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título: sórdida
data de publicação: 29/02/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #sordida
personagens: catarina e uma moça

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje pela primeira vez é o Skeelo. — Amo… — Que você gosta de ouvir as histórias do nosso podcast, a gente já sabe, mas que tal começar a ouvir audiobooks direto no seu celular? O Skeelo é perfeito para você que quer ler aí mais nesse ano ou já é uma pessoa apaixonada por leitura. O aplicativo tem milhares de ebooks, audiobooks e minibooks. O Skeelo é um benefício em planos de empresas que estão aí no nosso dia a dia, como a Claro, a Vivo, a Sem Parar, o UOL e tantas outras. Quem é cliente dessas empresas recebe livros novos todos os meses sem pagar absolutamente nada por isso, às vezes você já tem uma biblioteca lotada no aplicativo e nem sabe. 

Basta baixar aí o aplicativo do Skeelo de graça e pronto, você tem um mundo de livros na palma da sua mão. — Eu vou deixar o link certinho para você conhecer aqui o Skeelo na descrição do episódio. Skeelo, te amo… — E hoje eu vou contar para vocês a história da Catarina. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Catarina trabalha aí numa grande empresa e nessa empresa num dos congressos que ela foi lá, ela conheceu uma moça que também trabalhava numa outra grande empresa, parceira dessa empresa que ela trabalhava. — Então, nesse congresso tinham várias pessoas de outras empresas X e tal e elas se conheceram. — E meio que foi ali um amor a primeira vista, assim, tudo muito intenso… E Catarina de cara ficou muito interessada nessa moça e essa moça também muito interessada nela, elas trocaram contato, era ali o primeiro dia do Congresso, um Congresso de quatro dias e já no segundo dia a moça passou a ficar no quarto de hotel da Catarina… Então elas passaram três dias juntas. Tinha a programação do Congresso que você tinha que cumprir e, nas horas livres, elas estavam juntas, assim, fazendo coisas como se fossem namoradas assim. 

Acabou esses três dias e Catarina ficou muito feliz porque as duas morando na mesma cidade e nunca tinham se encontrado, assim, na cena lésbica da cidade delas. — E por que não? — Porque essa moça ela não frequentava, ela não era ali das turminhas e tal, ela era mais assim na dela. E as duas começaram um namoro e tudo muito intenso, a ponto da moça que também morava sozinha praticamente se mudar pra casa da Catarina. — Então, assim, a moça não deixou de ter o apartamento dela, né? Mas ficava mais no apartamento da Catarina. — E assim elas foram vivendo esse romance, só tinha uma questão, que a Catarina queria apresentar essa moça, nessas turmas de garotas que ela tinha amizade e essa moça não queria… 

Essa moça também não apresentava Catarina nas redes sociais, ela dizia que se ela se apresentasse lésbica para a sociedade, ela achava que a carreira dela não iria tão bem e ela estava focada no objetivo que ela queria chegar e ela não queria. — Então era um direito dela e eu já falei aqui que eu acho a coisa mais horrorosa do mundo forçar alguém a sair do armário. Eu acho que a pessoa tem o direito sim de não querer sair a vida toda até se ela não quiser, né? É uma escolha da pessoa, é ela que tem que fazer e dar esse passo se ela quiser. Não importa se ela está feliz, se está infeliz, é ela que tem que dar esse passo. — E a Catarina respeitou isso, mas elas viviam como se fossem casadas, né? Só que a Catarina querendo uma vida mais exposta de casal e a moça não. 

A moça não queria uma vida exposta de casal na sociedade, só que ali, entre quatro paredes, ela era muito intensa. — Então, o que ela começou a falar pra Catarina? O que ela queria? — Ela queria ter um filho com a Catarina. Só que como ela tinha uma carreira profissional toda planejada, ela queria que a Catarina engravidasse. Ela queria casar com a Catarina, então no cartório e fazer todas as coisinhas de cartório. Catarina estava feliz da vida porque ela falou para mim: “Andréia, tudo o que eu mais quis na vida é realmente ser esposinha… E eu queria realmente ser esposinha”. Só que, assim, pra sociedade essa moça não falava nada… Era como se a Catarina fosse praticamente casada entre quatro paredes e, para a sociedade, ela fosse solteira. — Isso já me acende uma bandeira, assim, tipo uma cilada… — Mas Catarina ela entendia que era em decorrência mesmo dessa questão das metas profissionais dessa moça. 

O tempo foi passando, a Catarina entrou na vibe dessa de ter filho mesmo, porque a moça queria muito que elas formassem uma família com criança. E aí ela começou a procurar essa questão de inseminação, como é que ia ser, o que ela tinha que fazer, quanto custava, né? Porque não era um procedimento barato. Foi vendo tudo… — Eu sempre custo a acreditar em quanto as pessoas são sórdidas, mas elas são muito sórdidas. — Sempre que a Catarina mandava alguma coisa sobre as coisas de como engravidar e tal para a moça no celular, a moça não respondia. A moça nunca respondia. A moça só respondia quando ela chegava em casa… — Pra vocês não é estranho? Pra mim é estranho. — Quando chegava em casa ela ficava muito feliz e falava e tal…  — E aí, vai, eu vou dar um valor aqui, X. — Digamos que o procedimento de inseminação custasse, sei lá, 14 mil reais — é uma grana —, as duas com empregos muito bons, então não seria um problema 7 mil cada uma… — E aí, o que você faz? Se você vai dar 7 mil para uma pessoa? Você faz um pix, né? Você não faz um pix? Sei lá… —

A moça chegou em casa com o dinheiro, deu o dinheiro pra Catarina. — Não é estranho? Quem saca 7 mil reais? — Mas a Catarina não achou problema, ficou super feliz, marcou o procedimento. — e, detalhe: Na escolha da clínica, das coisas, a moça nunca podia ir porque realmente ela era uma executiva muito atarefada. Mas, poxa, é seu filho, né? É um planejamento ali também que você quer, familiar… Você tem que abrir um espaço na sua agenda para sua família, né? Só que ela nunca ia… Ela não foi nem na inseminação. E aí eu fico pensando: “Catarina, por que você deu sequência então numa coisa que a moça não estava presente?”. Aí ela falava assim, a moça falava: “Se eu for com você e tiver algum conhecido lá, eu vou ficar exposta”… Então, ela sempre tinha essa desculpa da exposição. — E ela nunca acompanhou a Catarina em nenhuma das visitas, até que a Catarina fez o primeiro procedimento e não deu certo, parece que tinha mais uma tentativa naquele valor que elas pagaram, enfim, x… Aí deu certo. ela engravidou, foi uma festa, as duas ficaram muito felizes ali, comemoraram e tal, X… E o tempo passou, agora a Catarina grávida… 

Quando Catarina estava com quatro meses, essa moça já começou a ficar diferente. — Diferente como? — Mais distante, mais fria… E aí a Catarina foi falar com ela e ela falou assim: “Ai, eu não estou conseguindo sentir tesão em você grávida, o seu cheiro mudou”. — Ô, gente… — Catarina ficou super preocupada, falou: “Mas eu estou cheirando mal?”, “Não, não é que você está cheirando mal, é que não sei… O seu cheiro mudou, não sinto mais tesão em você, não sei o que” e o que elas tinham combinado? Que quando a Catarina engravidasse elas iam se casar. E mesmo que ela não fosse assumir — fazer post e essas coisas —, na empresa ela ia agora no RH falar que ela estava casada, ia casar no papel. Só que aí toda vez que a Catarina falava isso: “E aí, a gente não vai casar?”, “A gente não vai casar?”, não queria esse status de mãe solo, a moça sempre falava: “Não, mas eu estou aqui, você não é mãe solo, eu estou aqui”. — Só que, né? Vamos no cartório, vamos fazer direito e tal…”, só que a moça nunca ia. —

Até que quando a Catarina completou seis meses, um dia a moça saiu de manhã para trabalhar, Catarina também saiu para trabalhar, elas saiam juntas e o que ela não sabia é que a moça voltou na casa da Catarina, pegou todas as coisas dela e levou de volta para o apartamento dela. — Que ela sempre manteve. — E quando foi mais ou menos meio—dia — que elas sempre se falavam na hora do almoço —, que a Catarina mandou mensagem, já não conseguia falar. A moça tinha bloqueado ela em tudo. — Em tudo… — E aí a moça não respondia nem por rede social, em nada… A Catarina foi à noite na porta do prédio e a moça não autorizou a subida da Catarina. Catarina, num momento de loucura, foi na porta da empresa lá, fez um escândalo e a moça fez um boletim de ocorrência de assédio. — Contra a Catarina. — Catarina passou um final de gravidez, muito difícil… [efeito sonoro de bebê chorando] Teve o bebezinho e ainda hoje o bebezinho tem três anos e ela tenta provar na justiça a responsabilidade da moça. — Dessa maternidade. —

Só que ela não tem provas… — Agora eu fico pensando, para a moça nunca ter falado sobre essa inseminação, sobre como ela queria esse bebê também via mensagem, nada, sempre só pessoalmente, ela não fez de caso pensado ou ela já fez isso antes… Para mim não faz sentido você já de cara sacar que você não vai, que você não pode falar sobre aquilo, deixar provas sobre aquilo, se você já não tem a má intenção de abandonar. Vocês concordam comigo que não faz sentido? É ser muito sórdida. De todas as histórias, assim, essa, para mim, é uma das mais sórdidas. Vendo os fatos, conversando com a Catarina, parece que desde o começo ela planejou isso. Mas como? Como você planeja a outra engravidar, você dar metade do dinheiro e, detalhe: Ela deu a metade do dinheiro em dinheiro. — O advogado da Catarina pediu para fazer levantamento para ver se ela não tinha feito nenhum saque na época de 7 mil e ela não fez nenhum saque… — Então ela já tinha esse dinheiro ou ela pegou esse dinheiro com alguém, com algum familiar e depois repôs… — Não tinham saques na conta dela na época que a Catarina alega que pagou a inseminação, que foi metade cada uma. 

E a moça alega que ela fez tudo sozinha e que, inclusive, ela não está mais com a Catarina por causa disso, porque a Catarina quis engravidar, quis levar um outro tipo de vida e que ela não é responsável por criança nenhuma. — Não é uma loucura? — O advogado é super humano, sabe? Ele vai tentando, sabe? Mas ela vê o desânimo na cara do advogado, tipo: “Mano, não vai rolar, sabe? Você não vai conseguir provar que ela queria também essa criança junto”. — Agora, o que me pega é: Qual a motivação? Por que ela fez isso? Porque eu acho, assim, “se arrependeu”, mas antes mesmo da Catarina engravidar, ela não comentava… A Catarina mandava os links, as mensagens, as matérias e ela não respondia nada, ela só respondia pessoalmente. E o argumento dela era sempre esse, ela não quer ficar exposta… — Parece que ela já fazia de caso pensado… Por que ela deu em dinheiro? Por que não fez uma transferência? — Há três anos não tinha pix ainda, né? Por que não fez um TED? —

Qual a motivação? E a hora que, óbvio, a Catarina apertou para ela casar, ela saiu fora, foi embora… Largou a Catarina grávida. E está aí com a carreira ótima, foi promovida realmente, alcançando seus objetivos… Tratando a Catarina como louca. Conseguiu realmente fazer um boletim de ocorrência porque a Catarina perdeu mesmo assim a razão quando foi lá na porta da empresa fazer escândalo, né? — Mas o que mais que ela podia fazer? — A Catarina tenta provar a responsabilidade também dessa moça com o bebê, que já é um garotinho de três anos e pouco já e até hoje nada. E a moça nega… Nega qualquer envolvimento. Sigo chocada. A Catarina acha que não vai conseguir, mas ela vai tentar até o final… Mas é isso, né? Provas… Que provas ela tem? Não tem provas. A moça só era intensa e namorada dela entre quatro paredes. Geralmente a gente vê homem fazer isso, né? O cara ser seu marido, seu parceiro, seu tudo dentro de casa, e aí fora de casa não te assume, não pega na sua mão, nem sai com você, nem coloca em rede social… Mulher é mais difícil a gente ver mulher fazer isso com mulher… 

Então fica aí pra geral, porque depois, se você precisar provar alguma coisa, como é que você prova? Você não tem uma mensagem, você não tem nada, você fica realmente como a louca da história. Então é isso, gente, essa é a história da Catarina… Se alguém tiver também alguma dica mais, assim, nem nas consultas ela ia junto a moça, nada… Nada. Nem no dia da inseminação, nada… Não ia. Só ficava junto na casa… – Provar que ela frequentava a casa da Catarina? Ela não nega isso, ela fala: “Eu ia sim, a gente tinha um caso, mas eu sempre tive meu apartamento, sempre mantive minhas coisas”. Ela não nega, isso ela não nega… Não nega… Fala: “Eu nunca prometi casamento”, sendo que ela prometia sim casamento, mas você não tem uma mensagem, você não tem nada… É a palavra de uma contra a outra, ela falava: “Sempre mantive a minha casa, a gente saía, a gente tinha um caso”. Então é isso, gente… Eu fiquei muito chocada, muito chocada. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, Bárbara de São Paulo. Poxa, Catarina, se eu fosse sua amiga, eu ia com você na porta dessa empresa, porque tem coisas que eu acho que não se resolvem na justiça mesmo… Só pra ela ficar esperta, só pra não deixar batido toda essa patifaria que ela está fazendo com você, viu? Eu sinto muito, que história horrorosa e eu acho que isso vale de aprendizado também para algumas pessoas que as vezes falam por aí que “ah, eu queria ser lésbica porque é mais fácil”, não tem nada de mais fácil, gente, existem pessoas de bom e mau caráter de todas as orientações sexuais, e aí a gente sofre seus devidos desafios, né? Então vamos parar de reproduzir essa lesbofobia, porque olha só [risos] histórias como essa, que podem acontecer com pessoas de todos os gêneros e orientações. É isso, Catarina, eu desejo tudo de bom para você, que você encontre serenidade junto com seu filho, que vocês possam prosperar muito, com muita saúde e alegria e que você encontre uma esposinha parceira muito firmeza, que acolha sua família. Um beijo. 

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, aqui é a Marina de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais. Catarina, que furada, hein? Meu conselho é, infelizmente, deixar isso pra lá e seguir em frente. Eu acho que é a única forma de você preservar seu psicológico e criar seu filho longe de toda essa teia, esse planejamento, essa coisa horrorosa que foi feito. E do mais, mulherada, não romantizem a maternidade dessa forma, muitas vezes a gente coloca o sonho e a empolgação acima de qualquer coisa e, no final, quem sofre é a criança e vocês. Catarina, um grande abraço, tudo de bom para você. 

[trilha] 

Déia Freitas: Conheça o Skeelo, o seu aplicativo de livros e tenha na sua mão ebooks e audiobooks para ler e ouvir em qualquer lugar. Leia e ouça milhares de histórias com o Skeelo. — Tô muito feliz de fazer publi para o Skeelo. — Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.