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título: sustentados
data de publicação: 21/08/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #sustentados
personagens: rosana, dona julieta e seu irmão

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — Será que o meu som tá bom? — Eu tô gravando aqui da Espanha. [risos] Foi tudo tão corrido que eu não tive tempo de antecipar. Então vamos lá, vamos tentar, né? Vou começar de novo. — 

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo de novo é o podcast A Grande Fúria do Mundo, apresentado pelo filósofo Mário Sérgio Cortella e pelo seu filho — o jornalista Pedro Mota Cortella — o podcast A grande Fúria do Mundo é uma conversa divertida e interessante entre duas gerações que compartilham suas opiniões sobre aqueles temas difíceis ou complicados aí de se abordar. A segunda temporada do podcast foi lançada semana passada e você já pode ouvir sobre os impactos da inteligência artificial nas nossas vidas e como estamos inseridos na sociedade do cansaço. — Temas bem agora, bem interessantes mesmo. — A Grande Fúria do Mundo está disponível em todas as plataformas de podcast, mas só no Amazon Music você já encontra os três novos episódios da segunda temporada. Baixe o aplicativo do Amazon Music e ouça agora. 

E hoje eu vou contar para vocês a história da Rosana. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Rosana mora com a mãe — que a gente pode chamar de Dona Julieta — e ela e a dona Julieta se dão super bem e a Rosana é quem mantém a dona Julieta financeiramente e para ela é super ok estar assim. — E eu digo para vocês que, se minha mãe estivesse viva, eu ia bancar absolutamente tudo que ela quisesse nessa vida. Então, eu entendo bem a Rosana e eu faria igual. — A Rosana tem um irmão e esse irmão, tem mais ou menos aí uns seis anos, ele casou e, nesse período, ele teve dois filhos. Trabalhando, batalhando… Às vezes ele precisava de uma grana e a Rosana dava… — Super de boa, né? Coisa de irmãos e ela ama muito esse irmão. — Acontece que na pandemia ele perdeu o emprego e a esposa já não trabalhava para ficar com as crianças e eles vieram morar com a dona Julieta. 

Acontece que quem banca dona Julieta é a Rosana, então meio que acabou que eles vieram morar ali junto com a Rosana e dona Julieta e a Rosana passou a bancar todo mundo. — Enfim, pandemia… Eu acho que sim, foi uma época que quem podia fazer aí pelos seus familiares e fez, foi ótimo. — Foi ali passando o período crítico, um ano, dois anos, já dava para o irmão começar a procurar um emprego… Só que esse irmão da Rosana ele não quer qualquer emprego… Ele se formou em administração, então assim, é um campo vasto, né, gente? Você pode trabalhar aí em administração de mil coisas, só que tudo pra ele não tá bom. 

Ele preenche vaga, ele vai fazer entrevista, mas nunca aceita os empregos propostos porque ele acha que não tá bom e ele meio que se instalou de vez… Acontece que quando ele veio, a casa tem dois quartos, então a Rosana, que antes dele casar, dormia com ele no quarto, eles dividiam o quarto… Agora a Rosana saiu daquele quarto, passou para o quarto da Dona Julieta, então dormem as duas no quarto e ficou a família, o irmão, a esposa e as crianças no outro quarto. Compraram um beliche, passaram a cama da dona Julieta para lá e as duas camas de solteiro para o quarto da Dona Julieta. Acontece que agora a Rosana está vendo essa formação, as coisas que aconteceram todas, como definitivas, assim… Parece que o irmão não quer mais sair da casa da mãe, mas também não trabalha. A cunhada da Rosana, que cuida das crianças — cuida daquele jeito porque tá deixando mais para dona Julieta cuidar —, ela não quer trabalhar porque ela diz que ela quer criar os filhos. 

A Rosana falou: “Poxa, ela podia muito bem pegar uma Pôneitura, uma Pôneivon, né? Uma Pônei Kay pra vender… Poxa, leva lá os caderninhos, os encartes e tal para suas amigas, pras pessoas do bairro, para fazer uma graninha para o básico, né?”. Porque a Rosana tem que comprar tudo, tipo até fralda, tudo… E ela já fez um empréstimo pra poder bancar a família porque está muito pesado, ela já falou isso… Sempre que ela fala tem briga porque os dois — o casal — acham que ela está jogando na cara, mas ela não está jogando na cara, ela não tem mais como. A dona Julieta fica triste porque a dona Julieta tem um problema de saúde e não vai trabalhar… A Rosana não quer que a mãe trabalhe, ela quer bancar a mãe, mas nessa está bancando o irmão, a cunhada e as duas crianças, né? E aí a Rosana sugeriu pra cunhada colocar as crianças na creche — tem vaga na creche municipal do bairro delas, tem vaga, a creche é muito boa — e ela se sentiu ofendida… 

Não quer colocar as crianças na creche porque diz que ela vai olhar as crianças até as crianças estiverem aí na idade escolar e, ainda assim, ela não vai trabalhar. Então aí fica complicado, né? Ninguém quer dar o trampo. Quer dizer, dona Julieta nem pode, mas assim, a Rosana não quer que ela trabalhe mesmo, quer que a mãe descanse porque a mãe trabalhou a vida toda para criar os dois, né? Só que agora a Rosana está tendo que bancar a família inteira do irmão, então, tipo, às vezes: “Ah, precisa levar a criança no médico” e a cunhada tem que ir lá no posto de saúde para fazer o agendamento e tal e não vai… Quem vai é a dona Julieta, porque ela fala que não sabe… — Ô, gente… Adulto. Vai lá e pergunta. Então acaba que a dona Julieta está sobrecarregada com todas essas coisas da casa e das crianças, porque o casal não faz nada e a Rosana está sobrecarregada mentalmente, fisicamente e financeiramente porque tem que bancar todo mundo, chega em casa e tem ali uma família inteira tomando conta da casa, você não tem um minuto de paz, você não consegue descansar… 

E aí o irmão começou a falar que ela é ruim, que ela está jogando as coisas na cara e ela não tá jogando as coisas na cara… E ela não tá jogando, ela falou: “Andréia, eu não jogo na cara, mas eu pergunto como é que vai ser, se eles vão morar lá para sempre. Porque, assim, eu quero, eu quero bancar a minha mãe e eu não posso deixar minha mãe lá também”. E a casa, tipo, é casa de família, então é a casa da dona Julieta e que, sei lá, só depois que ela falecer que vão fazer o inventário, então não tem essa opção de as duas saírem de casa e deixar a casa para eles, porque aí é pior ainda, né? — Capaz dele dar um jeito de vender a casa. — E foi por isso que a Rosana escreveu pra gente, porque assim, ela não se acha ruim… Eu também não acho que ela é ruim, ela só está cobrando trampo. Se você é adulto e você não é herdeiro e você, sei lá, não tá na Caixa pelo INSS — por uma razão de saúde — tem que dar um trampo, gente… Tem que trabalhar. Tem que trabalhar pra você ter sua autonomia, suas coisinhas… Porque você é um adulto, né? Então é isso… 

Aí o irmão fica escolhendo emprego… Tem muita gente que quando eu falo que: “Ah, eu fui babá de gato por anos e anos”, as pessoas falam: “Mas nossa, você estava na área da moda…”, gente, eu precisava trampar, precisava ganhar dinheiro pra pagar minhas contas, não pode ter vergonha de serviço… Você tem que pegar o serviço que aparecer para você pagar suas contas, aí depois você planeja e tal e vai seguindo os passinhos pra você conseguir uma coisa na sua área, sei lá, sabe? Eu fico muito de cara quando as pessoas falam que: “Ah, eu não paguei minhas contas porque eu tô sem trampo”, “mas ó, tem esse trampo aqui”, “ah, esse trampo eu não quero”, pô…Tem que trabalhar. E a pessoa que fala: “Não quero esse trampo” é porque sempre se encosta em alguém, porque na hora que a água bate na bunda, você está sozinho, você tem que pegar, você tem que trabalhar… A vida do proletariado é essa. Então, eu não entendo, não entendo… Ele não está certo de ficar escolhendo serviço, ele tem uma esposa que não quer trabalhar e duas crianças para manter, então ele tem que pegar o que aparecer e aí depois ele vai procurando outro, gente. É assim que todo mundo faz, que a maioria da população mundial faz, né? Então é isso… Eu não acho que a Rosana está errada… Eu gostaria aí de saber de vocês. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, meu nome é Silvana, eu sou de Recife, mas eu moro no Canadá. Rosana, o seu irmão resolveu constituir família, não você. Você está cuidando da sua mãe, que é uma coisa nobre e você ajudou ele no momento em que todo mundo estava precisando de ajuda, mas agora é o momento dele criar as asinhas dele e cuidar da família dele. Você não tem obrigação de cuidar da família dele, então se é para ser a chata da história, pelo menos que não seja você se sacrificando a ponto de daqui a pouco, cara, você vai ter um burnout. E aí, quem é que vai cuidar de você? Quem é que vai cuidar da sua mãe? Cuida de você, cuida da sua mãe, que é uma coisa que você quer fazer… Se for preciso, bota ele pra fora. Se é para ser a chata da história, pelo menos que não seja se sacrificando a ponto de você se desgastar totalmente. Se cuida, espero que fique tudo bem com você, tchauzinho. 

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, aqui quem é a Yasmin do Espírito Santo. Único coisa que me ocorreu seria você tirar a sua mãe de casa, infelizmente, falar assim: “Olha…”, dá três meses pra eles, fala: “Vocês tem três meses para arrumar um emprego, qualquer coisa… Depois de três meses, se vocês não tiverem arrumado emprego para ajudar as contas da casa, eu vou pegar a minha mãe e a gente vai morar numa kitnet”. O que você vai gastar na kitnet é provavelmente menos que do que você gasta com uma família de cinco pessoas, que não faz nada. O nome dessa história devia ser “Folgados” e não “Sustentados”, né? Que nunca vi gente tão folgada. Eles não vão procurar emprego enquanto eles tiverem comida na mesa… Como disse a Déia: “enquanto a água não bater na bunda”. É uma situação muito difícil, mas não foi você que fez esses filhos, não foi você que obrigou ele a casar com a pessoa descansada. Então, amiga, sai… Sai correndo para as colinas. Você não merece passar por isso. 

[trilha] 

Déia Freitas: A segunda temporada do podcast A Grande Fúria do Mundo já está disponível no Amazon Music. O filósofo Mário Sérgio Cortella e seu filho, o jornalista Pedro Mota Cortella, conversam sobre arte, literatura, psicologia e, claro, filosofia. Baixe o aplicativo Amazon Music e ouça os três primeiros episódios aí do podcast A Grande Fúria do Mundo. Eu vou deixar o link para o podcast aqui na descrição do episódio. Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.