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título: osso
data de publicação: 24/08/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #osso
personagens: cláudia e miguel

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Eu tô aqui com a Mioja, fala “oi”, Mioja [latido da Mioja], o Kiwi e o Mamão. Gente, eu resolvi inventar coisa, inventei aí o Picolé de Limão que é um pequeno refresco na semana de vocês. Então vamos lá, eu vou contar uma história hoje para vocês, né, Mioja? E é a história da Cláudia e do Miguel. A Cláudia e o Miguel eles têm, porque eles estão juntos ainda, um namoro de três anos, três anos e pouquinho e sempre foi uma coisa muito legal. Eles sempre foram muito, assim, parceiros, sabe? Muito apaixonados e isso e aquilo. 

Aí o Miguel sempre gostou de futebol, então ele sempre jogava bola e tudo bem, a Cláudia ia assistir e tudo certo. Aí ele começou a sentir uma dor na perna, e uma dor na perna, e uma dor na perna, e uma dor na perna… [cachorros latindo], e ninguém sabia o quê que era — os cachorros estão latindo, gente, desculpa, mas é isso —, e aí fez um monte de exame e descobriram que ele estava lá com uma doença, que eu esqueci o nome agora. Bom, esqueci… Uma doença lá no osso que ia ter que tirar um pedaço do fêmur dele e, assim, tinha duas possibilidades: se fosse um pedaço pequeno, faria um enxerto que aí o osso do próprio corpo, uma coisa assim, detalhes aí médicos que eu não sei direito, mas não rolou, então ele teria que fazer um transplante de osso, que é igual a um transplante de rim, de coração, a pessoa morre e doa. 

Então ele recebeu aí, um osso da perna, né, um pedaço de osso da perna de alguém aí X, alguma pessoa aí. E ali, recuperação, faz isso faz aquilo, né, mil coisas até ficar bem, tem que tomar remédio provavelmente para sempre e a Cláudia sempre ali do lado, sempre ali ajudando, né, fazendo as coisas juntos. Até que Miguel começou a mudar, conforme ele ia ficando melhor, ele ficava mais distante da Cláudia, e aí ela falou: “poxa, será que, não sei, agora ele tá se sentindo vivo de novo, sabe, aquelas coisas? ah, quase morri e agora, sei lá, quero viver outras coisas…”, mas ela ficou por ali na dela. E ele estava fazendo fisioterapia, então a Cláudia levava ele de carro, fazia um puta esquema, porque ela trabalha. Ele também trabalhava, mas estava de licença, né? 

E ela fazia um puta esquema para levar ele na fisioterapia e depois de 3 horas: pedir uma saída do trabalho, correr, pegar ele lá na fisioterapia, levar para casa — sabe, assim, maluca? — voltar para o trabalho, tudo, né, para ajudar a cuidar dele. Só que chegou um ponto que ele falou que não precisava mais a Cláudia buscar, então ela levava, e aí ele falou: “não, pode deixar, agora eu já posso voltar de Uber”, porque no começo ele tinha que evitar, sei lá, muita contaminação, não sei, alguma coisa assim. E aí ele começou a voltar de Uber, só que a Cláudia ligava para ele, tipo: “ah, amor, já chegou? Como está, já almoçou?”, e às vezes ele nem atendia e ela começou achar estranho.

Aí um dia ela falou: “ah, eu vou fazer uma surpresa para ele”, então assim, ela deixava ele na fisio, nove da manhã e buscava em torno do meio-dia que era o horário que ela pedia para mudar o horário de almoço dela, deixava ele em casa e voltava, aquele rolo… Aí como ele estava voltando de Uber, teve um dia que ela falou que ela, sei lá, quis fazer uma surpresa [risos] — [entonação animada] surpreeesaaa! —, e aí ela resolveu fazer uma surpresa e aparecer lá na fisioterapia para pegar o Miguel e levar para casa. 

Quando ela chegou na fisioterapia, então pensa assim ó, um predinho de três andares com elevador, tudo, e ela não podia passar ali da recepção porque ela não entrou junto com o paciente, então ela tinha que ficar esperando ali perto de umas catracas, assim, dessas de entrada de prédio, sabe? E ela sentou e ficou esperando, falou: “bom, meio-dia e pouco ele sai”, tinha dia que ele saía mais cedo, tinha dia que ele saía um pouco mais tarde, e era o dia que ele saía mais ou menos meio-dia. 

E ela ficou ali sentada, né, mexendo no celular, era surpresa então não avisou, e aí ele veio. E ele saiu e ele estava com a fisioterapeuta. E a Cláudia levantou, né, para encontrar os dois e falar oi para fisioterapeuta, que ela conhecia. Só que ela estava… Pensa num saguão, ela estava lá do outro lado, o tempo que ela levantou para chegar para falar oi, ela flagrou os dois dando um beijo, tipo, sabe quando você vai se despedir e dá um beijo na boca, que não é um beijo demorado, mas não é um selinho, um beijo médio? E aí ela pegou [contendo o riso] o Miguel dando um beijo na fisioterapeuta, e assim, na hora ela ficou cega, que ela começou a gritar, começou a fazer escândalo, e ela falou que ela é assim mesmo, ela é de fazer escândalo e ele ficou pálido.

E conforme ele ficou pálido, em vez de, sei lá, ele ir para o lado dela, ele não atravessou a catraca, ele ficou do lado de dentro e começou a falar que estava passando mal, e aí a fisioterapeuta levou ele de volta e a Cláudia ficou lá no saguão gritando, até o segurança vir e falar para ela se retirar — gente? —

Aí assim, ela não conseguia voltar a trabalhar, ela queria ficar lá na frente até ele sair, mas aí tinha a saída da garagem e ela falou: “de repente, ele vai sair de carro, eu vou ficar aqui que nem uma trouxa”.

Aí ela teve que voltar para o trabalho, nem conseguiu trabalhar, né, mas ela saía cinco e meia, quando ela saiu cinco e meia ela foi direto para casa do Miguel e aí o tempo fechou, né? Falou um monte pra ele, que isso, que aquilo, que ela estava sempre do lado dele, porque ele fez isso — e aí, gente… —, a história do Miguel é: que desde que ele colocou esse osso novo na perna, ele se sente influenciado pelo osso a ficar com outras mulheres, tipo, não é ele, é o osso da perna que influencia, [risos prolongados] — sério, gente, o osso da perna? O osso da perna influencia o Miguel a ponto dele querer ficar com outras mulheres? —, e aí ele chorou, falou que a culpa não era dele que ele não conseguia se controlar, mas que ele amava a Cláudia, e que ele sentia que não era assim uma presença, mas era como se fosse uma, alguma coisa nele tinha mudado, parecia que não era ele em determinados momentos. 

E aí a Cláudia, né, assim no final, como ele chorou, ela ficou meio que acreditando. E aí, gente, nessa, a Cláudia… Porque aí o quê que aconteceu, o Miguel também bem espertão, como ele jogou para o osso [risos] — tipo, a culpa é do osso —, ele começou meio que a não esconder as traições, então ele fazia e já para não dar problema ele já se confessava, ele já contava para Cláudia e chorava, falava que era o osso. Aí se ela brigava ele começava a passar mal e falar que “ah, meu Deus, eu tô passando mal, eu vou acabar rejeitando o osso”, — gente, eu vou acabar rejeitando o osso porque eu tô passando nervoso? Por que você é o traidor, meu lindo? Não tem como, né? —

E aí, assim, a Cláudia gosta muito, muito dele. Ela tem uma pequena dúvida porque… Eu falei até dessa história no Twitter e algumas pessoas colocaram links lá, que realmente pode acontecer isso da pessoa receber um órgão e ter, sei lá, uma influência da pessoa que morreu, mas gente, eu não consigo acreditar nisso, que tipo, o osso, é o osso que tá mandando ele fazer isso, — eu acho que é um outro osso dele… [risos] Essa foi podre, né? O outro osso dele que tá fazendo ele fazer isso, né, por favor… — Então, ela tem dúvida.

E aí, lógico, que quando eu postei lá no Twitter todo mundo caiu matando, ninguém acreditou no Miguel, mas a questão é que ela tá com ele ainda, que ela gosta dele e que ela queria, sei lá, dicas? De como fazer ele mudar. Eu acho que tem que ter dicas de como você sair dessa, né Cláudia? Senta lá. Não é Kiwizinho, você não acha? [latido do Kiwi] Tá vendo? Todo mundo acha aqui, Cláudia, não tem a menor condição. 

Então aí o quê que vocês acham, gente? Vocês acham que pode isso da pessoa receber um órgão aí diferente, né, de outra pessoa que morreu e apresentar uma outra faceta de personalidade? Eu não acredito nisso, mas né… Então comentem aí a hashtag da história é “osso”, e esse é um Picolé de Limão [risos], uma historinha rápida, um refresco para vocês. E daqui a pouco eu trago outra boa também que me contaram no Twitter, mas eu guardei na DM para contar para vocês. Então, um beijo. Vamos ver se eu vou saber desligar certo isso aqui.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.