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título: sopa
data de publicação: 16/12/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #sopa
personagens: clarice e ed

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Hoje eu vou contar pra vocês a história da Clarice e do Ed. 

[trilha]


A Clarice e o Ed eles namoravam já há alguns anos e aí veio a pandemia e aquela coisa da maioria dos e-mails que eu tô recebendo agora, de gente que foi morar junto na quarentena. — Eu não acho essa a melhor ideia, já falei isso aqui, mas, né? Cada um… [risos] — E a Clarice o Ed resolveram tentar. Então o primeiro mês ali, março até abril deu certo, o segundo mês ali finalizando maio deu certo, Dia dos Namorados rolou um estressezinho porque o Ed queria que a Clarice cozinhasse e ela queria pedir comida, ele queria que ela fizesse lá um prato que ele gosta e ela não estava a fim de cozinhar, e aí rolou um estresse, eles acabaram comendo pão de forma com requeijão [risos] no Dia dos Namorados, então, seria isso um presságio? — Não sei. —


E aí a coisa começou a dar uma azedada porque realmente ficar muito tempo junto com uma pessoa que você não ficava tanto tempo junto é meio complicado, né? — Porque eu tô vendo essa quarentena assim, pelo menos as histórias que eu recebo dos casais, mesmo quando você é casado, você não passa vinte e quatro horas com o seu esposo, sua esposa, né? Sempre sai pra trabalhar, sei lá, vocês têm horários diferentes, passa uma parte do dia longe um do outro, e na quarentena, na minha visão, parece assim: Sabe quando você vai viajar com alguém? E assim, pelo menos pra mim, a viagem tem um prazo, eu já viajei com alguns namorados e assim o meu limite de ficar o tempo todo junto vai no máximo uma semana, depois de uma semana a coisa já vai desandando, pra mim vai desandando, então é demais pra cabeça. Então imagina a quarentena você ali, sei lá, nem sei mais quantos dias a gente tá só em casa, então eu entendo o desgaste e eu não acho que de repente um gosta menos do outro por causa disso, é a situação. —


Então o Dia dos Namorados deles foi uma droga, mas também ninguém estava muito ligando, já era junho e a gente estava mais focado, né? Tanto a Clarice e o Ed, acho que como todo mundo em saber se ia ter vacina, em saber se podia voltar comércio, shopping ia abrir, porque foi bem naquela época do Dia dos Namorados, então foi aquela época que o shopping ia voltar a abrir, então tinha vários assuntos. Passou ali o Dia dos Namorados, passou mais uma semana, e realmente o shopping voltou a abrir, algumas coisas voltaram a funcionar, e o Ed gosta muito de uma sopa de um restaurante lá que vende sopa e esse restaurante voltou a abrir, mas pra entregas, ele estava fechado porque parece que um dos donos era grupo de risco e aí fizeram um esquema lá e voltou, e ele queria muito ir buscar essa sopa para os dois. E aí o que aconteceu? 


Eles moram num quarteirão e o lugar da sopa é ali uns três quarteirões de distância, então ele ia a pé, ia tranquilo, não levou o celular e ele saiu pra comprar a sopa, a Clarice ficou. Quando ele acabou de sair e ele pegou a chave, pegou o cartão que ele ia passar as duas sopas lá que eles tinham escolhido o sabor, e quando ele saiu a Clarice lembrou que aquele cartão que ele levou provavelmente não ia passar, então o quê que ela fez? Colocou a mascarazinha dela ali e foi atrás dele pra dar o cartão certo, ela falou: “De repente, a gente chega lá e dá uma volta, né? E daqui lá já ajuda um pouco”, sei lá, né, porque os dois em home office, quase não saindo de casa, revezando pra fazer compras, né? 

Imagina assim, ele estava a uns cinco minutinhos na frente dela só… — Pouca coisa — E aí ela foi andando devagar, falou: “Bom, ele vai chegar lá vai pedir as sopas até pegar, embrulhar, tudo. Vai dar tempo de eu chegar e ele não passar vergonha com aquele cartão, né?”, ele falar: “Ah, esse cartão aqui que tem que passar e tal”, coisa básica. De repente, ela virou a esquina e aí assim, o lugar da sopa, o restaurante ficava lá no fim da rua, então ela conseguiu ver lá no fim da rua o Ed, ela falou: “Ah, meu Deus, acho que vou dar uma corridinha, né? Fazer uma surpresinha”. — De novo a surpresinha. [risos] — E aí quando ela foi dar uma corrida assim pra meio que chegar mais perto dele, porque ele estava andando também super devagar, o Ed entrou num carro e, conforme ela foi chegando mais perto, ela pegou o Ed beijando uma outra moça. — Sim, o Ed estava beijando uma outra moça. —


E aí ela ficou tão chocada e ela estava de frente assim, então se ele parasse de beijar, ele ia ver que ela estava ali, o quê que a Clarice fez? Ela voltou correndo. Era a última coisa que ela poderia imaginar: ele beijando uma outra moça no carro no meio da rua, perto do restaurante da sopa, então provavelmente, ele tinha inventado que ele queria muito aquela sopa porque ele deve ter marcado com a moça de encontrar ali no carro. Então primeiro que furou a quarentena e já tá ali trocando saliva de Corona com outra pessoa, né? Tem isso. E a Clarice não conseguiu ter reação, e ela voltou pra casa e ela falou: “Andréia, eu não consegui chorar, eu fiquei em choque, sem entender, porque não parecia uma atitude que ele teria e ele teve, era ele, eu vi, e ele entrou”. E aí ele demorou uns 40 minutos pra voltar e voltou com a sopa, então se o cartão, aquele cartão, não estava passando foi a moça que pagou a sopa. — Provavelmente, né? Foi a moça que pagou, porque só saiu com a chave e o cartão. — 


E aí ela olhou pra cara dele assim, ele estava já com uma cara mais animada, né? E aí ela falou: “Ué, esse cartão passou?”, ele falou: “Ah, passou”, quer dizer, mentiu. Ela tinha como ver no aplicativo e não passou, então a moça pagou a sopa. E aí ela ficou olhando pra ele assim e resolveu não falar nada, e aí ela tomou a sopa, falei: “Mas e aí Clarice? Você conseguiu tomar a sopa?”, ela falou: “Ah, eu tomei a sopa, o cheiro estava muito bom, eu tomei a sopa”. E aí ela tomou a sopa, foi assistir TV e ele já estavam assim meio estremecidos, então ele foi para o quarto, depois ela escovou o dente e deitou, dormiu. E assim, gente, como se nada tivesse acontecido, ela não falou pra ele, ela não comentou nada, ela deixou quieto, ela não sabia o que pensar, não sabia o que fazer e não sabia também o que estava sentindo. 


Aí conforme os dias foram passando ela olhava pra ele assim tentando imaginar o quê que, sei lá, passava pela cabeça dele pra fazer uma coisa dessa, né? Pra trair ela desse jeito. — E mentir, né? A mentira é foda, né? — E ela só ficava olhando pra ele, e parecia que ele estava desconfortável, né? Porque ela estava só acho que analisando ele, né? E aí ele falou depois ali de uma semana que ele ia na farmácia, e assim não tinha nada pra ele comprar na farmácia. Ele cismou que ia comprar lá um flaconetezinho para o estômago, e ela ficou olhando, ela pensou: “Será que ele vai encontrar a moça? Vai beijar a moça? Será que eu devo ir atrás dele?” e ela não foi. E aí passou junho, chegou julho, ele que saía pra fazer as compras, então ela ficava pensando que toda vez que ele saía, ele encontrava a moça pra beijar a moça, e quando ele demorava mais, ela ficava pensando se eles estavam transando, de repente. 

Mas ela não sabe me explicar se ela não tá se afetando, ou se a coisa é tão surreal que ela não tá se deixando afetar, né? Que coisas diferentes. Então ela não tá se permitindo sentir isso aí, e aí eu falei: “Clarice, mas e aí, né? O quê que você quer?”, aí a resposta dela pra mim no e-mail foi: “Eu quero que a pandemia acabe”. Então eu não sei se ela quer que só a pandemia acabe, ou se de repente que esse relacionamento acabe, né? Ou já acabou, não sei, perguntei, falei: “Ué, mas como é que você se sente, né?”, ela falou: “Ah… Eu não sinto nada, não sinto nada, mas também não tô feliz”. E aí não sei, porque tem isso também, o cara ele mudou para o apartamento dela e ele devolveu o apartamento dele, que não é nem devolver, ele morava com um amigo, os dois dividiam, ele saiu e o amigo colocou um outro cara lá na vaga dele, então supostamente ele não teria pra onde ir agora, e ela também não vai colocar ele na rua. 


E aí eu falei pra ela: “Bom, se de repente você acha que você não tá sentindo nada, porque que você não conversa com ele, de repente vocês ficam aí só como colegas de apartamento, né? E não como um relacionamento”. — Mas é esquisito, né? — E ela falou que ela já tinha cogitado isso, mas aí quando ela pensa ela volta a achar que gosta dele e ela tá super confusa. E eu não sei, porque eu não teria esse sangue frio, acho, de ver e virar as costas e ir embora e depois não tocar absolutamente no assunto, nada, então não sei, o quê que vocês acham? A Clarice queria saber de vocês assim, o que vocês pensam sobre isso, o que ela deveria fazer, porque nem ela sabe o que ela tá sentindo direito, o que ela quer. Falei pra ela: “E aí, terapia?”, ela falou que faz terapia online, né? Tá fazendo com a mesma terapeuta que ela sempre fez, a terapeuta também tá bordando algumas coisas com ela que ela não quis entrar em detalhes comigo, então também acho que não precisa, né? A gente já tem aí um pouco dos elementos pra poder comentar.


E é isso, gente. O cara da sopa dando sopa para o azar, né? Trocadilho infame. Mas é isso, não sei o que pensar também Clarice, eu entendo tudo porque pandemia tá complicado pra todo mundo e convivência é complicado, tem hora que você ama, tem hora que você odeia, eu entendo tudo isso… Mas e aí, né? E aí? Esse relacionamento dele paralelo, a mentira, né? Não sei gente, o que vocês acham aí do Ed? O cara da sopa. Então respondam pra Clarice lá no nosso grupo do Telegram, é só jogar na busca “Não Inviabilize” e comentar lá no nosso grupo. Sejam gentis aí com a Clarice, um beijo. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.