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título: clementina
data de publicação: 07/01/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #clementina
personagens: jonas, caroline, dona clementina e bonitão

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Voltei. Bom, a história de hoje é a história do Jonas e da Caroline, quem me escreve é o Jonas. É uma história aí que vai se passar em Araraquara. Lembrando que todo mundo pode me escrever que eu mudo os nomes e mudo o local, então… Pode me escrever que a sua identidade não será revelada. E a história de hoje [risos] do Jonas eu posso rir porque ele ri também, então vai ser mais relax.

O Jonas conheceu a Caroline numa praça, — Isso mesmo — uma cidadezinha do interior. — Né? Que aqui na nossa história vai ser Araraquara que eu acho que deve ser grande, né? Mas eu não sei o nome de cidade assim com menos habitantes, então vai Araraquara mesmo. — Então ele lá na cidadezinha deles, de final de semana tem alguns eventos na praça, tipo… Eles se reúnem pra tocar violão, assim, não é show, entendeu? Tipo grupinhos, cada grupinho faz o que quer, ali é uma praça grande, e ele conheceu a Caroline numa praça, eles foram tomar sorvete, aí eles se gostaram e começaram a namorar. E assim, namoro, de pedir em namoro, das famílias se conhecerem, tudo muito rápido assim. E aí eles estão lá namorando há uns quatro, cinco meses assim, só que muito jovens, o Jonas agora já tem vinte e sete anos, mas na época ele tinha dezoito e a Caroline ia fazer dezoito também, tinha dezessete, assim, eles são meses de diferença de idade. 

E aí muito jovens os dois, muito jovenzinhos, e a Caroline, uma menina nova, queria estudar ainda, queria fazer faculdade, então ela namorava com o Jonas sério porque, sei lá, costume da cidade, das famílias. Começou a namorar sério, mas isso não significava que a Caroline queria se casar com o Jonas, ou que aquilo do sério ia virar um noivado. — Não sei se dá pra entender. Eu entendo bem, porque assim, eu já namorei sério algumas vezes e também isso não significava que eu queria casar com a pessoa, eu entendo bem a Caroline. — Mas o Jonas achou que eles, sei lá, eles iam namorar sério, noivar e casar. — Né, Jonas? — [risos] Mas não foi bem assim que aconteceu. Com sete meses de namoro a Caroline começou a desencanar porque — Mais uma vez — muito nova pra se amarrar definitivamente, querendo conhecer o mundo, querendo conhecer mais pessoas e toda a vez que ela tentava terminar o namoro com o Jonas, ele chorava. 

Assim, ela tentava, ele chorava, ela ficava com dó e não terminava. E aqui eu tenho que contar um pouco da história familiar do Jonas, vai ser muito importante, tem um uma pessoa nessa história que é maravilhosa que vocês vão conhecer agora. O Jonas foi criado pelos avós junto com a mãe, a mãe do Jonas engravidou, teve o Jonas, pai ausente, aquela coisa, e aí a mãe morando ali com os pais dela, o Seu João e a Dona Clementina e o Jonas foi criado ali, muito mais criado pela Dona Clementina e pelo Seu João mais do que pela própria mãe, porque a mãe era nova, mas era uma mãe presente sim, mas assim, quem deu educação mesmo, quem criou foi a Dona Clementina que é uma pessoa incrível [risos] e ela que criou o Jonas. O namoro da Caroline com o Jonas era um namoro assim em casa, né? Então quando eles não estavam na praça… A cidade deles, pra vocês terem uma ideia, não tinha cinema, então “Ah, quer ir no cinema?”, tem que ir numa cidade próxima maior, então assim, raramente eles iam ao cinema, era mais mesmo a praça, coisas ali da cidade ou ficar em casa. 

Alguma das vezes, porque foram muitas as vezes que a Caroline tentou terminar, alguma das vezes era lá na casa do Jonas mesmo e aí ele chorava lá e a dona Clementina sempre observando e fazendo que não assim com a cabeça, tipo, “Esses jovens”, sabe? Mas ela não se metia, ficava na dela só observando e não falava nada. Até que um dia a Caroline meio que parou de responder as mensagens do Jonas no MSN, sabe assim? No Orkut, sei lá, essas coisas — Mais antigas — da época. E ele ficou assim passado, porque ele amava demais a Caroline e aí ele falou: “Não, hoje é domingo, ela vai estar na praça, eu vou lá na praça ver o que tá acontecendo, vou lá conversar com ela”. Chegou lá na praça o que o Jonas viu, e o coração dele parou assim, ele ficou arrasado. No meio da praça tinha uma igreja enorme, como a maioria das praças de cidades do interior, uma igreja católica, e na lateral da igreja, porque assim, ele tinha que passar por um lado pra chegar na praça assim, vindo da casa dele passava pela lateral da igreja, mas pelo outro lado pra chegar na praça, só que não sei porquê, coisas do universo, ele deu a volta, ele falou pra mim que, na verdade ele estava tentando ganhar tempo, porque ele não sabia o que conversar com a Caroline assim, pra cobrar que ela não estava mais respondendo a mensagem, porque ele já queria chorar. [risos] 

Então ele quis fazer o caminho mais longo pra chegar na praça, um caminho que ele não fazia, pra ganhar tempo e pensando, sei lá, se acalmar. Quando ele dá volta na praça o que ele vê? Caroline atracada aos beijos com um outro rapazinho na outra lateral da igreja lá do lado da praça, ele ficou passado. O que você faria se você pegasse o seu namorado, sua namorada aos beijos com outra pessoa? Você ia armar o barraco, você ia lá perguntar “O quê que é isso, o quê que tá acontecendo”? Ou você ia fingir que não viu nada e voltar correndo pra casa chorando? — Qual opção vocês acham que o Jonas escolheu? — O Jonas simplesmente se escondeu, quase se jogou numa moita pra que não fosse visto, arrasado, deitado na moita. [rindo muito] — Ai, desculpa, Jonas. Ainda bem que já passou, você superou, eu posso rir. — Mas ele se escondeu assim atrás lá da moita da igreja, não era uma moita, gente, assim deitado, mas uma arvorezinha menor. 

E voltou correndo pra casa aos prantos, aí chegou na casa dele quem estava lá como sempre? Era domingo à tarde assim, estava a mãe dele, estava o avô e estava Dona Clementina, ele passou correndo chorando lá para o quarto, aí Dona Clementina foi atrás dele pra saber o que tinha acontecido. Dona Clementina perguntou pro Jonas o que tinha acontecido e ele contou, contou que flagrou a Caroline aos beijos com um outro rapaz e que tinha voltado embora e chorava, chorava. E aí a dona Clementina falou assim pra ele “Bom, pelo menos agora você entendeu que ela não quer mais namorar com você, porque ela tentou várias vezes te falar que ela não queria mais e você não ouviu, agora você sabe. Isso é bom, agora você segue o seu rumo, segue o seu caminho e ela segue o dela”, o Jonas vira pra avó e fala assim: “Vó, ela não me viu, ela não sabe que eu sei, eu não vou falar nada, vou ficar quieto e vou continuar namorando com ela se ela quiser [falando e rindo ao mesmo tempo] namorar comigo”. 

A avó dele muito tranquila olhou pra cara dele e falou a seguinte frase: “Jonas, meu filho, porque você sabe que a avó te criou como um filho. Eu vou te falar uma coisa que você vai aprender da pior maneira, mas você vai aprender, escuta o que a sua avó vai te dizer: Jonas, ninguém tem dó de corno”. [rindo muito] E ela continuou, falou: “Então, eu até estava com um pouco de dó de você, não estava muito, porque a Caroline tentou terminar com você e você ficava choramingando pra ela não terminar, agora que eu sei que você quer ficar com ela mesmo sabendo que ela tem outro, a avó não consegue ter dó. A avó não tem dó [risos] porque ninguém tem dó de corno”. E ele ficou lá chorando e a avó dele saiu, foi lá na cozinha, fez um pratinho de doce lá com o doce que eles tinham comido depois do almoço, levou lá pra ele e falou: “Ó, a avó tá te trazendo doce, mas a avó não tem dó”. [risos] — Gente, essa mulher não é maravilhosa, Dona Clementina? Eu tô apaixonada na Dona Clementina, por mim a história podia acabar aqui com essa frase maravilhosa da Dona Clementina que ninguém tem dó de corno. Só que história não acaba aqui, né? —

Passou ali umas três horas, o Jonas estava lá se acabando de chorar no quarto, quem que toca a campainha lá da casa que chegou toda bonitinha? Caroline. Como se nada tivesse acontecido, chegou pra namorar o Jonas e o Jonas tinha proibido a família dele de falar qualquer coisa. Aí vai lá o Jonas correndo tomar um banho pra, né? A cara estava toda inchada de chorar. [risos] Aí ele mentiu que estava dormindo, tomou banho e tal e ele realmente não contou nada, ele estava feliz que a Caroline estava lá, e que a Caroline era namorada dele, ele nem questionou porque que ela não respondeu mensagem, quer dizer, ele tinha mais coisa pra questionar, [risos] mas ele não questionou absolutamente nada, ele estava feliz porque ela estava lá, era um domingo final de tarde e — Eles namoravam ainda — o namoro seguiu com o Jonas sabendo que ela tinha outro. — Com o Jonas, como diria Dona Clementina: Jonas corno. —

E assim, como ninguém da família podia falar nada, a mãe do Jonas estava revoltadíssima e meio que virou a cara pra Caroline, então ela evitava encontrar, sabe assim? Deu uma afastada porque não podia falar nada, o Seu João tadinho [risos] não tinha vez, né? Então pra ele tanto faz como tanto fez, então, “tu tá feliz?” Então tá tudo bem. E a Dona Clementina era a pessoa que ouvia as lamúrias do Jonas, então ele estava sempre, quando a Caroline não atendia, ela falava pra ele “Ah, ela tá lá com o bonitão”. [risos] — Não ajuda também, Dona Clementina, não ajuda”. — Mas o quê que ela queria? Ela queria que o Jonas visse a realidade e separasse, né? Mas, gente, esse namoro depois que o Jonas pegou a Caroline beijando o cara, e olha que ele não, nunca confrontou ela sobre isso, — Jamais — esse namoro durou mais quatro meses, e só não durou mais porque a Caroline chegou pra ele e falou: “Olha, eu estou gostando de outra pessoa”. — O Jonas já sabia, né? — “Eu estou gostando de outra pessoa, não quero mais namorar com você, não adianta chorar, eu não quero mais”, virou as costas e foi embora, e o Jonas se acabou de chorar. 

Dona Clementina ficou feliz, falou: “Bom, pelo menos agora acabou tudo, acabou a história de vocês”, dali uns quarenta dias que eles tinham terminado e a Caroline tinha assumido o namoro com o bonitão, [risos] — Apelido que Dona Clementina deu para o rapaz — ela apareceu lá na casa do Jonas, ela não queria voltar, ela só queria comunicar uma coisa, que ela estava grávida. — Sim… — E ela estava grávida de dois meses e pouco, ela descobriu também assim quando começou a passar mal e aí era aquela coisa, ela não sabia se era do Jonas ou do bonitão. [risos] — E mais uma vez eu falo, gente, pelo amor de Deus usa camisinha, posto de saúde da de graça, sabe? Vamos evitar? Doencinhas e bebezinhos não planejados? Mas enfim… — Eles não usaram preservativo e a Carolina estava grávida, o quê que o Jonas pensou? “Uma luz, uma esperança, ela vai voltar pra mim. Ela tá grávida, só pode ser meu”, só que o próprio Jonas sabia que ela estava com o cara nos últimos quatro meses de namoro deles, então podia ser do bonitão, mas isso deu uma esperança para o Jonas. 

Quando Dona Clementina soube da criança e da euforia que o Jonas estava, [risos] ela falou pra ele: “Mas Jonas não dá pra ter dó de você mesmo, né? [risos] Tu é corno assumido, você tá de boné e eu não sei nem como você tá de boné”, olha Dona Clementina, [risos] “Deixa eu ver esse boné, se tá rasgado ou se tem dois furinhos porque chifre é o que não falta nessa cabeça”, e ela ficava falando. E, assim, ela não voltou pra ele, ela continuou com o bonitão, mas ele tinha esperança que se o filho não fosse do bonitão era dele, então aí pelo menos ele tinha um contato maior com a Caroline, enfim, pensamentos de pessoas apaixonadas. Aí um dia a Dona Clementina estava lá lavando roupa e ele estava ali sentado conversando com ela e ela parou de lavar roupa, ficou pensativa assim, respirou fundo e falou assim pra ele: “Seria bom se esse filho fosse seu”, aí ele falou: “Ai, vó, que bom que você concorda comigo, né? Assim eu fico com a Caroline”, ela falou: “Não, porque se você parar pra pensar, se o filho for do bonitão, você além de corno, o seu esperma é mais fraco”. — [risos] Olha o pensamento da Dona Clementina… — falou: “Aí você vai ver que você não venceu nem nisso, o bonitão foi melhor que você até nisso”. Aí o Jonas já começo a chorar, ela falou: “Ai, meu Deus, não aguento mais isso”. — [risos] A Dona Clementina é meio insensível também, né? —

E detalhe que boa parte da cidade sabia do caso da Caroline e muito dos amigos do Jonas foram até ele alertar e ele sempre falava: “Não, isso não é verdade”, ele sabendo que era verdade porque ele viu, mas ele negava até o final, então assim, ele já tinha que meio que uma fama de corno na cidade e quando estourou isso da gravidez — E aí o povo faz as contas, né? Mesmo que ela está lá com o bonitão — o povo faz as contas e falou: “Pô, Jonas, mas ela não estava com você também?” e o Jonas começou a espalhar que o filho podia ser dele, enfim, aquela lambança que cidade do interior amplifica, fica maior a fofoca, né? Enfim, o filho nasceu, a Caroline não teve ali na cidade porque a cidade era pequena e tal, o pai dela tinha um convênio melhor e ela foi pra cidade do lado lá que era maior pra ter a criança lá, então o Jonas nem teve esse acesso, mas o que chegou no ouvido do Jonas é que não tinha como o filho ser dele, o filho era do bonitão, então chamaremos o bebê de “Bonitinho” [rindo muito] — Ai, desculpa… — Mas é… Caroline teve um bonitinho e não um Joninhas. 

Ela voltou pra cidade e quando ele viu a criança, ele falou: “Ah, é do bonitão, é a cara do bonitão, não tem como ser meu, é do bonitão”, e aí Caroline foi morar com o bonitão, não na cidade porque ali na cidade já estava muito fofocaiada, ela foi morar em outra cidade com o bonitão. Ela está casada com filhos com o bonitão até hoje. —Então, quer dizer, foi um relacionamento que deu certo assim… Ela tá com ele até hoje — E depois que todo mundo já sabia que o filho não era do Jonas, que era do Bonitão, ele foi comentar com a avó: “Tá vendo, vó? Nem isso eu consegui, bem que você falou, o Bonitão foi mais forte, Deus não me ajudou nisso”, aí a Dona Clementina virou pra ele e falou: “Mas sabe por que Jonas? Porque nem Deus tem dó de corno”. [risos] 

E até hoje o Jonas ainda não é casado, ele estudou e fez pós, investiu mais na carreira, sobrou um pouco de mágoa sim, né? Uma desilusão ali com a Caroline e até hoje a família dele tira sarro dele, às vezes eles fazem essa brincadeira de que ninguém tem dó de corno, tipo, a vez que o Jonas quebrou o pé e aí as mensagens que ele recebia era assim “Ah, tá doendo? A gente não tem dó porque ninguém tem dó de corno”, [risos] coisas de família, né? Que a gente sabe que quando a família pega no pé da gente pesado no sarro, assim na brincadeira, é osso, né? E é isso, é uma história mais curtinha assim, né? Não tem tanto viradas, mas eu gostei tanto da Dona Clementina, apesar que se você parar pra pensar ela é meio ruinzinha, né? [risos] Meio malvada com o neto, mas eu achei tão engraçado isso de ninguém tem dó de corno, porque se a gente parar pra pensar, realmente não tem, eu não tenho dó, meio que não tenho mesmo. Eu até parei pra refletir, eu gravei faz uns dias a guia que eu faço, só com os pedaços da história pra eu passar para o Jonas e eu falei: “Poxa, realmente eu não tenho dó, não consigo ter dó de corno”. Vocês têm dó de corno? [risos] E é isso, eu volto logo com mais histórias. Um beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.