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título: velha
data de publicação: 30/10/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #velha
personagens: robson

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história do Robson. Eu acredito que nessa história seja uma Pisadeira, então para quem tem medo, eu já estou avisando aqui. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

O Robson ele é enfermeiro, então ele trabalha aí num grande hospital e ele trabalha em turnos, né? Então trabalha 12, descansa 36… E o turno dele é o turno da noite. Então, o plantão do Robson começa às 19 horas e vai até as 07h da manhã. — E às vezes estende um pouco mais, enfim, né? Hora extra, enfim… — O Robson é um enfermeiro da U.T.I., então tem ali os protocolos, as coisas, os horários de medicação, os horários que ele faz a ronda, enfim, ele tem ali o trabalho dele, que um trabalho que dura ali a noite toda, monitorando aqueles pacientes mais críticos, mais graves. O Robson também disse que no hospital que ele trabalha ele pega só uma visita no turno dele, que é a visita noturna… É cerca de 15 minutos, porque está na UTI e tal e às vezes o paciente não pode receber visita dependendo de onde está, como tá, enfim, X. 

Mas quando é autorizado a visita, o horário de visita a noite, vai, digamos que seja, sei lá, das 20h às 20h15 e é o horário que ele já está trabalhando. Então tinha um paciente lá, um senhor, que tinha evoluído… — Eu não vou falar aqui a doença dele, nada, mas tinha evoluído o quadro dele para uma trombose, enfim… — O cara estava mal, estava mal ali na UTI. E esse senhor, esse cara, nunca recebia visita e nem a família ligava, pedia boletim, nada, assim, não tinha nenhuma anotação de familiar, mas ele também não era uma pessoa em situação de rua, enfim, era alguém que estava ali e que a família não ia… Que tinha família, mas que a família não ia visitar e nem nada. O Robson disse que alguns quadros de saúde, o pessoal ali da área que tá com aquele paciente vê que a evolução tá partindo pro final, assim. — Que sei lá, que o paciente vai ter algumas horas, alguns dias, enfim… — E este senhor era um caso desses, que o pessoal que tava ali não dava muito tempo pra ele assim, né? 

E um dia, era mais ou menos uma hora da manhã, o Robson falou: “Andréia, a minha estação de trabalho é no meio… Imagina uma ilha, assim, um balcão redondo, uma ilha no meio do CTI, da UTI ali e as macas, as camas de UTI ficam em volta”. — Então, atrás dele, na frente dele, do lado… Uma ilha e ele ficava ali no meio. — E ele estava quase de frente pra esse senhor… E ali naquela parte onde ele estava da UTI, não tem janela, mas tem os dutos de ar. — Então imagina assim uma estrutura aí onde aquela parte onde estava aquele senhor não tinha uma janela, mas tinha os dutos de ar. — Robson estava desperto, ele tinha acabado de passar lá a ronda dele lá, fazer as coisinhas de enfermagem dele… — Ele tá acostumado, ele trabalha a noite há muitos anos, então, assim, ele não tem sono, não é tipo: “Ah, peguei no sono e sonhei”. —  E ele tinha voltado para o balcão e estava fazendo as anotações das coisas que ele tinha feito e pegando ali as outras coisas que ele tinha para fazer. 

Quando ele viu do duto sair, como se fosse uma… Não era uma fumaça, ele falou que parecia uma coisa mais líquida… Ele não sabe dizer, assim… Escorrendo do duto algo que caiu no chão e subiu… Quando subiu, era uma velha. Essa velha estava nua, muito magra, muito velha, sem roupa, cabelo branco, comprido, assim mais ou menos até quase a cintura, solto e com uma cara toda repuxada, assim, mas de ruga… Cheia de rugas e fazendo um barulho tipo: [grunhido] “Aaah”. [efeito sonoro de bips] Essa velha subiu na cama e deitou sobre este homem e botou a boca dela na boca dele, sem encostar — um pouco longe a boca da velha da boca do cara… — e ela começou a sugar. Ele não via sair nada, mas ele viu que esta velha estava fazendo sugando alguma coisa desse homem. Ele não sabia o que fazer, não conseguia se mexer… Só que o homem estava monitorado e as funções daqueles aparelhos ligados nele não fazia nada, não mexia, estava igual, estava estável como estava. — Tipo, o cara estava mal, mas não deu nenhuma alteração ali nos aparelhos enquanto essa velha estava sob ele. — 

E a velha, conforme ela ia sugando seja lá o que ela estava sugando, ela que estava deitada sobre ele, ela ajoelhou, e aí ela ficou olhando para ele um tempo, ajoelhada sobre ele e depois ela desceu da cama e ela foi até a parede e subiu pela como se estivesse engatinhando e entrou no duto… O Robson disse que se ele não fosse o enfermeiro responsável ali naquela UTI, ele tinha saído correndo, tinha ido embora e nunca mais tinha voltado. Mas a responsabilidade falou mais alto e ele foi em direção do paciente para ver… Quando ele estava chegando na cama desse senhor, os aparelhos começaram a apitar e esse senhor teve uma parada. São três enfermeiros ali, então tem hora que que um tá, sei lá, foi tirar um descanso… Ele estava sozinho naquela hora, e aí os outros dois vieram, uma moça e o outro enfermeiro — são três ali naquele horário — e fizeram tudo, tentaram reanimar, mas ele morreu. — Morreu… —

O Robson diz que isso durou mais ou menos, sei lá, um minuto essa velha sob ele. Mas ela levou ele embora… Ou ela levou a alma dele, a energia dele… Robson não sabe. Porque, assim, ele via o movimento dela fazendo aquele barulho, [grunhido] assim e tirando alguma coisa dele, porque a boca estava muito perto, né? Mas ele não via saindo nada, nem o corpo do cara se alterou em nada. Só se alterou depois que ela foi embora, e aí o organismo dele parou de reagir e ele teve uma parada ali e eles não conseguiram reanimar e o cara morreu. Tudo podia terminar aí, né? Porque aí o procedimento você cobre ali, bota o lençol de novo, despluga todas as coisas daquele corpo e tal, né? O médico que tinha vindo também, plantonista, declarou ali a hora da morte — porque só o médico que declara, né? — e aí o médico declarou a hora da morte e tal e voltou lá pra onde o médico estava.  E a U.T.I ficou de novo de boa, cada um fazendo suas coisas. 

E aí, atrás do Robson, tinha uma senhora que estava internada ali na UTI, mas já estava bem melhor. E aí, quando ele passou de novo com os remédios, isso já era umas cinco e pouco da manhã, ela falou: “Você viu também, né?” e Robson falou ainda falou pra ela brincando: “Ê, Fulana… viu o quê?”, aí ela falou: “Você viu a velha, né?” e ele falou: “Que velha?”, aí ela falou: “A velha que você viu hoje de madrugada estava há uns três dias sentada sobre o peito dele… [efeito sonoro de tensão] Eu vi várias vezes essa velha vindo do teto”. — Ela falou teto, não falou do duto, nada… — “Vindo do teto e sentando no peito dele”. Então, pra mim, essa velha era a Pisadeira. O Robson nunca tinha ouvido falar da Pisadeira. Eu mandei o episódio pra ele ouvir e tal, mas pra mim é a Pisadeira, gente… — Ela que faz isso, é ela que vem no telhado, ela que vem de cima. — Pra mim é a Pisadeira. A única coisa que eu acredito: a instituição da Pisadeira. Eu acredito na Pisadeira, que é essa velha. 

E o Robson falou: “Ela estava nua… Nua, nua… Mas era pele e osso, pele e osso, assim… Pele e osso. Esqueleto com pele por cima. Aquele cabelo comprido…”. Deus me livre. — Deus me livre. — Essa é a história do Robson… Foi a única vez que ele viu algo sobrenatural e que ele pôde confirmar depois que não era só ele que tinha visto, né? Porque essa senhora que estava internada lá e que teve alta, dali dois dias teve alta, foi embora, enfim, ficou bem, também tinha visto e estava vendo essa velha sob esse senhor que não recebia visitas… — Por que ninguém visitava ele? Será que ele era uma pessoa ruim? Ele tinha família, tudo, tinha contato de família, mas também ninguém ia, ninguém perguntava nada, ninguém perguntava de boletim, nada… — E por que entre outras pessoas morrendo na UTI ali, como disse o Robson: “Tinha outras pessoas em estado crítico, por que ela foi só nele? Não fez uma geral ali, não fez uma limpa, sei lá, né? Ela foi só nele”. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é Marina de Itaúna, Minas Gerais. Assim, sem comentários, eu acredito muito… Eu sou o tipo de pessoa que acredita muito em tudo, eu vou de Deus a Orixás a forças da natureza e acredito mesmo… Eu acho que algumas pessoas têm um modo partida mais intenso, às vezes até mais macabro por merecimento do que fez em vida, né? E a gente vê muito aí pessoas que são abandonadas na velhice… Claro que não são todos os casos, mas  uma grande parte a gente vê que não foram pessoas muito bacanas em vida, né? Então, aqui se faz aqui se paga, mesmo que seja no último momento. Vamos refletir aí sobre o karma e cuidar das nossas ações, né, galera? Um beijo.

Assinante 2: Oi, gente, oi, Déia, aqui é a Jéssica do Rio. Olha, se tem coisa que me dá medo é a Pisadeira. Essa entidade, essa velha sentada no peito do paciente pode mesmo ser a pisadeira e eu estou muito amedrontada, [risos] vou dormir de Luz Acesa hoje. De todas as histórias do Luz Acesa, essa é uma das que me dão mais medo. “Crendeuspai”.   

[trilha]

Déia Freitas: Pra mim é a Pisadeira. Eu não sei aí o que vocês acham… Comentem lá no nosso grupo do Telegram. Um beijo — Deus me livre. — e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.