título: trairagem
data de publicação: 20/04/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #trairagem
personagens: elaine e irmão
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje uma história aí bem difícil. Eu vou contar para vocês a história da Elaine. Bom, então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A história da Elaine começa já com muitas perdas, né? — Tem a ver com a Covid-19. — Então, no começo da pandemia os pais da Elaine adoeceram, pegaram Covid e, infelizmente, os dois faleceram. A Elaine já casada, grávida de sete meses e só tendo um irmão aí, né? — Agora como família. — E aquela loucura toda que foi nesse processo, dos pais que ficaram doentes até o falecimento deles… A Elaine ali grávida, — assim que eles faleceram ela estava com sete meses — e o irmão da Elaine não queria ficar mais na casa. — Onde os pais faleceram que ele morava junto, né? Que era no interior. — Então ele propôs de já fazer o inventário, de já ver tudo e já colocar a casa à venda, porque ele não conseguia ficar lá. — É bem compreensível, né? A casa que ele e a Elaine, né? Que agora ela estava casada, já morando aqui na Capital, em São Paulo e ele no interior ainda, morava com os pais, então ele não estava conseguindo ficar lá mais, porque era muita lembrança, muita coisa… —
E aí a Elaine foi pra lá, eles separaram tudo o que era afetivo e o que não era, de móveis, essas coisas e o que eles não aproveitaram, eles doaram e deixaram a casa fechada para poder fazer o inventário. — Era ainda aquele começo, onde até os cartórios estavam fechados, então não tinha como fazer nada ainda, mas o irmão dela não queria ficar lá, né? — Então Elaine veio e trouxe seu irmão com ela pra ficar um tempo na casa dela, até que fosse feito o inventário e tal, metade cada um da casa. E a ideia dele era, com a metade dele, comprar um apartamento e tal, e a Elaine ia pegar a metade dela e guardar, enfim… Deu tudo relativamente certo nessa logística aí. — O irmão veio junto com ela, a casa ficou lá fechada, tudo certo… — Tinha uma tia que que morava do lado, então se aparecesse algum interessado na casa que estava com uma placa de vende—se lá, a tia avisava. A tia podia ficar de olho na casa, enfim, tudo corria bem.
Todo mundo de home office, então estava meio difícil né? 3 de home office. E a Elaine, mesmo grávida, ela às vezes pedia pra fazer as compras, porque era uma maneira dela sair… Pelo menos dar uma espairecida, assim, rapidinho… — Então, quando não era a compra do mês, que era uma coisa maior que o marido dela ia, mas se tinha que comprar, sei lá, um pão, leite, ir numa farmácia, ela ia. — Então ela saiu um dia para pegar um pão, um leite e ir na farmácia, exatamente isso. Era coisa, assim, de demorar uns 40 minutos. Só que quando ela estava chegando na padaria, ela viu que a receita que ela precisava pra comprar o remédio, ela tinha esquecido. Então ela voltou meio que rapidinho, assim, pra pegar essa receita e voltar lá pra passar primeiro na padaria e depois na farmácia. E, quando ela voltou e entrou em casa… [música triste] ela pegou o marido dela com o irmão dela transando no sofá da sala.
E, assim, o choque foi tão grande, tão grande, que a Elaine entrou em trabalho de parto… — Aquela correria, porque, né? O hospital estava tudo… Tudo era Covid. — E o médico da Elaine estava trabalhando num hospital de campanha, então ele não conseguia vir de onde ele estava pra fazer o parto, então ia ter que ser com um outro profissional ou outra profissional que estivesse no hospital, na maternidade que ela ia ter o neném. Ela não queria que o marido dela levasse ela. — mas não tinha mais ninguém e ela não conseguia Uber, não conseguia nada… — E ela saiu do jeito que ela estava, com o marido dela indo atrás dela, saiu sem bolsa do bebê, nada, sem nada… Pegou um táxi e foi pra maternidade e lá ela se internou. Ligou pra uma amiga para a amiga pegar a bolsinha do bebê, pegar documento dela. Ela saiu sem nada, sem nada… E a amiga foi até a casa dela, pegou as coisas e levou para ela… E ela teve o bebezinho… — Junto com essa amiga, [efeito sonoro de bebê chorando] essa amiga ficou com ela o tempo todo, né? —
E ela não deixou o marido entrar na maternidade de jeito nenhum. Foi duro, foi duro, foi duro… Mas ela tem uma boa rede de apoio, assim, de amigas em São Paulo, então as amigas se revezaram… Uma amiga dela, assim, que é mais… — Digamos, brava? — Foi lá na casa e botou o irmão dela e o marido dela pra fora. — Inclusive trocou a fechadura. — Porque era o auge da pandemia, não tinha como ninguém receber a Elaine com o bebezinho em casa. — Então ela tinha que voltar pra a casa dela, né? — E as amigas iam arriscar e se revezar pra ajudar a cuidar da Elaine, né? Que agora, além de estar com o bebezinho prematuro, que não ia sair no dia que ela ia saiu, o bebezinho ainda ia ficar… Então, assim, ela morrendo de medo, não sabia como era isso de Covid em bebê ainda… Então ela ia ter que sair sem o bebê e voltar para casa, ela não queria encontrar nem o irmão e nem o marido, né? E assim foi…
Ela passou por um período bem tenebroso aí até o bebezinho sair da UTI neonatal, mas deu tudo certo, ele saiu. Enquanto isso, o pai ia lá visitar o bebezinho na maternidade… — Ela nunca proibiu isso e tal, ela só não queria ver o marido, que agora pra ela já era um ex, depois do que ela tinha visto no sofá da casa dela, né? — E aí ela tava decidida, ela pediu o divórcio. — Ainda teve que esperar também até tudo dar uma normalizada, porque era uma época em que até cartório você não sabia se tava aberto, se não tava… — E ela pediu o divórcio, realmente, não perdoou o marido e ela pegou lá uma advogada para ver todas as coisas da partilha dos pais. — Pra não ter que falar com o irmão também. — Então, de um ano e tanto pra cá, mais de um ano e meio… — A gente perde até as contas, né? — Ela nunca mais falou nem com o ex-marido, — que logo ficou ex, né? mas na época era o marido — e nem com o irmão…
E aí da bebezinha — como ela ainda é muito neném — ele tem visita supervisionada. Então, as amigas revezam também. Então, quando é dia de visita uma amiga pega o bebezinho e leva pra a casa dela e esse cara vai lá visitar na casa da amiga, assim… A Elaine não aceita de jeito nenhum o que ela viu. E aí depois de um tempo, o irmão dela mandou um e-mail pra ela pedindo desculpas e falando que aquilo não tinha acontecido antes, que foi a primeira vez que aconteceu. — E que ele estava muito arrependido e nã nã nã de ter transado com o marido da Elaine. — A Elaine ela não respondeu. Aí depois saiu a partilha, eles conseguiram vender a casa. Deu tudo certo, não teve briga nessa parte e nada… Mesmo porque a Elaine não quis contato nenhum com ele. —
E aí agora a Elaine mora sozinha com o bebezinho. O apartamento que ela morava com o marido era alugado, então quando chegou o final do ano ela saiu e eles já tinham feito a partilha e tal, então, ela com a parte dela, ela comprou um apartamentinho menor. — Pra ela e o bebezinho. — Agora já divorciada do cara. — Então meio que ela ficou tranquila, né? — Falou que o cara paga pensão pro bebezinho tudo certinho… E agora o irmão dela reapareceu na vida dela, porque ela não sabe… — Porque ela não teve contato nenhum com ele nesse um ano e pouco… — Ela não sabe o que ele fez com a parte dele do dinheiro, mas ele voltou pedindo perdão, querendo morar com ela e ela não aceita. — Não quer. — Então ela está escrevendo pra gente, porque o irmão dela está numa postura agora que acha que ela tem obrigação de perdoar. — E ela não tem, né, gente? — Ela não tem obrigação.
Só ela sabe o que ela passou grávida de sete meses pegando o marido dela transando com o próprio irmão dela, na casa dela… Sendo que ela abrigou o irmão, né? — Sendo que ela confiava totalmente no marido, enfim… Uma dupla traição, né? — E agora o irmão dela acha que ela tem alguma obrigação com ele, gente? Eu acho que não. Ele tem amigos, parece que ele está na casa de um amigo, então ele que continue lá e refaça a vida dele, né? Eu vocês já sabem… Mas é o que eu falei pra Elaine, né? Se no seu coração toca que você tem que perdoar, perdoa… Mas o que a Elaine diz é que ela não tem vontade de perdoar, não quer perdoar, mas ela está meio puta com esse discurso dele, né? De que “agora só sobrou nós dois, você tem que me perdoar, porque você está sendo ruim”. Poxa… Ela abrigou o irmão, o irmão pegou o marido dela e quem tá sendo ruim é a Elaine?
Então, eu fico muito irritada quando as pessoas distorcem as coisas, sabe? Querem voltar aí pra vítima uma culpa que não é dela… Porque, pra mim, nessa história, a vítima total de tudo é a Elaine, né? Esse é o conselho que a Elaine quer lá no nosso grupo do Telegram. Se ela está errada em não perdoar, porque ela não consegue… — Só ela sabe o que ela passou e foi, assim, um tempo muito difícil, que eu não vou entrar aqui em detalhes, mas foi muito, muito, muito pesado. — Ah, porque agora ele está aí com esse papo de que somos família, né? Quer dizer, quando rolou lá ele com o marido da Elaine não era família? Pra mim não dá. Então eu deixo aí para vocês. Sejam gentis com a Elaine e conversem com ela.
[trilha]Assinante 1: Oi, pessoal, aqui é a Tati de Itapetininga, interior de São Paulo. Elaine, minha querida, eu acho que o perdão é algo que vem com o tempo. É algo que você precisa refletir muito se você ainda tá magoada, se você tá machucada… É melhor dar tempo ao tempo. Eu acredito que família é família mesmo, mas na hora de fazer a trairagem com você seu irmão não pensou na família, não pensou na sua família, em você, enfim, né? Ele tinha que ter o mínimo de respeito, né? Ainda mais dentro da sua casa e após todo o apoio que você deu a ele. Mas perdão é com o tempo, acalme seu coração e seja feliz. Na hora certa você vai descobrir se deve perdoar ou não. Beijo.
Assinante 2: Oi, gente, eu sou a Renata, falo aqui do Rio de Janeiro. E eu acho que a Elaine não tem que se sentir culpada pelo fato dela não querer perdoar o irmão. Inclusive, acho que a gente tem que parar de romantizar relações familiares e achar que a gente tem obrigação de amar e perdoar o tempo todo as pessoas que tão em volta da gente, por ser parente, por ser familiar… Se magoou a gente, né? A gente não tem que ter nenhum ressentimento ou culpa de achar que a gente tem obrigação de amar ou de estar próximo de uma pessoa que nos fez tanto mal só porque ela é um irmão, um parente próximo… E a gente consegue muitas vezes desenvolver relações de afeto e de amor muito próximas e muitos mais profundas com pessoas que não são da nossa família. Então, não sinta culpa nenhuma de não querer perdoar o seu irmão.
[trilha]Déia Freitas: É isso, um beijo.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]