título: alpes suiços
data de publicação: 04/01/2023
quadro: férias na zona cinza
hashtag: #alpes
personagens: rogéria e um cara
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Especial de Férias Não Inviabilize. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra última história do nosso Especial de Férias. Semana que vem nós continuamos com o Especial de Férias, só que com um outro tipo de história. Serão quatro histórias do que o povo sempre me pede, que é o Luz Acesa. — [risos] Então, fiquem ligados… — Essa semana tivemos histórias da Zona Cinza e semana que vem histórias de férias aí da Zona Morta. [risada maléfica de criança] E hoje eu vou contar para vocês a história da Rogéria. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]
A Rogéria conheceu aí um suíço aqui no Brasil, eles começaram a namorar aqui, namoraram aqui um ano e resolveram ir morar na Suíça. — Hum, que chique, Rogéria na Suíça e nã nã nã… — [efeito sonoro de avião decolando] E aí tudo certo lá, Rogéria começou um curso e esse cara trabalhava lá e nã nã nã, o tempo foi passando, foi chegando aí as férias, depois de Natal e Ano Novo, né? Rogéria com muita saudade do Brasil, tinha vindo, feito um bate e volta, então o suíço passou o Natal e Ano Novo com alguns amigos e Rogéria voltou pra lá tipo o dia 2, dia 3 de janeiro, porque eles teriam uma viagem de férias e seria uma viagem ali pelos Alpes Suíços… E alugaram tipo uma cabana, um chalézão bonito e tal pra passar dez dias de férias. E seria Rogéria, seu namorado e um casal de amigos do namorado. “Vai ser legal…”, assim esperava Rogéria.
Nos preparativos ali pra passar esses dez dias nos Alpes Suíços, esse suíço falou assim pra Rogéria: “Olha, você pode comprar todas as comidas no seu cartão e depois a gente faz essa divisão lá, quando a gente chegar lá na casa e todo mundo já te dá o dinheiro. Pode ser assim?”. E Rogéria foi lá e fez uma compra pra dez dias. — Tudo que eles iam comer foi a Rogéria que comprou. — E ela comprou também ali muitas cervejas… — Pro pessoal tomar um negócio e tal. — Então, tudo, absolutamente tudo que tinha de comida e bebida naquela casa foi Rogéria que comprou. — Pra levar para aquele chalé. — E aí o carro que eles iam até os Alpes também tinha sido alugado por Rogéria e também todo mundo ia fazer esse pagamento pra ela assim que chegasse lá. E, Rogéria, muito certinha ali nas suas finanças, falou para o suíço: [efeito de voz fina] “Bom, assim que chegar lá e a gente fizer essa divisão, porque eu não sei porque você não quer fazer essa divisão aqui já, assim que chegar lá todo mundo já faz aí essa transferência para mim, combinado?”, [efeito de voz grossa] “combinado”.
E aí Rogéria tinha conhecido esse casal ali, na oportunidade da viagem… — Eu nem viajaria, gente, com um casal que eu não conheço…Passar dez dias em um chalé? Mas enfim… — E aí, no carro, a Rogéria já percebeu que todos falavam inglês e espanhol, mas eles não conversavam ali em inglês e nem espanhol perto da Rogéria e ela não conseguia entender nada. Eles conversavam ali no carro, com a Rogéria dirigindo, em francês. — E eu acho rude, gente, porque eles poderiam falar em espanhol ou inglês pra Rogéria acompanhar as conversas, porque todos ali falavam espanhol e inglês, mas eles conversavam em francês. — E a Rogéria sabia pouquíssimo francês, né? O tempo que ela estava ali na Suíça ela aprendeu uma coisa ou outra. — E nós, brasileiros, a gente tem uma mania de querer saber os palavrões e os xingamentos em francês, sei lá, em outra língua e, naquele caso, ali do francês, a Rogéria tinha aprendido alguns palavrões e alguns xingamentos em francês. Então, quando alguém falava determinada coisa ou pela estrutura da frase ou pela entonação, ela entendia. Mas só realmente ali as coisas mais nessa vibe de xingamento [risos] e de, enfim… —
E ela notou um clima no carro… Às vezes ela ouvia uma palavra ou outra que ela até entendia porque ela já tinha ouvido aquilo num contexto de xenofobia e ela falou: “Meu, não pode ser que esses três estão me sacaneando… Eu aqui que passei tudo no meu cartão”, enfim, né? Chegaram no chalé, os caras, os dois, e a moça mal falavam com Rogéria, mesmo o suíço sendo o namorado da Rogéria. Eles ficavam mais entre eles, falando em francês e realmente parecia que eles estavam falando da Rogéria e eles ignoravam a Rogéria. Mas a Rogéria foi firme ali e fez todo mundo fazer a transferência pra ela das suas partes… E eles começaram a beber, isso já era, sei lá, umas duas da tarde e foi ficando escuro mais cedo… E eles beberam muito, os três… E a Rogéria, como eu já estava cabreira e escutando umas coisas assim, ela foi meio que puxando ali um tradutor, tentando ver umas palavras e ela notou que eles estavam tirando sarro dela, tirando sarro da origem dela, enfim… — Não vou entrar em detalhes aqui, mas eles estavam ridicularizando a Rogéria sim. — E eles estavam muito bêbados, os três…
Rogéria ficou indignada, ela falou: “O quê? Esse maldito…”, que era o namorado dela “Quando se juntou aí com essa racinha dele aí, tirando sarro de mim? Xenofóbico”, enfim… — Horrível, horrível… — Ela se sentindo mal, se sentindo humilhada realmente. E, detalhe: Foi só ela que cozinhou e ela, além de comprar, fazer toda aquela compra pra levar, ela ainda levou os potes, as pôneiwares pra colocar as comidas, enfim, ela fez tudo. E ela falou: [efeito de voz fina] “Poxa, tá parecendo que eu sou empregada desses caras, eles estão me tratando, assim, como uma empregada”. Todo mundo bêbado de cair, foi dormir nos quartos… E eles estavam num chalé isolado, que você só conseguia realmente chegar de carro, era difícil chegar, enfim. Rogéria [risos] tomou uma atitude… Mesmo cada um dando a sua parte no aluguel do carro e nas comidas, Rogéria resolveu pegar o carro, [efeito sonoro de carro dando partida] pegar tudo que ela tinha comprado, que ela tinha cozinhado e ir embora. [risos]
A Rogéria botou tudo no carro e foi embora. Ela passou a noite ali pensativa… E eles estavam muito bêbados, muito bêbados e não acordaram cedo. Ela acordou e, quando ela pensou em toda a humilhação que eles estavam fazendo, era o primeiro dia, Rogéria falou: “Eu não mereço isso, não… Não mereço isso”. O carro era alugado por ela mesma… E ela pegou todas as comidas, todas… Eles tinham levado umas outras bebidas que eu acho que eles já tinham na casa deles, sei lá, destilados, ela deixou o que eles tinham levado, mas tudo o que ela comprou no cartão dela — mesmo eles pagando a parte deles [risos] — a Rogéria levou embora. E aí foi embora, triste, humilhada… Porque, assim, o namorado dela também tratou ela igual lixo naquele primeiro dia. — E não tinha porque, né, gente? —
E aí ela pegou as coisinhas dela e voltou pra cidade. [risos] Dirigiu ali três horas, chegou na casa do namorado, pegou as coisas dela, pegou tudo e foi embora. Só que aí Rogéria fez uma coisa, né? Como eles tinham também pago parte das coisas, ela pegou, botou tudo na geladeira, botou todas as coisas lá, nem a parte dela ela ficou das comidas, botou tudo na geladeira ali do suíço e foi para a casa de uma amiga. Devolveu o carro, pegou as coisas dela, enfim, terminou com o cara… E, quando ela estava voltando na estrada, eles já começaram… O cara já começou a mandar mensagens de que ela estava, onde estavam as coisas, onde estava o carro. [risos] Então, gente, ó, a Rogéria não roubou as comidas, ela só tirou lá da casa, daquele lugar isolado, onde eles não teriam como ir para lugar nenhum… — Mas acho que dava pra telefonar pra alguém, né? Porque a Rogéria falou: “Não, tinha sinal, sim”. E eles que chamassem alguém também, chama um desses seus amigos aí xenofóbico rico também e se vira. —
Então ela não roubou nada, ela botou tudo na geladeira do suíço, mas lá na casa do suíço, [risos] horas de distância do chalé dos Alpes. [risos] Foi errado deixar todo mundo com fome e sem carro, sem ter como voltar lá nos Alpes Suíços? Será? [risos] — Sim, foi errado. Será que foi errado? [risos] — A dúvida é essa… Ela queria saber de vocês se vocês acham que ela errou em pegar as coisas. Enfim, né? Não sei… Ela foi embora, pegou as coisas que ela tinha comprado no cartão dela, o carro que ela tinha alugado, porque também ninguém fez nada, aqueles três só sabiam beber e foi embora… Errou? Não sei se Rogéria errou. Ela não ficou com as comidas, colocou tudo lá na geladeira do cara. Ela ainda respondeu, falou: “Estou indo embora, coloquei todas as compras aqui na sua geladeira, [risos] nos seus armários, está tudo aqui o que vocês pagaram e estou fora. Estou saindo fora”. Fez muito bem em largar o suíço, fez muito bem, Rogéria.
Assinante 1: Oi, Déia, oi, pessoal, aqui é a Nayara de São Paulo. Rogéria, você foi rainha demais… Inclusive, acho que você deveria ter levado sua parte da comida. Como diria minha vó: Quem se mistura com porco, farelo come. Esse cara só mostrou quem ele era, né? E que bom que foi mais rápido, poderia ter demorado muito mais tempo, você ficado com ele mais tempo… Você foi muito corajosa, pegou suas coisas e foi embora mesmo, porque quando amor não está servido, a gente tem que se levantar da mesa, né? Você foi certíssima, acho que você não tem que se sentir culpada. Como eu falei, deveria ter levado sua parte da comida, inclusive porque você pagou, mas essa gente muitas vezes não mostra o que é. E aí quando ele estava com as pessoas que ele se sentiu confortável, ele mostrou quem ele era. Então, parabéns pela sua atitude. Nunca errou, Rogéria.
Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Raquel do Espírito Santo. E eu só digo uma coisa: Se Rogério está errada, eu não quero estar certa. Se ela errou um dia, foi tentando acertar. [risos] Gente, pelo amor de Deus, pânico… Só essa questão de estar conversando sem a pessoa entender dentro do carro para mim já seria um sinal vermelho, assim, apitando… E, assim, pra mim ela está mais que certa. Não se sinta culpada, somos todos Rogériers. Estamos contigo… Você fez certíssimo e ainda teve muita ética de colocar a comida na geladeira, porque se você for colocar na ponta do lápis aí os danos morais deles te humilhando, você nem devolveria essa comida, deixaria eles com fome… Eu acharia pouco. É isso, beijo.
[trilha]Déia Freitas: Então é isso gente, um beijo e segunda-feira estou de volta. Boas férias aí pra todos.
[vinheta] Especial de Férias é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]