… Bom, de repente não acontece nada; eu pego ali minhas coisas, abro meu armário, pego minhas coisas e vou embora”. Quando ele chegou dentro do vestiário, este cara, sem falar absolutamente nada, deu um puta beijão no Joel. 

E aí, assim, o Joel falou: “Andréia, não existiria santo nem ninguém que desse, nem um santo que descesse na terra que ia me fazer largar aquele homem naquele momento”. Começaram ali uma pegação dentro do vestiário, mas assim, só uma sarrada que não dava fazer nada, né? O cara pediu o telefone do Joel e eles trocaram o contato. Joel saiu da academia assim e falou: ” Andréia, eu não sabia nem dirigir mais… Saí dali com a cabeça…”, assim que ele saiu, o cara já mandou mensagem. Ele estava ainda no estacionamento, tentando enfiar a chave no contato, de tanto que ele tremia, assim, de tão bom que tinha sido, enfim… O cara já mandou mensagem falando: “me espera no estacionamento” e o cara veio, entrou no carro… O cara não fez nenhuma menção de beijar ele, nada, só olhou pra ele e falou: “segue”. E o Joel falou: “Andréia, eu estava tão excitado que eu tive que fazer muito esforço, assim, pensar em muitas coisas horríveis pra não ejacular ali sentado no volante, sem o cara tocar em mim, sem fazer nada, assim, pra mim, foi uma coisa muito, muito louca em relação assim a tesão”. E o cara: “entra aqui, entra aqui, entra ali” e, quando o Joel viu, ele estava na porta de um motel.

Joel, naquela coisa, porque ele falou: “Andréia, não adianta, quando você é religioso, o Jesus vem, vem na sua cabeça”, e aí eu falo pra vocês: Gente, não é Jesus, tá? Entrou nesse motel. Gente, outra vida, outra coisa, nova vida, uma nova era, um novo lugar ali pra você fazer o seu acampamento. Enfim, Joel chegou era umas 11 da manhã e ele ficou transando com esse cara até 10 horas da noite. — Foi, assim, uma coisa surreal. — Ali, também, naquele motel, Joel descobriu do que ele gostava na transa, ele alou: “Andréia, ali eu me descobri também passivo, que era uma coisa muito importante, porque assim eu eu mal encostava no meu próprio cu”. E ali o cara, enfim, lambeu, enfiou o dedo, enfiou a rola, e era isso que o Joel queria… Então, ele descobriu ali que no sexo ele preferia ser o passivo, realmente. Só que, junto com isso, veio uma total loucura por parte do Joel. Eles almoçaram naquele motel, ficaram ali até a noite, e quando foi dando 10 horas, esse instrutor da academia começou a reclamar pra ele que a academia pagava pouco, que isso, que aquilo. 

E Joel não sabe como, mas o rapaz acabou pedindo, ele acabou dando 500 reais pro rapaz. E aí, depois ele ficou na dúvida se isso era um programa ou se o rapaz tinha gostado realmente dele. Só que no dia seguinte, o rapaz mandou mensagem chamando ele pra sair de novo. Agora Joel já estava separado da Thalita, cada um morava num lugar, e o rapaz foi na casa do Joel. Ele falou pra mim: “Andréia, não é que eu tava apaixonado… Eu não sei te dizer o que eu tava, eu tava completamente tomado por aquele cara”. E aí eu falo pra vocês: Joel, o quê? Cabaço, cabaço, cabaço, sem nenhuma experiência. Primeira vez que o cara foi lá, comeu ele bem, ele ficou doido porque não teve toda aquela vivência que era pra ele já ter tido. E o cara chegou no apartamento do Joel, a primeira coisa que o cara viu foi o videogame do Joel…

Transou com o Joel e, quando foi embora, levou o videogame. Numa outra vez, levou a TV… E não é que o cara estava roubando, ele pedia as coisas e o Joel dava. Depois, o cara inventou que a mãe dele precisava fazer uma cirurgia. Joel vendeu o carro… Em um mês, o Joel perdeu o carro, várias coisas da casa dele, fez empréstimo, perdeu as economias dele, tudo pra esse cara. A única coisa que ele não conseguiu se desfazer foi o apartamento que ele tinha. — Nesse apartamento, ele tinha um financiamento junto com a Thalita. — Nessa altura do campeonato. ele tinha contado a parte feliz pra Thalita que finalmente ele tinha saído com um cara, Thalita quis saber detalhes, ele contou meio por cima, só que depois ele foi ficando angustiado porque agora ele já falava assim pro Joel: “Ah, se você quiser que eu te coma, você tem que me dar tal coisa” e o Joel, muito enlouquecido, dava. Joel ficou sem nada, vendeu o carro…

A Thalita falou: ” Mas escuta, como é que você vai pegar a nossa filha agora e tal?”, e aí ele acabou contando pra Thalita que esse rapaz estava fazendo isso e que ele não conseguia sair, gente assim, porque, enfim, ele não tinha a menor experiência de nada, não tinha traquejo, eu acho que é a palavra. Sabe? Thalita, muito preocupada, falou com o César e César, um dia, que o rapaz estava lá no apartamento do Joel… — O apartamento já depenado, gente, até a geladeira o rapaz queria, só que ele mora num predinho tipo de três andares, assim, então para tirar a geladeira, você precisa chamar uma galera, enfim, era mais difícil. Então não tinha rolado a geladeira ainda, mas ele ia perder até a geladeira. Deu um apavoro no cara, não bateu no cara nada, mas falou: “Olha, eu sou da polícia, o que você quer aqui? Você vai voltar aqui?”. — O César mentiu que era da polícia, ele não é da polícia. —

Nisso, o Joel aos prantos, chorando, ele queria ficar com o rapaz. O rapaz nunca mais apareceu. O rapaz, inclusive, saiu da academia. O César também deu um chacoalhão no Joel, [risos] falou: “Para de chorar. Põe de choro, tá cheio de homem por aí, pega outro homem”. [risos] E o Joel já estava, gente, assim, cheio de dívida, e ele falou: “Andréia, sei lá, eu fiquei com esse cara uns 40 dias. Ele acabou com tudo que eu tinha, vendi o carro e dei o dinheiro pra ele… Cirurgia da mãe? Nem sei se ele tem mãe… Fiquei completamente enlouquecido pelo cara” e o cara deve ter sacado, né? E aí, se aproveitou e tal. O Joel tá se recuperando aos poucos, tá cheio de dívida ainda, cheio de dívida, mas ele falou: “Andréia, eu vou pagando, não perdi meu emprego, né? Graças a Deus, não perdi meu emprego, eu vou pagando O nome tá sujo… Não consegui comprar ainda outro carro, então aí é a Thalita ou o que trazem minha filha pra ficar comigo e tal e é isso”, ele também nunca mais levou nem um cara na casa dele, mesmo porque a casa… [risos] Joel… [risos] A casa dele não tem nem sofá, ele deu o sofá pro rapaz. 

Deu o sofá e eu falei: “Escuta, a mesma galera que desceu o sofá não podia descer a geladeira? [risos] Porque se eu sou o rapaz, se eu tô roubando, vou roubar direito”. Não, o sofá, eles dois desceram… Porque o sofá é mais leve, né? Menos complicado que uma geladeira. Geladeira eles não conseguiam levar, os dois, né? Só os dois. E o sofá, eles levaram. O sofá, o rapaz levou o sofá do Joel… Levou tudo que ele tinha. Gente, tudo, tudo, tudo que ele tinha levou. E aí, agora ele também não leva mais ninguém na casa dele, mesmo porque não tem onde sentar. [risos] E a gente riu disso, tá? Eu não tô rindo sozinha, eu ri junto com o Joel disso do sofá, porque eu falei: “Porra, Joel, sabe? Por uma rola, cara?” e ele falou: “Ah, Andréia, eu fiquei louco”. [risos] E ainda bem que sabe não aconteceu uma tragédia, um crime… O cara não matou ele, sabe? Porque acontece, gente… E ele também não leva mais ninguém na casa dele e tá recuperando as coisas aos poucos, né? 

A família dele não sabe, só quem sabe que ele é umas duas ou três pessoas no trabalho, que ele acabou contando desse golpe. Inclusive, um amigo dele apresentou o cara que ele tá saindo agora, falou: “Nossa, tem um amigo meu gay que você vai amar”. Realmente ele gostou, assim, e tá saindo com esse rapaz, mas também não é nada sério… E o César e a Thalita. E ele falou: “Andréia, depois eu fiquei pensando…”, porque ele falou: “O César, ele é super… Sabe cara na dele, assim? Cara fechado. Não foi a Thalita que mandou o César ir lá, o César que falou: ‘meu Deus, chega disso, olha o que tá acontecendo com ele”. O cara levou os tênis dele, as roupas, ele já tava meio esfarrapado. [risos] Aí, o César deu uma coisa no César, tipo: “chega”, sabe? [risos] E aí foi lá, botou o cara pra correr… Não bateu no cara, nada, mas mentiu que era policial e depois deu uma apavoro no Joel. [risos] Tipo: “Para de choro, tá cheio de homem por aí. Pega outro homem”. [risos] Já amo. 

O Joel falou pra mim: “Andréia, eu tenho que agradecer, assim, pela Thalita e o César, eles estarem na minha vida porque eu sei que, de alguma forma, eles me protegem, né?” Porque tá aí, começando agora a vida de gay. Ele falou: “Andréia, e é assim, é um campo muito vasto, é muita coisa, mas também tem muita coisa perigosa”. Um gay recente e caiu no golpe desse cara da academia aqui, né? Ele falou: “Andréia, pelo menos agora não tem mais o que levar. Se tentar passar meu cartão, não vai passar”. [risos] Ê, Joel… Bom, é bom que a gente riu, eu ri com ele porque ele tá vivo, tá bem, né? E eu falei pra ele: agora você se liga, senão o César volta aí pra falar: “chega disso”. [risos] O que vocês acham? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, nãoinviabilizers, aqui é o Jonatas de Brasília. Joel, eu fico muito feliz que você tenha se descoberto, embora tenha sido muitos anos depois, tenha se casado e tudo, é super compreensível, né? A gente sabe o que a religião faz com a gente, mexe com a cabeça da gente. Fico feliz que você tenha uma boa amizade, né? Com a Thalita e com o César, que eles podem ser pessoas aí que vão estar sempre do seu lado. Foque em amigos mais próximos também, conte as suas experiências, veja uma terapia que eu acho que você vai entender muitas coisas, né? Na terapia. E tenha muito cuidado com aplicativos de relacionamento. Tem alguns, inclusive, que só os gays usam, você sempre tem que tomar muito cuidado, tem que ter a malícia, fique com o pé atrás e viva a sua vida. Abraço e tudo de bom. 

Assinante 2: Meu nome é André e eu falo de Rio das Ostras, interior do Rio. Joel, a sua história me deixou pensando em como é triste uma sociedade, uma educação homofóbica, que tiram da gente o direito ao básico, como viver e descobrir a própria sexualidade. Porque enquanto muitas pessoas têm a adolescência e a juventude para aprender a se relacionar afetivo e sexualmente com os outros, tantas outras pessoas que sentem e amam diferente das expectativas heterossexuais, enfim, precisam aprender na marra, ali já adultas, como lidar com seus sentimentos e se proteger dos golpes e golpistas da vida. Porque quando a gente era mais novo, estava preocupado em se esconder dos outros, de nós mesmos e de fugir das violências… Eu fico super feliz que você está bem. Um beijo para você, Thalita, César, e um grande abraço. 

[trilha]

Déia Freitas: Nos anos 2000, rolou no Brasil uma febre de investimentos em avestruzes. Era prometido lucros absurdos — o que a gente sabe que não aconteceu — e o esquema era basicamente uma pirâmide financeira, só que com penas, ovos e promessas de inacreditáveis 10% de lucro ao mês. Ouça agora “Avestruz Master”, uma série da Rádio. Novelo disponível no Spotify e YouTube e em todos os demais tocadores de áudio. — Valeu, Rádio Novelo, pela parceria. — Um beijo, gente, e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]