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título: setealém
data de publicação: 18/03/2024
quadro: luz acesa
hashtag: #setealem
personagens: mirela e jeferson

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Luz Acesa. — E, assim, é um Luz Acesa mais complicado, porque eu já disse para vocês que eu sou uma pessoa muito cética e é muito difícil de acreditar em algumas coisas. E para essa história aqui, como tantas outras que eu já contei, não tem muita explicação… Só que acontece que quando eu recebi esse e—mail e conversei com a pessoa e eu li o relato dela e tal no e—mail, eu lembrei de uma situação que aconteceu comigo quando eu tinha 16 anos. Então, no meio da história da Mirela, eu vou contar uma breve história a meu respeito. O podcast é isso, suas histórias misturadas as minhas. E aí a gente vê o que faz, né? [risos] A gente comenta depois sobre isso, o que é isso… — e hoje eu vou contar para vocês a história da Mirela. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


Essa história tem muitos anos e a Mirela na época, era de uma época da mesma época que eu, que pouca gente tinha essa perspectiva de faculdade, assim… Se você era pobre, era uma coisa que meio que não passava muito na nossa cabeça. E a Mirela ela terminou ali o ensino médio, né? — Na época a gente chamava de “colegial”. — E foi procurar um emprego. Só que ela achou um emprego em outra cidade que tinha alojamento… Ela trabalhava numa rede de padarias que tinha um alojamento lá para o pessoal que morava nas cidades vizinhas, que era muito comum isso. E era uma rede grande, tipo aquela que quando a gente vai para o Rio e tal tem algumas paradas que a coxinha custa 50 reais… [risos] Era tipo essa. Então, ela ficava nesse alojamento e de final de semana ela voltava para casa. 

A Mirela tem um irmão, o nome dele é Jeferson. — O Jeferson é o protagonista também dessa história, só que o Jeferson ele depois virou evangélico e nunca mais quis tocar nesse assunto. Então, é um assunto que para o Jeferson ele não conversa mais sobre. — Mirela fazia esse esquema aí de final de semana ou — às vezes no meio da semana, dependia de como caía a folga dela —, mas mesmo trabalhando de final de semana, ela tinha direito a um domingo e eu acho que isso é lei, né, gente? — Acho que eu vi isso em algum lugar, que se você trabalha de final de semana, pelo menos um domingo você tem que ter de folga. Enfim, prestem atenção aí na CLT, vamos cumprir as regras. — E aí a Mirela voltou pra casa e faziam já algumas semanas que ela voltava e o Jeferson estava meio estranho. E eles sempre conversaram muito e a Mirela conversando ali com o Jeferson falou: “Mano, você tá diferente, maninho… O que aconteceu e tal?” e ele falou: “Olha, aconteceu uma coisa comigo e eu cheguei num lugar que eu queria muito que você visse esse lugar pra eu não achar que eu tô louco”.


Uma casa só de dois quartos, no outro quarto ficava ali os pais da Mirela e no outro quarto o Jeferson e ela, e aí ela já foi calçando o tênis e falou: “Me leva lá, vamos ver o que está acontecendo”, ela estava preocupada com o Jeferson. Ele falou: “Não, mana, você não vai precisar sair daqui… Hoje então eu te levo lá”. E a Mirela ficou meio sem entender porque, assim, já estava quase na hora de dormir e ela ia trocar de roupa para sair com ele para ver esse lugar, mas ele falou que não precisava e eles foram dormir. Mirela sonhou… — Então, aqui a gente tá no campo do sonho, tá? — Que ela estava num lugar, uma praça perto da casa dela, mas essa praça estava totalmente diferente. Ela estava em ruínas… E ela tentava atravessar essa praça — do outro lado da praça tinha a rua que dava para uma avenida — e ela via o Jeferson seguindo pela avenida e, conforme ela tentava alcançar o Jeferson, o Jeferson chamando a Mirela para ir, apareceu uma pessoa que ela não sabe quem é e falou para Mirela: “Mirela, volta… Daqui para frente é melhor você não seguir” e a Mirela falou: “Por quê?”, e aí essa pessoa, que era uma mulher, falou para ela assim: “Se você seguir o seu irmão, você não vai saber voltar. Ele está sabendo voltar, mas do jeito que ele está indo, ele também vai se perder e eu estou querendo te poupar disso. Então, por favor, volta”.


E quando a pessoa falou: “Por favor, volta” a Mirela ficou na dúvida, porque o irmão dela estava seguindo. Era o bairro dela, era a praça dela, mas tava tudo muito velho, muito em ruínas. E aí ela ficou com um pouco de medo porque o irmão dela sumiu da visão dela, e aí ela olhou para essa mulher, essa mulher parecia humana, mas ela tinha algo nela que era estranho e ela ficou com mais medo ainda e ela voltou… No que ela virou de costas para voltar, ela já conseguia ver o outro lado da rua… Pra frente ela olhava em ruínas e, para trás, para onde ela tinha que voltar, ela via tudo normal. Então, ela começou a voltar pro lado que era tudo normal e quando ela saiu da praça em ruínas que ela pisou na rua que estava normal, ela acordou. Ela acordou e viu que o Jeferson não estava na cama. Ele não estava lá… — E aí aqui eu acho que a Mirela pode não ter acordado… Ela pode ter tido um sonho dentro do sonho e não ter visto o irmão. —


Em vez de levantar e procurar o irmão pela casa, ela dormiu novamente. E aí, no dia seguinte, quando ela acordou, o irmão estava na cama, o irmão falou: “Eu vi que você foi, mas você parou. Por que você parou?”, e aí a Mirela falou que ela teve um aviso, que alguém parou ela no caminho e falou pra ela não ir e ele ficou ali meio chateado… E dali a Mirela, no dia seguinte já tinha que voltar pra ir trabalhar, ficar no alojamento, enfim, e aí no final de semana ela voltaria. E ela ficou em dúvida se ela falava pra ele que essa mulher falou que não era pra ele seguir mais, né? E aí na hora ali ela não falou, mas no meio da semana ela telefonou pra casa no telefone fixo e conversou com ele, falou: “Olha, a mulher que me parou no sonho ela disse que não era pra você seguir” e aí ele ficou mudo e passou… No outro final de semana ela resolveu não ir pra casa… — Não sei porque, Mirela não sabe porque, ela resolveu ficar… Estava com preguiça, estava cansada, enfim… — Ficou e não conversou com o irmão dela.  Quando foi no domingo à noite, a mãe da Mirela ligou pra dizer que o Jeferson estava desaparecido. 


Desde sexta—feira que ele não aparecia, mas às vezes um dia só a mãe já estava meio que acostumada e ele não aparecia… — Bom, nesse ponto eu quero parar a história da Mirela pra contar uma história minha quando ela escreveu e eu lembrei… — Eu tinha 16 anos… Eu trabalho desde os meus 15 anos de carteira assinada mesmo, CLT, ganhando sempre um salário-mínimo, mas já trabalhando. E quando eu tinha 16 anos, eu trabalhava numa agência de publicidade fazendo anúncios de classificados, então anúncios de namoro, porque na época eu não tinha nenhum app de relacionamento, não tinha nada, não tinha site… Não tinha internet, né? Então eu fazia anúncio de venda e compra de carro, anúncios fúnebres, então notas de falecimento ali e também pessoas que queriam conhecer gente, namorar… A coluna de namoro que tinha nos jornais de classificados. Então qualquer coisa de classificados, eu que fazia os anúncios em uma das agências aqui de Santo André, a agência que eu trabalhava do Dr. Gervásio, ele era até um deputado e chamava APSA.


Então eu trabalhava na APSA, que era Agência de Publicidade de Santo André, né? A sigla… E estudava a noite. Era uma época que a minha mãe… Eu tinha 16 anos e minha mãe estava com câncer de mama, então era uma época muito difícil na minha vida. Eu com 16 anos já trabalhava, já estudava, tinha muitas responsabilidades no meu trabalho e ia e voltava a pé pra poder economizar o dinheiro do vale transporte, aquela coisa… Então, eu ficava muito cansada, muito cansada… Eu saía da escola 22h40 da noite, ou 22h45, algo assim, e vinha a pé… Então eu estudava numa escola que se chama “Padre Agnaldo” aqui no meu bairro e descia ali por uma rua, tinha que descer a rua inteira e já saía da minha casa. Mas era um caminho que tinha que fazer e muita gente saía da escola àquela hora e ia pelo mesmo caminho que eu… Então, pensa… Ali uma adolescente muito cansada, era eu, mas assim, sempre cumpria todo o meu trabalho, ajudava minha mãe em casa, minha mãe doente, enfim, um caos… E aí eu estava descendo a rua, aqui eu não vou dar o nome da rua, então assim, eu tinha que só descer a rua inteira, eu não precisava virar pra nenhum lugar e, no final dessa rua, virando, já era minha casa. 


Então tinham no caminho várias ruas ali que cortavam essa rua que eu descia, eu andava bastante, e aí, numa dessas ruas, conforme eu estava descendo a rua que eu tinha que descer, era uma rua que morava uma amiga minha chamada “Liliane”, esse é o nome real dela. E a casa da Liliane era uma casa muito bonita, assim, da rua. Todo mundo tinha casa meio que caindo aos pedaços, porque, por exemplo, a casa que eu moro aqui deve ter uns 80 anos, né? Então eram casas sempre velhas… E a casa da Liliane era uma casa reformada, que era muito raro isso acontecer na nossa época e isso me deixava muito feliz, porque a Liliane era uma menina negra e que tinha uma casa boa. Então, isso era um destaque para mim, né? A gente sempre via a casa melhores assim de pessoas brancas e ela era uma negra de casa boa. E aí então sempre que eu passava, eu gostava de olhar a casa da Liliane, porque assim, não tinha nada demais, gente… Assim, reforma que eu digo era a parede… Não era uma parede ruim, sabe? Tinha piso no chão todo, era bonito, o portão era bom, enfim… Uma casa que eu achava na época, ainda acho, muito bonita.


E aí de onde eu passava eu conseguia ver só o portão da casa da Liliane… Eu só conseguiria ver a casa da Liliane se eu entrasse na rua. E aí descendo a rua, conforme eu olhei para a rua da Liliane, que já era um hábito meu olhar para aquele lado, a rua toda estava em ruínas, assim… Estava tudo muito…. Parecia que tinha tido uma guerra, tinha caído bomba e eu não entendi… Porque se eu olhasse para frente, a minha rua estava normal, a rua que eu tinha que descer… Mas a rua da Liliane estava como se tivesse acontecido uma catástrofe mesmo, e eu muito sem conseguir entender o que estava acontecendo, eu entrei na rua da Liliane. Então, assim, a rua da Liliane, eu andava, sei lá, uns 30 metros, já era a casa dela. E aí eu andei esses 30 metros e as casas aqui da esquerda, que tinha também a casa de uma outra menina que estudava comigo, mas eu não gostava dela, e a casa da Liliane a direita, estavam em ruínas, gente, como se não morasse gente lá há, sei lá, uns 50 anos.


E eu fiquei atônita, atônita, atônita, assim, muito chocada mesmo… Porque eu não estava… Na minha cabeça de adolescente… Se fosse hoje, eu saía correndo, mas eu não estava conseguindo entender e eu queria entender pra eu poder contar pra minha mãe e para minha tia que, tipo assim, a rua X tinha, sei lá, tinha acontecido alguma coisa, né? Por que ninguém estava falando disso? Por que as pessoas não estavam fora das casas? Por que as casas estavam em ruínas? Cadê aquelas pessoas? Conforme eu fui passar da casa da Liliane… Porque eu queria ir até o final da rua para ver se estava tudo assim, de onde eu enxergava, até onde eu enxergava, estava… Apareceu uma pessoa que falou para mim: “Volta” e eu, uma adolescente que obedece pessoas adultas, vi aquele homem falando para mim: “volta”, ele só falou isso e eu voltei… Quando eu olhei para trás, a rua que eu tinha que descer estava igual, gente, estava normal… Mas parecia que eu estava em outra dimensão, em outro planeta… Não sei dizer, não sei explicar… E aí eu voltei correndo pra a rua que eu tinha que descer e, conforme eu entrei na rua que eu tinha que descer, eu olhei para trás e a rua da Liliane estava normal. 


Bom, eu atribuí isso ao cansaço, à tristeza que eu estava pelo câncer da minha mãe, enfim… E esqueci isso. Acho que comentei com a minha amiga da época, com a Simone, algo assim, também nome real e desci e fui pra casa. Bom, esqueci dessa história completamente e só lembrei dessa história agora quando eu recebi esse e—mail. Agora a gente volta ao desaparecimento do Jeferson… A Mirela ficou desesperada, mas a própria mãe da Mirela falou para ela: “Olha, filha, fica aí que eu vou te dando notícias e quando você tiver folga, você vem”, né? Para não abandonar o emprego… Dar abandono de emprego ou pedir as contas, sabe? Tem gente que não tem como, não dá para fazer isso. Eu venho dessa família que acontecia as coisas e, se a gente pedisse saída do serviço e não conseguisse, a gente ficava trabalhando, porque assim, você não vai abandonar o seu trabalho… Porque você precisa comer, né? Então eu também sou dessa vibe da Mirela. Bom, ela trabalhou muito angustiada, o irmão dela não voltava… E ela voltou pra casa. 


Eles fizeram um boletim de ocorrência e desaparecimento, e o desaparecimento não foi tão bem investigado, assim… — Parece que ficou por isso mesmo, sabe? — O irmão da Mirela ficou desaparecido 40 dias. 40 dias… — Imagina a agonia dessa família. — Quando deu 40 dias, ele reapareceu em casa… E ele estava todo sujo, com muita fome e, bom, a mãe da Mirela que pode chamar aqui de, sei lá, Dona Maria, a Dona Maria achou que ele, sei lá, surtou, ficou doido… E ele não falava. Só que a mãe e o pai já estavam felizes que ele tinha voltado então “ufa”, né? “Meu filho voltou… Agora vamos seguir a vida, né?”. O Jeferson também trabalhava na época e o dele deu abandono de emprego, então assim, ele perdeu o emprego que ele tinha lá e deu abandono. Quando eu trabalhava nessa agência a gente fazia também muito anúncios classificados de abandono de emprego, porque na época, eu não sei como é agora, mas na época a empresa tinha que publicar que o funcionário tal tal não compareceu ou precisa comparecer ao trabalho, voltar ao trabalho para poder ter uma prova de abandono de emprego. Eu não entendia, mas eu fazia muito anúncio de abandono de emprego também.

E aí ele voltou calado e a Mirela, desesperada, esperou os pais aquela noite dormir e aí a Mirela foi conversar com ele. E o que o Jeferson disse? O Jeferson disse que depois da praça e da avenida que ele entrou, ele sabia que ele não podia seguir, mas ele seguiu… E o que o Jeferson disse pra Mirela é que ele não conseguia voltar. E, por alguns lugares que ele passou, as pessoas falavam para ele que ele não podia estar ali porque ele não pertencia àquele lugar, que ele tinha que voltar. Só que ele não conseguia voltar… — E aí é agora que a história fica louca… — O Jeferson disse pra Mirela que ele pegou um ônibus… — Um ônibus… Então, pensa, um lugar todo detonado, todo estranho, as pessoas muito estranhas e a Mirela, aquela pessoa que ela encontrou também era uma pessoa estranha, então ela lembra dessa vibe das pessoas e ele ele conseguia ver até a casa dele uma época, mas ele não conseguia voltar. — E aí, perto da casa dele, ele tomou um ônibus e, no ônibus, o motorista falou pra ele: “Eu vou te deixar num lugar, mas você nunca mais você volte aqui, porque senão você vai pertencer a esse lugar e você não vai conseguir mais sair daqui”. 


E aí esse ônibus rodou pela cidade deles e ele desceu… E, assim, a cidade toda como se ela tivesse realmente acontecido uma catástrofe… E aí quando ele chegou num ponto lá, o motorista falou: “Nunca mais volte aqui”… Esse “aqui” que ele não sabia nem que “aqui” que era… E aí ele desceu e, conforme ele desceu desse ônibus, ele já estava numa avenida da cidade dele, que era uma avenida de compras, assim — tipo que tem aqui em Santo André, Coronel Oliveira Lima —, ele desceu perto de um lugar assim, que seria o centro da cidade dele, e aí ele foi voltando a pé, e aí que ele percebeu que ele estava todo sujo, que ele estava com fome… Nesse tempo que ele ficou lá, ele disse que pra ele parecia um dia, dois dias, não 40 dias… E ele não comeu, diz ele e, quando ele desceu desse ônibus, ele percebeu que estava com muita fome, que ele estava sujo, que ele estava mal assim, né?  E aí ele voltou pra casa andando e não tinha o que falar pros pais e ficou na conta, assim, do surto e de uma eventual substância ilícita que ele tivesse tomado e os pais nunca mais tocaram no assunto… Foram na delegacia, deram baixa no boletim de ocorrência e ele perdeu realmente o emprego, teve que procurar outro emprego e passou, ele seguiu a vida.


Um tempo depois ele entrou pra igreja, conheceu uma moça, casou, teve filhos com a moça… E ai agora um tempo atrás, numa comunidade do Orkut, ele viu relatos parecidos com o relato dele e ele mostrou pra Mirela. E aí alguém nomeou, isso eu não entendi porque também não fui muito atrás, esse lugar onde ele esteve como “Setealém”. Então, o Jeferson… Tanto o Jeferson quanto a Mirella estiveram em Setealém, que seria uma outra dimensão do nosso próprio mundo e que existem por aí e pode ser que tenha na sua casa, no seu jardim, na sua rua, portais que podem te levar para Setealém. — Isso pode acontecer de várias formas, segundo a Mirela me explicou, assim, não tem um ritual, uma coisa que você faça que você vá parar em Setealém… Pode acontecer como aconteceu comigo, você está andando na rua e, de repente, tudo mudou… Você continua naquela rua, mas você já está em outra dimensão. Então, isso realmente aconteceu comigo, mas eu ainda acho que foi uma coisa da minha cabeça, de tudo que eu estava passando. Não sei se aquela destruição toda de repente estava dentro de mim… Eu fui mais para um lado psicológico da coisa, não sobrenatural… —


O Jeferson ficou perdido nesse lugar que chamam de Setealém, o que para ele pareceu um dois dias foram 40 dias aqui… E eu acho que o Jeferson pode ter realmente ter tido um apagão, um surto e ter ficado perambulando por aí? A cidade deles é uma cidade pequena, então como que ninguém viu o Jeferson vagando? Sendo que tinham cartazes… — Tudo bem, a polícia não procurou? Pode ser que não tenha procurado, que também tem muito crime, outra coisa para ver, as vezes não tem o pessoal, enfim, X… — Mas como que ninguém em 40 dias viu o Jeferson? — Ele esteve em Setealém? Setealém existe? Pra mim essa história, não sei, eu acho muito… Eu acho que é coisa da cabeça. Eu coloco, inclusive a minha experiência, nessa conta do estresse e da tristeza que eu estava na época. Não consigo imaginar uma outra dimensão, tipo o mundo bizarro do Super Homem… Será que é isso? Não sei. Também não fui pesquisar a fundo o Setealém porque, enfim… — 


Mas, segundo a Mirela, que acredita, e o Jeferson — até virar uma pessoa da igreja — também acreditava, eles acreditam que eles estiveram em Setealém, que é o nosso próprio mundo, porém numa outra dimensão, que seria uma dimensão ruim. — Seria algo ruim, assim, não é nada bom… Então é isso, se eu tivesse continuado andando na rua da Liliane, eu ia desaparecer? Ah, gente, não consigo… Não sei, mas enfim… — Se você jogar… Eu fiz isso, eu joguei “Setealém” no Google, tem relatos, tem histórias, tem até gente tentando ligar Setealém a Bíblia, mas não me convenceu. Apesar de eu ter passado por isso, eu botei na conta mais do estresse mesmo e de tudo que eu estava vivendo na época… E pode ser que também o Jeferson estivesse numa fase ruim, mas e a Mirela que foi pra lá e foi avisada que não era pra ela continuar? E deu um aviso pro irmão que não era pra ele continuar e ele continuou aí ele ficou perdido e voltou 40 dias depois? — Não sei, gente… Ele pode ter tido uma coisa e ter… Esses dias mesmo eu vi um senhor… De novo aqui, [risos] no Cidade Alerta, que ele trabalha numa universidade, acho que na USP, um senhor, gente… E ele deixou a esposa e a filha no trabalho e seguiu de carro para o trabalho, só que ele não chegou no trabalho… E aí acharam o carro dele incendiado. O que você pensa? “Assaltaram e mataram ele, né?”. Ele foi encontrado em outra cidade, tipo, sei lá, não sei se é Osasco, alguma coisa, em outro lugar, numa cidade, numa outra cidade… Ele não conseguia lembrar, não conseguia voltar pra casa. —

Deu se esse apagão nele e ele ficou também… Estava todo debilitado, todo sujo, que você não está acostumado a dormir na rua, ficar na rua… E aí a família achou, as filhas, nossa, muito amorosas com ele e tal… E ainda bem que achou vivo porque, assim, tinha tudo pra ele estar morto e ele não consegue falar muito do que aconteceu, enfim, ele deve ter tido um colapso, alguma coisa, enfim… Então eu acho que as pessoas podem desaparecer assim, podem perder a memória, podem ter, sei lá, um surto e sumir e depois voltar ou ser encontrado, como foi o caso desse senhor, porque ele não conseguia voltar, ele não conseguia lembrar, né? E será que não foi isso que aconteceu com o Jeferson?  O que me espanta muito é muitos relatos parecidos, assim… Se você colocar no Google, como eu fiz depois que eu recebi a história da Mirella, você vai encontrar. Mas aí você também não fica naquela de: “Será que as pessoas não ficam impressionadas e depois elas sonham?”, não sei…  — Mas no meu caso, que foi quando eu tinha 16 anos, eu estou com 48, gente, então essa história tem 32 anos, né? Era uma época que nem tinha Orkut ou já tinha quando eu tinha 16 anos? Não, né? Acho que nem tinha Orkut ainda, ninguém sabia nada…  Então, assim, não sei dizer, gente… —


É isso, essa é a história, esse foi o aviso que Mirela recebeu de “Não permaneça em Setealém. Vire as costas e não volte mais aqui” e, quando ela pisou na rua que estava normal, assim como eu, tudo desapareceu. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilize, aqui é a Raquel que fala de Portugal. Olha, eu nunca chamaria isso de “SetealÉm”, mas uma vez eu tive um sonho em que eu fui parar numa cidade cheia de ruínas e lá tinha um monte de caras maus, fedendo, mal vestidos, com malícia no rosto, sabe? E aí eu estava vagando por essa cidade, subi no alto de um prédio, só vi ruínas, ruínas, estava me sentindo super perdida, até que veio um cara que falou assim: “Vai embora, aqui não é seu lugar”, e aí eu perguntava: “Mas como que eu vim parar aqui?”, aí ele falava: “Não interessa, só vai embora”, e aí eu acordei… E eu também tinha sonhado depois de estar muito estressada. [risos] Não sei se Setealém existe ou não, mas eu acredito que não estamos sozinhos no mundo, acredito que tenham outras dimensões. Eu contei para os meus pais e eles associaram ao umbral. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui quem fala é a Suellen e eu falo de Bragança Paulista. Mirela, eu tive uma história muito parecida com a do seu irmão: Eu estava dormindo, sonhei que atravessava um portal e caminhava pela rua da casa da minha mãe, só que era muito diferente porque tinham prédios que hoje não existem mais e tinham pessoas que estavam todas cinzas, elas eram cinzas e a roupa também e eu sabia que as pessoas estavam mortas porque eu as conheci em vida e tinha um cheiro de podre, um cheiro absurdo de podre… E essas pessoas me viram lá e começaram a se aproximar de mim dizendo: “Você não é daqui, você não é daqui” e tentando tocar em mim, até que uma entidade da minha religião, conhecida como Zé Pilintra apareceu e falou: “Filha, vai embora e me deu um tapa no peito” e eu flutuei, flutuei, flutuei e acordei na minha cama com muita dor no peito do tapa e aquele cheiro de podre ficou no meu nariz por dias e dias. Perguntei para minha avó, minha mãe de santo, e ela me disse que provavelmente alguém precisava de ajuda e queria a minha ajuda e me levou até lá. Não sei quem e não sei o que queria, porque eu pedi em prece para minhas as entidades para que eu nunca mais voltasse lá, de tão assustador que foi, e eu nunca mais voltei. 

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com Mirela, com o Jefferson… — Mas eu ainda boto isso na conta de coisas que aconteceram, de fatos, assim… Não de algo sobrenatural, sabe? — Então, comentem lá, não sei se vocês conhecem esse Setealém. Eu fiquei conhecendo só agora, mesmo estando na internet a vida toda, nunca tinha ouvido falar de Setealém e é isso, se vocês tiverem outros relatos, quiserem me mandar para a gente fazer um “Especial Setealém”. Se você joga no Google, realmente tem muita coisa, então por que tanta coisa também, né? Então é isso, gente, Deus me livre… Ainda bem que eu voltei da rua da Liliane, porque eu não acredito, mas e se eu não tivesse voltado, já pensou? Depois desapareço aí um tempo, volto… Melhor não, né? Ainda mais com a fominha que eu tenho… Setealém ninguém come no Sete Além, que que é isso? Um beijo, Deus me livre, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.