título: seca
data de publicação: 16/10/2025
quadro: amor nas redes
hashtag: #seca
personagens: eliana e malvina
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Amor nas Redes, sua história é contada aqui. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Amor nas Redes. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem tá aqui comigo hoje é a Marisa. Feita de mulher para mulher desde 1948, a Marisa é uma das maiores redes de moda feminina do Brasil e reforça seu apoio e sororidade às mulheres nesse Outubro Rosa. Outubro Rosa, mês dedicado à conscientização do câncer de mama e, mais recentemente, também do câncer de colo do útero. Para isso, a Marisa, em apoio e solidariedade às mulheres com câncer de mama, está desenvolvendo materiais educativos sobre o assunto e também produzindo lenços lindos que você pode usar onde quiser: nos cabelos, na cintura, na bolsa, no pescoço. Qual o intuito desses lenços? Doar 100% dos lucros da venda desses lenços solidários para o ICESP. — O trabalho do ICESP é incrível. —
Esses lenços solidários são produzidos especialmente agora para o mês de outubro, uma parceria incrível entre a Marisa e o Governo do Estado de São Paulo. Você pode ter aí também o seu lenço: Vá até uma loja Marisa ou entre agora no site para comprar o seu lenço. Está disponível em dois tamanhos: o pequeno custa R$ 9,99 e o grande custa R$19,99. Lembrando que 100% do lucro desse lenço vai para o ICESP, Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. — Aí toda vez. que você olhar para o lenço ou que você vir alguma mulher com o lenço na rua, você vai lembrar e ficar atenta aos seus exames preventivos e esses exames preventivos estão disponíveis no SUS para aí um possível diagnóstico precoce, né? Então, viva o SUS. — Para você saber mais sobre prevenção do câncer de mama, é só acessar o link que eu deixei certinho aqui na descrição do episódio.
E a frase que eu amo: [cantarolando] de mulher para mulher, Marisa… [risos] Amo… E hoje eu vou contar pra vocês a história da Eliana. Então, vamos lá, vamos de história.
[trilha]Eliana conheceu um homem quando ela tinha ali seus 25 anos, se apaixonou por esse homem, namorou esse homem por dois anos, esse namoro evoluiu e, com 27 anos, Eliana se casou com este homem. A família deste homem morava a umas 8 horas de distância — eu não sei falar em quilômetros [risos] — de onde este homem e Eliana se conheceram. Ela, pouquíssimas vezes, teve alguma interação com a família dele antes de se casar. O casamento, ali naquele início, era bem ok… Conheceu um pouco mais a família, ela percebeu que a maioria ali era bem antipática, meio escrota, sabe? Família escrotona assim? Eliana deu graças a Deus que a maioria ali dos parentes moravam a 8 horas de distância. Vindo ali de uma família muito pequena, onde sua mãe faleceu quando ela tinha ali seus 17, 18 anos, seu pai casou de novo e foi viver a vida em outro estado, então assim, ela tinha pouco contato com o pai. — Então, ela meio que se apegou ali, né? Aquela família mesmo, uma família ruim, né? Eliana se apegou um pouco a eles. —
Quando deu 28 anos, este homem chamou Eliana e falou: “Eliana, então… A gente não tá se prevenindo e você não tá engravidando, será que tem alguma coisa comigo ou com você? Vamos dar uma olhada e tal, né? Pra gente ver porque que não tá acontecendo”. Depois de muitos exames que os dois fizeram, o casal acabou descobrindo que Eliana não podia ter filhos… A partir desta informação, aquele homem que era ok — porque também não era nenhum príncipe — passou a destratar a Eliana. Eles foram em muitos médicos… Depois que foi dado o diagnóstico de que realmente Eliana não podia engravidar, assim que eles chegaram em casa, Eliana, chorando muito, o marido virou pra ela e falou: “eu não acredito que eu me casei com uma mulher seca por dentro”. Eliana ficou em choque porque ela não esperava, ela esperava, sei lá, que ela fosse acolhida pelo marido, né? E, a partir desse momento, a Eliana me disse: “Andréia, eu sabia que ali eu tinha que ter, sei lá, me defendido, né? Das palavras dele e pedido o divórcio. Ia ser melhor pra ele, ia ser melhor pra mim, mas pelo contrário, ali me deu um medo muito grande de perder o meu casamento, de talvez o único homem que ainda quisesse ficar comigo, porque afinal eu era seca por dentro”.
Eliana, foi deitar, e este homem pegou o telefone e ligou pra família toda pra contar que a Eliana não podia engravidar. No telefone, ela ouvia ele falar que ele tinha sido enganado, sendo que Eliana nunca tinha feito exames mais a fundo assim, né? Pra saber se podia engravidar ou não. Eu acho que ninguém faz… Alguém faz? Ninguém faz. A partir do momento que ele conversou com a família dele, tudo mudou. Naquele primeiro ano, ela tinha ido passar o Natal lá na cidade da família dele. A partir do momento daquela notícia, tudo mudou… Agora, eles iriam todos passar o Natal ali na casa da Eliana e agora Eliana teria que cozinhar pra todo mundo. Logo depois da notícia, a sogra ligou, disse que estava passando mal, que precisava de ajuda na casa… — Ela tava mal ainda, né? Curtindo um luto dela ali, com a notícia que ela recebeu”. Eliana pediu 10 dias de férias e foi ajudar a sogra… Quando ela chegou lá, ela foi tratada como uma empregada da casa. E a sogra ficava jogando na cara dela que ela não podia ter filho, que ela era seca.
A sogra tratou ela muito mal, fez ela até limpar o vaso com escovinha de dente, e aí eu falei: ” Mas Eliana, mas por quê?” e ela falou: “Eu tava totalmente sem forças, eu tava totalmente, sei lá, eu tava… parece que eu tava realmente seca por dentro, morta por dentro, porque eu não conseguia reagir. O que eles falavam pra eu fazer, eu fazia”. Aquele cara ele tinha muitos irmãos e irmãs e ela não conseguia solidariedade de ninguém da família, porque todo mundo achava que ela enganou o cara, que ela sabia que não podia engravidar e casou com ele assim, sem avisar… Então, todo mundo pegou um ranço da Eliana, e todo mundo tratava ela mal. A partir daquele ano, o marido dela dava o dinheiro pra ela, porque provavelmente ele pegava o dinheiro da família ali, né?
Cada um dava um pouco e ela tinha que fazer peru, presunto, arroz não sei o que, arroz, não sei o que lá e todo mundo ia pedindo as coisas… — Ela não podia comprar, tá? Comprar ceia pronta. — Quando chegava dia 23, à noite, ela já ficava mal porque ela começava a fazer as coisas e só parava na hora ali que o povo chegava, em torno ali das sete da noite. Eles saíam por volta das dez da manhã, onze, da cidade deles e iam em três, quatro carros pra casa da Eliana e do marido. Quando eles vinham, além da ceia, ela tinha que passar ali uns três, quatro dias fazendo coisa pra galera comer, enfim, depois dali, todo mundo ia pra praia… Chegava lá na praia, ela cozinhava. — Ela era, gente, uma empregada da família toda. — Como a mãe do cara tinha esse problema aí na perna, dia 22 ele ia lá pra casa da mãe dele, ajudava a mãe dele a ajeitar as coisas ali e vinha só ele e a mãe dele no carro, e às vezes um irmão sentado no banco da frente, porque a mãe vinha atrás sozinha pra esticar a perna, assim de lado, sabe? Em cima do banco. — Então ele ia buscar a mãe dele dia 22 e vinha junto com todo mundo no dia 24. Então, além de tudo, ela ficava sozinha fazendo as coisas, mesmo porque se ele estivesse, era um traste, não ia ajudar em nada… Mas tipo, ele não estava nem ali, ele estava lá confraternizando com a família dele. —
No meio de tudo que ela tinha que fazer, ela ainda tinha que ir no posto de gasolina a pé, comprar gelo pra pôr dentro do tanque pra colocar cervejas. — Nem isso os caras da família faziam. Nem isso… Ela tinha que vir com o saco de gelo a pé. — Às vezes ela estava tão cansada porque ela não aguentava trazer os dois sacos de gelo. Ela levava um e voltava pra buscar o outro, fazia duas viagens. Eliana não entende por que ela aguentou quatro natais assim… Todo mundo trocava presente, não tinha amigo secreto e ela não ganhava nada. — O marido não dava nada, ninguém dava nada pra ela. — Como ela trabalhava, ela mesma comprava alguma coisinha pra ela, porque ninguém dava nada. — Ela era tratada como um nada mesmo naquela família. — Ela falou: “Andréia, eu olho pra trás assim, quando eu tô na minha sessão de terapia, tem coisa que eu falo: “meu Deus, parece que é uma vida de uma outra pessoa que eu não sei como eu cheguei naquele ponto, sabe assim? De esquecer completamente de mim e de viver no automático, ali com aquela família, fazendo tudo que eles pediam. Eu era tratada como um lixo, como uma empregada”.
Depois de alguns natais assim, a chefe dela falou: “Olha, aqui a empresa vai pagar pra você pra você fazer terapia e tal, a gente quer ver se te ajuda”, porque aí ela começou a não se cuidar também, assim, a ir trabalhar com o cabelo sem pentear… Quer dizer, já estava ali deprimida, né? Muitas das meninas da firma dela sabiam o que ela passava e todo mundo falava: “Eliana, sai…”, e aí chega uma hora que — isso é um fato — você vê a pessoa mal e você fala tanto pra ela largar, e ela não larga, que você fica com raiva e não fala mais. As meninas pararam de falar, ela não reclamava mais na firma, porque ela sabia que todo mundo ia falar: “Mano, todo mundo já te falou pra largar, por que você não larga?” e ela começou a fazer terapia, não parou de trabalhar, mas ainda não só em Natal, mas em outros eventos, assim, quando a família dele vinha, nossa… Ela era tratada como empregada, da galera jogar coisa no chão… Desse nível. Chegamos aí a um determinado ano. Quando chegava ali no dia 22, que era o último dia que ela trabalhava na firma, que tinha confraternização, Eliana já ficava tremendo, era um gatilho pra ela, porque ela sabia que ela ia passar 23, 24, trabalhando igual uma doida em casa e, mesmo assim, a galera, todo ano falava: “Peru seco, hein? Nossa, esse arroz aqui, ó… Unidos venceremos esse arroz… Nossa, isso aqui tá muito ruim, hein? Ih, esse pavê aqui não cozinhou direito esse leite condensado”…
Todo ano nada tava bom, mas ninguém se mexia pra fazer um prato. No grupo da família, quando foi ali pelo dia 15 de dezembro, a galera começou com as piadas: “Ih, vamos ter que aguentar a comida da Eliana, hein? Ih, ó, leva uns pacotes de biscoitos e bolachas”. No dia 21, ela mostrou as mensagens e Ttdo mundo ficou muito indignado… — E aí, aqui eu quero apresentar pra vocês uma moça do trabalho da Eliana, chamada “Malvina”. — Malvina tinha entrado naquele ano. Uma pessoa alegre, uma pessoa comunicativa… — Que gostava muito e gosta, né? Muito de unhas em gel, assim, grandes e pontudas. [risos] — Malvina foi assim descendo aquela tela e falando: “Eu não acredito… Eu não acredito”. Era dia 21 e todo mundo tinha que deixar o seu perfeito pra voltar a trabalhar só no dia 2 e Malvina não teve tempo de falar ali o que ela queria. Todo mundo voltou a trabalhar, chegou no dia 22, confraternização e a Eliana tremula… — As meninas já sabiam. — Malvina viu a Eliana tremendo, perguntou ali, fofoca todo mundo gosta, né? As meninas contaram tudo e Malvina ficou quieta, falou: “Bom, deixa ela curtir um pouco aí”, porque tem sorteio, é uma festa, né? A confraternização da firma.
Eliana estava preocupada porque ela só voltaria pra terapia na metade de janeiro, então ela estava muito preocupada em ficar com aquela família. Ela estava mal… No dia 22, antes de ir pra casa da mãe, este homem ia no mercado e comprava tudo que precisava pra ceia. — Pelo menos isso ele fazia. — A Eliana ainda estava na confraternização, ele mandou mensagem dizendo que botou as coisas de geladeira na geladeira e que as outras coisas todas ele deixou em cima da mesa e a última mensagem dele pra Eliana foi: “Vê se não faz merda, hein? Vê se esse ano você capricha nessa ceia”. Tá bom pra vocês? Eliana tava ainda ali na confraternização, se segurou pra não chorar, mas enfim, ficou ali, ela tava com as amigas de trabalho e tal, né? Ela teria que começar algumas coisas ali à noite do dia 22, mas ela: “Não, eu vou começar tudo no dia 23, acordo cedinho e dá tempo”. Eliana deitou e ela toma um remédio pra dormir… Ela tinha se programado pra acordar às 5 da manhã e acordou 8 horas. Quando ela viu que era 8 horas que ela não tinha começado, muita coisa ali ela sabia que eles iam chegar e ela não ia ter terminado e eles iam começar a falar… Eliana já começou a chorar. — 8 horas da manhã… — Quando ela pegou o celular, tinha uma mensagem da Malvina: “Você não precisa disso, colega… Tá aqui o meu endereço, vem pra cá agora e vem passar o Natal com a gente”, era impossível… Ela tinha uma ceia pra fazer. — Pra vocês terem uma ideia do grau de sem noçãozisse dessa família, tinha duas noras dela que tinham bebês que tomavam mamadeira, fórmula e tal e o marido dela comprava as fórmulas, os leites pra Eliana fazer o mingau… As mulheres vinham sem trazer o leite da própria criança. Tá bom pra vocês? Ela mandou mensagem pra Malvina: “Eu tenho que fazer a ceia aqui, o pessoal vai chegar e eu não posso ir pra aí agora, eu tenho o dia inteiro de coisa pra fazer”.
E aí a Malvina ligou pra Eliana e falou: “Ô, Flor, escuta… Eu não tô falando pra você fazer a ceia aí vir pra cá, não… Tô falando pra você largar tudo agora aí e vem passar o Natal comigo. Larga tudo aí e vem. Vem passar o Natal comigo. Larga tudo aí. Ah, eles não vão ter o que comer? Se foda eles. Seu casamento, nega, já acabou”. Aquilo deu uma coisa na Eliana, porque ninguém nunca tinha falado pra ela que o casamento dela já tinha acabado e realmente já tinha acabado. — A psicóloga até dava um… Tentava puxar esse assunto, mas isso tem que partir da Eliana, né? — Eliana desligou, não conseguiu nem falar que ia e nem que não ia e aquilo ficou na cabeça dela. Quando ela entrou no grupo da família, alguém tinha feito uma piada sobre o nascimento do Menino Jesus, alguma coisa, que a única que não ia saber como era isso era a Eliana… — Porque ela nunca ia gerar uma criança pra saber como é que é o nascer do Menino Jesus. — Aquilo doeu muito nela. — Não foi a primeira vez que ela ficou com raiva, mas ali naquele momento ela teve muita raiva. —
E aí a Eliana resolveu passar o Natal com a Malvina. Eliana pegou o telefone no impulso… “Malvina, eu posso realmente ir? Eu não vou atrapalhar a sua família? Eu não vou atrapalhar ninguém?”, “Eliana, a gente já começou a cozinhar aqui também, a gente tá em dez mulheres aqui” e ela escutava as mulheres no fundo falando: “Vem, Eliana, vem, Eliana” e ela começou a chorar emocionada realmente, assim… De ver que ela estava sendo acolhida por mulheres que ela nem conhecia. Tinha um coro atrás: “Vem, Eliana… Vem, Eliana” e a Malvina falou: “Meu cunhado tá não sei onde tentando achar um peru, que não sei o quê” e, assim elas estavam brincando já ali, né? Com a Eliana, pra realmente ela vir. Nisso, a Eliana falou: “Eu tenho um peru aqui”, “se quiser trazer, traz… O que você quiser trazer, você traz”. Eliana desligou o telefone… [risos] E aí aqui nós temos dois caminhos: o caminho que eu gosto, que é o caminho que a Eliana fez e o caminho que a maioria faria.
Ela resolveu levar tudo que tinha de comer da casa, tudo o que tinha no armário, na dispensa, tudo que tinha na geladeira… O que já estava aberto, que não ia dar, ela botou no lixo. Ela lotou um Uber de encher o porta—malas, banco de trás, o chão do banco de trás e ir sentada na frente. Eliana não deixou um grão de arroz… — Sabe assim, pão de forma que está pela metade? Levou. — Ela levou tudo… Eliana tirou a vela do filtro de água. — Ela levou tudo… — Ela deixou a geladeira desligada, com as portas abertas, do freezer e da parte da geladeira e foi pra casa da Malvina. Malvina tomou um susto, porque Malvina não achou que ela fosse levar tudo. Aí veio aquela mulherada, tirou as coisas do carro e, nisso, a Eliana teve uma crise de choro. Aquelas mulheres todas abraçaram, levaram ela pra dentro, todo mundo com sacola. — Porque ela levou tudo, realmente: o peru, o presunto, o arroz pra fazer, feijão, lata de milho… Gente, levou tudo que tinha na casa. Eles iam chegar, não ia ter um grão de arroz, nada, nada, nada, nada, nada. Ela levou também as latas de leite das crianças. —
Ela falou que aqueles leites eram leites que dá pra comprar na farmácia, que ela preferia doar do que deixar. — Porque tem farmácia que trabalha no Natal, 24 horas, né, gente? Só me pegou um pouquinho isso, mas a Eliana. disse que ela tinha que levar tudo. Pra ela virar aquela página, ela tinha que levar tudo. — As mulheres ali pegaram só as coisas que ela tinha comprado pra Natal mesmo e as outras coisas a Malvina falou: “Eu vou deixar no meu quarto e depois você vê o que você faz. Se você for voltar pra casa, você leva as coisas. Se você quiser ficar aqui ou se você for pra outra casa, você que sabe o que você vai fazer da sua vida. Hoje eu quero que você participe do Natal, curta aqui com a gente”. Ninguém falava com ela naquele grupo, o pessoal tirava sarro dela… Então, o pessoal só ia realmente saber que não tinha ceia, que não tinha um grão de arroz naquela casa, quando eles chegassem…
Ela tinha combinado com a Malvina: Quando der 7 horas, eu mando uma mensagem dizendo que eu não vou passar o Natal com eles e já bloqueio todo mundo ali do grupo. — Porque a Malvina já queria que ela saísse do grupo e bloqueasse todo mundo, mas aí ela ia despertar ali a atenção da galera, né? — Ela teve uma tarde maravilhosa com as mulheres, cantando, dançando, fazendo as coisas, fazendo as comidas… Tudo aquilo que ela fazia sozinha e que era muito penoso pra ela, muito triste, foi uma coisa, assim, muito alegre… Então, uma picava cebola, outra tomate, outra refogava, outra ia lavando as coisas, sabe assim? Só mulheres ali naquela cozinha. — E os caras cuidavam das bebidas, então cerveja, as coisas, enfim… — Quando deu 6 horas, a Eliana mandou a mensagem no grupo e já bloqueou todo mundo. Malvina viu que ela ficou mal ali, né? Pegou o celular dela: “Olha, eu vou desligar seu celular e você vai curtir essa noite de Natal”. Ela não sabe se alguém saiu pra comprar ou se tiraram um presente de outra pessoa… Ela ganhou um presente, ela ganhou uma blusa de Natal. — De pessoas que ela nem conhecia. —
A mãe da Malvina, a Dona Geralda, já arrumou ali uma cama pra ela: “Não, você vai ficar aqui, pode ir ficando”, e aí ela passou o Natal lá… — Ela tava preocupada? Tava, porque agora a gente não sabe o que aconteceu lá na casa. — Aquele Natal foi, assim, incrível pra Eliana. Acabou o Natal, todo mundo dormiu, e você acorda no dia 25… E aí, Eliana, o que você vai fazer da sua vida? Quando Eliana pegou o celular, tinha SMS, tinha umas 200 ligações de números que ela não conhecia — mas provavelmente eram números de familiares que não deviam estar no grupo, mas foram lá na casa — e, desses números que ela não conhecia, tinham áudios do marido dela, da sogra, de cunhadas dela, todo mundo gritando, xingando ela… E aí, ela ficou assustada, porque eles chegaram provavelmente lá na casa e não tinha nada, gente… O que eles fizeram? Onde eles comeram? Eliana não sabe. A galera tava muito brava. — Muito brava… —
Eliana ali já ficou desesperada, começou a tremer: “Meu Deus, o que vai ser de mim?”. Quando lá da cozinha, que já tinha acordado antes dela, vem Malvina… Copinho de café pra Eliana, uns pedacinhos de panetone: “Pega, amiga, come” e Eliana já querendo chorar, ela falou: “O que foi? A galera lá tá no veneno, né?”, “estão me xingando e tal, arranjaram outros números e eu não sei como é que eu vou fazer pra voltar pra casa” e Dona Gerada falou: “Fala pra ela, Mavi…”, e aí, Malvina falou: “A gente vai descer hoje à noite pra praia. Bora? A gente vai hoje e volta no dia primeiro… Vamos?”. [risos] Eliana sabia que a família do marido dela ia ficar na casa lá provavelmente esse mesmo período e iam pra praia depois, ela falou: “Quer saber? Eu vou pra praia” e foi pra praia com a família da Malvina… Na praia, tinha ali uns caras interessantes que ficaram de olho na Eliana e Malvina falava: “Seu casamento já acabou mesmo, vai nessa. Tá vendo o Wesley carregando ali o saco de carvão pra gente fazer o churrasco? É isso, amiga… Se o cara não vai nem carregar o saco de carvão pra você, você vai ficar com este homem? Seu casamento já acabou… Olha aqui, tem o meu primo ali, o Ivo, tá de olho em você. Tem aquele ali de olho em você… Amiga, cai dentro”. [risos]
E aí Eliana falou: “Não, eu prefiro encerrar meu casamento e depois seguir minha vida.” Passou, chegou o dia de voltar… Malvina falou pra ela: “Olha, dorme em casa, a gente vai pro serviço, a gente conversa com a Selma lá, nossa supervisora, e você vai pra sua casa pra ver como é que tá, como é que tão as coisas”, porque ela não respondeu ninguém, ela não sabia se o marido tava lá. Voltaram no dia primeiro e, no dia 2, que elas iam voltar a trabalhar, elas foram conversar com a Selma e a Selma falou: “Olha, vai pra sua casa junto com o Aguinaldo. Vou pedir pro Aguinaldo te levar e, se você ver que seu marido tá lá, você nem entra, né?”. Só que o marido dela também tinha que voltar a trabalhar, então ela tinha muita esperança que ele não tava. E quando ela chegou, realmente ele não tava, mas ele tinha quebrado a casa toda… Tinha quebrado tudo. O Aguinaldo ajudou ali a Eliana a pegar roupa dela, pasta de documento, essas coisas e depois ela nunca mais voltou. Ela falou pra mim: “Andréia, a única coisa que eu esqueci de pegar meu eram as roupas que estavam na máquina de lavar, que eu saí e deixei, né? Mas de resto, eu levei tudo que era meu, assim, de roupa, de pertences pessoais, né? De móveis, essas coisas, muita coisa que estava quebrada também, né?”.
Pegou todas aquelas coisas e teve que ir lá pra firma. — O que você vai fazer com as coisas, né? — Nesse ponto, a firma toda já tava sabendo o que a Eliana tinha feito, porque Malvina contou. — Óbvio, a Eliana tava bronzeada… Tava mais bonita ainda, né? — E aí, todo mundo, né? “Tá bronzeada, não sei o que lá”, só que ela voltou aos prantos com toda aquela mala, coisa dela, um monte de coisa…. A Selma arrumou um canto ali no almoxarifado pra ela pôr as coisas e ver o que que ela ia fazer, né? Vai falando com um, com outro, as colegas de trabalho dela ali arrumaram uma casinha pra ela, pra alugar já pra entrar… Nos fundos da casa de uma senhora, senhora ótima. E aí a Selma falou: “Depois você compensa essas horas, você tira pra ver essas coisas. Vai lá antes de levar suas coisas e vê essa casinha”. Lá foi a Eliana, viu a casinha… Era um pouco longe, mas era o que tinha. A casinha tava ótima e aí ela já pegou as coisas dela e já levou, já botou na casinha, mas a casinha não tinha nada… Não tinha cama, não tinha nada.
Aí ela conseguiu um adiantamento e foi comprando as coisinhas, comprou uma geladeira usada, enfim, o marido dela sempre tentando entrar em contato… — Ele nunca foi um homem violento com ela e depois disso também nunca ameaçou. — A advogada lá da firma que não cuidava de casos de família, mas ela falou: “Deixa eu pelo menos dar um se liga nele?”, entrou em contato com ele e anunciou que a Eliana queria o divórcio. Ele ficou muito surpreso e ele falou: “Tudo bem” e ela pegou indicação de uma outra advogada e aí ela entrou com o pedido de divórcio. Até hoje, às vezes algum parente dele xinga ela nas redes sociais por causa daquela ceia que não aconteceu, [risos] a não-ceia. Ela podia ter deixado um cartaz: “Por mim é não”. [risos] Por mim é não. [risos] Na terapia, ela acabou ressignificando essa palavra “seca”, e que pra ela hoje é o que ela sente por aquela família, por aquelas pessoas, pelo ex—marido… — De que ela era tão dependente emocional assim. —
Tudo que ela tinha de sentimento por eles, sejam bons ou ruins, secou… Eliana tá bem, segue na terapia, muita coisa ainda pra tratar, pra cuidar, mas muito fortalecida, trabalhando, fazendo suas coisinhas e nunca mais ela respondeu ninguém daquela família. Mesmo quando ela é xingada e tal, ela só bloqueia e segue a vida. E eu, nossa, eu queria ser uma mosquinha pra ver os carros chegando, entrando na casa e vendo as portas dos armários da cozinha ali e a porta da geladeira, que ela desligou da tomada, aberta, sem nada… Amei a não-ceia. [risos] O que vocês acham?
[trilha]Assinante 1: Oi, nãoinviabilizers, aqui é a Marta, eu sou de Carapicuíba. Eliana, eu fico muito feliz que você conseguiu se livrar desse relacionamento, se livrar dessa opressão dessa família. Fico mais feliz ainda por você ter encontrado a Malvina e desejo que todas as pessoas que estão em relacionamentos abusivos encontrem uma Malvina na vida. Vale a gente ressaltar o quão importante é nós mulheres termos nossa própria renda, termos um emprego, ainda que pague pouco. A Eliana, apesar de ter saído tarde desse relacionamento, ela só conseguiu sair porque ela tinha condições de pagar um aluguel, de comprar o básico para sobreviver até ela se restabelecer na vida. Então, mulheres, casem, sejam felizes, tenham quantos filhos quiserem, mas não abram mão da sua independência financeira, não se sujeitem a serem sustentadas por um homem, porque quando você precisar sair, talvez você não consiga. Então, sejam independentes financeiramente. Eliana, tudo de bom pra você. Malvina, tudo de bom.
Assinante 2: Oi, nãoinviabilizers, aqui é a Ana Letícia, eu falo de Itajaí, Santa Catarina. Eu ouvi a história aos prantos… Ai, Eliana, você merece toda a felicidade desse mundo, porque que família maldita, né? E que bom que você se livrou deles. Por mais amizades como a Malvina nesse mundo, aquelas pessoas que erguem a gente, que seguram a nossa mão, não deixam a gente ficar caído e se a gente fala: “Ai, eu não quero”, ela vira e fala: “Você quer sim, vamos” e dá aquela injeção de ânimo na gente. Eliana, eu desejo toda a felicidade do mundo pra você e um grande abraço.
[trilha]Déia Freitas: Nesse mês de outubro, dedicado à conscientização do câncer de mama e, mais recentemente, do câncer de colo do útero, a Marisa confeccionou lenços lindos e 100% dos lucros da venda desses lenços — produzidos especialmente em apoio e solidariedade às mulheres com câncer — serão doados para o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. — O ICESP, que tem um trabalho impecável. — Essa é uma parceria da Marisa com o Governo do Estado de São Paulo. Comprando seu lenço em uma loja Marisa ou no site, você incentiva as mulheres a todo mundo ficar atento aos exames preventivos. Toda vez que você olhar aquele lenço, você fala: “putz, já fiz meus exames?”, tem que fazer…
E esses exames estão disponíveis gratuitamente no SUS para um possível diagnóstico precoce. O lenço é lindo e está disponível em dois tamanhos: o lenço pequeno por R$ 9,99 e o lenço grande por R$19,99. Lembrando mais uma vez que 100% do lucro vai para o ICESP. Bom, galerinha, mulheres, bora se cuidar e: de mulher para mulher, Marisa… [risos] — Eu amo, valeu, Marisa. — Um beijo, gente, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]