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título: sobrado
data de publicação: 28/09/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #sobrado
personagens: sofia e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar para vocês a história da Sofia. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Sofia conheceu um cara, eles namoraram um tempo e decidiram casar. [efeito sonoro de sino batendo] Só que a Sofia ela queria casar e ter onde morar, né? — Aquela coisa de quem casa, quer casa. — E aí um pouco antes ali do casamento eles financiaram uma casa, um sobrado. — E sempre foi o sonho da Sofia morar num sobrado. — Então eles financiaram meio a meio e sempre deu tudo certo. — Cada um pagando a sua parte direitinho, né? — Isso já tem uns seis anos… E a ideia sempre foi terminar de pagar o sobrado e aí sim pensar em, de repente, ter um bebezinho. E ainda tem um tempo aí, tem mais 20 parcelas, 20 meses pra terminar de quitar o sobrado. Então os dois ali batalhando bastante pra pagar os boletos, né? Muito companheirismo, enfim… Um casal aí incrível. 

E a Sofia sempre ali muito apaixonada, disponível, sabe? — Aquela pessoa que tá pro relacionamento mesmo, sabe? — Tá ali pro cara, pro que der e vier, tamo junto, nã nã nã…  — E, gente, um casamento bom, bom, bom… — Chegamos a pandemia, a gente sabe que muito relacionamento aí não durou no confinamento, mas ao contrário de alguns casais, Sofia e o marido tiveram, assim, a sintonia aumentada até, né? Eles ficaram muito bem na pandemia. Uma coisa que a gente tem que falar aqui da Sofia é que a Sofia sempre foi muito distraída com tudo, então, digamos assim, que ela deixou… Ela arrumou ali a caixinha dela de maquiagem, só tem ela e o marido na casa… — Isso antes da pandemia… — Ela saía pra trabalhar… — Ele já tinha a cultura do home office porque ele trabalha numa multinacional estrangeira e tal e já tinha essa cultura de poder trabalhar em casa se quisesse. —

Então ela saía, a caixinha de maquiagem dela ali, maletinha estava de um jeito e quando ela voltava estava de outro, mas ela não se ligava, falava: “Ah, fui eu, né?” e algumas coisas assim maiores que ela se ligava em casa, tipo: “nossa, isso aqui estava desse jeito?” O marido dela falava: “Nossa, sempre esteve assim, né? — Tipo, “sei lá, você tá viajando, Sofia”, enfim… — Tinha umas coisinhas que aconteciam na casa dela, mas assim, nada sério. Até que chegamos na pandemia, eles ficaram muito unidos e em tantos anos ali de sobrado eles conheciam pouco a vizinhança e, na pandemia, eles conheceram melhor a vizinhança. Isso foi bom, né? Eles se aproximaram ali dos vizinhos. Chegou fevereiro desse ano, a Sofia recebeu ali um aviso da empresa dela que quem quisesse voltar para o escritório, poderia voltar. — Não era obrigatório, mas quem quisesse poderia trabalhar alguns dias no escritório, enfim… —

E a Sofia quis, porque, né? A gente está há bastante tempo confinado, e aí ela queria rever ali alguns colegas de trabalho, mudar um pouco de ambiente, né? Respirar novos ares, mesmo que de máscara. E lá foi Sofia felizona trabalhar no escritório enquanto o marido continuava em home office. Passou ali um mês, dois meses… E, como eu disse, Sofia sempre muito distraída, começou a achar estranho algumas coisas na casa dela. Um dia ela chegou e tinha batom na toalha de banho ali do banheiro do casal e, bom, era uma cor que Sofia tinha? Era, mas ela tinha usado aquela cor naquele dia? Não. Mas ela também não lembrava se tinha usado aquela cor durante a semana, porque ela foi trabalhar toda semana e, mesmo de máscara, Sofia passava batom. — O que eu nem sei se pode… Pode passar batom de máscara assim? Não atrapalha a máscara? Essa coisa do vírus mesmo? Sei lá, não sei… —

E aí pequenas coisas, assim… Ela não fuma, o marido não fuma e um dia ela chegou, sentiu o cheiro de cigarro e achou na lixeira da cozinha uma bituca de cigarro e perguntou pro marido e ele falou: “Nossa, não sei o que é isso, não vi isso… Não tô sabendo de nada. Você tá viajando”. — Tudo ele falava que a Sofia estava viajando. — E, durante alguns meses, isso foi rolando… Da Sofia perceber coisas diferentes na casa dela e sempre ficar na dúvida se estava rolando alguma coisa diferente ou se era da cabeça dela, porque o marido dela insistia que era coisa da cabeça dela. Tipo: “Você tá louca”, sabe aquele papinho? Até que um dia, uma coisa maior aconteceu… A Sofia chegou, tirou a roupa ali, foi tomar banho, tomou banho, voltou de roupão ali para o quarto pra pegar uma roupa e sabe quando você… Você lavou a roupa, você recolheu a roupa ali, você dobrou, mas você não passou nada e deixou ali, tipo, na cadeira do quarto?

E tinha umas roupas limpas dobradas na cadeira do quarto e ela foi pegar uma roupa ali e ela achou uma blusa que não era dela e que não estava lavada. Uma blusa suja ali no meio da roupa limpa. E era um topzinho, assim, que não era dela. — Não era dela… Aquilo ali ela tinha certeza que não era dela. — Só que foi a primeira vez que ela decidiu não perguntar nada pro marido… E ela ficou cismada com aquele topzinho ali que ela encontrou no meio das roupas. Pegou o top e escondeu lá no banheiro, enfim… Tirou ali da roupa limpa, ficou até mais cismada e botou a roupa limpa de novo pra lavar. E agora ela tinha aí uma cisma sobre o marido. Só que ela não conseguia pegar nada, mas ela sabia que alguma coisa acontecia dentro da casa dela. E aí um dia a Sofia saindo para trabalhar de manhã — era umas oito e meia da manhã — e ela ali saindo pra trabalhar, deu de cara com a vizinha.

E a vizinha era uma vizinha que ela tinha estreitado laços na pandemia, uma vizinha que não podia sair muito de casa, que tinha algumas comorbidades… Então a Sofia fez muita compra para ela… — Enfim, elas se ajudaram ali como vizinhas. — Quando ela estava saindo, ela se ligou que na casa da vizinha tinha muitas câmeras. Tinha duas ali no muro, uma de cada lado e, uma das câmeras — que estava pegando a lateral — pegava de frente ali pra a casa da Sofia. E a Sofia falou: “Quer saber? Eu vou falar com a minha vizinha”. —Ela podia muito bem dar qualquer desculpa, mas ela falou: “Eu tenho que contar a real pra minha vizinha se eu quiser saber o que está acontecendo na minha casa”. — E aí ela falou pra vizinha, ela falou: “Olha, eu tô achando que está acontecendo alguma coisa estranha na minha casa… Não sei se está entrando gente aí que eu não conheço e eu queria saber se você consegue ver alguma coisa nessas câmeras”. — E, gente, aquela coisa de vizinho e fofoca, né? —

Quando a Sofia falou isso, parece que a vizinha já tinha até uma pasta montada. [risos] A vizinha já estava preparada… A vizinha falou: “Bom, eu tenho algumas coisas pra te mostrar”. — Quer dizer, a vizinhança então já ficava vendo, sei lá… — Só que a Sofia tinha que trabalhar, e a vizinha falou: “Quando você voltar, se você quiser vir aqui, pode vir”. E aí a Sofia trabalhou aquele dia mau, mau mau… Sabendo que já ia encontrar alguma coisa, né? E, quando ela voltou, ela foi direto na casa da vizinha, não foi nem pra a casa dela. O marido da vizinha estava lá e meio que sinalizou que era contra… — Aquilo que elas estavam fazendo, né? — E aí a vizinha já tinha separado trechos… Só que, assim, a vizinhança só conseguia mostrar pra ela coisas de 20 dias para cá… — 20 dias para trás ela não conseguia. — Só que ela conseguiu mostrar bastante coisa e acabou falando pra Sofia que isso estava rolando há meses… — E o que estava rolando há meses? — 

O marido da Sofia estava levando mulheres para dentro de casa. E às vezes duas, às vezes três de uma vez só…  Pelo o que a Sofia via, essas mulheres chegavam ali num carro de aplicativo e ficavam um tempo — cerca de uma hora, uma hora e meia, às vezes duas — e iam embora. E nunca era ali, assim, a mesma mulher, sabe? Sempre eram mulheres diferentes, assim. A vizinha já tinha dado uma pesquisada, porque uma delas uma vez estava esperando ali o carro de aplicativo depois de sair da casa da Sofia e falando no celular, e a vizinha deu a entender pra Sofia que se tratavam de garotas contratadas, né? Que o marido da Sofia contratava mulheres ali pra ficar sempre no período da tarde ali, depois do almoço, com ele. E o mundo da Sofia caiu, porque ela jamais imaginou que o marido dela fizesse uma coisa dessas e ainda levasse para dentro de casa, na casa dela, cama dela, enfim, né? Tipo, uma vez ela foi deitar e ela sentiu um cheiro de perfume no travesseiro… Falou: “Ah, será que é coisa da minha cabeça?”. Porque o marido dela incentivava, né? Isso de “ah, é coisa da sua cabeça. Você tá louca”. — A gente conhece bem esse papinho, né? — 

E aí ali a Sofia conseguiu ver nas câmeras algumas mulheres e tinha uma coisa… Agora que ela sabia, a Sofia ao mesmo tempo que ela era muito apaixonada pelo marido, ela também sempre foi uma pessoa muito prática. Então, ela sabia que eles tinham ali o sobrado que sempre foi a paixão dela, que eles tinham muitas contas em comum, muitas coisas que eles estavam finalizando e ela decidiu não falar nada. — Não falar nada… — Só que ela decidiu voltar a trabalhar em home office, porque aí ela quebrava dele trazer as mulheres em casa., né? E aí esse cara ficou meio desesperado assim, né? — Que ela ia voltar a trabalhar em casa. — Mas também não falou nada e agora eles estão assim… A história está nesse ponto. 

Ela voltou a trabalhar em casa, ela não contou nada para ele. — Do que ela sabe. — E ela tá… — Vai tentar — porque ela não sabe se ela vai conseguir — passar esses 20 meses com ele pra quitar essa casa. Uns tempos atrás aí ele tentou transar com ela e ela foi direta, ela falou: “Olha, eu não quero mais transar com você” e ele ficou meio em choque assim, mas como ele já vinha num tempo em que ele também não tava a fim e não não rolava mais nada entre eles, a Sofia acredita que desde que ele começou a trazer essas garotas, né? E ela deixou do jeito que estava, porque falou: “Não vou pressionar ele, é só uma fase, daqui a pouco a gente está bem nessa parte de novo”. E aí ela foi bem direta, falou: “Olha, não tô aí, não vai rolar, não tô interessada nisso” e ele ficou um pouco chocado, mas também aceitou e não falaram mais no assunto. Então, a Sofia pretende ficar mais 20 meses com esse cara, não transar com ele e, convivência, assim, mínimo…

E ele percebeu que ela mudou. Uma das coisas que ela fez, ela pegou aquele top que ela tinha escondido e ela botou em cima do travesseiro dele. — Então, meio que foi um recado. — Ele sabe que ela mudou porque ela encontrou esse top. Ele não falou nada desse top, esse top sumiu, ela não sabe o que ele fez. — Então ele sabe que tem alguma coisa… Eu acho que ele sabe que ela sabe, mas ele também não quer falar nada. — E agora os dois estão assim. Eu acho que a Sofia não vai aguentar 20 meses. — Eu não aguentaria… — E não sei, deve ter uma solução… Ela não quer sair da casa e ela acha que se ela colocar ele pra fora, ele para de pagar a parte dele das parcelas e ela não consegue pagar sozinha. Então tem isso… Sair da casa ela não vai. E não sei, gente, eu não aguentaria ficar esses 20 meses. A Sofia acha que aguenta sim, que vai ficar… E ela queria saber de vocês, se tem algum outro jeito, porque não sei, ela acha que ele não vai pagar a casa, enfim… 

Ela precisa também do salário dele para conseguir organizar todas as contas aí da casa que eles têm em conjunto. Sozinha ela não consegue pagar as coisas. 

[trilha]

Assinante 1: Olá, bom dia, Sofia, meu nome é Euciane, eu falo de Goianira, Goiás. Olha, 20 meses é muito tempo e tem muita coisa pra acontecer durante esse período… Em relação a questões práticas, não faz diferença você se divorciar agora quanto você se divorciar daqui um tempo… De toda forma, o sobrado vai ter que ser dividido entre vocês dois. Ou vocês vão ter que sair do imóvel e vende—lo… Tanto isso pode acontecer agora quanto daqui 20 meses, não faz diferença. E a sua saúde mental, Sofia, vale muito mais… 20 meses é muito tempo pra você aguentar. Então, o meu conselho é que você se divorcie urgente. [riso] A sua saúde mental vale muito mais.

Assinante 2: Oi, Déia, oi, todo mundo… Meu nome é Alessandra, eu moro em Dublin. Sofia, e se eu te falar que eu tô passando mais ou menos pela mesma coisa? Meu ex não me traiu, mas estamos morando juntos há 4 meses, mesmo terminados, porque eu não consigo achar outro lugar pra me mudar. E, assim, o conselho que eu tenho pra te falar é: Pela minha visão, você já tem muito claro na sua cabeça o que você quer, você quer pagar essa casa e pronto, sabe? E aí você vai continuar vivendo sua vida. Então, assim, eu acho que você tá no caminho certo, faça isso mesmo. Ele não teve nem peito, nem coragem, não foi nem homem o suficiente pra chegar pra você e falar realmente o que fez. Com toda certeza do mundo ele sabe sim muito bem o que ele fez. Mas eu consigo ver pelas suas atitudes que você tá muito mais focada em realmente pagar a casa e continuar a sua vida. Então faça isso, sabe, Sofia? Pague sua casa, continue a sua vida, porque o mundo dá muitas voltas. E tudo que vai, um dia volta. Mil beijos.

[trilha]

Déia Freitas: Então é isso, gente, deixem seus recados pra Sofia lá no nosso grupo de Telegram. Se você ainda não tá no nosso grupo, é só jogar lá na busca “Não Inviabilize” que o grupo aparece. Tá bom? Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.