Skip to main content

título: soneca
data de publicação: 16/10/2020
quadro: amor nas redes – especial afetos
hashtag: #soneca
personagens: mônica e ivan

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história contada aqui. [vinheta]

Déia Freitas: Gente, história de hoje, história de amor, vivem falando aí que “Ah, porque os homens não prestam, porque isso que aquilo”, não é assim, tem homem legal, tem mulher legal, tem homem que não é legal, tem mulheres também que não são tão bacanas e é a vida, gente, a vida é assim. E aquilo que eu falo, relacionamento que acaba não significa que não deu certo, eu tive dois relacionamentos longos que foram bem legais, e que eu acho que deram certo, tipo, durou o que tinha que durar, inclusive, um dos meus ex-namorados, o Elói é meu amigo até hoje, deu o que tinha que dar o relacionamento e vira outra coisa. Então, sabe, não tem que ter essa régua de “Ah, terminou, não deu certo”, pelo amor, viver a vida toda com uma pessoa só, não sei também se eu aguentaria. [risos] Mas enfim, aí sou eu, né? O Amor nas Redes de hoje é a história da Mônica e do Ivan aqui de São Paulo, uma história super fofinha. Vamos história de amor bonitinha, fofinha, história de amor. 

[trilha]

A Mônica é uma professora de matemática de trinta e cinco anos e, além de dar aula em dois colégios, ela dá aula particular, e como ela tem uma família meio caótica e tal, ela não dá aula na casa dela, ela vai na casa dos alunos pra dar aula. Então, assim, ensino médio, pessoal de cursinho, ela dá aula de matemática pra essa galera. A Mônica namorou o mesmo cara por doze anos e não deu em nada assim… — Voltando aquele lance lá que a gente fala de relacionamento bem sucedido. — Na opinião da Mônica este não foi um relacionamento bem sucedido, tipo, foram doze anos, ela queria casar e no final não deu certo, começou a dar muita coisa errada e aí separaram. 

E aí a Mônica meio que desencantou da vida, a rotina da Mônica era assim bem puxada, com os horários bem certinhos, então tinha… Vai, segunda, quarta e sexta ela dava aula num colégio, terça e quinta em outro, aí à noite ela tinha as aulas particulares, tinha dia que tinha aula particular de manhã, final de semana tinha aluno que só podia dia de domingo, então assim, ela ficava muito cansada e trabalhava muito pra poder pagar as contas, né? — Tipo a gente… — Depois do cara lá de doze anos, — que a gente vai chamar ele de uísque doze anos [risos] — depois do Uísque lá, a Mônica achou que nunca mais ia se apaixonar, nunca mais ia se dedicar a uma pessoa, ela não queria mais saber de relacionamento, então ela se fechou para o amor.

Então o negócio da Mônica era dar aula, trabalhar, trabalhar, ir pra casa, dormir, trabalhar… — E, assim, o Coentro Nenê já tá aqui, ó, dando a opinião dele, achando que a vida da Mônica estava muito parada. — E assim ela ia levando. Até que um dia ela estava muito cansada, mas muito cansada mesmo e ela tinha uma aula ainda pra dar e era num prédio. E, nossa, foi custoso chegar até o prédio pra dar aquela aula, e era um menino chato que não aprendia nada… — Mas, né? Dinheiro é dinheiro. — E aí ela foi lá dar aula para o menino chato. Chegou no prédio, [som de elevador] entrou no elevador, apertou o andar do menino chato e a Mônica dormiu, [risos] a Mônica dormiu em pé no elevador, aquele balancinho gostoso do elevador subindo, — [falando e rindo ao mesmo tempo] A Mônica dormiu. — encostada no fundo, sabe quando você fica na quina assim, no fundo do elevador? Ela deu uma encostada ali e cochilou.

Quando Mônica acordou, ela estava na frente de um cara no subsolo, quer dizer, o elevador subiu e desceu, [risos] e tinha um cara na frente dela perguntando se ela estava bem… — Agora o que me intriga é: o elevador subiu, parou no andar do menino, aí deu um tempo lá e aí desceu porque o cara lá no subsolo chamou, aí ele fechou a porta, quer dizer, ela ficou em pé dormindo [falando e rindo ao mesmo tempo] no elevador um tempo, né? Ela falou que foi minutos assim, mas pensa, pra você ficar em pé dormindo é porque você tá muito cansada. [risos] E aí desceu e deu a sorte de ninguém pegar, né? — E aí ela acordou com um cara na frente dela perguntando se estava tudo bem, e o cara era assim, um cara maravilhoso, [trilha sonora romântica] um cara que ela achou muito bonito, e aí você acorda assim meio sem saber onde você tá, né? Porque você deu aquela cochilada boa. — Sabe aquela que a gente dá no ônibus? Que você encosta a cabeça assim, coisa de um minuto. Você encosta a cabeça, mas é um sono profundo e aí você acorda assustada? Ela estava no elevador em pé. —

E aí ela acordou assim sem saber onde tá, com aquele cara na frente, olhou pro lado e ele: “Calma, calma, respira”, [risos] aí ela foi voltando ao normal e ela não conseguia falar, ela estava ainda meio naquela coisa do sono e ela não conseguia, não processava na cabeça dela aquela informação de um cara falando com ela, segurando ela assim de frente pelos braços [risos] no elevador com ela dormindo assim, nada fazia sentido. Daí o cara não podia ficar segurando a porta do elevador, e eles estavam no subsolo, ele puxou ela assim devagar pra fora do elevador pra ela se situar, ver o que estava acontecendo e tal, e aí ele voltou a falar pra ela: “Moça, calma, você estava dormindo no elevador”, [risos] e ela estava tão sonada que ela falou pra ele assim: “Eu estava deitada?”, ele riu e falou: “Não, você estava dormindo em pé, tá tudo bem, [risos] fica calma. Você estava indo pra algum apartamento? Você estava saindo? Você vai pegar um carro aqui? Se você for pegar um carro eu aconselho você não pegar, porque você está com sono”. 

E aí ela foi acalmando e ela falou: “Não, eu dou aula aqui pra um garoto no sexto andar e eu vim dar aula de matemática, tô muito cansada e cochilei no elevador. Nossa, que vergonha”, e ficou lá toda sem jeito e ele rindo. E aí ele falou: “Oi, meu nome é Ivan”. [trilha sonora romântica] — Ai, gente, eu tô amando, já amo Ivan. — E aí ela se apresentou também, falou: “Ah, eu sou a Mônica, [risos] a dorminhoca do elevador”, ainda ela falou isso, depois ela ficou pensando: “Nossa, que ridícula que eu fui, né?”. [risos] Aí ele falou: “Ah, eu moro aqui no prédio também, no oitavo andar, prazer”, [risos] “É… Vamos subir”, e aí eles subiram assim, jogando conversa fora, né? Do nada, e ela doida pra saber o que ele fazia, se ele era casado, tentava olhar a mão dele, mas não dava assim pra dar na cara, ele estava com uma sacola na mão, tipo de mercado assim, devia ter ido, sei lá, comprar alguma coisa no supermercado e ela tentando olhar. — Quer dizer, aquilo de estar fechada para o amor mudou, né, Mônica? Mônica já estava abertíssima ali [risos] para o amor. E, gente, mais uma história de estacionamento, né? Vamos ver se essa vai por outro caminho, né? —

Daí chegou no sexto andar, ele morava no oitavo e ela tinha que descer, aí ele falou: “Tchau, Mônica. Se cuida, vê se descansa”, e ficou olhando pra ela assim… — [risos] E a Mônica quase que nem acertou a porta quando saiu do elevador, pra que lado que ela ia, onde era o apartamento do garoto. — E a porta fechou, ele subiu e foi embora. Mônica sem rumo, né? Se você perguntar que lição que ela deu para o garoto chato, jamais [risos] saberá responder, nem lembra, sabe nem que roupa que o menino estava, se menino estava de roupa. [risos] E aí ela ficou pensando como que ela poderia saber mais daquele cara, e aí o que ela fez? Ela marcou dia e horário. Bom, é uma terça-feira, sete horas da noite, então terça que vem sete horas da noite eu vou estar nesse elevador. [risos]

E assim, o problema é que o cara ele entrava pelo subsolo, então ela teria que perguntar alguma coisa pro porteiro, e ela lá dando aula para o menino e pensando nisso, a hora que ela descesse ela tinha que falar com o porteiro. Ela até deu uma pescada assim com o menino chato de doze anos, se ele conhecia alguém do oitavo andar ali, mas molecada, né? O menino ali jovenzinho não sabia de nada. E aí ela desceu, o porteiro estava ali, mas tinha gente falando com o porteiro e ela era só a visita ali, não tinha nem como falar, e ela dava aula pro menino de terça e quinta, então era uma terça, na quinta ela estava de volta. Na quinta-feira, Mônica já veio bem arrumada… — [risos] Que é o básico, né? Eu tô me sentindo a Mônica já. — Então aí Mônica já passou um batom, deu uma ajeitada no cabelo, veio com uma roupa um pouquinho melhor, mas assim, pra não parecer que ela estava arrumada, entendeu? Sabe um arrumado que você finge que não está arrumado? Então, Mônica estava assim. E tensa, né?

Na cabeça da Mônica ele tinha uns quarenta anos então, poxa, era bom demais pra ser verdade se o cara fosse solteiro, — Então não devia ser solteiro. — se fosse casado miou, mas ele podia ser um divorciado, um viúvo. [risos] — Mônica já torcendo [risos] pela morte da pessoa, do cônjuge [risos] —. Aí ela ficou pensando várias coisas, né? Passou dali de terça até quinta só pensando no Ivan, e era só isso que ela sabia dele, que o nome dele era Ivan e que morava no oitavo andar, não sabia nem o número do apartamento, eu perguntei pra ela: “Mas se você soubesse o número do apartamento você ia fazer o que?”, ela: “Ai, meu Deus, eu tinha vontade de ir até o oitavo e olhar as portas assim, pra ver qual que era a porta dele”. [risos] 

Aí ela chegou, não tinha como falar com o porteiro, aquela portaria sempre tinha alguém e ela também não sabia como abordar, ia falar: “Então, o Ivan do oitavo andar é casado?” — Mó [falando e rindo ao mesmo tempo] chato também, né? Ah, mas assim, não tinha nada a ver, podia perguntar, mas… — Ela achou que ia soar meio desesperador da [risos] parte dela, então ela achou melhor deixar quieto isso. E ela entrou no elevador, deu aquele frio na barriga, nada de Ivan, subiu, deu aula pro menino chato, aquela aula arrastada que não acabava, e aí acabou a aula que era das sete até às oito e meia. Oito e meia ela apertou o botão [som de elevador abrindo] do elevador, entrou, nada de Ivan. Desceu já arrasada… — Sabe quando você dá aquela jogada de corpo assim pra baixo? [risos] Aquele ombro caído? — Que ela ia saindo do elevador toda troncha já, [som de elevador] toda desbeiçada, arrasada… Quem que estava conversando com o porteiro? Misericórdia. [trilha sonora romântica] O Ivan, gente, o Ivan estava lá conversando com o porteiro.

E assim, até aquele momento ela não sabia que o Ivan estava ali por causa dela, mas o Ivan estava ali por causa dela, enquanto ela pensou numa maneira de encontrar com ele, ele também estava pensando numa maneira de encontrar com ela, não é fofinho? — Ai, meu Deus, é uma Sessão da Tarde que eu estou narrando. — E daí ela foi andando assim, meio blasé assim, meio “Ah, tudo bem”, [risos] pra dar uma fingida que não estava empolgada, porque o que ela queria era tipo, correr e pular no colo dele. [risos] E aí ela foi andando e falou: “Bom, se ele não me reconhecer, ou não falar “oi”, eu vou passar batido”, e aí quando ela estava, que ela ia passar por ele, ele falou: [trilha sonora romântica ficando mais alta] “Mônica, tudo bem? E aí, você tá descansada, tá melhor?”, já puxou assunto, já começou a conversar com ela.


Eles ficaram ali conversando na portaria quase uma hora, na portaria, e ela assim, doida pra ele falar “Me chama pro apartamento, me convida pra tomar um café, tudo bem que é a noite, me dá um suco, me dá qualquer coisa” e nada, ficaram conversando ali na portaria uma horinha, aí uma hora ele falou: “Bom, deixa eu subir, boa noite, boa noite”, e foi embora, subiu e ela foi embora, e ficou assim meio sem entender porque foi uma conversa muito agradável, mas foi uma conversa normal, ele não deu nenhuma abertura. — Mal sabia Mônica… — O problema é que ali eles não trocaram nenhum contato, nada, foi só uma conversa assim, sobre nada, amenidades, e era uma quinta-feira, ela só ia ver o garoto de novo na terça-feira. — Quase que ela ofereceu reforço grátis pra ele no [falando e rindo ao mesmo tempo] sábado. — 

Mas até então, ela também não tinha conseguido fazer nenhuma pergunta pra ele do tipo: “Ah, mas e a sua esposa”, sei lá, algum tema que introduzisse esposa, família… Não tinha, então ela ainda estava no escuro, tudo péssimo. E aí aquela coisa, né? A gente começa empolgada, chega no final de semana que você não vai ver a pessoa e que você não sabe nada, ela já deu aquela murchada. Aí já desanimou, falou: “Ah, ele foi só educado comigo, na certa o cara é casado, ou no mínimo tem uma namorada bonita, não vai se interessar por mim”, e aí a Mônica passou o final de semana péssima assistindo Faustão e comendo Cebolitos. [risos] E, assim, falou: “Ah, vou esquecer esse cara, imagina, isso aí de príncipe não existe, de cara que aparece enquanto a gente tá dormindo, piada”.

Chegou na terça-feira, a Mônica não conseguia tirar o Ivan da cabeça de jeito nenhum, mas ela estava já naquela vibe revoltada, tipo, “Ah, ele não me quer, também não quero”, mas deu uma arrumada no cabelo, [risos] passou ali um batonzinho, né? Vai que…. E foi dar aula para o menino. Na terça-feira ela não encontrou o Ivan, [trilha sonora triste] e assim, pode parecer besteira, mas ela ficou arrasada porque aí, você já entra num campo ali da fantasia de “Ai, meu Deus, será que agora ele sabe meu horário e ele evitou o meu horário? Ele não tá querendo me encontrar de propósito?” — Viagem da cabeça da Mônica, né? Às vezes o cara trabalhou até mais tarde, teve uma reunião… — Mas assim, vida da Mônica acabou, acabada a vida de Mônica. —

Na quinta-feira, a Mônica falou: “Ah, quer saber? Não vou me arrumar coisa nenhuma, essa coisa de ficar correndo atrás de homem, que ridícula”, e se xingou ali na frente do espelho de manhã, porque ela saía cedo, dava aula e só a noite que ela ia dar aula lá pro menino chato. E ela não se arrumou, colocou uma calça de moletom mesmo, era tipo final de maio estava frio, colocou lá uma blusa de lã, [riso] e falou: “Ah, que se dane”, tênis e foi assim, praticamente com a roupa de dormir. [risos] — Ai, meu Deus, tudo bem, né, Mônica? Mas não precisava também, né? — E foi. E naquele dia ela fez tanta coisa que ela esqueceu, sabe quando você desencana? Desencanou e foi, chegou lá na portaria o porteiro só interfonava, mas já abria pra ela porque já conhecia. E ela de cabeça baixa passando com os cadernos assim no braço, com a bolsa, de cabeça baixa passando, parou, apertou o elevador sem olhar, e aí ela viu que tinha do lado dela uns pés assim masculinos que ela foi subindo: ele. Todo arrumado e cheiroso, e ele disse: “Oi, Mônica”. [risos]  

A vontade que ela tinha era de pular no fosso do elevador porque ela estava, sabe, de piranha no cabelo? — Estava um esculacho. — Aí ela falou “oi”, morrendo de vergonha, morrendo de vergonha e ele tinha um pacotinho na mão, ele falou pra Mônica: “Olha, isso aqui não tinha como não lembrar de você e eu comprei pra você”. — Gente, para tudo, o Ivan comprou um presentinho, uma lembrancinha pra Mônica. Como assim? Eu já estava nua naquele momento. —  [trilha sonora de saxofone]. E aí, assim, o elevador chegou, ela tinha apertado o botão e ela não subiu, ela pegou o pacotinho, porta do elevador fechou, subiu sozinho e eles ali na frente no saguão do prédio, e ela abriu, era tipo essas máscaras, eu não consigo, mas que tem gente que usa pra dormir assim, pra ficar bem escuro? E era tipo uma máscara dessa assim, tinha um bichinho na frente, toda fofinha, ele falou: “Ah, pelo menos se você dormir no elevador agora você coloca a mascarazinha no olho e não tem claridade”, e ela riu, e nã nã nã, e ele ficou olhando pra ela.

E, assim, a Mônica podia também ter falado: “Poxa, me dá seu telefone, vamos tomar uma cerveja”, ah, estava frio, sei lá, “Vamos tomar um vinho”, qualquer coisa, mas ela não tinha coragem, não é do perfil de Mônica e ela ficou esperando o Ivan fazer isso, só que também não é do perfil do Ivan. [risos] E aquela angústia, né? E eles conversaram mais um pouco, só que ela tinha que subir pra dar aula pro menino chato, não podia atrasar, e aí ela falou pra ele assim: “Ah, eu vou subir pra dar aula, a minha aula acaba oito e meia, se você estiver por aqui a gente pode conversar mais”. — Graças a Deus que ela conseguiu falar isso. Ufa. E ele falou: “Ah, oito e meia? Então tá, eu vou estar aqui embaixo oito e meia”. — Ai, nossa, que alívio, né, gente? Que angústia. — E aí ela deu aula pro menino, na hora que terminou a aula ela foi no banheiro lá, deu uma ajeitada, deu até uma escovada no dente, [risos] mas a roupa estava péssima, mas deu uma arrumada assim, né? No que deu, no cabelo e desceu. — 

E lá estava ele, Ivan lindo. Eu tô quase pegando a cabeça do Ivan e a cabeça da Mônica e batendo assim, beijando, sabe? Um no outro. Ela desceu do elevador, ele estava lá, eles conversaram mais um pouco, agora ela já sabia que o Ivan era um engenheiro e ufa, ele acabou falando que ele era divorciado, até falou que ele estava aprendendo agora a cozinhar porque ele não fazia nada e, agora como ele estava morando sozinho… — Aleluia, Jesus. [risos] — Ele estava morando sozinho, então ele que fazia a comida e tal, que ele não gostava muito de comprar coisa pronta, e que tinha coisa que ele sabia fazer e coisa que ele não sabia fazer — Olha uma deixa boa aí que a Mônica perdeu de falar: “Ah, me chama um dia pra experimentar aí alguma coisa”. [risos] Não falou. —

E meu, mais um dia de conversa, só conversa. Só que aí ela já sabia que ele era divorciado, que ele era engenheiro, o nome da empresa lá que ele trabalhava que a gente vai chamar de, sei lá, Pônei Corporation, e que ele era um engenheiro da Pônei Corporation, que ele cozinhava agora e ela foi embora, ficaram mais uma hora ali conversando e, de novo, gente… — Pelo amor de Deus, alguém dá o telefone da Mônica pra esse rapaz, pega o telefone do Ivan com o porteiro, por favor? — Nada de trocar telefone. Gente, eles ficaram nesse chove não molha aí mais umas duas vezes, conversando, conversando, conversando, até que ela deu um panfletinho pra ele das aulas de matemática [efeito sonoro de level up/conquista] que tinha o telefone dela. E aí ele ligou e eles marcaram o primeiro encontro. Gente, a Mônica parecia que tinha, sei lá, quinze anos de idade, estava super nervosa para o primeiro encontro, [trilha sonora] e eles foram jantar [som ambiente de restaurante e pessoas conversando] num restaurante fofinho assim, ali no Bixiga e conversaram bastante, tomaram vinho, e aí lá no restaurante mesmo, era um restaurante assim, bem aconchegante, ele deu o primeiro beijo na Mônica. 

E a Mônica falou que: “Meu, amor da minha vida, é o amor da minha vida, encontrei o amor da minha vida”, e pra ele parecia a mesma coisa assim, foi um encontro de almas, a Mônica me disse. — Não é bonitinho? — E aí eles ficaram muito bem assim, durante dois meses, tipo, um romance de filme, mas sabe aquilo de: tudo que é bom dura pouco? Que às vezes não é verdade, tem muita coisa boa que dura bastante tempo, mas nesse caso durou dois meses. A Mônica já de vez em quando dormia lá na casa do Ivan, já dava aula para o moleque chato e depois já subia pro apartamento dele e tal. E ela fez isso um dia, chegou lá e ele estava com uma cara péssima, porque assim, eles estavam juntos só há dois meses e o Ivan tem uma carreira consolidada e, na empresa lá na Pônei Corporation, já tinha faz tempo que ele tinha pedido uma transferência pra Espanha, [trilha sonora triste] para a filial da Espanha, porque ele queria se aperfeiçoar num negócio lá do trampo dele e tinha saído essa promoção. 

E, assim, gente, a gente tem que ser realista, dois meses não dá pra você chamar a pessoa pra ir morar com você na Espanha, você mal conhece a pessoa, tá dando certo ali você dormindo uma vez ou outra, ficando uma vez ou outra, mas eu sou como o Ivan, eu não chamaria também. E a Mônica também não iria, tem a vida toda dela aqui, dava aula em dois colégios registrada, como que você vai largar? A Mônica também nem cogitaria ir, então assim, ele, nossa, ele ficou muito mal, ela ficou muito mal, mas não tinha nem como manter um relacionamento à distância, porque o mínimo que ele iria ficar na Espanha seria dois a três anos. Então, assim, pelo menos dois anos ele ia ficar, mas mais provável três, então, miou, azedou o pé do frango. E aí todo aquele romance de Sessão da Tarde virou, sei lá… — Que negócio que é triste que passa na TV? Não tô conseguindo pensar em nada triste, mas foi triste, foi muito triste — E aí acabou.

E eles ficaram naquelas de “Não, a gente vai se falar, você me manda e-mail, a gente pode ser amigo”, mas, né? Acabou, gente. Acabou, acabou. E, assim, ele ia ficar mais um mês ainda em São Paulo até ajeitar as coisas pra mudar, e eles resolveram ficar mais esse mês juntos, tipo, “Ah, vamos ficando, o dia que você tiver que ir embora você vai embora”, só que a Mônica acha que foi uma decisão errada, porque ela deveria ter terminado ali porque ela foi se apegando mais, ele ficou mais um mês e meio com ela. E aí chegou o dia dele ir embora, ela tinha prometido pra ela mesma que ela não ia fazer drama, então ela deu o maior apoio pra ele, aquela coisa, foi levar no aeroporto. Só que aí chegou lá no aeroporto estava a mãe dele, o pai dele, ele tem um filho de doze… De doze, não, quatorze anos, estava o filho de quatorze anos, então não deu nem tempo de ele dar atenção pra ela, então foi pior, tipo, ela ficou largada lá no aeroporto, ele foi embora e ela ficou sentada lá no aeroporto chorando. Ele foi pra Espanha [som de avião decolando] e acabou o amor bonito.

A Mônica tentou acompanhar esse início dele na Espanha pelas redes sociais, mas é aquela coisa, ela estava sofrendo, ela gostava muito dele e ela também achou que ele gostava dela, só que ele estava postando coisas felizes. [risos] — Eu entendo muito ela. — Tipo, enquanto ela estava aqui sofrendo, ele estava postando coisa lá de passeios que ele estava fazendo na Espanha e ela ficou com ódio. Mas, gente, ele tá lá na Espanha, mesmo que ele estivesse sofrendo, poxa, ele tá lá, não vai tirar uma fotinho pra pôr no Insta? — Puxa, vida também, né? — [risos] E passou… Ela voltou a dar aula pro menino chato, ela silenciou ele nas redes sociais, mas ela não bloqueou nada, continuou amiga no Facebook, acho que não tinha nem Insta na época, acho que era só Facebook, ela silenciou tudo lá pra não ver nada dele porque o medo de entrar… — Eu saí do Facebook já tem, sei lá, uns três, quatro anos que eu saí do Facebook, mas eu acho que a pior coisa é quando você gosta de alguém, você tá lá no Facebook, e a pessoa é seu amigo de Facebook e, de repente, entra aquele post de “Fulano em um relacionamento sério com Ciclano”. [risos] Puta que pariu. [risos] Ai que dor. —

Então, nossa, pra evitar isso ela silenciou tudo dele pra não ver nada e continuou dando aula lá pro moleque chato. Mônica voltou para o Cebolitos e pra dança dos famosos do Faustão e se fechou de novo, não estava interessada mais em ninguém, vez ou outra pensava no Ivan ainda e em como seria se tivesse dado certo. E o tempo foi passando, passou um mês, um ano, dois anos, três anos. Quando deu três anos, porque assim, o máximo que ele poderia ficar lá na Espanha pela empresa seria os três anos, deu aquele toque nela assim: “Puts, ele vai voltar”, porque ela não tinha esquecido o Ivan, não tinha, ela tinha silenciado tudo, vez ou outra ela dava uma bizoiadinha lá, mas não tinha esquecido. E aí deu três anos, ela falou: “Não, vou tirar o silêncio de tudo, seja o que Deus quiser, ele vai voltar, ele está voltando, vou dar um jeito de conversar com esse homem”. Ela não tinha esquecido, só que aí quando ela tirou do silêncio as coisas, ela viu que ele estava com uma moça na Espanha, e tinha muitas fotos dele com essa moça e, nossa, o mundo caiu de novo, o mundo de Mônica mais uma vez no chão.

E aí sim ela bloqueou ele em tudo, em absolutamente tudo, até no celular. Ficou com ódio, chorou, e aí aquela coisa “Nunca mais, nunca mais vou sair com cara nenhum, a gente só se ferra quebra a cara, nã nã nã, só decepção”, daí passou ali mais uns oito meses quase quatro anos do Ivan na Espanha, Mônica já tinha desencanado de vez, já tinha ficado com outros caras porque, pasmem, nesses três anos ela não ficou com ninguém, só mesmo se revoltou aí depois que ela viu a foto dele lá passeando em vários lugares turísticos com uma moça e jantando com a moça, aí ela resolveu sair com alguns caras. Aí saiu com alguns caras de aplicativo… E tá bem bonita lá três anos e oito meses depois aplicando uma prova de ENEM, ela era contratada lá da empresa que aplica provas e terminou, aplicou, fez o que tinha que fazer, quando estava saindo deu de cara com quem? Ivan, gente, lembra do filho dele lá de quatorze anos? Estava prestando ENEM e caiu bem na escola que a Mônica estava aplicando a prova.

E eles estavam lá fora esperando um moleque que não saía ainda, sei lá, ele estava lá na frente e ele estava com quem? Quem que o Ivan estava? Que já era pra Mônica sair de lá assim correndo, ó, já dar aquela voadora no Ivan? — Mentira, porque Ivan estava solteiro e podia estar com quem ele quisesse, mas do lado dele estava aquela mesma moça das fotos. — Nossa senhora, a hora que a Mônica viu, porque assim, não basta sofrer no amor, tem que ser pisoteada no amor, tem que arrancar o coração da gente, colocar no trilho da CPTM pro trem que vai pra Rio Grande da Serra passar em cima do nosso coração, que é aquele trem que vai lento, porque o trem que vai pra Rio Grande da Serra vai lento… — Que é pra ele passar bem pesado assim, esgarçando seu coração.

E aí ela não sabia, porque ela tinha que passar por onde ele estava e ele viu, quando ele viu ele ficou branco também e foi já ao encontro dela, “Mônica, não acredito, você aqui”, e ela só falou pra ele: “Oi, oi, eu tô com pressa, tenho compromisso, bom te ver” e já foi se desvencilhando e saiu fora. — Poxa, Universo, precisava fazer isso com a Mônica, sabe? Já tinha visto lá a foto do Ivan com a moça, agora tem que trazer a moça pessoalmente no trabalho dela ali, que é um trabalho que já tá fazendo um freela pra ganhar um por fora? Já diz que você é pobre porque você não viaja, que você não tem ninguém, entendeu? [risos] E aí dá de cara com ele lá com a bonita que estava na Espanha? Que ela nem sabe se é espanhola, se é brasileira, quem que é? Precisa, Universo? Sabe? Não precisa disso, faz a coisa mais na manha, sabe, na maciota com a gente? Não precisa disso aí. —

E aí Mônica passou, foi pro carro dela, [som de porta de carro sendo aberta] entrou no carro e não conseguia nem ligar de tanto que chorava, mas ela ficou com medo, de repente, o carro dele tá por ali também e ele pegar ela chorando. E aí saiu de qualquer jeito e, até nesse dia… — Obrigada, Universo. — Mônica ainda recebeu uma multa de trânsito. — Tá bom pra você, Universo, ou vai mandar mais coisa pra Mônica? — E o ENEM foi no final de semana, né? E na segunda-feira ela foi trabalhar com aquela ressaca de amor. — Todo mundo já teve, né, uma ressaca de amor? “Vá, puta merda, eu me envolvi demais e agora tô aqui catando cavaco no chão, me arrastando” — Aquela coisa ruim no corpo, e foi trabalhar assim, porque, né? Tinha visto lá o casalzinho. — Que não precisava, né? Mas, coisas do Universo. —

E deu aula, fez tudo o que tinha que fazer e ela já não dava, fazia tempo, aula pro moleque chato lá do prédio, então ainda bem ela nem ia mais pra aquele lado que ele morava. E deu a aula que ela tinha que dar e sempre quando era dez horas, era o máximo que ela estava em casa, que ela nunca pegava também aula muito tarde, a última aula que ela dava era até oito e meia, então podia ir até, vai, nove horas no máximo, quando era dez ela estava na casa dela já tranquilona. Dez horas da noite, [som de campainha tocando] quem que chega na casa de Mônica? — Vocês já sabem quem, né? Quem? Quem? Luciano Huck? Gugu? Táxi do Gugu? Não… — Ivan. Gente, dez hora da noite da segunda-feira o Ivan na porta da casa da Mônica, porque assim, acho que ele tentou ligar: bloqueado, tentou falar com ela pelo Facebook: bloqueado, baixou na casa de Mônica e a Mônica assustou, falou: “Meu, quê que esse cara vai vir aqui agora, me entregar o quê? O convite de casamento? Só falta essa agora, eu ter que dar uma panela de pressão pro casalzinho”. [risos] — Ai, meu Deus… — E aí ele estava lá e queria falar com ela. E ela meio emburrada, não queria falar com ele mais.

Mas aí foi falar com ele muda, assim, sem abrir a boca, com uma cara péssima, e ele pensando que ela estava com aquela cara péssima porque ele passou quase quatro anos, ele até mandou umas mensagens, mas ela não respondeu. — Mal sabia ele que ele estava silenciado em tudo, né? — E ele começou a falar, e aí ele falou: “Mônica, o que aconteceu? Eu fui falar com você lá na prova, nossa, que coincidência você lá, eu pensei tanto em você”, e a Mônica pensando: “Cara de pau, como assim pensou em mim? Vai pensar na sua namorada”, e ele falando, falando, falando e ela só olhando pra ele sem falar nada, mas pensando: “É muita cara de pau, homem é tudo igual, bicho safado, cretino. Veio aqui me encher o saco, agora vai querer o quê? Que eu seja amante?”, na cabeça dela ela reclamando, mas assim, muda olhando pra ele. E nem prestando atenção direito no que ele estava falando até que ela ouviu a palavra… [risos] — Gente, presta atenção na Mônica, que tapada. — Até que ela ouviu a palavra “irmã”.

O Ivan falou: “Poxa, você saiu correndo, eu queria te apresentar a minha irmã”, [risos] sim, o Ivan é desses caras que postam foto em Facebook e não põe legenda, e a Mônica também tapada de tudo, se ela tivesse dado uma boa fuçada lá atrás, ela tinha achado umas fotos da irmã dele, mas também nem procurou e ele não era muito de postar foto, então a hora que ela viu as fotos dele na Espanha com aquela moça bonita, deu aquele impacto, não tinha legenda, nada, só assim tipo, ah, o emoji, os dois tomando um negocinho um emoji ali de bebidinha. E quem é da família dele já sabe que é irmã, né? Então assim, tinha as curtidas ali, ela nem quis olhar, comentar, sabe quando você fica cega de ódio? E, gente, era a irmã do Ivan, era irmã do Ivan. [risos] 

O Ivan ficou esses três anos lá na Espanha, e diz ele que não ficou com ninguém, e aí ela acabou falando: “É, eu também não fiquei”, [risos] ela tinha ficado com uns caras aí de aplicativo. [risos] E era a irmã dele, olha, a cabeça da Mônica: olhou, ficou com ódio mortal, cega e achou que era namorada e era a irmã dele. E outro detalhe: Essa irmã dele estava no aeroporto. Agora que ele ia voltar ela foi pra lá, tipo, no último mês pra ficar com ele um tempo lá nos últimos meses, sei lá, pra voltar com ele. Então ela estava no aeroporto, no dia da despedida ela estava lá, só que ela, a Mônica estava tão chateada e arrasada que ele ia embora que também não prestou atenção, a moça estava lá, gente… — Pelo amor, Mônica, me fazer passar por isso Mônica. —

E aí a Mônica na frente do Ivan teve uma crise de riso, choro, e ele falando, continuou falando, falando porque ele estava nervoso assim, sabe, quando você fica tenso? Querendo consertar uma coisa que ele não sabia nem o quê que ele tinha que consertar. E [trilha sonora alegre] aí eles acabaram se beijando ali, e aí ela contou pra ele que achou que era namorada dele, aí ele também começou a rir, começou a chorar e aí eles ficaram juntos, não é bonitinho? E começaram a namorar, agora sério. E passou ali mais um ano, eles foram morar juntos e agora eles casaram, e a Pônei Corporation [risos] transferiu o Ivan para os Estados Unidos e eles estão morando nos Estados Unidos agora. E estão super felizes juntos, é uma história de amor que eu achei tão fofinha assim, e ela sofreu tanto, né? Uma parte de sofrimento que nem precisava [risos] e eles estão super felizes, estão juntos e é isso, não foi bonitinho?

E a Mônica me falou: “Olha, Déia, eu não acreditava mais no amor de verdade e estava de boa com isso, tipo tranquila, não vou me apaixonar de novo, não existe essa coisa de amor e de querer ficar com alguém o tempo todo, não vai ter mais isso”, e aí teve isso, né? E o Ivan é um cara super legal, um cara super de boa e super companheiro dela também. E tá vendo, gente? Tem também caras legais, né? E eu não sei, eu não sou dessas de falar que tem que procurar porque não tem que procurar, sei lá, se tiver que ser vai ser, se não tiver que ser também tudo bem. Não sei, não sei o que eu penso sobre isso, mas a Mônica tinha pra ela que não queria mais, e aí tá vendo? Agora tá lá casada e felizinha, né? 

E Mônica pediu para eu ressaltar aí pra vocês que ela conheceu o Ivan, ela estava com trinta e cinco pra fazer trinta e seis, ficou só dois meses, passou ali quatro anos praticamente, ela voltou a ficar com o Ivan quando ela tinha praticamente quarenta anos e casaram, né? Depois de quase dois anos. Então ela casou com quarenta e dois anos, então, ela falou que já viu no grupo algumas meninas comentando sobre isso, né? E pra quem tem essa meta aí de casar, nunca é tarde. Eu, vocês sabem o que eu penso sobre casamento, né? Mas pra quem curte a ideia, pra quem é fã, nunca é tarde, né? E é isso, depois aí das trapalhadas de Mônica. [risos] Ainda bem que o Ivan foi atrás dela, né? Pensa também se fosse um cara que falou: “Ah, também ela me tratou mal, me bloqueou em tudo, vou deixar pra lá”, ainda bem que ele foi atrás dela, deu tudo certo e eles estão felizinhos. Então, foi uma história de amor felizinha. E é isso, um beijo.

[trilha] [vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.