título: azeitonas
data de publicação: 22/12/2022
quadro: especial de natal
hashtag: #azeitonas
personagens: thainá
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Especial de Natal Não inviabilize, da nossa família para a sua. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para o nosso Especial de Natal. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii. — [efeito sonoro de crianças contentes] Esse ano o nosso especial de Natal é patrocinado pela Coca-Cola. Estamos aqui na quarta história — tá quase acabando — e até amanhã eu trago aí histórias com o espírito natalino, homenageando famílias e amigos, trazendo histórias do passado e do presente, lembrando aí das receitas familiares, memórias afetivas e tradições compartilhadas que unem gerações nas festas de Natal. Essas memórias aproximam as pessoas, mesmo que às vezes pareça impossível. Tudo isso porque o Natal sempre encontra o caminho. E essa é a campanha de Natal da Coca-Cola esse ano, celebrar a força e a magia do Natal para superar aí obstáculos e unir pessoas.
E é disso que eu estou falando aqui a semana toda, trazendo lembranças, sabores, palavras aí mais doces, gestos e emoções que nos levam automaticamente a um momento da vida ou a uma pessoa especial. E eu espero que até que eu tenha tocado vocês, que vocês tenham lembrado aí de algum momento do Natal que foi, assim, bacana, ou de alguma pessoa especial que está com você ou que você tem saudade. E hoje eu vou contar pra vocês a história da Thainá e de seu momento natalino que vai contemplar aí a maioria da nossa população. Esse é o verdadeiro Natal [risos] do trabalhador. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]Thainá, vindo aí de uma família da classe trabalhadora, conseguiu seu primeiro emprego ali com 16 anos. Ela começou a trabalhar ali de telemarketing, né? Ela precisava da grana, então não tinha para onde correr. E era um telemarketing daqueles de instituições que você liga pedindo doação. Então, a cada 10 ligações que Thainá fazia, ela disse que ela era xingada em 11, mas não tinha o que fazer. Tinha que ligar ali e fazer o trabalho dela. E como aquela grana fazer diferença ali na casa da Thainá, ela tinha que ficar naquele trabalho. Até que chegou a época de Natal… E essa instituição que a Thainá trabalhava no telemarketing fazia uma festa de Natal para os doadores. Então, quem contribuiu ali com aquela instituição durante o ano e fez essas doações, poderia ir participar da festa. E aí ali a chefe da Thainá falou: “Olha, vocês, atendentes, vocês têm que vir amanhã na festa de Natal da firma, muito bem-vestidas. Tem que vir todo mundo arrumadinho”.
E a Thainá não tinha dinheiro pra comprar aí uma roupa — e ainda mais, assim, às pressas — pra ir bem arrumada na festa de Natal da firma. Ela tinha roupas muito simples e tal… E aí a mãe da Thainá, que a gente pode chamar aqui de dona Cleide, dona Cleide teve uma ideia… Ela falou: ” O quê? Tem um brechó incrível perto de casa com roupas a 2, 3, 4 reais… Eu vou lá e vou achar uma roupa linda pra você, Thainá, fica tranquila”. E não é que nesse brechó tinha coisas, assim, incríveis? — Eu amo brechó, gente, amo… — Dona Cleide comprou ali pra Thainá uma calça social, uma camisa muito bonita e uma sandália de salto. — Poxa, sandália de salto… — E aí a Thainá ficou toda feliz, porque ela ia linda… Linda… Ia gata, toda faceira ali para a festa de Natal.
Chegou o dia da festa, Thainá foi toda arrumadinha… Só que aquela sandália do brechó estava um pouco prejudicada, mas deram ali uma engraxada e ficou bonita, ficou boa. Só que quando Thainá foi descer do ônibus, alguém pisou na sandália e a sandália abriu ali uma boca na sola. — Quem aqui que é da classe trabalhadora nunca teve um sapato que fala? [risos] Quando a sola abre ali no bico e fica aquela boca… Aí pra você andar… Se você está na rua e acontece isso, você tem que dar uma levantadinha no pé assim… Ai parece que só com um pé, você está flutuando, assim, e aquela boca, aquele seu sapato falante. [risos] — E assim ficou a sandália da Thainá… — E ela tinha que prosseguir ali, ela desceu do ônibus e estava chegando na festa. — Thainá chegou na festa ali com o pé arrastando, [risos] a sandália realmente… — Ai, já passei tanto por isso com sapatilha, sabe? [risos] Que abre… E tem umas sapatilhas que às vezes ela não tem um solado, não tem ali um reforço entre a sola e a palmilha e você fica praticamente com um buraco ali, uma parte de seu pé fica no chão… E quando você chega em casa, só tem aquela parte suja do buraco. [risos] É muito triste. —
E aí Thainá chegou e viu que na festa ali para aqueles colaboradores, aquela festa de Natal, tinha muita criança. — Então o que Thainá fez? — Ela foi esperta… Ela tirou as sandálias e aí justificou que ela ia correr e brincar com as crianças. — Quer dizer, ainda estava ali fazendo um social… Foi muito esperta a Thainá, muito esperta. — E aí Thainá passou o tempo todo ali brincando com as crianças… Deu a hora de ir embora da festa, Thainá foi procurar a sandália, cadê? E procurada daqui, procura dali… E a chefe da Thainá chegou e falou: “O que você tá procurando, Thainá?”. “Meu Deus, minha sandália”. A chefe da Tainá virou pra ela e falou: “Gente, eu vi aquela sandália toda esgarçada aqui achei que fosse lixo… Joguei no lixo”. A Thainá toda humilhada foi lá pegar a própria sandália do lixo para vestir. — E realmente quando ela pegou tava ruim a sandália. [risos] —
E não tinha outro jeito, gente… Thainá pegou ali a sandálinha do lixo, suspirou, vestiu e, quando ela já estava indo, pulando ali com aquele pezinho [risos] da sandália falante, ela estava saindo, a chefe resolveu dar um aviso ali para aquela turma de funcionário que estava ali. A instituição distribuía cestas, cestas de Natal… Só que, curiosamente, não tinha dado cestas ainda para os funcionários e deixou ali para aquele último minuto. E aí a empresa falou: “Olha, vocês podem pegar aí cada um uma cesta de Natal” e na hora os olhos da Thainá brilharam, assim, ela ficou até emocionada. Porque na cesta, além de ter coisas da cesta básica do dia a dia — que seria muito importante ali na família da Thainá — tinha também coisas gostosas de Natal. — Coisas muito gostosas… — Até enviadas ali de alguns doadores… — Empresas grandes e tal. —
E aí a Thainá foi lá e pegou aquela cesta… — E aqui, gente, eu tenho que explicar como é a cesta de Natal que você ganha na firma, na maioria das firmas. Se você ainda nunca ganhou uma cesta de Natal de firma, eu vou te explicar como é… Ela vem numa caixa de papelão, então você já vê aí que ela é feita meio que pra dar errado. [risos] E, geralmente, a empresa te dá a cesta e você tem que levar no busão. Então, imagina você com uma cesta pesada que ali tem arroz, feijão, tem macarrão, tem molho, tudo coisa boa… Aí tem a uva passa. Eu amo, tem gente que não gosta. Tem a lata de pêssego que é importantíssima que vem na cesta de Natal, tem o panetone, tem aquela cidra gostosona que você toma… Gela ali e toma. Toma as frutinhas… Uma delícia. Tem um monte de coisa que pesa e a cesta é de papelão. Então aquela alcinha que vem ali para segurar e levantar a cesta. Se você já teve mais de duas cestas de Natal, você sabe que não vai funcionar. Então, o que você faz? Você pega por baixo e carrega a sua cesta de Natal como se fosse uma criança até o ponto de ônibus, porque você tem que se equilibrar, subir no ônibus, passar ali o seu bilhete único, passar aquela cesta por cima da catraca e ainda, se tiver lugar para sentar, é sorte, né? —
Mas Thainá não queria saber de nada disso, ela estava com sua festa de Natal com coisas gostosas. — Que não tinha na casa dela. — Ia ser um Natal gordo… E Thainá agarrou ali a sua cesta pesadíssima de Natal, sua cesta de papelão e foi arrastando o pezinho da sandália aberta até o ponto. Acontece que Thainá morava a 30 quilômetros de onde trabalhava… E ela pegava três ônibus. — Três conduções pra ir, três conduções para voltar para trabalhar ali no telemarketing daquela instituição. — E aí Thainá foi, pegou o primeiro ônibus àquela cesta, aquele peso em pé, ela em pé… Porque a maioria das festas de firma são ali no último dia que você vai trabalhar, naquele seu horário de serviço, então tá todo mundo saindo e todo mundo com as suas cestas… Então já é um perrengue no ônibus.
Aí desceu do primeiro ônibus, o braço dela já doendo demais com aquela cesta e, quando a Thainá desceu do primeiro ônibus, o que aconteceu? — O que acontece quando já está tudo ruim? [efeito sonoro de trovão e queda dagua] Chove… — Choveu… Thainá com uma cesta de papelão e chuva. Não tinha nem como pegar um guarda-chuva, bolsa, enfim… — Aquela vida difícil. — Thainá subiu no segundo ônibus, aquela cesta de papelão já meio mais pra lá do que para cá ali, meio mal… Thainá em pé… Quando Tainá conseguiu chegar no terceiro ônibus, Thainá já estava morta… E ela viu um lugar pra sentar, falou: [efeito de voz fina] “É lá mesmo que eu vou” e Thainá sentou… E ali ela distraiu. — Porque quando você está carregando a sua cesta de Natal em pé no ônibus, você se concentra. Não dá pra segurar bem ali, mas o ônibus está lotado e você não vai cair. Então você se equilibra e segura firme a sua cesta, você sabe que o fundo dela é meio frágil, né? —
Só que Thainá sentou e desconcentrou… Ficou ali, bonitona, sentada. Conforme foi chegando o ponto de Thainá, o ônibus já estava bem mais assim pro vazio, já dava pra você ver o corredor do ônibus e tal, não tinha gente em pé… Thainá pediu pra a moça que estava ali mais perto da cordinha, puxar a cordinha que Thainá ia descer, estava perto… Foi uma luta, uma saga pra chegar com aquela cesta de Natal na casa dela. Conforme Thainá levantou, Thainá cometeu um erro… Thainá pegou a cesta pela alcinha… E aquele papelão que já estava sofrido, [risos] corajoso, guerreiro que encarou ali três ônibus, desistiu… O papelão falou: “Daqui pra frente, Thainá, não consigo te acompanhar”. [risos] E aquela cesta abriu…. E todas as coisas que podiam rolar rolaram pelo chão do ônibus. E acontece que Thainá estava no seu ponto para descer. E aí, o que você faz quando isso acontece? Você grita: “Pera aí, motorista”. [efeito dramático]
E Thainá desesperada começou a pegar as coisas no chão e tentar enfiar dentro da roupa, da bolsa… Tudo o que ela conseguia. E aí as pessoas ali em volta olhando, né? Muita gente tentando pegar as coisas. Quando Thainá viu aquele vidro lindo, imenso de azeitonas pretas chilenas… — Azeitonas de rico. — Provavelmente um daqueles doadores, de empresa, tinha fornecido esses vidros de azeitona, porque ele até destoava da cesta. Eram azeitonas, assim, caríssimas. E Thainá falou: [efeito de voz fina] “Eu não fico sem esse vidro de azeitona”. Aí Thainá largou algumas coisas que ela estava na mão pra correr antes que a azeitona rolasse para frente da catraca, porque aí só Deus sabe se iam devolver… — Porque aquilo é uma preciosidade no ônibus. — Thainá conseguiu alcançar o vidro de azeitonas e agarrou aquele vidro… Mas tinham as outras coisas.
E aí uma senhorinha… — Que a gente pode até chamar aqui, que foi Mamãe Noel… Foi Mamãe Noel sim aquela senhorinha… — Aquela senhorinha sacou ali duas sacolas… — E aqui eu vou dizer, se você é uma pessoa trabalhadora da classe C e não tem duas sacolinhas dobradas em triângulo dentro da sua bolsa… Sempre tem que ter, gente… Depois eu vou ensinar vocês a dobrar sacolinha em triângulo, nem percebe na bolsa. Põe umas duas, três ali. Por quê? Porque você tem que pensar na sacolinha da sua sombrinha, porque se chover depois você guarda e não molha as coisas da bolsa… Você tem que pensar numa sacolinha extra ali para alguma coisa que acontecer, e você tem que ter a terceira sacolinha para essa ocasião, pra você ajudar um companheiro ali de luta, entendeu? Um trabalhador também. Aí você já a saca sacolinha e entrega. —
E essa senhora, Mamãe Noel, fez isso… Ela sacou ali duas sacolinhas de dentro da bolsa dela e deu pra Thainá pegar as coisas da cesta. Então, Thainá pegou o que deu… Pegou, agarrou aquele vidro de de azeitona que ela não largava mais. A Thainá disse que algumas coisas sim rolaram e ela não conseguiu pegar e ela ficou mal por isso… Mas não eram coisas tão importantes como essa azeitona que ela nunca tinha comido, outras coisas ali gostosas de Natal. E aí Thainá desceu do ônibus… — Depois de um tempo, o motorista ficou esperando ela catar as coisas da cesta. [risos] O papelão ficou por lá mesmo, nem lembra disso. — E aí ela desceu ali, firme, sorridente, com as suas sacolinhas cheias de coisas de Natal e também de coisas da cesta básica e o seu vidro de azeitona caríssimo…
[trilha]Tereza Raquel: Oi, gente… Eu me chamo Tereza Raquel, trabalho na comunicação do Não Inviabilize e falo aqui da região do Cariri Cearense, na Chapada do Araripe. Eu espero que nesse Natal todas as pessoas, todos os seres que não tenham alimentação possam cear, possam comer uma ceia gostosa, que a gente possa ter um olhar dedicado e amoroso a todas as pessoas que nesse momento passam fome, passam por necessidades… O Natal é esse momento da gente se reunir, que a gente se lembre que existem pessoas que não podem fazer isso, que a gente possa dedicar um pouco de tempo a ajudá-las a ter uma ceia, ter um alimento nesse momento. Que nesse Natal todos os seres possam se alimentar, que todos os seres possam estar com quem ama e que todos os seres possam ser acolhidos na sua diversidade. Um beijo pra todo mundo.
[trilha]Déia Freitas: Thainá desceu daquele ônibus completamente molhada da chuva que ela tinha tomado, com a sandália totalmente esgarçada, aberta, a sacolinha cheias de coisas e o seu vidro imenso, chique, de azeitonas pretas enormes e selecionadas. [risos] Thainá disse que não ia largar nunca — mesmo — aquele vidro de azeitona no ônibus. E essa é mais uma história de Natal [risos] que nos homenageia demais, uma história do Natal da classe C. Essa é a nossa quarta história de Natal das cinco histórias patrocinadas pela Coca-Cola. Eu vou deixar o link do filme da campanha O Natal Sempre Encontra o Caminho aqui na descrição do episódio. Um beijo, gente, e eu volto amanhã pra nossa última história de Natal aí patrocinada pela Coca-Cola. Um beijo.
[vinheta] Especial de Natal é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]