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título: vestido florido
data de publicação: 24/08/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #vestidoflorido
personagens: olívia e matheus

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei pra um Luz Acesa. Eu vou contar pra vocês a história da Olívia. — É uma história que ela está vivendo agora e, sei lá, é meio tensa. — Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Olívia é casada com o Matheus. — Eles são casados há quatro anos. — E desde que eles se casaram, eles moram em uma rua acima da mãe do Matheus e tudo estava indo bem… Casamento ótimo… A Olívia, não tendo tanto contato assim com a mãe do Matheus, — que a gente vai chamar de dona Neusa — e o Matheus muito, muito, muito ligado a mãe. — E tudo bem pra Olívia, porque, assim, a dona Neusa não interferia ali na vida deles, e tal. — A Olívia ia mais lá na casa da sogra aos finais de semana, Matheus passava lá todo dia… — É gostosinho morar assim, perto de pai e mãe, eu acho… Contanto que os pais não interfiram na sua casa ali, né? Você passar lá, toma um café, ganha um carinho. Não acho ruim. Olívia também não e a vida seguiu. — Acontece que agora, no mês de julho, dona Neusa adoeceu e faleceu. Foi um baque… O Matheus ficou muito, muito, muito mal. — Real assim… Eles eram muito grudadas. — Ele foi se recuperando um pouco, lentamente e tal… — A gente sabe que o processo de luto é mais longo e ele ainda está nesse processo. — 

E dona Neusa sempre foi uma mulher muito divertida, assim, muito vaidosa… E ela fazia uma brincadeira que não era bem uma brincadeira… Ela tinha no guarda roupa dela uma roupa que seria a roupa que ela gostaria de ser enterrada. — Não vejo isso com surpresa porque eu conheço outras pessoas da idade da dona Neusa, dona Neusa ali com seus 70 e poucos anos, que tem uma roupa para o funeral, para o dia que morrer. E, provavelmente, se eu durar até os meus 70 anos, não sei, eu também terei uma roupa que eu gostaria de ser enterrada com ela. Acho ok. Ou melhor, eu não quero ser enterrada, eu quero ser cremada. Então uma roupa que eu gostaria de que alguém botasse fogo em mim vestida naquela roupa… Isso quando eu morrer, viu, gente? Não eu estou falando aqui pra alguém botar fogo em mim. Pelo amor de Deus… Tem que explicar porque, né? Deus me livre. [risos] Até o Nenê chegou aqui. Hein, Nenê? Né? Mamãe vai viver muito ainda, [miado de gato] vai sim. — 

E aí dona Neusa tinha essa roupa que ela gostaria de ser enterrada. — E o que seria essa roupa? — Dona Neusa não tinha escolhido um sapato, mas ela tinha um vestido — florido — que ela gostava muito e que ela gostaria de ser enterrada com esse vestido. Dona Neusa teve ali um ataque do coração, uma coisa e faleceu assim… — Deu tempo dela chegar no hospital, mas não conseguiram reanimar. Então foi uma correria, foi uma correria… — E ninguém, absolutamente ninguém, lembrou que dona Neusa tinha uma roupa pra ser enterrada. — Ninguém lembrou. — O pai do Matheus já era falecido, o Matheus com uma irmã que mora em outro estado… — Então tinha isso também da irmã vir para cá. — E quem correu atrás das coisas ali foi mais a Olívia e a mãe da Olívia, — porque o Matheus estava fora do ar, ele tinha acabado de perder a mãe dele, né? — Ninguém lembrou disso. 

A Olívia até sabia, mas não sabia, assim, tão certamente. E a dona Neusa tinha mais duas irmãs, também morando em outros estados e aquela correria pra todo mundo vir e tal. — E a gente sabe como é isso, né? — E aí passou, eles morando de aluguel na rua de cima… Matheus sendo filho único aconteceu o que provavelmente aconteceria, né? — Olívia e Matheus fizeram a mudança pra casa da mãe. — E aí, assim, como que foi essa mudança? — Eles tinham as coisinhas deles, mas eles moravam no quarteirão de cima, em dois cômodos, então não eram muitas coisas, né? — Era um quarto, cozinha e banheiro. — E aí eles trouxeram as coisas deles, não queriam mexer no quarto da dona Neusa, mas a casa tem dois quartos, não tem suíte, então o banheiro no corredor… E os dois quartos são do mesmo tamanho. O outro quarto era o quarto que o Matheus ocupava e que tinha cama de solteiro do Matheus ali, um guarda roupinha… 

O que eles fizeram? Eles tiraram todas as coisas do quarto que era do Matheus, doaram e montaram o quarto deles ali. Como a cozinha da Olívia era mais nova, — porque eles tinham casado não há tanto tempo — a cozinha também eles retiraram as coisas que eram ali de dona Neusa, doaram. O Matheus, lógico, ficou com umas coisas que tinha valor sentimental e tal, mas montaram a cozinha deles. Então resolveu a sala que tinha lá, os móveis ficaram e, no quarto da dona Neusa, eles ficaram de mexer depois… De não mexer em nada por enquanto, porque isso doía muito no Matheus ainda. Então, o quartinho dela ficou lá. — O quarto era o quarto principal da casa, mas os dois quartos do mesmo tamanho, então não fez diferença. — O quarto ficou lá pra depois desmontar, né? — O dia que o Matheus conseguisse desmontar esse quarto e, sei lá, o dia que eles tivessem filho… Até então, fazer um escritório, mas era uma coisa que não era muito conversada porque ainda doía muito no Matheus, né? — 

De vez em quando, o Matheus entrava no quarto da mãe dele e deitava na cama e chorava… — Enfim, a gente sabe como é isso. Eu perdi minha mãe já, eu sei muito bem o que o Matheus está passando e entendo essa saudade, essa dor, esse vazio, porque foi muito repentino, né? Não foi que dona Neusa ficou doente e adoeceu e faleceu… Não, ela estava ótima, rindo numa manhã, na parte da tarde teve esse problema do coração, já passou mal, já levaram e morreu… Então foi muito, muito, muito doloroso, né? — Então, de vez em quando ele entrava lá no quarto e chorava. E a Olívia, sabendo que aquilo doía muito no Matheus ainda, ela procurava deixar a porta do quarto fechada pra, de repente, ele passar e não… — Sei lá, né? Não olhar pra lá, não lembrar talvez todos os dias, né? — O tempo passou… Quando foi lá para setembro, eles estavam dormindo e escutaram um barulho na cozinha. 

Como era esse barulho na cozinha? A cozinha… — lembrando que ela já estava nova, né? Estava totalmente nova. — O barulho que eles escutaram era como se alguém tivesse abrindo as portas dos armários, procurando alguma coisa. [efeito sonoro de portas batendo] Mas os dois estavam ali na cama… O que o Matheus pensou? “Estão revirando a casa, tem bandido aí”. Ele fez a Olívia entrar embaixo da cama com o celular, ligando já 190. — Reparem… — E ele botou ali uma roupa… — No quarto não tinha nada, assim, que ele pudesse se defender… — Ele pegou uma cadeira, — uma cadeira do quarto que tinha em uma mesinha tipo que a Olívia fazia maquiagem e tal — e foi pra a cozinha. [efeito sonoro de chamada telefônica] E isso Olívia já estava ligando pra polícia, falando que tinha gente dentro de casa… Que ele chegou na cozinha, as portas do armário estavam abertas. [efeito sonoro de tensão] 

E ele não acendeu a luz e ficou meio que procurando, tremendo e procurando alguém dentro da casa, né? Então foi pra sala… Porque ele saiu no corredor, foi pra direita, para a cozinha, à esquerda estava a sala. Na sala não tinha ninguém. A televisão que foi o que ele olhou, que ele falou: “Bom, acho que, sei lá, vão pegar a televisão”, estava lá, não tinha ninguém dentro da casa… Matheus destrancou a porta… Quando ele trancou a porta da entrada, a polícia já estava chegando… [efeito sonoros de sirenes] Porque, assim, na cabeça do Matheus, isso foi tudo muito rápido, mas não foi… Isso tinha demorado uns 15 minutos, assim… Que ele foi muito devagar, com medo. E aí, olhou, enfim… Quando ele abriu a porta da cozinha, ele tomou um susto, porque ele deu de cara com um homem, mas o homem era um policial. E aí ele falou: “Não, eu sou o dono da casa”. — Olha, numa dessas leva um tiro aí… Deus me livre. — 

E aí a polícia pediu para que os dois saíssem da casa pra eles olharem tudo, olharam tudo, olharam quintal… Eles moram no interior, então eles meio que… A janela da cozinha ficava aberta, então o que a polícia deduziu? Que alguém tentou entrar, pegar as coisas, ouviu que o Matheus saiu do quarto e saiu correndo e não assaltou… E aí o policial falou pra ele se ele tinha condição de colocar grades na janela, seria importante e tal, reforçar a porta e nã nã nã… E se eles queriam ir até a delegacia fazer boletim de ocorrência, que aquela hora era de madrugada, né? Ou se eles queriam ir de manhã, enfim …ficou combinado que eles iriam de manhã. E aí passou… Chegou de manhã, eles foram lá na delegacia e fizeram B.O.. — como uma tentativa de invasão, porque não levaram nada, enfim, ficou por isso mesmo. — 

O Matheus correu logo no serralheiro e botou grade em todas as janelas, até na janela do banheiro. — Eu tenho grade na janela do meu banheiro também, sou dessas… Tenho grade em tudo. — E aí ele botou grade em tudo, reforçou a porta ali com mais um trinco por dentro e nã nã nã, fez tudo… Isso durou quase dez dias, pra fazer tudo que ele tinha que fazer para deixar a casa segura. — Do jeito que ele achou que tinha que ser. — Enquanto isso, ele ficou com medo de ficar ali com a Olívia… E eles estavam dormindo na casa da mãe da Olívia. A casa ficou fechada, — agora com grade em tudo — e estava tudo arrumado… — Porque aí o Matheus foi lá, pintou as grades e tal. — Quando eles voltaram, que eles entraram na casa, todos os armários estavam abertos… Agora, até o rackzinho da sala estava aberto… Os armários do quarto… Tava tudo aberto. Só que não estava revirado, não estava nada, tava só aberto. Tudo aberto. 

E aí eles assustaram: “meu Deus, não pode ser, o que está acontecendo?”, Matheus já surtando, a Olívia sem entender… Voltaram para a casa da mãe da Olívia. A mãe de Olívia falou: “Não é possível… Eu vou lá, vou dormir com vocês lá. Durmo no sofá”. Primeira noite mãe de Olívia dormiu lá, nada aconteceu… Na segunda noite, — que ela estava dormindo no sofá — ela viu… Ninguém falou pra ela. Ela viu a dona Neusa na cozinha. O vulto no escuro era dona Neusa. Ela era baixinha, o cabelo, enfim… Ela falou: “era dona Neusa”. — Só de contar ficou arrepiada. — E aí a mãe dela ficou… Mãe da Olívia ficou paralisada, não conseguiu gritar, não conseguiu nada, começou a rezar… — Aquela reza, terço ali… Começou a rezar o terço. — 

E ela notou que a mãe do Matheus, a dona Neusa, ela estava procurando alguma coisa. — Ela está procurando alguma coisa… — E aí, nessa de ficar rezando terço ali, ela pegou no sono… Quando foi de manhã, ela falou: “Eu não posso falar isso para o Matheus, eu vou falar só pra Olívia”. Esperou o Matheus ir trabalhar e contou para Olívia que tinha acontecido. Olívia já ficou surtada: [efeito de voz fina] “Pelo amor de Deus… Fantasma? Não quero mais ficar aqui, não quero mais ficar aqui”. E aí a mãe dela acalmou ela, se arrependeu… Até falou pra Olívia: “Se eu soubesse, não tinha te contado”. Ficou ali mais dois dias, nada aconteceu… Num sábado de manhã, a Olívia estava limpando a casa e ela limpava o quarto da dona Neusa… Só que agora que a mãe dela tinha falado do fantasma, ela estava com medo. Então o que ela fez? Abriu todas as janelas, colocou música bem alto, abriu a porta do quarto da dona Neusa e agora, como a janela tinha grade, a janela do quarto da dona Neusa ficava aberta. Então já estava aberta, abriu, estava sol, enfim, começou a limpar tudo… 

E, quando ela abriu a porta de dona Neusa, estava tudo arrumadinho… Quando ela voltou… [efeito sonoro de tensão] Em cima da cama estava o vestido. A porta do guarda roupa estava aberta, — o guarda roupa da dona Neusa — e o vestido que estava num cabide não estava no cabide… Estava sem o cabide em cima da cama. — Como pode ser isso? — A Olívia, na hora começou a gritar, saiu correndo, veio vizinho… — Chamaram a mãe dela, que também mora ali no mesmo bairro. — E a mãe dela falou: “Bom, é isso… Agora a gente tem que falar com Matheus. A dona Neusa está aqui”. E aí foi que eles lembraram… — Matheus lembrou e Olívia também. — Que ela tinha pedido para ser enterrada com o vestido, e aí ela não foi enterrada com o vestido. E aí agora a dona Neusa está lá — na casa — esse vestido ficou lá em cima da cama do jeito que estava, porque agora até o Matheus está com medo e eles não sabem o que fazer. 

A mãe da Olívia já foi falar com o padre, o padre só falou pra mandar rezar missa. Não tem como enterrar… Desenterrar a dona Neusa pra pôr o vestido, gente… O que fazer com esse vestido? Agora o Matheus já está querendo vender a casa, mas ele precisa fazer aquela papelada do inventário, porque desde que o pai morreu nada foi feito, né? Então está enrolado, precisa desenrolar e eles não têm grana agora pra fazer isso, né? Ele quer vender a casa. E aí agora eles estão — temporariamente — morando na casa da mãe da Olívia. E sem saber o que fazer, gente… O que fazer agora com esse vestido que era o xodó da dona Neusa e que ela queria ser enterrada com ele e ninguém lembrou? — Não tem como ser desenterrar a dona Neusa pra fazer isso… Pelo amor de Deus, né? Não tem nem cabimento. — E também o Matheus falou: “Não vou pôr fogo no vestido, nada dessas coisas…”. Ele quer que o vestido chegue até a mãe dele, mas como? Eu não tenho a menor ideia… — Tenho a menor ideia. — 

Eles vão sei lá quando conseguir desenrolar essa documentação… A mãe da Olívia acha que eles deveriam levar um padre, um pastor, uma mãe de santo, tudo lá na casa para limpar, para ver se tira. Mas aí o Matheus? “Ah, mas aí vai fazer o que com o espírito da minha mãe?”. — Tá com dó do espírito da mãe dele… Que a mãe dele, né? Em fantasma, mas é mãe dele, né? Mãe e mãe até fantasma. — Então o que fazer, gente? Alguém aí dá uma luz pra esse casal. Eu não tenho ideia… Eu faria o que eles já fizeram, pegar a minha malinha e ir embora. 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, aqui é o Vitor, de Cuiabá, Mato Grosso. Olívia, que história cabulosa essa. Eu me arrepiei nessa história ouvindo ela do início ao fim. Que pânico… [risos] Eu tô rindo, mas é de nervoso… Minha filha, fala pro Matheus… Vai vocês dois num centro espírita, vai no terreiro de umbanda, dá um jeito de falar com essa mulher e ver o que ela quer, porque ela quer esse vestido claramente de volta. Tem que dar um jeito de resolver a situação, pra ela também seguir o caminho dela e vocês continuarem seguindo a sua vida. Tem que ir atrás disso, minha filha. Vocês conseguem resolver… Dá uma acalmada, imagino como o Matheus deve estar com essa história toda, mas jeito tem. Vai num centro espírita ou num terreiro de umbanda, que vão… Vocês podem até, se bobear, conseguir conversar com ela e ver o que ela quer que faz com esse vestido e buscar um meio termo, mas caraca, tô arrepiado ainda aqui. [risos] 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Juliana, eu falo de Belo Horizonte. Essa história está muito parecida com a história do par de tênis, né? Do rapaz que foi estudar interior e foi morar numa casa onde havia ocorrido o acidente de carro e teve a história do tênis… Pois é, não vou contar o final pra não dar spoiler pra quem não ouviu, mas eu acho que vocês deveriam levar o vestido para ela. Coloca numa caixinha, vai lá no cemitério, oferece pra ela… Enterra num cantinho lá da sepultura dela. Ela só quer esse vestido, gente… Leva lá pra ela. Eu acho que está fácil de resolver e vocês também vão ter um pouquinho mais tranquilidade em casa, né? É isso, um beijo pra vocês. 

[trilha] 

Déia Freitas: Então comentem lá no grupo do Telegram. Se você ainda não está no nosso corpo do Telegram é só jogar na busca “Não Inviabilize” que o grupo aparece, tá bom? Então é isso, um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.