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título: vizinho
data de publicação: 05/10/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #vizinho
personagens: milena e cláudio

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Hoje eu vou contar pra vocês a história da Milena e do Cláudio, e também tem a ver agora com a quarentena, eu adoro história de quarentena, então se vocês tiverem histórias aí de quarentena me escrevam um e-mail: naoinviabilize@gmail.com. Então vamos lá.

[trilha]

A Milena, antes de começar essa coisa da pandemia e tal, ela tinha uma paquera no bairro dela, então ela saía para trabalhar, às vezes passava de carro e ele estava passeando com o cachorro e eles se olhavam. Às vezes, ela ia a pé até a padaria, quando ela estava voltando ele estava fazendo caminhada, essas coisas. Eles se encontravam pelo bairro sempre, se cumprimentavam e ficava aquele clima assim, uma troca de olhares, sabe? Bem, troquinha de olhares. Aí um dia, antes da pandemia, janeiro, ela tá saindo pra ir, não era nem na padaria, ela ia na rua de cima, ia no mercado, algum lugar, com a sacolinha dela, eco bag, [risos] — eco bag dela — e ela encontrou esse cara que vinha descendo, não sabe de onde que ele estava vindo, o quê que estava acontecendo, nada.

Ele falou: “Oi, oi” e perguntou pra ela: “E aí, tá indo aonde?”, ela falou: “Ah, eu vou ali no mercado e tal” e ele desceu a rua e, no final daquela rua era o prédio dele. Aí ela tá lá no mercado, fazendo as comprinhas dela, né, pegando uma coisinha ou outra, quando ela olha quem que tá lá? Ele. O cara foi até a casa dele, deixou tipo a pasta do trabalho e voltou atrás dela no mercado, e aí ele foi direto, ele falou: “Olha, eu te acho muito bonita, faz tempo que eu te olho, posso te dar meu telefone?” e ela também já paquerava ele, falou: “Lógico, pode sim” e eles trocaram telefone e, assim, super vizinhos, né? Super perto um do outro. Já no dia seguinte, ele chamou a Milena no WhatsApp e eles começaram a conversar, ele falou: “Não, eu quero muito sentar com você em algum lugar, tomar uma cerveja, vamos?”, e era tipo uma quarta-feira, aí ela falou: “Ah, na sexta, pode ser?”, já sai do trabalho, um happy hour, ele falou: “Nossa, perfeito, vamos”.

E aí foram tomar cerveja, ficaram juntos e voltaram pra casa, ele deixou ela ali na porta dela e foi pra casa dele, ficaram essa primeira vez, só trocaram beijos. Aí na outra semana marcaram um outro encontro e ela falou: “Ah, você quer ir na minha casa, eu vou na sua?”, ele falou: “Ah, não, vamos, a gente já sai do trabalho, já vai pra algum lugar”. Então assim, eles começaram a ir no motel, eles foram no motel quatro vezes e eles não se viam ali no bairro assim, era só quando eles conversavam e saiam, e ela já apaixonadinha, ele prometendo mil coisas, e aí veio o coronavírus.

O coronavírus bombando, quarentena, todo mundo em casa. Ele em casa, na casa dele, ela na casa dela, aí ele falou: “Olha…” — porque ele falava que ele morava sozinho… — “Os meus pais vieram para cá, eles são idosos, então a gente não vai poder ter contato porque eu tenho medo de passar alguma coisa pra eles” — Super compreensível, né? — Beleza. 

Tá ela um dia no quintal dela tomando sol e, assim, meio que atrás do muro pra ninguém ver, né? Só que de onde ela estava deitada, pelo portão da casa dela, ela via a rua, pouca gente passando, né, um ou outro, mas sempre passava alguém. De repente ela vê passando uma criancinha correndo, um cachorrinho que ela reconheceu, que era o cachorro do cara e mais atrás o cara de mão dada com uma mulher, e bem grande na mão dele uma aliança. Ela levantou e foi pro portão, a hora que esse cara viu, ele ficou pálido, roxo, amarelo, mas fingiu que não conhecia. E assim, pensa ó, você tá passando com seu cachorrinho, sua criança, não tem ninguém na rua e sai uma pessoa no portão, automaticamente a mulher dele sorriu pra ela e acenou, tipo, ai, uma pessoa viva, sabe assim? Não tinha ninguém na rua, uma pessoa viva.

E ela acenou de volta, e aí, era um determinado horário de manhã, e agora todo dia eles saem, acho que pra dar uma volta com o cachorro, né? E com a criança pra gastar um pouco de energia, ela falou que é uma criança pequena. E ela descobriu dessa forma que o cara é casado. E agora ele fica mandando mensagem pra ela pedindo desculpa, falando que só não termina com a mulher por causa da criança, falei: “Meu, Milena, primeiro você não acreditou, né? Segundo, você não vai embarcar nessa, né? Que agora você tem todas as informações, é só você sair fora, ou melhor, você nem precisa sair fora, deixa como tá, ele lá, você aqui”, “Ah, mas eu gosto dele, ele mora no meu bairro, vou ver sempre”, falei: “Tá, então você vai ser o quê? Vai ser amante? Você acha que o cara vai largar a mulher dele, a criança, pra ficar com você? E tudo bem vai, ele larga, é isso que você quer? Você acha que ele não vai fazer isso com você também? O cara não foi um canalha? Foi um canalha.”

E aí, olha só a cabeça do cara, agora que ela descobriu, não tem mais o papinho de segurança, ele quer ir na casa da Milena, quer dar uma escapadinha, fala que vai no mercado e vai lá dá uma trepada com a Milena, quer dizer, ainda vai colocar a família dele em risco, a criança, a mulher dele em risco, vai colocar a Milena em risco. Quer dizer, ele agora pediu desculpa, né, porque homem é assim, pediu desculpa então tá tudo bem, e aí agora ele quer sair com a Milena e ela tá “Ai, porque ele gosta muito”, gente, eu não tenho nenhum conselho pra dar, o que eu tenho pra falar é isso, entendeu? Não vale a pena, agora que ela sabe, se ela sair com ele também certa não está, né? E, não sei, Milena, o que você quer da sua vida, eu não tenho como te falar coisa boa. 

Então vamos ver se as meninas, os meninos lá do grupo, te dão uma luz. Porque eu acho tudo errado, acho que tem que deixar como tá, bloqueia esse cara e acabou. O cara mentiu, mentiu muito e ainda quer agora aí na sua casa se aliviar… — Porque não vai terminar com a mulher dele agora, né? Olha… Enfim… — É isso que eu acho, não tem condição, Milena. Gente, um beijo e até amanhã com mais história, beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.