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título: senha
data de publicação: 02/09/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #senha
personagens: raquel

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje não tô sozinha, meu publii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é a minha querida, amada, que a gente tanto apoiou: UNIFAVELA. Em outubro, em homenagem ao Dia Nacional da Leitura, a UNIFAVELA vai inaugurar a Sala de Leitura Orasina Vieira, um espaço dedicado aí ao incentivo à leitura e ao conhecimento. O evento de inauguração será simbólico e interno — por conta aí do espaço limitado —, mas a partir do dia 15 de outubro, todos os moradores do conjunto de favelas da Maré — localizada aí na zona norte do Rio de Janeiro — poderão usufruir do espaço para estudos aí e para empréstimos de livros também. 

A Sala de leitura Orosina Vieira leva o nome de uma das primeiras moradoras do conjunto de favelas da Maré. — Em reconhecimento a sua história e importância na comunidade ela recebeu essa maravilhosa homenagem, né, gente? — Alguns livros já foram catalogados, mas a ONG UNIFAVELA precisa de alguns temas e bibliografias para completar o seu acervo. Eles precisam de livros com temas das relações étnico raciais, livros de intelectuais negras e negros de todos os segmentos, livros de literatura brasileira em geral e livros de poesia. Então, eu venho aqui convidar você a fazer aí uma doação para a ONG UNIFAVELA. 

Se você tem aí livros na sua casa que você queira doar, você pode mandar… Os Correios eles tem uma taxa menor para quem envia o livro, então é bacana você enviar. Você pode entrar em contato com a ONG UNIFAVELA e pedir um título específico que eles queiram, você compra online e já pede para entregar na caixa postal deles. Eu vou deixar certinho aqui na descrição do episódio a caixa postal e o endereço certinho. Então, doem livros, por favor, doem livros… Vamos fazer essa biblioteca da UNIFAVELA ficar maravilhosa. E hoje eu vou contar pra vocês a história da Raquel. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]


A Raquel conheceu um cara aí — tem mais ou menos um ano e meio — e eles começaram a namorar, namorar sério… Um conheceu a família do outro, um frequenta a casa do outro e, recentemente, a Raquel — que já vinha organizando há muito tempo esse movimento — foi morar sozinha. Ela morava com a mãe, o pai e os irmãos e estava muito difícil, porque todo mundo adulto, enfim, né? E aí ela alugou uma kitnet pra ela. — E ela já estava com esse cara, né? — E, na época que ela foi alugar, o cara queria alugar um apartamento maior para que os dois fossem morar juntos, e aí a Raquel falou pra ele: “Olha, a gente tá junto há quase um ano… Sério mesmo há quase um ano, eu acho muito cedo ainda pra gente fazer esse movimento. E depois, se você se arrepende ou eu me arrependo, e aí eu estou com um imóvel maior do que cabe no meu bolso e eu não consigo pagar? Então não vou fazer isso”. 

O cara ficou chateado — e eu achei que a Raquel foi muito lúcida, muito certa, mas ele passou a ficar muito tempo lá — e isso foi deixando a Raquel, assim, um pouco sem espaço também, porque o apartamento é micro e o cara está sempre lá. E aí ela começou a falar: “Bom, eu queria que você viesse menos aqui, que a gente saísse mais, que a gente fizesse mais coisas… Porque, assim, chega na sexta—feira, você vem pra cá e fica até domingo. Às vezes você vem pra cá na quarta—feira e aí é complicado, né? Eu não tenho minha rotina, não consigo seguir minha rotina… Conta de água e luz vem mais alta”. — E essas coisas, gente, pra quem é da classe trabalhadora, às vezes 50 reais faz uma diferença, né? — E aí ele começou a dizer que ele queria então dar esses 50 reais de diferença, ela falou: “Não é esse o caso, eu prefiro que você venha menos aqui, mas eu não estou dizendo que eu não quero te ver mais ou quero te ver menos, é que eu quero que a gente faça coisas fora da minha casa. Eu não quero que a minha casa seja um ponto nosso. A minha casa, por enquanto, é um ponto meu”. 

O cara ficou chateado, mas aparentemente entendeu e eles começaram a fazer coisas fora do apartamento da Raquel. Esse cara ele tem um emprego, ele trabalha, então ali o combinado deles é quando eles saem, cada um paga o seu… Só que começou do cara nunca ter dinheiro, e aí ele falava assim pra Raquel: “Ah, Raquel, acerta, depois eu te dou” e isso foi acumulando… Só que a Raquel fez o quê? Ela começou a anotar e cobrar dele. E aí o cara começou a falar para Raquel por que ela tava fazendo isso, se ela tinha dinheiro… — E agora aqui a gente vai para um outro ponto… — Raquel quando começou a namorar esse cara ela tinha acabado de sair de uma empresa e ela recebeu uma indenização. Raquel tinha no banco — em aplicações — 30 mil reais [efeito sonoro de caixa registradora], mas é um dinheiro que ela falou: “Andréia eu não vou mexer, só se for numa emergência muito emergência… É um dinheiro que eu tenho lá aplicado que, se me me acontecer alguma coisa ou acontecer alguma coisa com alguém da minha família, eu consigo socorrer. Não é dinheiro para gastar com o namorado ou para fazer viagens, não… Cada um tem um objetivo com o seu dinheiro e o meu objetivo é: Aquele dinheiro é uma segurança, é uma emergência. Agora, como ele descobriu que eu tinha aquele dinheiro?”. 

Raquel ficou pensando que a única forma dele descobrir que a Raquel tinha aquele dinheiro no banco seria se ele acessasse o banco dela pelo celular dela. “Ah, como ele descobriu a senha?”, ele deve ter visto ela digitar, é o único jeito. — Porque não tem como ele ter instalado o aplicativo, porque tem aquelas coisas de segurança… Mesmo quando você tem lá no seu banco que você destrava as coisas pelo rosto, com a senha você consegue ver saldo, essas coisas. — A Raquel acha que ele fez isso, que ele acessou o banco. — Então, o que ela fez? — Ela mudou a senha. — E ela resolveu mudar as senhas dela de tudo… — E começou a usar para sair cartão de um outro banco. — Então, digamos que ela tinha ali o dinheiro dela aplicado no Pôneibank e ela usava o cartão de débito do Pôneibank, ela parou, ela trocou a senha do Pôneibank e ela passou a usar o PôneiU, que no PôneiU não tinha dinheiro nenhum, só tinha se ela colocasse lá 200 reais, eram aqueles 200 reais que tinha ali para ela gastar. —

No PôneiU ela também mudou a senha ali e ficou só usando pra eles saírem… — Quando ela passava um débito, alguma coisa, das coisas dela, ela começou a passar no PôneiU. — Depois de um tempo que ela mudou a senha, ela percebeu que ele estava aborrecido, e aí ele começou a perguntar pra ela, do nada, se ela tinha algum dinheiro guardado, aí a Raquel falou: “Mas por que você está me perguntando isso? Que pergunta estranha… Eu nunca perguntei das suas finanças, das suas coisas… A gente é só namorado. Por que você tá me perguntando isso? A gente nem fez nenhum plano de futuro, de ficar junto, nada… De onde que vem isso aí?” e ele falou: “Nada, só estou curioso, queria saber e tal”, ela falou: “Eu acho que a gente não tem que conversar sobre esse assunto”. A partir daí, esse cara deu uma surtada, do nada começou a falar que a Raquel estava mudada, que a Raquel parecia que estava distante, que não confiava nele… 

Aí a Raquel falou: “Mas você tá falando pra mim que eu não confio em você baseado em quê? Qual é a informação que você tem pra me dizer que eu não confio em você?”, porque ela queria ver se ele ia falar: “Ah, eu fui acessar sua senha e mudou”, porque aí, né? Quer dizer, ela não pode confiar nele. Mas aí ele falou: “Eu tô sentindo, tô sentindo”, tá sentindo… E aí agora tá nisso, ela tá cabreira porque ela acha que ele faz a linha assim: “Eu confio muito em você, a gente é parceiro e nã nã nã”, mas é aquele tipo de cara que vasculha a vida, sabe? — Que consegue a sua senha e acessa todas essas coisas sem saber. — E aí a Raquel ficou meio paranoica, ela já passou aquele tipo de antivírus no celular para ver se, sei lá, se ele tinha colocado, instalado algum aplicativo, alguma coisa… Ela já fez isso no celular e no computador, assim… E agora ela só tá deixando logado o computador da empresa. — O que eu falei pra ela que pode ser uma roubada, né? Que ele pode ver, mexer nas coisas e dar problema pra ela na empresa. Eu falei: “Não deixa nenhum logado, se ele quer acessar a internet e ver as coisas, ele fica enfiado aí na sua casa, ele que veja o celular dele”. Fala: “O meu computador está com problema é o da firma não pode usar”. — Melhor, né? Mesmo porque o da firma realmente ele não pode usar. —

A Raquel não sabe muito o que fazer porque ela gosta dele, mas ela tem a impressão que sim, que ele vasculhava as coisas. E aí ela pensando agora, ela falou: “Andréia, eu não sei se eu estou paranoica, mas assim, tipo, às vezes eu comentava com uma amiga minha que eu estava com vontade de comer alguma coisa e dois dias depois ele aparecia com aquela coisa. Como ele sabia?”, com certeza ele tinha instalado alguma coisa no meu WhatsApp ou, quando ele pegava o meu celular para ver as coisas do banco, ele já aproveitava e olhava tudo. — Então, agora que ela mudou a senha do celular e também da tela de bloqueio, ele não consegue entrar em nada e ela sempre bota a senha sem ele ver. Ele ainda não pediu, não comentou, só fica falando isso, que ela tá diferente, que ela tá mudada, que ele não sabe mais o que fazer pra ela voltar ser que quem ela era. — E tem esse detalhe também, ele tá devendo pra ela dessas saídas uns mil reais, e aí quando ela cobrou, ele falou: “Ah, eu vou te pagar, mas pra eu te pagar a gente tem que ficar na sua casa”. Ela falou: “Não, a gente não vai ficar enfiado na minha casa de quarta a domingo… Então você vai me pagando, nem se for pra gente se ver só uma vez por semana e depois a gente sai. Eu não quero isso”. 

Então, eu não entendo a Raquel querer o espaço dela, porque afinal de contas, que nem ela falou: “Andréia, se ele realmente quiser um compromisso sério comigo e quiser casar, ele que me peça em casamento… Eu não vou botar ele aqui dentro da minha casa. Ele já não me ajuda em nada, já não paga as contas aqui, só para ter alguém junto comigo. Não vou. Então, se ele realmente quer casar comigo, a gente tem que dividir as coisas, inclusive as contas da casa e tem que, assim, tem que ter uma conversa para que isso aconteça. Não é assim: “Eu vou morar aí e vou ficando””. Raquel não quer isso. Raquel tá errada? Não tá errada, ela tem os objetivos dela. E os 30 mil ela falou: “Eu não mexo, nem se eu casar, nem pra lua de mel, nem pra nada… É pra uma emergência comigo ou com a minha família. E, caso eu case com ele…”, não sei por que você ainda em casar com ele, Raquel… “Seria pra, sei lá, uma emergência de saúde. Aí dele também, porque aí ele passa a ser meu marido e tal, mas nada assim, ah, ele quer abrir um negócio ou se ele tá com dívida, o meu dinheiro não é pra isso, é pra uma emergência médica… Ou, sei lá, caiu o telhado, sabe? Essas coisas assim. Emergência é emergência”. 

Bom, eu não sei… Primeiro que eu acho que não devia nem pensar em casar com o cara que está acessando sua conta do banco, olhando seu WhatsApp e suas coisas escondido quando você dorme ou quando você está no banho, sei lá… A Raquel diz que não tem outro jeito dele saber das coisas assim e dele ter ficado tão puto quando ela mudou as senhas de tudo. Então, meio que ele sabe que ela sabe e ele está querendo que ela fale, será? Não sei… Para mim, Raquel, é não. É termina. Por mim vocês já sabem, é um relacionamento que já começa depois de um ano assim, vai piorar, gente, não tem o que melhorar… “Ai, ele vai mudar, vai melhorar”, ninguém melhora… [risos] Aqueles tipos bem pessimistas, né? [risos] Ninguém melhora… Eu acho que em relacionamentos a gente começa muito bem, depois tem um declínio normal, depois às vezes volta a ficar bem, depois um declínio, são fases… Mas dizer que, assim, “Melhorou 100%?”, difícil, difícil. Muito difícil… Então, não acho que ele vai melhorar, ele pode piorar… Se ele já vasculha suas coisas, imagina casado, né? O que vocês acham?

[trilha]


Assinante 1: Oi, gente… Aqui é o Vinícius e eu falo de Belo Horizonte. Essa história me incomodou em vários níveis, porque eu sou uma pessoa muito, muito privada. Então, eu fico me colocando ali no lugar da Raquel em pensar em como isso seria desgastante, né? Eu não sei por que você quer ter mais vínculos aí com uma pessoa que claramente está te investigando e que ficou revoltadíssimo porque você impediu ele de fazer isso. Eu acho que é uma prerrogativa muito errada que muitos caras têm de uma forma de controle para a vida das suas parceiras aí. Eu acho isso muito errado. Como diz a Déia, o meu conselho é: termina. [risos] Mas como nem tudo se resolve assim, aparentemente, né? Eu acho que uma conversa franca e bater a real para o cara seria o ideal. 

Assinante 2: Oi, nãoinviabilizers, aqui é Bruna de Vila Velha, no Espírito Santo. Raquel, presta atenção: se você realmente ainda tá dando uma chance pra esse cara, instala uma câmera na sua casa de segurança. Não esqueça de colocar o cartão de memória para as imagens ficarem gravadas, e aí um dia você deixa o seu celular dando sopa na sala, a câmera escondida ligadinha e você vai ver o resultado. Pronto. Aí você tira a sua dúvida totalmente, mas pra mim é não também, já mandava ele pastar, porque primeiro o cara tá te devendo… Que coisa horrorosa. O cara não tem proatividade de nada e ainda pode estar mexendo nas suas coisas? Deus me livre, né, minha filha? Daí é só pra pior. Sai fora desse cara. 

[trilha] 


Déia Freitas: A ONG UNIFAVELA tá precisando de doação de livros, vamos ajudar aí e proporcionar ainda mais oportunidades de leitura e aprendizado para os moradores ali do Complexo da Maré. A UNIFAVELA vai inaugurar a Sala de Leitura por Orosina Vieira. — Já já, hein? — Esse é o espaço dedicado ao incentivo à leitura e ao conhecimento e a gente precisa de doação de livros. — Como eu disse já: livros voltados para as relações étnico raciais, livros de intelectuais negros e negras de todos os segmentos, livros de literatura brasileira em geral e livros de poesia. — Doe, doe, doe… A caixa postal para você fazer sua doação de livro está aqui na descrição do episódio, você pode mandar os livros que você tem na sua casa, ou você pode também comprar online e pedir para entregar direto já pra ONG UNIFAVELA. — UNIFAVELA, tamo junto sempre. — Um beijo, gente, e eu volto em breve. 


[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]