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título: televisão
data de publicação: 04/01/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #televisao
personagens: kátia, pedro e dona cleide

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei pra contar aqui uma história que eu já contei no Twitter, mas pra eu contar o desfecho eu tenho que contar a história do começo, então eu vou contar aqui hoje a história da Kátia e do Pedro. 

[trilha]

A Kátia e o Pedro eles tinham um namoro muito bacana assim, eles se conheceram por amigos, né? Eles foram apresentados e se gostaram e começaram a namorar. E desde o começo foi um namoro bem família, então a Kátia foi conhecer a Dona Cleide, o Pedro não tem pai, o pai dele já morreu, então é só a Dona Cleide e o Pedro. E o Pedro foi na casa da Kátia conhecer o pai da Kátia, mãe da Kátia, a família toda. — A família da Kátia é maior. — Então era um namoro assim que um frequentava a casa do outro, uma festa ou outra, um churrasco eles juntavam as famílias, tudo muito de boa, namoro massa mesmo dos dois assim, nunca teve briga, nem nenhum problema mais grave assim, um namoro super relax, os dois se gostando muito, a família super de boa e a Kátia muito próxima da Dona Cleide. 

E Dona Cleide sempre foi assim, uma sogra ok, mima, né? Mima muito o Pedro, o Pedro um cara de trinta e quatro anos, né? Então não é um menino mais, mas como é só ele e a mãe então ele tem esse apego maior, né? Mora com a mãe. — Que eu não vejo problema nenhum porque né, a mãe dele é sozinha, ele é sozinho, pra que ter duas despesas? Sei lá, em tempos de hoje, eu não vejo problema nisso de morar com a mãe, não, não é um ponto pra mim, mas tem gente que acha que não é ok. — E Pedro muito apegado a mãe, como eu disse, mora junto, faz tudo junto e Kátia na mesma vibe, sempre nos programas ali ele, ela, Pedro e mãe de Pedro, Dona Cleide firmona ali em tudo, mas também isso nunca foi um problema pra Kátia. — Então, né? Se tá tudo bem, tá tudo bem. —

Até que um dia Dona Cleide chamou a Kátia no zap e pediu um favor, até aí tudo bem, né? Você vai fazer um favor pra pessoa que você gosta, que é a mãe do seu namorado. — Mas depende, [risos] eu gente, eu tô com quarenta e quatro anos, então não é tudo que eu faço pelas pessoas, a gente já tem um pouco mais de vivência, então tem certas coisas que você fala: “Puts, não vai dar certo isso”, e essa situação da Kátia que ela vai passar agora que eu vou contar pra vocês, seria uma situação que eu pensaria “Não vai dar certo”. — O quê que Dona Cleide pediu? Ela pediu o cartão de crédito da Kátia emprestado. — [risos] E eu acho assim, vai, tudo bem, você vai emprestar um dinheiro, um cartão pra alguém, empresta uma quantia que se a pessoa não pagar, você sabe que você não vai entrar em perrengue, você vai ficar com raiva, lógico, de repente a sua amizade vai até acabar, mas isso não vai te prejudicar tanto. Você consegue ali, sei lá, pagar, né? Não vai, sabe, dar tudo o que você tem porque se a pessoa não pagar depois, você não tem como arcar com parcela, essas coisas, e a Kátia não pensou nisso. 

E ela falou pra Dona Cleide: “Não, claro, pra quê que seria?”, e a Dona Cleide toda fofinha, toda querida, explicou a situação, que assim, a TV da casa deles já estava no osso, então às vezes desligava sozinha, esquentava e, ela, Dona Cleide, não é muito de assistir televisão, então por ela tudo bem, agora o Pedro ele gosta, ele gosta de ver futebol, ele gosta de ali acompanhar um telejornal e ele ficava chateado quando a TV desligava assim do nada, então ela queria dar uma TV pra ele, mas ela queria dar uma TV boa, uma TV bonita, uma TV bem grande, isso com o cartão [risos] da Kátia. E a Kátia frequentadora da casa de Dona Cleide sabia que a TV realmente desligava, que tinha esse problema, então ela falou: “Ah, tudo bem, vamos lá, vamos comprar a TV para o Pedro, eu empresto o cartão pra senhora, é claro”. E a conversa das duas foi muito clara, que ela estaria emprestando o cartão para a Dona Cleide, mesmo porque a televisão ficaria na sala do Pedro, então assim, é uma TV pra casa, né? Seria para o Pedro porque é o Pedro que mais curte TV, mas era uma TV ali para os dois, e aquela TV que estava mais velhinha e tal eles iam colocar no quarto do Pedro, e a hora que o Pedro tivesse um tempo, talvez, mandar arrumar. — Mas a gente sabe que hoje em dia nem compensa, dependendo da televisão, você vai mandar arrumar é melhor você comprar outra mesmo. —

Agora aqui cabe um comentário que eu fiz com a Kátia e que ela que não é uma pessoa adepta ao crediário — Quem vem e frequenta a classe C, né? Eu sou classe C, operária total, eu venho de uma família de crediários, [risos] numa época que só tinha Casas Bahia, hoje em dia tem um monte que também faz crediário, mas na minha época, que não tinha tanto cartão de crédito, pobre não tinha cartão de crédito, gente, a realidade era essa: o pobre não tinha. Então era o carnê das Casas Bahia sim. — Então o que eu não entendi foi que, assim, a Dona Cleide ela recebe uma pensão do marido de cinco mil reais, isso é um fato, é a pensão dela, como pensionista ela conseguiria fazer um crediário nas Casas Bahia, por que ela não fez? Não tirou a TV no nome dela? — Não é esquisito? — Ela poderia ter tirado no nome dela, eu até perguntei pra Kátia “Mas será que ela estava com o nome sujo, alguma coisa assim?”, a Kátia falou: “Olha, não, que eu saiba não. Não estava, acho que não estava não”. Mas mesmo com o nome sujo o aposentado consegue, porque tem um negócio lá de consignação, sei lá, não é como a gente que não tem aposentadoria, então se fosse pra mim, uma pessoa que tem aposentadoria pedindo pra mim, eu já ia fazer esse questionamento “Mas escuta, com o seu valor de pensão você consegue, por que que você não tira?” — Ou eu sei lá, eu ia falar que meu cartão estava estourado, qualquer coisa, mas não emprestaria sabendo que a pessoa recebe uma pensão de cinco paus e poderia ir lá tirar no crediário dela e pagar lá o carnezinho que todo mundo já fez isso aí. Quem não fez ainda vai ter um carnê na vida, que todo mundo tem um boleto na vida um dia. —

Mas tudo bem, a Kátia não pensou nisso, quer dizer, ela nem sabia, ela não é dessa época do carnê, então ela nem se ligou que podia ter carnê, mas eu garanto pra vocês… — Que Dona Cleide que tem cinquenta e cinco anos, eu tenho quarenta e quatro e sou da época do carnê. — Dona Cleide com cinquenta e cinco, ó: carnê, mil carnês, gente. Então nesse ponto da história, Kátia me contando, eu já estava cabreira. — Já pensando Dona Cleide, Dona Cleide tá maquinando alguma coisa, por que que não tirou essa TV no carnê? Mas tudo bem, pode ser que seja só a minha vivência aí, mas eu ficaria com o pé atrás. — Então lá foi Kátia com Dona Cleide, escondidinho do Pedro comprar uma TV pra ele, aí chegaram lá na loja — Que a gente vai chamar de Casas Pônei — chegaram lá nas Casas Pônei e vê uma TV daqui, vê uma TV dali, você vê… O quê que a Kátia pensou? Que ela fosse comprar uma TV, sei lá, de trinta e duas polegadas, que é uma TV grande, mas não é “Uau”, né? Ela não pensou que aconteceria isso que estava por vir.

Porque assim, você vai comprar uma TV com uma outra pessoa no cartão de outra pessoa, você não vai perguntar pra pessoa até onde ela pode ir? E a Kátia também devia ter deixado isso mais claro, mas elas simplesmente foram, e a Kátia tem cartões assim bons, com limites altos e que isso já era de conhecimento da família do Pedro, ali da mãe, de Dona Cleide e Pedro, então acho que Dona Cleide foi sossegada, e a gente sabe como são os vendedores dessas lojas, né? Então o vendedor da Casas Pônei, nossa, já foi mostrando logo aquela TV maior que tinha e que tem isso, que tem aquilo, e que nossa, “Ah, seu filho gosta de futebol? Tem isso, tem aquilo, é 4K, não tem pontinho branco, que eu nem sei o quê que é isso, [risos] a TV não tem pixels brancos, não sei o quê, e Kátia só ali olhando, foi até olhar outras coisas e deixou, quem ia decidir que TV comprar seria Dona Cleide, né? Ela que escolha sozinha porque ela vai pagar sozinha.

Quando Kátia voltou ali da voltinha que ela deu pela Casas Pônei, Dona Cleide já estava bonitinha sentada numa mesa lá fazendo cadastrinho [risos] do vendedor, até que vendedor soube que o cartão que seria usado seria da Kátia, então o cadastro ia ser feito no nome da Kátia. Quando a Kátia viu, que ele mostrou na tela o valor da TV, Cátia deu uma assustada boa. — O valor da televisão, gente, sem brincadeira nenhuma — quase seis mil reais, as parcelas quatrocentos e oitenta e nove reais por parcela, então assim, não é uma parcela baixa. — Concorda? Porra, ó, falei até um palavrão. [risos] — Mas até aí Dona Cleide ganha cinco paus, então dá pra ela pagar uma parcela de quinhentos paus, mas como que você faz uma parcela de quinhentos paus no cartão de uma outra pessoa por um prazo longo? E se esse namoro acabar? Kátia não pensou nisso, porque a Kátia já devia antes de sair de casa falar pra ela: “Olha, aqueles cartões que eu tinha de limite alto eu cancelei todos, eu tenho um cartão aqui que eu tenho um limite de mil e quinhentos”, sei lá, alguma coisa assim, entendeu? 

Mas ela não falou nada também, na hora ela ficou sem graça e resumindo, saíram de lá feliz da vida com uma entrega prevista de uma TV de quase seis mil reais. — E assim, cabreira sou eu, Kátia não estava nem um pouco preocupada. — Kátia estava totalmente relax achando que no dia da parcela a sogra dela ia honrar com o compromisso, com o que elas tinham combinado, ainda lá na hora, na frente do vendedor das Casas Pônei ela perguntou: “Dona Cleide, a senhora aguenta pagar uma prestação de quatrocentos e oitenta e nove?”, e Dona Cleide disse: “Não, filha, tá tranquilo. Não, lógico que eu consigo. Não, esse valor tá dentro do meu orçamento senão eu nem compraria”, então tudo lindo, né? Estava tudo conversado na frente do vendedor das Casas Pônei, tudo acertado, saíram de lá bonitinhas, cada uma foi pra sua casa, passou um tempinho, festa de aniversário de Pedro. 

Dona Cleide fez uma festa surpresa para o Pedro com amigos e familiares e a super TV, né? Que nem sei como ela escondeu dentro daquela casa porque a TV era do tamanho de um guarda-roupa. [risos] E, mas aí, tudo lindo a festa, só que um detalhe, no discurso que Dona Cleide fez para o filhinho dela lá na hora do parabéns, não sei o que, ela falou assim: “Filho, um presente meu e da Kátia pra você”, gente, ali era a hora… — [risos] Se sou eu falo: “Opa, opa, opa. Não, presente da sua mãe pra você, eu só aqui fui a mensageira”. — [risos] A Kátia ali, ó, devia ter falado, mas não comentou nada, ficou quieta e Dona Cleide fez esse discurso “Presente meu e da Kátia pra você”. — Pra mim isso aí já era um indício de que as coisas azedariam, mas ainda a Kátia achou que foi só um engano ali, semântico e que tudo bem. —

Passou a festinha, Pedro amou a TV, tá lá assistindo mil jogos, Smart TV, então você assiste um YouTube, assiste uma Netflixzinha, todo felizão, zero preocupado, né? E a Kátia já começou a suar porque quatrocentos e oitenta e nove reais não é brinquedo, né gente? E chegando a data, chegando a data, de repente bate um depósito lá na conta de Kátia de duzentos e trinta reais, [risos] em nome de quem o depósito? Dona Cleide. Mas gente, duzentos e trinta não é nem a metade. — Pensa bem, não é metade. — Então o quê que a Kátia pensou? “Bom, ela estava com duzentos e trinta ali, aproveitou e depositou, mais pertinho da parcela ela vai depositar o restante que é duzentos e cinquenta e nove” e ainda ficou tranquila. [risos] — Se sou eu já pego o telefone na hora e falo: “Escuta, caiu só duzentos e trinta, o quê que tá acontecendo?” Mas Kátia ainda tranquila. — Até que chega ali a data limite que ela tinha que falar com a Dona Cleide, ela tinha que cobrar, Kátia muito assim educada, muito cheia de dedos pra falar, ligou pra Dona Cleide e falou: “Então, oi Dona Cleide, você tá boa? Como é que a senhora tá? Como tá aquele joelho? Foi na hidroginástica hoje?” — Aquela conversa mole de início. —

Aí depois de uma conversinha tocou no assunto, falou: “Então, eu vi que a senhora depositou duzentos e trinta lá e tá faltando duzentos e cinquenta e nove. E eu tô precisando pagar a fatura do cartão, nesse meu cartão não tem nada só essa prestação, como é que a gente vai fazer?”, Dona Cleide que estava até então em silêncio, ela já tinha falado do joelho, já tinha falado aula de hidroginástica, falou assim pra ela: “Olha, filha, eu pensei bem aqui e você não vai casar com meu filho? Vocês não se amam?”, Kátia riu porque até então ela não tinha, não pescou o raciocínio ali de Dona Cleide, Dona Cleide foi rata, raposa a Dona Cleide, “Você não vai casar com meu filho? Eu pensei bem e achei justo você pagar uma parte”. — Oi? — A Kátia não estava acreditando porque assim, estava tudo muito combinadinho, certinho, e Kátia achou que fosse brincadeira e riu, aí falou: “Não, então Dona Cleide, sério, eu tô precisando mesmo que a senhora deposite porque eu preciso pagar a fatura e tal”, ela falou: “Não, eu tô falando sério também, você vai casar com meu filho e essa TV vai ficar pra vocês, então eu achei justo, eu fiz aqui umas contas, eu…” 

Quer dizer, a Dona Cleide ainda fez conta e, na cabeça de Dona Cleide a parcela dela seria ainda menor que de Kátia, quer dizer, ela paga duzentos e trinta e a Kátia paga duzentos e cinquenta e nove. — Eu queria saber qual foi ali [risos] o parâmetro que ela usou pra chegar aí na parcela de cada uma. — E ela falou isso séria, aí ficou séria, falou: “Não, eu acho justo, mesmo porque eu sou uma idosa, eu não tenho condição de pagar quinhentos reais de parcela”. — Como é que é? — Ela foi sonsa essa véia — Que nem é velha, ela tem cinquenta e cinco anos, ela não é velha, então pensa, gente, a mulher enganou, enganou na cara dura a Kátia e ali o sangue da Kátia subiu, minha gente. Então a Kátia ouvindo aquilo que a Dona Cleide estava dizendo, que ela era uma idosa, que não conseguiria pagar uma parcela de quinhentos reais sem acreditar, né? Porque ela tinha perguntado na frente do vendedor das Casas Pônei se ela conseguiria pagar e Dona Cleide respondeu: “Não, filha, claro”, e agora ela estava dando uma dessa. 

E aí Kátia tentava falar, argumentar e Dona Cleide falando por cima, até que Dona Cleide falou: “Então quer saber, fala com o Pedro então, fala para o Pedro que você tá me obrigando a pagar uma parcela de quinhentos reais, eu tô passando mal aqui”, e começou a chorar, começou a falar que a Kátia estava destratando ela e a Kátia quieta, a Kátia não conseguia nem falar, ela não deixava a Kátia falar e ela começou a falar “Ai, eu tô passando mal, tô passando mal” e a Kátia desligou e nervosa. E aí qual foi o erro da Kátia? Primeiro erro, Kátia em vez de pegar o telefone que já estava na mão dela e ligar para o Pedro explicando a situação ela foi respirar, tomar uma água, assimilar o baque, né? Porque era surreal a sogra estar dando uma de sonsa pra cima dela daquele jeito, mas ela foi parar, acalmar pra conversar com o Pedro, nesse tempo que ela estava se acalmando, o quê que Dona Cleide fez? Ligou antes para o Pedro, ligou passando mal. — Quer dizer, fake mal, né? Porque duvido, ela sabia muito bem que a parcela era de quinhentos reais que ela ia pagar, né? Só que ela ligou para o Pedro passando mal. — Contando a versão dela, óbvio, Pedro largou o trabalho correndo pra ir socorrer a mãe, com medo da mãe enfartar, ter um derrame por causa de Kátia. 

E quando a Kátia ligou, ele estava nesse caminho, nesse trânsito indo socorrer a mãe dele, ou seja, o cara estava uma pilha, estava puto da vida. O Pedro atendeu a Kátia super mal, falou pra ela: “Escuta, o quê que você quer? Você vai matar minha mãe, você enfiou a minha mãe numa dívida de quinhentos reais por mês, você é louca? Que isso, que aquilo”, e a Kátia tentando explicar, mas ele não deixava, ele falou: “Eu não vou falar com você agora, minha mãe tá morrendo por sua causa”. — Gente… —  E aí a Kátia começou a chorar, entrou em pânico, e aí, aliás, as colegas dela de trabalho, estava todo mundo tentando ajudar a Kátia e ela passada e tentando falar com o Pedro, e ele não ouvia, deu um esculacho nela e desligou o telefone. Kátia aos prantos, Pedro desligou o celular, não falou mais com ela, ela no fundo também queria saber se Dona Cleide, sei lá, de repente estava no hospital, vai que, né? Mas óbvio que a mulher não teve nada, né? Estava bem ótima Dona Cleide, bem ótima. 

E aí ela deu ali um dia ou dois e eles foram conversar, e o quê que o bonito do Pedro queria? Que realmente a Kátia assumisse metade das parcelas porque ele disse que foi assim que a mãe dele contou pra ele, que elas tinham combinado meio a meio — Gente, a mentira —, e a Cátia falou: “Não, nunca, eu jamais faria isso. Pedro, pra quê que eu vou dar uma televisão pra você? Eu jamais faria isso”, e aí o Pedro já ficou meio ofendido também e aí ela falou: “Então tá, eu vou ver se eu devolvo essa TV, super nervosa”, e aí tinha uma amiga dela que trabalhava numa outra rede, mas sabia meio que os macetes pra tentar devolver, mas tentaram e não conseguiram porque já tinha passado mais de quarenta dias, um negócio assim, não tinha como devolver mais, então tinha que pagar e o Pedro também não queria que devolvesse, queria que ela pagasse, queria como ele disse que ela honrasse a palavra dela com a mãe dele — Uma palavra que ela não deu — e que a Kátia estava sendo tóxica com a mãe dele — Tóxica, a palavra que o bonitinho usou, tóxica. 

E aí eles brigaram feio e romperam. E eles romperam e, no meio da briga, a Kátia falou pro Pedro, foi sensata, né? Ainda bem, e falou: “Então eu vou mandar meu pai buscar a televisão, porque tá no meu nome, nota fiscal no meu nome, sou eu que vou pagar essa merda, então eu vou pôr essa TV na minha casa”, e assim foi feito, Kátia pegou a TV de volta, eles romperam mesmo, Dona Cleide não passou mal, a bonita, e ela começou a pagar as parcela sozinha, se virando ali pra pagar quatrocentos e oitenta e nove por mês sozinha de uma TV que ela nunca quis, e que aí ela pôs ali na sala da casa dela pro pai dela e pra família dela assistir. Vida que segue, Kátia sofrendo muito, né? Toda vez que ela passava na sala dela e via aquele trambolho daquela TV enorme [risos] ela lembrava do Pedro, de tudo e pagando a parcela amargurando, né? Porque ali não tem pra onde correr, né? Casas Pônei batendo no Serasa. [risos] 

Aí um belo dia ela olha no zap e tem um “Oi”. — Ah, me poupe, né, Pedro? — Pedro mandando oizinho pra ela, “Oi, tudo bom, você pode falar?”, como que Kátia não me bloqueou esse menino? — Eu teria bloqueado no “tóxica”, né? Ou no “Você não tem vergonha de fazer a minha mãe entrar numa dívida de seis mil reais, quinhentos reais por mês?”, Me poupe, né? Mas tudo bem, Kátia é Kátia, eu sou eu. — Kátia não bloqueou Pedro, e aí Pedro começou com aquela conversinha mole, não sei quê, quis voltar com Kátia e Kátia balançada, volta ou não volta, volta ou não volta, só que um detalhe, Pedro tocou no assunto TV, Pedro falou que hoje acredita na versão das parcelas lá, que a parcela seria toda da mãe, mas olha que engraçado, né? Essas prestações que a Kátia pagou ficariam como? Porque numa das conversas dele, ele falou que achava justo que a TV voltasse pra casa dele e eu falei: “Mas e aí Kátia? Vocês falaram então do pagamento? Então cobra isso aí tudo à vista, fala: Tudo bem, se me pagarem à vista pega a televisão, pra mim tá ótimo, eu quito o cartão ali que é um cartão que eu nem uso e tá de boa”, mas ele só falou isso. 

— Olha gente, o detalhe — pra voltar a namorar com a Kátia escondido da mãe dele por enquanto — O cara tem trinta e quatro anos — porque ele não quer que a mãe dele fique abalada de saúde e que quando eles voltassem definitivamente com a mãe sabendo, seria bacana [risos] a TV voltar pra casa dele, porque aí, né? A mãe dele ia ver que era um ponto ali de paz, mãe dele muito orgulhosa, Dona Cleide muito orgulhosa, fala: “Não, ela devolveu a TV”. — Fora de cogitação, né? Mas no coração da gente, quem que manda? E a peça que o coração prega? E a Kátia muito balançada. No Dia dos Pais, porque a família de Kátia, uma família muito gente boa, então assim, meio que não se mete na vida de Kátia “Quer voltar, vai voltar? Então volta”. E o Pedro foi lá na casa da Kátia almoçar, no almoço do Dia dos Pais porque ele não tem pai, o pai dele já morreu, lembrando que o pai dele deixou uma pensão de cinco mil reais para Dona Cleide. — Bom frisar, né? — 

E aí ele foi almoçar lá no almoço Dia dos Pais, o quê que Kátia fez? Kátia, óbvio, ela gosta do Pedro, então ela falou: “Bom, eu vou voltar, mas eu vou dar aqui uma rasteirinha no Pedro”. No almoço, lembra que [risos] Dona Cleide fez um discurso? Lá no almoço Kátia fez o discurso dela e no discurso dela, ela deu de presente para o pai a TV de seis mil reais, e o pai ficou todo feliz, todo emocionado, brincou com o Pedro ainda, falou: “Pronto, agora resolveu, essa TV agora é minha, essa TV não sai mais daqui” e rindo, e Pedro riu também, mas, né? Vai saber como Pedro estava por dentro. [risos] — E eu achei que foi uma jogada genial da Kátia, porque assim, ela volta, ela tem que pagar a TV, então a TV fica na casa dela, fica para o pai dela, ela volta com o Pedro, se casarem ou não a TV jamais vai pra casa dela nova se ela casar com Pedro, porque a TV ela deu para o pai. —

Então o Pedro perdeu aquela TV definitivamente, foi gênio, a Kátia foi gênia. Só que ela não contava com algumas coisinhas. Primeiro, assim que terminou o almoço, né? Passou o discurso, tudo, o Pedro já virou pra ela só os dois e falou: “Bom, já que você deu a TV para o seu pai, então é justo que você devolva os duzentos e trinta reais da minha mãe”. — Ô, gente, acabou de voltar… — Voltaram naquele dia, você vai pedir duzentos e trinta reais? Você ficou com a TV na sua casa quase dois meses, moço, para… Mas pediu. E a Kátia achou justo devolver, mas devia ter feito o que? Devia ter esperado pra devolver esse dinheiro quando ela voltasse ao convívio de Dona Cleide, que ela nem sabia quando seria, porque o namoro a partir ali do domingo do Dia dos Pais seria um namoro escondido do lado da família do Pedro, do lado de Dona Cleide, só que aí a Kátia resolveu dar o dinheiro pra ele no dia seguinte. 

Na segunda-feira Kátia transferiu para Pedro, para a conta de Pedro, deveria ter transferido pra conta de Dona Cleide, só que não podia porque eles estavam namorando escondido, né? Então transferiu para a conta de Pedro os duzentos e trinta reais e avisou ele e tal, ele agradeceu e, detalhe que, no domingo, logo depois do almoço, ele falou assim pra ela: “Ai, gata, eu não sei, acho que eu comi demais aqui, eu vou pra casa, amanhã a gente conversa, vamos pegar um cinema na semana” e eles acabaram que não ficaram juntos, quer dizer, eles voltaram a namorar no domingo e não ficaram juntos. Na segunda ela mandou o dinheiro, conversou com ele, na segunda à noite ela foi dar boa noite pra ele, coisa de namorado dar boa noite, chegou do trabalho e tudo, cadê a fotinha do Pedro no zap? O Pedro bloqueou a Kátia em todas as redes sociais, todas, bloqueou a Kátia em tudo, pegou os duzentos e trinta reais e bloqueou ela em tudo. — Gente, como pode? — A Kátia ficou sem entender, ela não conseguia ligar pra ele nada, aí ela pegou o telefone de uma amiga e discou pro Pedro e o Pedro falou: “Nunca mais me procura, não quero mais saber de você” e desligou na cara dela, sem explicação, gente, qual é a explicação? Te-le-vi-são. Só pode ser a televisão. Pelo menos pra mim a explicação é essa, o cara ficou puto porque a Kátia deu a televisão para o pai dela, ele pode até ser que não seja a TV em si, seja a atitude, sabe assim: “Ah, a Kátia fez isso de picuinha”, e ele ficou nervoso, lá na hora não falou nada, esperou, teve o sangue frio de esperar o dia seguinte pra Kátia dar os duzentos e trinta reais pra aí sim ele romper definitivamente. 

Agora por que ele voltou? Ele voltou porque ele queria a TV ou ele voltou porque ele gostava da Kátia? — Jamais saberemos, né? — A Kátia tá arrasada, eu quase não consegui contar essa história aqui porque ela tá muito mal ainda, e também não adianta a gente postar coisa aqui pra ela, olha só que doideira, o celular dela é muito velhinho e não baixa o Telegram, ela já tentou de tudo, não conseguiu, então ela ia ver se de repente ela baixava no irmão dela pra escutar, mas ainda ela tá muito machucada, enfim, a gente vai comentar entre a gente a história, mas eu não sei se a Kátia vai ter acesso a isso. Tô inconformada com o que o Pedro fez, ele bloqueou ela em tudo e, detalhe, no Facebook dele, porque eles tinham alguns amigos em comum, ele apagou as amigas da Kátia, mas deixou um cara que é amigo, que acho que ele nem lembrou, mas que é amigo da Kátia, não era amigo dele e o cara printou um post que ele fez lá, tipo, não falou da Kátia especificamente, mas falou das pessoas que enganam idosos. — Ô, gente… — Uma puta indireta, sabe assim, textão? 

De gente que engana idosos e que ele se enganou com a pessoa, tá falando da Kátia, óbvio, tanto que o cara printou porque estava todo mundo sabendo, o cara amigo da Kátia ficou sabendo da história da televisão também e o cara mandou pra ela e falou: “Ó a presepada que o seu ex tá fazendo aí”, olha o cara, o cara é um mau caráter. Mas enfim, né? Kátia ainda gosta dele, óbvio que agora foi ali a última pá de cal na história, acabou, né? Mas é isso, gente, Pedro bloqueou a Kátia em todas as redes sociais, mas pelo menos a televisão é do pai dela, ganhamos a TV. [risos] Eu falei pra Kátia que eu ia rir, porque assim, daqui um tempo, agora ela não vai rir, né? Agora a gente chora, agora a gente fica mal, mas daqui a um tempo ela vai rir, né? Ela vai conseguir um cara bacana, ela vai ainda olhar pra televisão, vai tá lá sentada no sofá com o cara bacana e o pai dela vai falar: “Tá vendo essa TV aí, ó? Foi um cara muito babaca” e vai contar a história. Isso vai acontecer, Kátia, pode ter certeza que isso vai acontecer.

E se também não aparecer um cara bacana, daqui um tempo você fica bem sozinha, porque a gente fica bem sozinha sim, né? Não precisa de ninguém pra ficar bem e isso passa, porque dor de amor passa e passa mesmo, pode demorar um pouco, mas passa e aí você vai olhar pra essa TV e o que você vai ver nessa TV? Vai ver Ana Maria Braga, vai ver aí um Fantástico nessa TV, vai ver um Cidade Alerta comigo. [risos] Então, Kátia, vamos esperar que esse dia vai chegar, você vai olhar pra TV e só vai ver os programas de TV, não vai ver o Pedro mais, isso vai acontecer, tá bom? E, gente, é isso, é a história da Kátia, né? Eu tô próxima dela, então é mais complicado a gente contar, né? Porque aí a pessoa manda mais mensagem, né? E ela tá bem assim machucada, então deixo aqui todo o meu amor pra ela e foi um prazer, uma honra contar a história dela, a confiança que ela depositou em mim, então isso é muito importante pra mim. E vamos que vamos. Um beijo e logo eu volto.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.