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título: vassouras
data de publicação: 23/08/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #vassouras
personagens: emília e família

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente…Cheguei. Cheguei pra um Luz Acesa. E, assim, estou gravando esse Luz Acesa de manhã, porque eu tentei gravar a noite e as vassouras caíram aqui em casa. — Pode ser uma coincidência. — Mas em todo caso, coloquei as vassouras lá fora, e aí agora eu vim aqui gravar para você. A história que eu vou contar hoje pra vocês é a história da Emília. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A família da Emília é uma família grande. A mãe dela tem quatro irmãos, — então eles são aí em cinco, no total. — E no começo da pandemia, quando a gente ainda não sabia o que fazer e tal, todo mundo ficou em casa e, quando a família da Emília viu que provavelmente a gente ia demorar, — em quarentena — o que eles fizeram? Eles acharam um sítio de uns 60 mil reais e resolveram dividir entre os cinco irmãos, porque aí ficava um sítio de família. Então, cada um deu 12 mil ali, mais o valor da escritura e nã nã nã, essas coisas e compraram o sítio. — E qual era a ideia? — Era um sítio que era relativamente grande, mas a casa era pequena. — Então não dava para ir todo mundo para o sítio. — Então eles combinaram de revezar… Eles são em cinco, então, ah, um irmão vai ficar um mês, outro irmão fica outro mês e assim eles foram revezando e dando muito certo. 

Tem ali uma galera que é mais cachaceira e tal, tem uma galera que é mais da leitura, da ioga e aí tem a galera da Emília, que é ela, a mãe e o padrasto… — Só os três. — Ela falou: “Pô, vai ser legal…”. — Ela tem dois cachorros, né? — “A gente vai com os cachorros e tal e a gente fica um mês lá nesse sítio”. Perfeito. Eles foram uma terceira família a ir… Os dois primeiros que foram, foram nessa vibe festa. — Tipo, foi de galera mesmo, bebida todo dia, lá tem uma piscina… Então foi assim, num ritmo bem acelerado. — E agora, com a família da Emília não, né? — Era diferente, só os três. — Dava pra perceber ali que a casa precisava de uns reparos… Um tio dela que foi antes, fez um reparo no telhado que precisava, precisava de uma pintura… Aí o que o padrasto da Emília falou? “Bom, eu tô aqui, eu vou pintar… É uma coisa que eu gosto de fazer. Vou pintar por fora e depois aí a galera cada um vai fazendo uma coisinha”. 

Ele começou a pintar a casa ali por fora… A Emília levou vários livros, mas lá pegava internet, eles já tinham feito lá a correria para ter Wifi. — Então estava, gente, de boa… Os cachorros amaram ali o sítio também, o sítio bem cercadinho, então não tinha como os cachorros fugirem. Tudo certo. — Lá a casa tem três quartos… Primeira noite, tudo bem. Segunda noite, tudo bem. Terceira noite, a Emília dormindo num quarto com os cachorros de porta aberta, e o padrasto mais a mãe dela dormindo em outro quarto, de porta fechada. [efeito sonoro de porta rangendo] E por que Emília deixou a porta aberta? Porque eles colocaram ali aquele tapete higiênico dos cachorros lá perto da cozinha, — lá perto da porta da cozinha — então tinha que deixar aberta para os cachorros. — Se quiserem fazer um xixizinho à noite, vai ali e faz xixi. E eles estão acostumados, que eles vivem em apartamento, né? Então, tranquilo. — 

Quando deu ali madrugada, — desse terceiro dia — a Emília acordou com o padrasto dela andando pra lá e pra cá na casa. E ela falou: [efeito de voz fina] “O que foi?” e falou: “Tem gente aí fora”… —Ó, meu coração já… Mas o que você pensa? Eu penso em ladrão, gente, pelo amor de Deus… Eu já não vou pra sítio, eu não vou… Eu já não vou pra sítio… Não me chama, sabe? Por causa disso… Porque se entra, se tem um bandido que aparece lá, te mata lá e ninguém nem vê… Você tá longe de tudo, sabe? Não vou, não me convida pra sítio porque eu não vou. — E aí ele falou: “Tem gente aí fora… Tem gente aí fora”. E ele estava andando no escuro com uma faca na mão. — Então já dá um pouco de medo também do lado de dentro, né? Ali tem um cara com a faca na mão. Eu já fico com medo também. — 

E aí a Emília foi e pegou outra faca… E eles ficaram tentando espiar. — E a mãe da Emília dormindo, porque ela toma remédio pra dormir, então tava capotada. — Detalhe: os cachorros não acordaram, ficaram no quarto… E só os dois ali com aquelas facas e olhando pra fora, tentando ver alguma coisa e não viam nada… E ficaram ali uma meia hora e foi dando sono na Emília, ela falou: “Bom, eu vou deitar”. Ele falou: “Eu vou ficar acordado” e ele ficou acordado… — Ela não sabe até que horas… — No dia seguinte ele saiu pra ver se tinha alguma pegada, alguma coisa… Não tinha nada, gente, nada… 

E aí ele já ficou cabreiro… Lá perto desse sítio tem tipo um comerciozinho, centrinho assim, né? Ele foi lá, comprou umas trincas pra colocar na porta. Já conversou ali no grupo pra ver de colocar grades nas janelas. E, assim, ele falou: “Bom, esse mês eu tô aqui…” — E o padrasto dela adora reparo, essas coisas — “Vou arrumar um pedreiro aí, vamos ver se a gente consegue pôr uns painéis aqui de grade furadinha na janela”. — Enfim, foi vendo ali as coisas… — Passou ali mais uns quatro dias e nada… Passados esses mais quatro dias, a Emília escutou um barulho. [efeito sonoro de suspense] E ela dormindo de porta aberta, olhou pra cama, achou que era um dos cachorros, só que os cachorros estavam com ela… Só que os cachorros estavam também acordados com as orelhas bem levantadas e olhando pra porta. — Ela tem dois vira latas, um porte maior, porte grande e um porte médio. — 

O que é o porte médio ele estava rosnando bem baixinho… — Bem baixinho mesmo. — E aí a Emília, já tinha acontecido aquilo de achar que tinha alguém na casa, ela pegou o celular e ligou para o quarto da mãe dela, [efeito sonoro de chamada de celular] direto pro o padrasto. [efeito sonoro de cachorro rosnando] Chamou, chamou, chamou… Ninguém atendeu. Quando ela foi olhar na porta, o que ela pensou? “Vou salvar meus cachorros”. — Eu sou igual a Emília, gente… Meus cachorros não estão pra me defender, nada… Eu que tenho que defender eles. Deus me livre colocar o meu cachorro em perigo. Nenhum. — O que ela fez? Ela saiu do quarto e fechou os cachorros dentro do quarto. — O que eu faria também. — E aí ela foi, assim, de mansinho… Quando ela olhou, ela virou, assim, tinha um corredorzinho, que ela olhou ali na sala, o padrasto dela estava de novo olhando pela janela… 

Só que da sala é mais difícil de ver, porque a janela é maior, a pessoa se stá lá fora, pode te ver. Então, eles foram pra cozinha sem falar nada um ao outro, espiar ali pela janela. E aí, conforme eles estão olhando para fora… Imagina assim, ó: A cozinha, a área de serviço não é lá dentro, é tipo, lá fora, tem uma máquina de lavar que eles compraram também todo mundo junto e nã nã nã nã, mas fica num quartinho do lado de fora da casa, né? Então tem a cozinha ali e, no canto da porta da cozinha, tinha três vassouras… E aí eles estão olhando para fora e, de repente… [efeito sonoro de algo caindo] Essas vassouras caem no chão… Aquele barulho de vassoura caindo, eles assustaram. — Mas, gente, pode acontecer, né? Sei lá… —. Aí o padrasto dela foi e colocou as vassouras no mesmo lugar que estava e voltou pra espiar ali junto com a Emília. [efeito sonoro de algo caindo] De novo as vassouras caíram no chão. 

Aí agora a Emília foi lá e pôs as vassouras no lugar… Conforme ela pôs, levantou as vassouras no chão e colocou no lugar… [efeito sonoro de tensão] Gente… Ela falou desse jeito pra mim: “Andréia, por essa luz que está no céu, as vassouras ficaram em pé”. — Sabe assim… Que pra você colocar a vassoura, ela fica encostada na parede, então ela fica meio, assim, inclinada, né? — As vassouras ficaram retinhas… Retinhas. E ela não conseguia empurrar as vassouras pra parede, mas ela não estava… — Sabe quando você não está entendendo o que está acontecendo? E aí ela olhou pra trás, olhou para o padrasto que estava olhando pela janela e meio que fez um sinal pra ele. Ele veio perto e ele viu também… Eles não conseguiam empurrar as vassouras. Aí o que ele fez? Ele pegou ela pelo braço e puxou pra trás. E as vassouras ficaram as três, assim, ó, em pé… 

E aí ficaram em pé e caíram. E aí um já olhou pro outro… — O padrasto dela não acredita em nada, a Emília acredita mais ou menos… Mas, assim, depois do que ela viu, ela falou: “Não tem como não acreditar”. — E aí ninguém queria ali pegar a vassoura no chão e eles meio que esqueceram de ficar olhando lá para fora, ficaram olhando ali um tempo pras vassouras. E aí o padrasto dela foi lá, pegou as vassouras e pôs no lugar. Ele conseguiu encostar as vassouras na parede e falou pra ela: “Bom, vamos deitar”. No que eles viraram pra sair da cozinha e ir deitar, numa distância de uns dois metros, a vassoura voou nas costas do padrasto da Emília. — Voou, gente… — Bateu nas costas dele de uma forma que lhe deu um grito. [efeito sonoro de homem gritando] E aí mesmo a mãe da Emília medicada, ela acordou com esse grito do marido… Porque ele tomou uma vassourada nas costas. 

E aí a vassoura caiu no chão ali atrás deles e as outras duas vassouras lá, intactas, encostadas na parede. Aí, assim, já ficou aquele clima… Ninguém sabia nem explicar pra mãe da Emília o que tinha acontecido, mas ela estava com muito sono também e dormiram. Aí de manhã foram conversar sobre isso, o padrasto da Emília tentando achar uma explicação razoável para o que tinha acontecido, porque não era pra encanar e nã nã nã… Só que começou, gente, toda noite a ter barulho estranho. Às vezes era no telhado, às vezes na porta, às vezes as vassouras… Mais uma vez o padrasto da Emília viu uma vassoura, tipo, indo de um lado da porta para o outro lado da porta. — E aí eles fizeram a mesma coisa que eu fiz, colocaram as vassouras no quintal. — E aí não era mais a vassoura que mexia… Às vezes era um copo na pia, alguma coisa assim… [efeito sonoro de algo caindo] 

E aí o padrasto da Emília, que não acreditava em nada, começou a acreditar porque não tinha como. E, contando pra mãe da Emília que acredita em tudo e ela falando: “Gente, essa casa aqui está mal assombrada, vamo embora, vamo embora”. E o mais engraçado é que, assim, os cachorros rosnavam, mas eles não latiam… Eles só rosnavam, arrepiavam e não enfrentavam o que quer que eles estivessem vendo, assim. E aí eles começaram a nem querer sair do quarto, assim… — Os cachorros… Pra vocês terem uma ideia. — Aí uma noite eles compraram uma pizza — lá nesse centrinho — e estavam os três na mesa da cozinha comendo a pizza, assim, de boa, tranquilo… Do nada, a mãe da Emília fechou os olhos, respirou fundo e começou a falar com uma voz que não era dela… E eles não conseguiam entender o que a mãe da Emília estava falando. 

E a Emília chacoalhava ela, “mãe? Mãe? mãe?”, sabe? E nada. E ela, com uma voz estranha, sentada do jeito que ela estava, sabe assim? Com o garfo da pizza na mão assim… Ela ficou. Falando de cabeça baixa, assim e isso durou uns dois minutos, — que parece uma eternidade — mas foram só dois minutos e aí ela voltou ao normal e continuou falando como se nada tivesse acontecido. Estavam os dois, assim, chocados, olhando pra ela, ela falou: “O que foi?” aí eles explicaram e ela falou: “Não, eu estava aqui o tempo todo, eu tava vendo vocês conversarem comigo”. [efeito sonoro de tensão] — Então ela percebeu que alguma coisa entrou no corpo dela? — E aí, depois desse dia, o padrasto da Emília falou: “Bom, agora deu… Agora a gente vai embora”. E aí eles contaram tudo no grupo, muita gente riu e tal… E aí o irmão que seria o próximo, antecipou e foi pra lá. 

O padrasto da Emília tinha terminado a pintura, mas não tinha dado tempo de ver lá as grades que ele queria colocar na janela e tal e foi embora antes. E aí essa família, que foi depois deles, ficou lá três dias… Ficou lá três dias, falou que tinha copo jogado na parede, tinha barulho de arrastar móveis… — Parece que foi pior do que foi com a Emília. — E eles vieram embora. Agora eles colocaram o sítio à venda e não conseguiram vender até agora. Aí eu me pergunto: Será que aqueles dois meses antes que os dois outros irmãos com a família ficaram lá, não rolou nada? Ou será que é porque a galera estava no clima de festa e aí, sei lá, nem percebeu nada. A questão é que agora eles não querem nem saber o que é, não querem tirar da casa, não querem nada, eles querem vender. Só que já tem um tempo que eles colocaram pra vender, tipo, mais de oito meses e até agora nada. — Não apareceu um comprador. — Ninguém pra comprar lá. 

É isso… Essa é a história da Emília. O que será que tem nesse sítio? Mas ela disse que realmente tem alguma coisa lá e não deve ser coisa boa. — Eu, hein? Eu já não vou para sítio, agora então… Tô fora. — E vocês? O que vocês acham que tinha nesse sítio? Que tinha não, né? Que tem, porque o que quer que seja ainda está lá. 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui quem fala é Roana, de Borrazópolis, norte do Paraná. Emília, eu posso imaginar os momentos aterrorizantes que você e sua família passaram no sítio e trago aqui uma possível explicação vinda da Doutrina Espírita. Às vezes as pessoas morrem e não têm consciência de que estão mortas, portanto, ficam vagando pela terra. Pode ser que o ex-proprietário desse sítio seja uma delas. Pode ser que ele tenha comprado o sítio com muito esforço ou tenha sido uma herança de família, então ele continua apegado ao local. E toda vez que ele percebe a presença de estranhos lá, ele pensa que as pessoas vão tomar o que é dele e ele fica revoltado. E, quanto mais o tempo passa, mais o espírito vai ficando endurecido. O ideal é que vocês encontrassem um centro espírita, com pessoas dispostas a rezar por essa alma, sabe? Por fazer prece pra ele, para que ele encontre o caminho. Eu espero que vocês fiquem bem. Um grande abraço. 

Assinante 2: Aqui quem fala é Letícia, estou falando do Texas. Fui até olhar minhas vassouras pra ver se estava tudo certo… E que história sinistra. Sei que muita gente acha que tem que ir atrás, investigar, procurar o espiritismo… Eu discordo. Eu acho que vocês estão fazendo certos de tenta vender… O país está em crise, tá complicado, é difícil vender as coisas, mas outra opção seria alugar pra eventos, pra festas essas chácaras… Pelo o que parece esse espírito curte festa, que a galera que foi beber, zoar não relatou nenhum problema aí… E fiquei pensando: “Será que na cidadezinha, essa chácara, esse sítio não é um daqueles que todo mundo sabe que aconteceu alguma coisa?””, às vezes é bom só pra saber, mas eu não ficaria indo atrás, não. Beijo. 

[trilha] 

Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram. Se você não está ainda no nosso grupo, é só jogar na busca “Não Inviabilize” que o grupo vem. Um beijo.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.