título: varal
data de publicação: 14/12/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #varal
personagens: vanderlei
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é a TAG e a sua comunidade de mais de 30 mil leitores. — Amo… — Que livros enchem a vida de amor, mistério, suspense, paixão e romance a gente já sabe… E quem gosta de boas histórias precisa conhecer a TAG, a TAG é um clube de assinatura que envia todo mês para sua casa um livro surpresa delicioso de ler. — Eu acho que a única surpresa boa é a surpresa de livro, hein, gente? — Com uma história escolhida a dedo para te prender do início ao fim. São dois tipos de assinatura que você tem, a assinatura TAG inéditos, que são lançamentos aí para você devorar da primeira à última página e a assinatura TAG Curadoria, que são livros escolhidos por figuras incríveis da cultura brasileira e esses livros vão com certeza transformar a sua vida.
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[trilha]O Vanderlei ele se mudou pra uma casa — tipo uma casa de vila, assim — para morar sozinho. E ele estava recém-saído de um divórcio, acertando as coisas e tal, e ele alugou essa casa e foi morar nessa casa. Bom, ele tá ali botando as coisinhas dele, ajeitando a casa nova e a casa nova, na lateral, dá pra casa do vizinho… E na janela ali do vizinho, o Vanderlei viu uma moça… Uma moça muito bonita, assim, mais ou menos nos seus 35 anos e ela estava estendendo umas roupas, umas camisetas pequenas e tinha um tênis na janela, pequeno também e ele falou: “Bom, ela tem um filho, né? Vamos ver agora se tem marido”. Bom, Vanderlei já ficou interessado aí nessa moça. — Que a gente pode chamar aqui de Joelma. — Joelma deu bom dia de uma maneira muito séria para o Vanderlei e seguiu a vida… Joelma continuou fazendo as coisas e o Vanderlei às vezes via Joelma ali estendendo uma roupa, colocando a roupa no varal… — Era o momento ali da janela onde ele conseguia enxergar melhor a Joelma, quando ela estava botando a roupa no varal, porque o varal era aqueles varais de janela… Então ela botava ali as roupinhas pra secar e o Vanderlei dava uma olhada e tal, enfim… —
O tempo passou, Vanderlei terminou de montar a casa dele e ia para o trabalho, voltava, às vezes encontrava a Joelma ali e falava um “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite” e ela sempre muito séria. Ele não via o marido e via às vezes em que ela estava conversando com alguém… — Mas pela altura da janela ele não conseguia ver o filhinho da Joelma, né? — Então ele falava: “Poxa, eu queria ver uma interação, não estou vendo e nunca vi o marido aí… Queria ter uma interação com essa criança, de repente, jogar uma bola e aí chamo atenção da Joelma”, era uma paquera discreta que ele tentava, mas aparentemente, Joelma não dava bola pra ele, né? Vanderlei tinha se divorciado e não tinha filhos. — Ele se divorciou porque a ex esposa conseguiu um trabalho fora do país e ele não quis ir junto. Então, certa ela, ela queria, era uma promoção do trabalho dela, então ele não quis ir, ela foi, e aí eles chegaram ao comum acordo de que um casamento a distância não daria certo. Então lá foi a ex do Vanderlei morar fora e ele ficou aí nessa casa nova, agora alugada… —
Tentando uma aproximação com Joelma… — Uma aproximação que não acontecia porque Joelma não dava bola para o Vanderlei. Os momentos que ela estava ali botando roupa no varal, eu fico pensando pra mim, tá? Se eu estou botando a roupa no varal e tem o meu vizinho que está sempre me olhando e eu não estou interessada nele, eu vou ficar incomodada… Viu, Vanderlei? E eu acho que Joelma também deve ter aí ficado incomodada, porque ela tá ali estendendo as roupas e tal, às vezes está conversando com alguém dentro de casa que deve ser o filhinho dela e o cara tá na janela, né, Vanderlei? É chato, eu acho… Eu já ia falar: “Que foi? O que tá olhando?”, mas Joelma é mais educada que eu. Bom… — Mais um tempo se passou e um dia, tudo muito perto ali, a rua muito tranquila e tal e ele está chegando e não tinha ninguém na rua… Então ele tinha que andar, passar pela casa da Joelma e entrar na casa dele. Conforme ele passou pela casa da Joelma e foi já pegando no bolso a chave para abrir o portão na casa dele, o Vanderlei só sentiu um vento e uma pernada.
Vanderlei não sabe como, ele tomou aí uma rasteira e caiu. Conforme ele caiu, ele só sentiu os socos… Era muito soco, muito soco… E ele tentando ver o que estava acontecendo e, ao mesmo tempo, se proteger e tomando soco… Assim, alguém estava em cima do Vanderlei, dando socos nele. Em algum momento, ele conseguiu tirar essa pessoa de cima dele e foi aí que ele viu… [efeito sonoro de tensão] Vanderlei viu o Wallace. — Quem era o Wallace? — O Wallace era o marido de Joelma. — E por que o Vanderlei nunca tinha visto o marido de Joelma? — O Wallace é uma pessoa com nanismo, então de onde ele via a janela conversando com alguém, ele não via o Wallace, porque o Wallace ficava abaixo da linha ali da janela. As roupinhas que ele via no varal, as roupas e o tênis que ele viu na janela que ele julgou ser de uma criança, era de fato do Wallace, marido de Joelma. Então Joelma ficou aborrecida sim de ver toda hora que ela estava na janela o Vanderlei estar lá olhando pra ela, com certeza ela contou para o marido e o Wallace resolveu aí dar uma lição em Vanderlei.
Joelma saiu depois de um tempo que Vanderlei já tinha apanhado muito, provavelmente ela estava olhando da janela e ele apanhou muito de Wallace… — E, além de tudo, chocado, porque em nenhum momento e isso é uma coisa que que cabe a todos nós pensar, porque, assim, esse é o pensamento de quem exclui as pessoas, né? Em nenhum momento ele pensou que ela pudesse ser casada com uma pessoa com nanismo. Então, ele sempre deduziu que aquelas roupas e aqueles tênis eram de uma criança e não de um homem ou uma mulher com nanismo, né? — Ele falou: “Andréia, ele me batia com muita, muita violência”. [risos] Mereceu, Vanderlei… [risos] Desculpa… Ai meu Deus… [risos] Vanderlei falou: “Ele estava em cima do meu peito, assim, e o peso dele no meu peito e me dando soco na cabeça… Meu Deus do céu, fiquei zonzo, não conseguia levantar” e apanhou… [risos] Ai, desculpa, Vanderlei… [risos] Olha, Vanderlei apanhou do Wallace e o Wallace falou pra ele: “Isso aqui é para você nunca mais ficar espiando a mulher dos outros”.
Tá certo resolver na violência? Não tá certo, né? — Não tá certo… — Mas sei lá o que Joelma também… Porque a gente que é mulher, a gente sabe. Vanderlei pode achar que eu não tenha feito nada nessa questão de assédio, mas a Joelma pode sim ter se sentido assediada e, em vez dela pegar uma cadeira e dar cadeirada nas costas do Vanderlei, que também seria correto, ela contou para o marido e o marido resolveu aí em vez de bater um papo com o Vanderlei, já partiu pra agressividade… [risos] O Vanderlei apanhou muito do Wallace — muito — e depois disso ele ficou com medo de ficar na casa, de apanhar mais do Wallace quando ele estivesse passando na rua… E aí ele resolveu pagar a multa para a imobiliária e mudar de casa. — O que deve ter sido ótimo para a Joelma também, né? Porque, convenhamos, toda hora que você sai na janela o seu vizinho tá lá te olhando… É complicado, né, Vanderlei? [risos] Vanderlei apanhou… [risos] Eu tô rindo aqui porque eu ri com ele, entendeu?
Eu sempre falo aqui: Não resolvam nada na violência, mas o Wallace provavelmente se sentiu desrespeitado e a mulher dele também desrespeitada e foi lá e [risos] deu um coro no Vanderlei. [risos] É super errado… O Vanderlei realmente aprendeu a lição, ele falou: “Andréia, se chegou nesse ponto é porque realmente eu me excedi, né? Fiquei olhando demais e vacilei”, eu falei: “Mas e aí? Você não bateu no Wallace por que ele era uma pessoa com com nanismo ou você não bateu por que você não conseguiu bater?”, ele falou: “Andréia, não tinha como bater no Wallace, o cara totalmente preparado e totalmente violento. Ele me batia de um jeito, assim… Eu não tinha como, não tinha como, eu sai rastejando” [risos] e ele foi me dando chutes… [risos] Ai meu Deus do céu… [risos] “Foi me dando chutes ainda… [risos] Tudo isso porque ele deduziu pelas roupas no varal que era uma criança.
Eu achei interessante trazer essa história porque eu acho que eu também pensaria e vocês também pensariam, porque a gente não tem totalmente o pensamento de inclusão. Eu faço muito esse exercício… Por exemplo, se eu vou num prédio, num estabelecimento comercial, em qualquer lugar, eu vejo se tem rampa, eu vejo se é um lugar acessível… Isso já tá em mim. Eu acho que muita gente não faz isso. É um exercício que eu faço, eu sempre faço, é meio que automático. Duas coisas que eu faço: Chegar num lugar e ver se tem preto no lugar e ver se é acessível. São duas coisas que são automáticas pra mim, assim, dar uma geral para ver quantos pretos tem, se tem preto, se não tem preto e se o lugar é acessível. Isso já é de mim, é automático, eu não preciso nem pensar, que eu já faço automaticamente… Mas algumas coisas a gente não tá no automático ainda e a gente só consegue deixar no automático se a gente exercitar. Isso é uma das coisas, né?
Em nenhum momento o Vanderlei pensou que aquelas roupas pequenas que estavam no varal fossem de uma pessoa com nanismo. Então, fica aí mais um exercício pra gente fazer também e o Vanderlei fez o exercício prático. [risos] [trilha]
Assinante 1: Oi, eu sou a Yasmin, falo de Dublin. Eu adorei nessa história que o nosso herói é uma pessoa com nanismo. Apesar de eu não ser a favor da violência, eu entendo que algumas minorias recorrem a atitudes extremas para se sentirem respeitadas e foi isso que o Wallace fez. O que eu sinto muito é que, infelizmente, o Vanderlei não entendeu as negativas da Joelma, independente dela ser uma mulher casada ou não, ele deveria sim ter respeitado desde o início que ela notavelmente não estava interessada nele, mas a todo tempo ele ficava ali procurando saber se ela era casado ou não… Os homens tem que aprender a respeitar o não das mulheres. Muito obrigada pela história, eu adorei, me diverti e espero por mais.
Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Joyce e eu falo do Rio de Janeiro. Eu estou rindo muito, mas eu também estou muito pensativa porque não tem como, né? Enquanto uma mulher que vive nessa sociedade totalmente machista, não tem como não se colocar no lugar da moça que enquanto estava fazendo seus afazeres de casa era assediada pelo Vanderlei. E nem todo homem, mas sempre um homem… A gente tá cansada disso. Eu particularmente detesto essas investidas dos caras, sabe? Em qualquer lugar que a gente não está pra jogo, às vezes a gente tá indo pro trabalho, às vezes a gente tá no nosso local de trabalho e nem dentro de casa a moça tinha tranquilidade, podia estender sua roupa em paz porque os caras vem nessa investida. Então, por favor, né? Menos, sejam menos. Tchau, tchau, beijão.
[trilha]Déia Freitas: Quem gosta de boas histórias? Se você tá aqui no podcast, você gosta sim de boas histórias. Vai adorar os livros enviados pela TAG. Quem assina lê mais, tem vários benefícios e ainda ganha uma comunidade para conversar sobre os livros. — Acho que isso é muito importante, né? Às vezes a gente lê um livro e fala: “Meu Deus, com quem que eu vou comentar, né? Ou eu não posso jogar numa rede social que eu vou dar spoiler e vou ser massacrado”, então, na TAG você vai ter aí na assinatura uma comunidade para conversar sobre os livros. Acessa o site da TAG: site.taglivros.com. — Eu vou deixar aqui na descrição do episódio o link certinho. — Assine usando o nosso cupom PICOLEDELIMAO — tudo junto, sem acento e letra maiúscula — e ganhe frete grátis por 12 meses nos planos anuais. E ainda ganhe o planner da TAG de presente aí na sua primeira caixinha.
E aproveita também para se inscrever na página Um Livro por Mês para você receber aí um monte de dicas valiosas de como ler mais. — Valeu, TAG, bem-vinda, tô muito feliz de ter vocês aqui pela primeira vez e por essa parceria, espero que a gente faça isso mais vezes. — Um beijo, gente, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]