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título: canoa
data de publicação: 05/01/2023
quadro: férias na zona morta
hashtag: #canoa
personagens: ana

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Especial de Férias Não Inviabilize. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais uma história do nosso Especial de Férias. — Agora não mais na Zona Cinza e sim na Zona Morta. — Bem-vindos então ao Especial de Férias na Zona Morta. São histórias aí vibe Luz Acesa, então se você tem medo, esteja avisado. E hoje eu vou contar pra vocês a história da Ana. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Ana vem de uma família aí que comprou um rancho… Então juntaram todos os irmãos, dividiram o valor ali e compraram esse rancho. E esse rancho tinha como se fosse uma represa no fundo, né? Vários ranchos davam pra essa represa no fundo. Tanto que boa parte do terreno desse rancho você não podia construir nada, tipo, área preservada essas coisas, né? — Está ali naquele seu espaço, mas você não pode mexer, né? Enfim… — Algumas pessoas que tinham também ranchos nesse lugar, construíram ali pequenas marinas de madeira mesmo, assim, essas represas grandes, assim. — Tipo maior que um lago… Não sei explicar, gente… Vocês sabem represa, enfim… — É como aqui em São Bernardo, não sei se vocês conhecem aqui em São Bernardo, tem um parque aqui chamado Estoril, que inclusive eu tenho uma história péssima… [risos] Eu não sei o que que tinha naquela água do Estoril, se era muito cloro, se era poluída, não sei… Muita gente vai nadar lá, né? E a minha família ia também, porque é tipo uma prainha mais pop, assim… Você não tem dinheiro pra ir para a praia e você vai ali no Estoril aqui no ABC, em São Bernardo. E aí a gente ia e sempre que eu entrava na água me dava muita coceira e eu saía chorando e todo mundo ria… Janaína, inclusive… Ria muito de mim quando eu saía da água pinicando assim… Pinicava demais. E eu odiava ir para o Estoril, odiava… Mas ia, né? Então era tipo isso, tipo o Estoril aqui de São Bernardo. Pesquisem no Google. —


Então no fundo você dava já de cara com essa represa e a Ana ficou encantada… Encantada com aquela água. Esse rancho específico não tinha uma marina, só que o cara que vendeu esse rancho para a família da Ana disse: “Olha, eu construí junto com o rancho vizinho aqui aquele tablado lá de madeira, aquela parte… E tem uma canoa lá que é nossa, uma canoa amarela. Então, se vocês tiverem… Lá tem dois remos, têm a canoa se quiserem passear, mas toma cuidado que é fundo e nã nã nã, precisa comprar colete, né? Quem não souber nadar e nã nã nã”, explicou e tal quando vendeu. Então os adolescentes ali, todo mundo meio que ficou empolgado pra poder aí andar… Andar de canoa? — É andar que fala? Por que você não anda, né? Desliza na água… — Enfim, deslizar de canoa por aquela parte, aquele entorno. 


E aí, no dia seguinte, a família resolveu realmente ver essa canoa e usar essa canoa. E eles passaram o dia fazendo isso. E foi muito gostoso, assim, né? Dava pra você ir em dois nessa canoa e você atravessava uma parte e voltava, atravessava uma parte e voltava… Então eles colocavam um adulto e um adolescente, um adulto e uma criança… Ana disse que eles não tinham colete, então já acho errado, perigoso, mas enfim, deu tudo certo… E eles tinham ido pra passar as férias lá de janeiro, tipo, sei lá, 20 dias. Como vários irmãos compraram, então ia galera, saía galera… — Era aquela rotatividade na casa. — E a Ana um dia que iria andar de canoa, mas ninguém queria ir porque estavam fazendo outras coisas, tinha churrasco, nesse rancho tinha piscina… Então, assim, ninguém queria. — Porque é aquela coisa também, né? Você passa três dias remando pra lá e para cá de canoa acabou, né, gente? Não tem mais que o ver, né? — Isso era uma quatro da tarde mais ou menos… A Ana resolveu ir sozinha de canoa. 


Você tinha que andar um pedaço grande até chegar nesse lugar, nessa pequena marinazinha onde estava amarrada ali a canoa. — Pensa, ó: você tem que entrar primeiro e depois desamarrar.  — Ela entrou na canoa… — E a Ana ela tinha remado com outra pessoa na canoa, outro parente e tal e ela mesmo remando, então ela achou que ela tinha força para ir até o lugar e voltar. — E aí ela começou… E rema, rema, rema, rema… [efeito sonoro de água se movimentando] Foi mais ou menos até uma parte, assim, já bem longe ali da marina. Só que ela não tinha mais força pra voltar… — Porque o bracinho, tipo, vai cansando, né? Se você não está preparado, você dá 30, 40 remadas é uma coisa… Você dar 200 é outra, né? — Então ela não conseguia voltar mais. E ela estava lá na canoa, tipo, no meio… Praticamente tinha um negócio ali, outro ali, outras pessoas, mas muito longe dela. E aí ela foi tentando voltar, fazendo força ali com os braços… E uma hora… [efeito sonoro de tensão] Ela fez muita força e a canoa tremeu, assim, meio que quase virou. E aí ela assustou e ficou parada ali, pensando o que ela ia fazer. 


E, nessa hora, respira, pensa e fica parado, gente… — No máximo alguém vai ver você parada ali por horas e vai te ajudar. — Mas não… A Ana resolveu que ela tinha que se mexer, porque ela estava desesperada. E ela foi de novo tentar remar e perdeu um remo… — Pro Remo não afundar, ela pôs a mão na água pra pegar o remo, se desequilibrou… — E aqui vamos imitar a música aí: A canoa virou. Vocês lembram dessa música? [cantarolando] A canoa virou por deixar ela virar, naninanina… [risos]  Aquela que nem sabe, né? — A canoa que a Ana estava virou… [efeito sonoro de tensão] Ana sabe nadar? Ana sabe nadar. Só que no desespero, ela não sabe o que aconteceu, que ela ficou por baixo da canoa e ela não conseguia raciocinar que era só ela nadar um pouco por baixo e sair debaixo da canoa, assim, né? E ela não sabe dizer o que aconteceu que ela não conseguia subir. Ela ia afundando, afundando, afundando, afundando e se debatendo… — Eu acho que ela ficou desesperada. Eu não sei nadar, eu já tive experiências péssimas em piscina… No mar eu entro muito pouco, assim, só a canela mesmo, mas já tive experiências péssimas em piscinas, assim. Uma quando eu tinha 11 anos também de quase morte e é a pior coisa… Porque parece que dura horas ali, né? Você está, sei lá, menos de um minuto se afogando e dura horas. —


E aí ela se debatendo muito, muito assustada, sem entender direito o que ela tinha que fazer, sendo que ela sabe nadar. Então Ana diz: “Não me pergunte, Déia, o que aconteceu, que eu não sei”. E na cabeça da Ana já tava escuro, mas era porque ela estava ali dentro daquela represa… — A água escura, né? — E aí ela foi se entregando. A Ana diz que aquela sensação de de não aguentar mais segurar o fôlego e de começar a engolir água, ela foi se entregando… Quando a Ana já estava desistindo realmente e, tipo, aceitou, tipo “eu vou morrer”, ela sentiu um tranco… E aí alguém puxou a Ana pra cima, [efeito sonoro de movimento na água] do lado da canoa… E botou ela assim… — Tipo, a canoa estava virada, né? — Botou ela, assim, meio que na lateral da canoa. Quando a Ana olhou, que ela não sabia se ela estava desmaiando, se não estava, ela viu do lado dela um rapaz… — Que provavelmente a Ana diz que ele deve ter se afogado, porque ele estava apodrecido… — Apodrecido com um cheiro muito forte, assim, como se fosse o cheiro de esgoto mesmo. 


E ele não falava nada, ele ficava só olhando pra a Ana. A Ana não sentiu, assim, pânico… Ela ficou com medo, mas ela sabia que o cara não ia fazer nada com ela. E ela ficou ali segurando naquela canoa… Ela não conseguia nadar, não conseguia gritar, não conseguia nada. E ela foi mais ou menos era umas quatro horas, quando foi umas cinco e pouco foi caindo à noite e foi ficando mais escuro… E as pessoas da festa… — Pensa uma família numas 30, 40 pessoas, se não tem alguém ali que quer especificamente falar com você, você não fica prestando atenção, né? — Quando deram falta da da Ana já era quase seis horas da tarde. Ela já estava quase duas horas ali naquela água e toda vez que ela tentava escorregar, ela tentava, assim, morrer mesmo, né? Aquele rapaz segurava ela… E ele não falava absolutamente nada. Ele não tinha uma expressão, assim, nem de ternura, nem de raiva, de nada, de absolutamente nada. Parecia até que o jeito que ele olhava para ela não estava olhando para ela. — A Ana me exemplificou assim, tipo: “Déia, parecia que ele olhava por mim, passava… O olhar dele passava por mim e ia longe, mas toda hora que eu tentava escorregar, ele me segurava”. —


Quando deu ali quase seis horas, as pessoas já estavam na marina gritando, né? “Ana, Ana, Ana”, só que ela estava longe. E aí alguém de um outro rancho teve a ideia de pegar uma lanterna e um jet—ski e meio que dar uma olhada e tal… E aí encontraram a canoa que era amarela, ele bateu ali e viu o casco amarelo da canoa e foi perto, e aí achou a Ana. E aí Ana estava sozinha, segurando na canoa e, enfim, foi resgatada, chamaram um bombeiro e tal. E aí ela saiu da água, recebeu os primeiros socorros, foi para o hospital mais perto e foi liberada depois de algumas horas, fez ali os procedimentos que tinha que fazer e tal, mas depois de algumas horas ela foi liberada… E aí ela só falava isso: “Gente, tem um moço… Tem um moço afogado lá que me ajudou. Tem um moço afogado” e ninguém deu trela. E falaram: “Ah, deve ser alucinação”, enfim, ninguém acreditou na Ana, mas a Ana jura que deve ter alguém preso no fundo daquela represa ali e que ajudou ela.


E a Ana ela não ficou com medo de água, nada e ela é obcecada por aquela represa. Toda vez que aparece no noticiário que encontraram um corpo naquela represa e tal ela tenta pesquisar. No fundo ela acha que o rapaz está lá ainda, preso de alguma forma naquela lagoa. E foi um rapaz que ajudou aí a Ana. Então, que louco, né? Será que é uma pessoa que morreu e, de repente, sei lá, amarraram com pedra alguma coisa e está lá no fundo? Ou é uma pessoa que morreu lá afogado e foi resgatado e tudo, mas ficou lá o espírito? A Ana é obcecada por isso. Ela gostaria de encontrar… Inclusive, palavras de Ana: “Déia, inclusive, eu gostaria de encontrar ele do jeito que ele estava lá, apodrecido, pra poder agradecer. Não tenho medo dele”. — Deus é mais… — Toda vez que a Ana vai, todas as férias que ela vai para esse rancho, ela chama por esse cara… Fala que se ele quiser aparecer, ele pode aparecer pra ela. Ai… Não sei se é bom, hein, Ana? Fazer isso… Né? Sei lá. Manda rezar umas missas pra ele, faz umas orações, mas não fica chamando, né? O que vocês acham?


[trilha]

Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, meu nome é Brígida e eu falo de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Ana, realmente não é bom você chamar esse espírito, porque você pode criar um vínculo com ele, ele é um espírito que ele não encontrou o caminho, né? Obviamente ele está preso ali naquele lago. Provavelmente morreu afogado ali, ou foi assassinado e jogado um corpo ali, alguma situação assim… Então, o que você pode fazer para agradecer é oração, muita oração… Ora bastante por ele. Se você tiver a oportunidade de conhecer, passa perto, saber onde tem um centro espírita, vá até lá… Coloque isso aí para alguém. Na hora que você estiver lá, você mentaliza ele, tá? Porque lá os espíritos mais evoluídos, espíritos de luz, eles vão auxiliar, entendeu? Isso é uma forma de você retribuir o que ele te fez, que realmente ele salvou a sua vida, tá? Mas não chame, apenas ore por ele. Muito. Beijos, fiquem bem. 

Assinante 2: Oi, gente, aqui é a Duane de São Paulo. E, Ana, primeiramente muita gratidão por esse espírito que te salvou, mas eu concordo com a Déia sobre isso de ficar chamando… Eu acredito que não seja um espírito obsessor pelo fato justamente dele não ter te seguido e nem nada, sabe? Que bom que não se tornou um espírito raivoso… Não sei se ele ainda está lá, estou aqui criando teorias, talvez ele tenha morrido e não quisesse o mesmo destino para você e daí voltou e te ajudou… Temos outras histórias aqui no quadro de espíritos que voltaram para ajudar alguém, né? Enfim, não sei se já tentou ir atrás da história dessa pessoa pra realmente agradecer de outra forma, com missas ou com, enfim, outra coisa que um líder espiritual te aconselha a fazer, porque ficar chamando não é muito legal, tá? Um beijo. 

[trilha]

Déia Freitas: Então essa é a história da Ana aí, e amanhã eu volto com mais uma história de férias na Zona Morta. Um beijo, gente, e amanhã eu tô de volta.

[vinheta] Especial de Férias é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]