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título: vovô
data de publicação: 13/03/2025
quadro: luz acesa
hashtag: #vovo
personagens: willian

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história do Willian. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

O Willian, brasileiro, ele mora nos Estados Unidos já há mais de 20 anos. Quando foi para lá pela primeira vez, foi a trabalho, foi a empresa que mandou o Willian para os Estados Unidos pra uma série de palestras que ele tinha que assistir, enfim, e fazer um curso. O Willian ele nunca viu nada sobrenatural, nunca teve contato com nada sobrenatural, não pertence a religião nenhuma. – Os pais são aqueles católicos que nunca vão na igreja, sabe? – Religião não é um tema que aparece ali na família de Willian, nem na vida de Willian. – Ainda mais agora que ele mora em outro país… É uma coisa que não atravessa o Willian em nada. – Willian tinha que assistir essa série de palestras em um lugar perto de Las Vegas e depois ele viajaria para outro lugar dentro dos Estados Unidos para fazer um curso. O que o Willian pensou? “É a minha chance de estar em Las Vegas”. 

Seriam quatro dias de palestra, só que o voo dele já estava certinho para ele ir para o outro estado ali dos Estados Unidos mesmo pra começar o curso, então ele não teria tempo de passear ali e, sei lá, ir para um cassino, fazer as coisas que ele queria fazer. Ele estava perto de onde tinham aqueles hotéis, mas era tipo, sei lá, uns 80 quilômetros. Willian resolveu furar um dia da palestra pensando: “A empresa não vai descobrir que eu furei esse dia da palestra e eu vou poder aproveitar um dia em Las Vegas, nos cassinos, né? E nã nã nã… Depois, beleza, não é o último dia, que pode ser que tenha alguma coisa de mais algum credenciamento”, então, ali, meio na meiúca das palestras, [risos] ele resolveu tirar um dia pra ir se divertir. Errado? Errado. Se a empresa descobrisse, ele estava ferrado. – O Willian resolveu alugar ali um carro, porque ele teria que andar um tanto para chegar na área dos cassinos, então ele falou: “Bom, vou alugar um carro e beleza, vou”.

Pegou ali os mapas, sabia mais ou menos por onde ele tinha que ir, enfim, sinalização e começou… Eu não conheço Las Vegas, não conheço muito dos Estados Unidos, conheço nada praticamente, ele falou que tem muito deserto e que as estradas parecem todas iguais. E ele começou a rodar, rodar, rodar e ele se perdeu. E, numa dessas de olhar o mapa e olhar a estrada, o Willian não sabe bem como aconteceu, o carro dele saiu da estrada. Deserto, o deserto, deserto, tinha umas partes que você via bem de longe umas montanhas, uns arbustos aqui, outros ali assim e parecia tudo reto. Só que conforme o carro dele saiu da estrada, tinha tipo um barranco… Barranco não, quando é pra baixo é vala, né? Pra cima que é barranco. [risos] Tinha uma vala, alguma coisa assim, e o carro virou com o Willian dentro. Um sol… Sol, sol, sol, sol, muito quente. O carro virou e ele ficou preso. O pé dele ficou preso ali no pedal, enfim, naquela parte de baixo do carro e ele sentia muita dor no pé e ele não conseguia tirar. O carro estava virado com as rodas para cima, amassou um pouco o teto, que agora o teto estava meio que estava para o lado do chão, ele estava naquele vão da vala, mas ele não conseguia sair. 

Ele sentia um cheiro forte de gasolina e estava muito quente, muito sol… E o Willian  apagou e voltou algumas vezes ali dentro daquele carro. O Willian não sabia se onde ele tinha caído ali era visível da estrada… – Para quem passasse. – Talvez, se passasse um caminhão alto, poderia ver o Willian naquela vala, mas se fosse um carro comum, provavelmente não veria, foi o que Willian pensou numa dessas vezes que ele voltou e Willian, sem acreditar em nada, soltou dentro daquele carro a seguinte frase: “Deus me ajuda”. Mais algumas vezes ele desmaiou e voltou, com o pé preso, sentindo já dar ruim ali aquele pé… Quando, de repente, o Willian – fico até arrepiada, ó, eu que não acredito em nada, arrepiadíssima -, o Willian sentiu uma mão – uma mão quente como se fosse uma pessoa viva mesmo, né? – mexer naquela parte onde estava o pé dele e puxar o pé dele. Nesse ponto, o carro já estava muito quente, já tinha se passado algumas horas, o Willian provavelmente estava desidratado e ele estava meio confuso, enfim, não sabia o que fazer, né? 

Conforme ele sentiu um alívio de uma pressão que estava prendendo o pé dele ali, ele conseguiu virar o pescoço e olhar para a janela de onde tinha entrado aquela mão. E ali, naquela janela, o Willian viu um senhor… Era um senhor negro, de pele retinta, muito velhinho, cabelo branco, não tinha barba, mas tinha a pele, assim, mais enrugada… – Você percebia que era um senhor de idade já, vai, se ele tivesse, sei lá, 90 anos aparentaria setenta ou sessenta e poucos. – Este senhor estava sem camisa, com uma calça branca de capoeira e, no pé, ele estava como se fosse com chinelo, uma sandália de couro. Esse senhor, bem velhinho e curvado, tirou o Willian do carro, assim que o senhorzinho puxou ele pela janela, ele caiu praticamente embaixo do carro nessa vala.

– O carro era mais largo que a vala, então assim o carro não ia cair, mas tinha um espaço embaixo do carro. – Esse senhorzinho desceu a vala bem devagarinho e falou para ele com – o velhinho falou com ele em português – e a única palavra que ele lembra que foi diferente, é que o velhinho não falava “você”, o velhinho falava “suncê”. O velhinho, bem velhinho, pegou o Willian pelo braço e jogou Willian nas costas dele. O velhinho continuou arqueado, o Willian ficou com as pernas tipo arrastando no chão, mas o peito do Willian estava nas costas desse senhorzinho e ali o Willian sentiu uma calma, porque o velhinho falou pra ele que tudo ia ficar bem. O velhinho foi andando por dentro dessa vala e, lá na frente, tinha um pedaço que era menor para subir… O velhinho subiu com o Willian nas costas, o Willian não é um cara magro e ele estava mais jovem ainda, então estava mais forte e ele saiu da vala com o Willian nas costas e tinha um arbusto, assim, que não era alto, mas estava fazendo uma sombra. Ali, ele botou o Willian no chão e, naquele momento, o Willian percebeu que esse senhorzinho tinha junto uma bengala… Pois este senhor botou o Willian no chão – na sombra desse arbusto – e, com a bengala, ele fez um círculo no chão em volta do Willian. Quando ele terminou o círculo, ele bateu a bengala no chão e sumiu. O Willian não conseguia andar, ele tava meio desorientado, mas tava bem – já tava começando a ficar com sede, enfim, já tava meio zoado, né? -, e ele desmaiou, voltou, desmaiou, voltou e, de repente, já tinha ali um carro, dois caras e ele já tava nesse carro. 

Ele não sabia como ele tinha chegado nesse carro. O Willian foi socorrido… Ainda bem ele tinha um seguro saúde e tal – porque nos Estados Unidos você piscou, pagou, viu? Agradeça o SUS, viva o SUS -, ele foi socorrido, só que o carro que ele tinha alugado, ele teve que pagar para tirar o carro, enfim, gastou uma grana que ele nem tinha, mas enfim, se virou, pagou… Isso foi depois, né? E aí aquilo gerou uma ocorrência policial mesmo. E aqueles dois caras ele não viu mais, mas na ocorrência policial que ele recebeu, estava escrito que aqueles dois caras viram um brilho naquela parte onde estava Willian, como se o Willian estivesse segurando um espelho na direção do sol e fazendo um sinal… Mas quando eles chegaram lá pra pegar o Willian, o Willian não estava com nenhum espelho, com nada. O Willian ficou bem, acabou perdendo o restante das palestras ali, mas conseguiu embarcar para ir fazer o curso e, enfim, deu uma mentida na empresa, mas deu tudo certo. E, quando ele chegou para fazer o curso, ele estava obcecado, ele queria saber o que era isso, né? E ai ele ligou para a mãe, conversou com familiar, conversou com amigo e todos chegaram a conclusão de que quem socorreu o Willian foi um Preto-velho.

E aí o Willian falou: “Bom, quando eu fui ver em livro, essas coisas, a figura de um Preto-velho realmente parecia com aquele senhorzinho e não tinha como aquele senhorzinho ter forças, arqueadinho do jeito que ele era, pra me levar nas costas e arrastando aquele chinelinho devagar e me levando… Não tinha como”. Esse círculo, provavelmente o que ele fez em volta do Willian devia ser alguma proteção, porque ele tava num lugar ali de deserto, enfim, que tinha tinha cobra, tinha escorpião, tinha muito bicho… Até naquele arbusto, porque se eu sou uma cobra e tô no deserto, eu vou ficar no sol? Não, eu vou ficar no arbusto. Aí me aparece um peão no arbusto, eu vou morder ele todinho, se eu sou a cobra. Então, o Willian acha que esse circulo que foi feito em volta dele ali foi pra proteger ele desses bichos, assim, de alguma coisa que pudesse atacar ele ali, né? E esse brilho provavelmente também foi esse Preto-velho que tinha que, sei lá, arrumar um jeito de chamar a atenção de alguém pra fora daquela estrada. Tanto que os caras que encontraram o Willian naquele arbusto não conseguiam ver o carro. 

Quando o Willian foi dar o depoimento dele que ele falou que ele estava de carro, que o carro tinha saído da estrada, até então a polícia queria saber por que ele estava lá no deserto, machucado e tal… Porque podia ter sido uma desova de corpo, alguém tentou matar ele jogou lá… A polícia queria saber o que tinha acontecido, e aí que ele falou: “Olha, eu saí da estrada, sofri um acidente, o carro tá numa vala, está por ali” e estava meio que longe do arbusto. Então esse senhorzinho foi carregando ele, levando ele pra longe daquele carro… O carro não explodiu, não pegou fogo, nada, mas poderia, né, gente? Então o Willian foi salvo por um Preto-velho. 

[trilha]

Assinante 1: Bom dia, luzacesers, eu sou Lívia, do Rio de Janeiro. Sou umbandista, eu amo Luz Acesa e que história maravilhosa pra começar o dia foi essa… Willian, abençoado seja, na hora que você pediu recurso aos céus, Oxalá foi lá e mandou uma das entidades de Umbanda mais doces, mais maravilhosas, mandou um Preto-velho para salvar sua vida. Você não tem ideia do quanto você é abençoado. Olha, os Pretos-Velhos são aquelas entidades que você tem vontade de abraçar, deitar no colo e passar o dia inteiro ali, recebendo o carinho, o amor que eles transmitem. Ele foi para outro país, olha só, ele falou com você em português, ele salvou a tua vida. Abençoada seja os Pretos-Velhos, salve as almas. Eu adorei as almas. Um ótimo dia para todos. 

Assinante 2: Oi, nãoinviabilizers, aqui é a Bruna de São Paulo. Willian, me acabei de chorar com essa história, achei ela muito linda mesmo. Eu, como fã de Luz Acesa, tenho certeza que essa é uma das melhores no sentido de contato com o mundo espiritual. Eu acho que se você tiver alguma religião, vale a pena ir no centro, abraçar seu Preto-velho e agradecer toda a benção. Você é muito abençoado, tá? Um beijo, gente. 

[trilha]

Déia Freitas: Quando eu tava terminando o roteiro dessa história, essa música não saía da minha cabeça, vou cantar um pedacinho aqui, não sei se estou cantando certo, mas é porque ela ficou tanto na minha cabeça enquanto eu fazia o roteiro que eu vou dar o nome dessa história de “Vovô” por causa dessa música. E a música é mais ou menos assim: [cantarolando] Lá vem vovó descendo a serra com sua sacola, é com seu rosário, é com seu patuá, ele vem de Angola…”, não é bonitinho? [cantarolando] “Lá vem vovó descendo a serra com sua sacola, é com seu rosário, é com seu patuá, ele vem de Angola…”. Bom, essa história é zero medo, né? Super fofinha. Um vôzinho, vovôzinho falando em português nos Estados Unidos, no meio do deserto e salvando o Willian. Então eles chegaram, de uma maneira unanime, de que era sim um Preto-velho que salvou o Willian. Comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com o Willian, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]