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título: vestido
data de publicação: 19/12/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #vestido
personagens: yara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei pra um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história da Yara. A Yara ela já está agora aí com seus 50 e poucos anos… Essa história é da época que ela se casou, quando ela tinha 20 e poucos anos, era bem novinha. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha] 

A Yara conheceu aí o Aluísio e eles começaram a namorar e pra casar do jeito que ela queria, com uma pequena festinha só, mas com a igreja e tal, — o pessoal da Classe C ali — eles iam ter que programar por uns dois anos. Então eles iam juntando dinheiro, iam fazendo as coisas aos pouquinhos, né? Pra conseguir também alugar casa, mobiliar… Então a Yara e o Aluísio foram fazendo isso aos poucos… E tinha uma grande questão ali que seria o vestido de noiva, porque era uma coisa cara, tinham poucas lojas pra alugar e na época ou você casava com vestido comprado ou a sua mãe, sua tia, sei lá, algum parente fazia ou com o vestido emprestado. E a Yara ficava meio assim, né? “Vestido emprestado?”, mas era uma possibilidade também, né? 

E o tempo foi passando, a Yara trabalhando numa escola como inspetora de alunos e ela ali na escola falando do casamento, falando das coisas… E uma professora falou pra ela assim: “Olha, eu tenho um vestido de noiva novo em casa, você não quer? Eu te dou ele”. E a Yara ficou com medo de perguntar, porque aquela professora era uma professora solteira. Então, o que ela pensou? “Essa professora ia casar, não deu certo e ela já tinha o vestido de noiva e o vestido ficou lá… Então é um vestido sem uso, vai ser ótimo pra mim”. E aí a Yara disse que sim, mas já com medo porque não tinha visto o vestido, né? E aí depois como é que ela ia falar não e tal… Mas ela falou: “Sim” e falou: “Bom, qualquer coisa eu dou uma reformada, sai mais barato, né?”. E aí a professora, — que a gente pode chamar aqui de “professora Mirtes” — a professora Mirtes trouxe o vestido no dia seguinte pra Yara. E era um vestido lindo, gente… Lindo, lindo, lindo…

A Yara estava ainda ali há uns oito meses do casamento — da data que eles tinham combinado que eles iam casar e tal — e ela falou: “Nossa, o vestido é muito lindo, meu Deus”, ficou nas nuvens, muito feliz… Ia ter que fazer um ajustezinho aqui ou ali por causa do corpo e tal, né? E ela falou: “Meu Deus, não sei como te agradecer, Mirtes, que vestido…” e ela falou: “Nossa, vai ser ótimo, você vai fazer uso dele, está parado lá em casa, enfim”. E aí pegou o vestido e metade do casamento dela já estava pronto, né? Ela tinha o vestido, um vestido maravilhoso. Ela levou o vestido para casa, mostrou ali pra mãe, para as tias, todo mundo achou lindo, todo mundo achou perfeito, já marcaram ali para costureira dar um apertinho aqui, outro ali, mas a mãe da Yara falou: “É melhor você fazer esses ajustes mais perto, porque vai que você engorda ou emagrece”, enfim. E aí elas foram só ver lá na costureira se era possível, quanto ia ficar e tal e deixaram para fazer esses ajustes depois. 

O vestido ficou numa caixa no quarto da Yara… No primeiro dia foi tudo perfeito, nada aconteceu. No segundo dia que o vestido estava ali, quando a Yara foi dormir, ela reparou que a caixa estava um pouco aberta e falou: “Ah, acho que minha mãe mexeu, né? Sei lá”. E aí ela deitou e foi dormir ali, nem pensou muito no vestido, mas tava feliz com as coisas do casamento e tal. Quando durante a madrugada, a Yara escutou um barulho… O barulho era da caixa do vestido caindo no chão. — Ela tinha uma mesinha ali, como se fosse uma escrivaninha, uma mesinha no quarto… A caixa do vestido estava ali, em cima da mesinha. — A caixa caiu no chão, então era para o vestido cair ali perto da caixa. Só que o vestido estava em cima da cama, no pé da cama da Yara. Era humanamente impossível aquele vestido ter caído em cima da cama — pela distância que a escrivaninha estava — e a caixa ter caído lá no chão, do lado da escrivaninha. 

A Yara, com muito sono, não entendeu nada, levantou, pegou o vestido, botou na caixa, fechou a caixa, botou em cima da escrivaninha de novo. Quando ela virou para deitar… [efeito sonoro de tensão] Na frente dela tinha uma mulher, uma moça…  Essa moça estava muito perto do rosto da Yara e ela abriu a boca de um tamanho que pegava até quase o nariz da Yara e ela começou a fazer um barulho tipo “óoo” [grunhidos] e o barulho foi ficando mais fino, e aí a moça tentava, atacar a Yara, mas ela não conseguia se mexer a moça, só ficava com esse grito estranho… E a nuca da Yara ficou toda arrepiada e ela também não conseguia se mexer. E aí a Yara conseguiu dar um passo para o lado e a moça passou e foi até a caixa do vestido e derrubou a caixa do vestido da escrivaninha e pegou o vestido no chão e ficou abaixada com o vestido, chorando. [efeito sonoro de pessoa chorando] A Yara não sabe como ela foi parar na cama dela, mas quando ela acordou, já era de manhã. Ela pensou: “Tive um pesadelo, sonhei”, mas quando ela olhou para o chão, a caixa estava lá e o vestido estava jogado no chão. 

Yara botou tudo na conta de um sonho, sei lá, pesadelo que ela teve, não comentou nada com ninguém, foi trabalhar… No dia seguinte, Yara chegou… Ela chegava da escola por volta das cinco, cinco e pouco e ia ajudar a mãe dela a fazer as coisas e tal. — Ela meio que ficava só no quarto dela mesmo, mais ali na hora de dormir, que ela dormia em torno de nove e meia, dez horas. — Mais ou menos nove e meia, dez horas, a Yara entrou no quarto pra pegar o pijama e aí sim ir tomar banho e tal, ir dormir… E, quando ela entrou para pegar o pijama, ela fechou a porta do quarto, ia abrir a porta do guarda—roupa para pegar um pijama limpo e tal, que o que ela foi chegar perto do guarda roupa, a Yara sentiu como se fosse uma pressão, assim, no pescoço dela, atrás… E ela caiu no chão. Só que quando ela caiu no chão ela tinha consciência, mas ela não era ela. — É só assim que ela consegue dizer… “Ela era ela e ela era outra pessoa também” e essa outra pessoa era a moça, provavelmente a dona do vestido. — 

E aí ela sentiu tudo o que essa moça estava sentindo… A tristeza, o choro… E ali, caída no chão, ela rastejou até a escrivaninha, pegou a caixa do vestido — ela ela e ela sendo a moça também — e abriu a caixa, aí essa moça que estava incorporada nela, começou a chorar, chorar, chorar, chorar. E ela foi sentindo como se fosse um tranco assim no corpo… E aí ela voltou a ser só ela e ela começou a chorar, porque ela sentiu o que a moça estava sentindo. E ela falou: “Não vai ser possível usar esse vestido, o que tem esse vestido? Eu não estou entendendo”. Naquele dia ela não dormiu no quarto dela, foi dormir no quarto da mãe e falou pra mãe: “Olha, eu não posso casar com aquele vestido, tem alguma coisa naquele vestido”. A mãe, muito católica, muito religiosa, falou: “Minha filha, se você está com esse sentimento, se você viu alguém, devolva o vestido”. E aí, no dia seguinte, ela levou o vestido pra Mirtes, Mirtes não estava surpresa e falou: “Ah, eu achei que dando o vestido para alguém que tivesse muito amor e fosse casar, isso ia passar, mas pelo jeito não vai passar nunca. Eu tinha uma irmã que ficou muito doente e morreu faltando uma semana para se casar… E ela queria ser enterrada com o vestido de noiva, porque ela ficou muito doente e, quando ela estava para morrer, ela falou isso… Só que a minha mãe não quis enterrar a minha irmã com o vestido de noiva e a gente guardou o vestido de noiva e a minha irmã, desde então, começa a aparecer na minha casa de vez em quando, assim, e atormentar a mim e a minha mãe”. 

E a mãe da Mirtes tinha concordado em dar o vestido para ver se isso passava, né? Se a mocinha parava de aparecer na casa, porque ela sempre buscava o vestido. E como a Mirtes agora estava vendo que não, a Mirtes contou pra ela que elas foram até o cemitério… Elas tinham um jazigo próprio e elas combinaram lá na administração do cemitério que elas queriam abrir o jazigo e colocar o vestido estendido em cima dos ossos da irmã da Mirtes. E assim foi feito… O vestido foi levado no cemitério, foi aberto esse jazigo, foi aberto o caixão e o vestido foi colocado sobre os ossos…. — Que a gente pode chamar, sei lá, de “Helena”. — Sobre os ossos da Helena, irmã de Mirtes. Segundo Mirtes, falou pra Yara que as aparições acabaram, ela parou de aparecer… Ela realmente queria o vestido dela. Agora, um detalhe é que a Helena, mesmo depois do vestido ter sido colocado em cima dos ossos dela, ela continuava aparecendo para o noivo. Esse noivo, depois de uns cinco anos ali, ele se casou, só que depois de um ano de casamento, esse noivo ficou doente e morreu. 

E aí a Mirtes jura que tem certeza que foi a irmã que levou ele… — Que adoeceu ele e levou ele… — Porque ela falava isso, ela queria ser enterrada com vestido de noiva e ela queria que o noivo prometesse que ele não ia casar com ninguém, que não ia ficar com mais ninguém e ele tocou a vida dele… Fez certo, né? Só que depois de um ano de casamento, ele adoeceu e morreu esse noivo. — Então, Helena também… Não vou botar a culpa na Helena, porque a gente não sabe se foi ela, mas se foi ela, não ia nem ter nome aqui, hein, Helena? Coitado do moço. — Então, essa é a história da Yara… No fim ela teve que comprar um vestido usado lá e ficou com medo também de ter assombração, mas não tinha [risos] e acabou dando certo. Ela casou do jeito que ela queria e tal, mas o vestido era deslumbrante, o vestido da Helena, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo… E tinha horas que ela falava: “Ai, será que eu devia ter insistido?”. — Não, né, Yara? Não, né? Não… A Helena entrou no seu corpo para te falar: “Não. Hoje não”. “Por mim é não” a Helena falou para você, né?  Vocês acham que a Helena levou o cara? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, tudo bem? Sou Carol Rodrigues, de Fortaleza, Ceará. Cara, que coincidência… Eu tava reouvindo aqui uns episódios antigos essa semana e ouvi o “Vestido Florido”, que também é um Luz Acesa. Nesse episódio não teve um desfecho mesmo assim, mas esse aqui da história da Yara eu fiquei feliz que tenha tido. Achei bacana a Yara devolver o vestido, achei interessante a família cumprir ali o que a moça tinha solicitado e devolver o vestido ali no túmulo e tal. É meio complicado, é uma situação bem delicada? É, mas é importante que tenha acontecido porque essa pessoa faleceu apegada a esse bem material, então ela está presa, sabe? Ela precisa desse desfecho para ela pra seguir em frente. Nossa, eu super te entendo, viu, Yara, de que você ficou na dúvida de devolver porque o vestido era belíssimo, espero que você tenha achado um mais lindo ainda e que vai contar a sua história. Beijo. 

Assinante 2: Olá, Não Inviabilizers, aqui é a Paula de São Paulo, oi, Déia, oi, Yara, acabei de ouvir sua história, é uma história muito tensa e que poderia ter sido evitada se a Mirtes ao te oferecer o vestido tivesse sido super sincera, né? E com certeza você não ia aceitar esse vestido e não teria assombração nenhuma te perseguindo. Também a família não teria a assombração da irmã perseguindo se eles tivessem ouvido o que ela pediu e tivesse enterrado ela com esse vestido de noiva. Viu como as coisas poderiam ser evitadas? [riso] Ninguém teria sido assombrado por nada. Mas que bom que deu certo, que você se casou aí com um vestido que não deu problema, que você está feliz. Deu certo também para a família da Mirtes e esse noivo aí eu acho que teve um dedinho aí da irmã da Mirtes, mas enfim, são só suposições. Um grande beijo. 

[trilha]

Déia Freitas: Essa do vestido achei bem bizarra. Você abrir um jazigo, abrir o caixão e botar o vestido em cima dos ossos. — Eu hein… Deus me livre. — Um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.