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título: vida
data de publicação: 13/04/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #vida
personagens: marlene e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem tá aqui comigo hoje é a minha querida Deezer. A Deezer acaba de lançar o podcast Jogo de Cartas em parceria com a Rádio Novelo e o Instituto Update. — Rádio Novelo que eu já amo, né? Praia dos Ossos, República das Milícias, enfim… Tudo. — Jogo de Cartas é um podcast sobre como uma carta enviada por um grupo de mulheres há 35 anos mudou o rumo dos direitos femininos no Brasil e conta a história do chamado “lobby do batom”, um movimento de mulheres de todo o país que mudou a cara da nossa democracia.


O podcast tem 7 episódios e narra a história do passado pra explicar o presente e construir aí o futuro em que as mulheres poderão ser aí as protagonistas e as líderes inquestionáveis da nossa democracia brasileira. Eu vou deixar o link — do podcast Jogo de Cartas — aqui na descrição do episódio. Você pode ouvir gratuitamente na Deezer.  E hoje eu vou contar para vocês a história da Marlene. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Marlene conheceu um cara aí no final da faculdade, eles começaram a namorar e ali dois anos eles casaram. Marlene e esse cara tiveram dois filhos, a vida foi seguindo, tudo bem… O cara tinha um apelido pra ela, então assim, ele chamava a Marlene de “vida”. Então era “vida” para cá, “vida” para lá e nã nã nã. O tempo foi passando e, com dez anos ali de casamento, um dia Marlene estava arrumando umas coisas pela casa e achou um caderninho do marido dela… — Que era tipo um caderninho de conta, sabe? Quando você faz despesa e marca tudo ali num caderninho? — E aí, nesse caderninho, estava escrito, sei lá, as coisas que ele gastou, sei lá, gastou tanto com pneu, isso e aquilo e tinha lá algumas despesas em vários meses que estava escrito “vida” na frente e não era, assim, valor barato, não.


Tinha, vai… Em maio tinha lá: “3 mil reais, Vida”. Aí junho: “2.800 e tantos reais, Vida” e vida era ela… Só que ele não estava gastando com ela em nada, né? Então ela não entendeu aquelas contas e terminou de limpar ali o que ela estava limpando e meio que deixou o caderninho pra lá para perguntar depois pra ele e acabou esquecendo. Depois quando ela lembrou, que ela foi de novo olhar o caderninho… E era engraçado porque, assim, se somasse as despesas ali que ele gastou e mais ali o que estava marcado “Vida”, dava um valor bem maior do que ele ganhava… — Pelo menos do que ele dizia que ganhava, né? — Daí Marlene foi ficando toda confusa, né? Porque nada ali batia… Nem os valores, ele não tinha usado esse dinheiro com ela pra nada, o salário dele não batia também com aquela soma do caderninho…


E aí a Marlene que ia perguntar pra ele, resolveu ficar quieta e investigar. E este homem ele só saía de casa para trabalhar e, duas vezes na semana pra encontrar ali os amigos, às vezes jogar um carteado e nã nã nã. E Marlene pensou: “Pronto, é aí, né? É aí que ele me trai”. Porque, assim, na cabeça dela ele estava gastando esse dinheiro com outra pessoa. Então lá foi Marlene investigar e, realmente, esses dois dias ele ia para o carteado. Então que horas ele traía? Como ele tinha outra? Quanto ele ganhava a mais? E ela não conseguiu descobrir nada e ficou ali cismada um tempo. E não contou pra ninguém, guardou aquilo pra ela. Chegou o final de ano, festa da firma ali do marido, ela foi com as crianças, né? Era uma festa para a família, de todo mundo… E ela está lá na festa… — Assim, tinha até meio que esquecido, deixado esse assunto um pouco de lado, porque ela não tinha conseguido saber de nada, né? —


E aí do nada, Marlene disse que foi do nada, ela olhou pra uma moça lá da firma e falou: “É ela”. — Ela falou que foi uma intuição, um negócio que bateu, que ela olhou pra aquela moça e falou: “Meu Deus, é ela”. — E aí a Marlene começou a prestar atenção no marido dela e naquela moça… E ela viu que realmente eles trocavam uns olhares, sabe? Era uma coisa, assim, meio, sei lá, esquisita. E Marlene ficou observando aquilo a festa toda, assim… Teve uma hora que teve uns sorteios lá e tal e que ele sumiu e ela sumiu, mas Marlene não podia sair dali porque ela estava com as crianças, né? Mas ela ficou de olho e falou: “Ah, agora eu peguei”. — E aí mais uma vez, mais um caso de gente que contrata detetive… —


E Marlene foi lá, pagou e contratou um detetive. E o detetive foi atrás e, assim, não demorou muito… Em 10 dias ele já tinha uma resposta pra ela, e a resposta era que sim, o marido dela estava tendo um caso com a moça que ela bateu o olho cismou do nada. — Como será isso, gente? — E aí Marlene com as informações foi lá confrontar o marido. E aí o marido desconversou, falou que não era isso e nã nã nã, falou que ela estava louca, né? A gente já sabe essa conversinha… E, no dia seguinte, ela foi na empresa e fez um barraco. E aí a moça que estava lá acabou falando pra ela que ela realmente estava com o cara, que ela amava o cara, que isso e que aquilo. A moça sabia que o cara era casado e tudo, né? Mas estava com ela do mesmo jeito.


E aí a moça falou um negócio pra ela assim: Que ele chamava ela de “vida” também, chamava as duas de vida pra não confundir nome… Isso já era uma técnica dele. — Então, provavelmente, aquela não era a primeira amante, né? — Que aí ele chamava todas de “vida”. Tipo, ela falou isso pra mulher do cara, que é a Marlene… Falou: “Você acha que você é especial? Você não é especial, ele chama todas as mulheres que ele sai de “vida”. — E ali ela descobriu que o marido dela era um mega traidor e que o casamento dela inteiro era uma farsa, né? — Só que e agora? E pra terminar esse casamento? Porque, assim, Marlene ainda tinha esperança… — Bom, o que mata o ser humano é a esperança. — Então, Marlene estava ali toda esperançosa que agora que ela tinha colocado tudo, assim, em pratos limpos, que o relacionamento ia dar certo, porque ele falou que terminou com a moça do escritório e que ele queria uma nova chance no casamento. 


Então Marlene falou: “Bom, eu vou dar essa nova chance”. — Ê, Marlene… — E aí o que ficou resolvido? Que dali um mês ele teria férias, né? Esse rolê todo aconteceu ali depois das festas… Janeiro, fevereiro, carnaval ele teria férias e aí eles iam deixar as crianças com a mãe da Marlene e eles iam aí pra um cruzeiro de carnaval. E aí o Cruzeiro estava incrível… A Marlene estava me contando que, assim, quando você vai, você desce pra jantar, você tem que ir com uma roupa mais chique, assim, tem determinados trajes que você não consegue entrar pra jantar… Então tinha todo um glamour e eles estavam bem ali, então eles faziam as coisas lá dentro do navio, tipo, o que tinha de diversão e iam ao jantar toda noite, assim, bem arrumados e tal.


E aí um dia eles estavam lá na cabine e esse cara falou: “Eu vou pegar uma bebida, já venho” e cara não voltou… — Dentro do navio, ele não voltou… — Ele voltou só no dia seguinte. E aí o que ele falou? Que ele bebeu e que ele ficou ali caído pelo navio, sei lá, em alguma parte que ele não lembrava onde era a cabine. E ela pegou no sono, né? Só viu que ele não estava ali quando ela acordou, tipo, 5 e pouco da manhã, né? E não achou ele… Porque ela saiu pra procurar e não achou. Então aí já começou a azedar o cruzeiro, só que tinham mais tipo 20 dias… — Gente, por que vocês vão fazer cruzeiro? Me fala… — Aí Marlene resolveu que, ah, tudo bem, né? Ele pode ter bebido e, sei lá, né? Caiu por aí…


Só que nos dias seguintes ele começou a dar umas sumidas ali… Deixava ela, sei lá, ali do lado de uma piscina, dava uma sumida, voltava… E um dia ela foi mexer no bolso dele pra, tipo, ver a roupa ali, que roupa que você ainda vai usar, a roupa que já está suja e você bota na mala, enfim… E ela achou um bilhetinho… No bilhetinho estava escrito assim: “Vida, amei seu cheiro. Você é muito gostosa”. E, obviamente, aquilo não era pra Marlene, porque tinha anotado um telefone, então o telefone era dele, obviamente que não era pra ela… E aí ali, mesmo antes de terminar o cruzeiro, a Marlene descobriu que o casamento dela já tinha ido afundado, mais que o Titanic. Só que ela tinha mais 10 dias de viagem… Então ela resolveu azeitar e entubar e esperar passar aí esse cruzeiro. Aí quando eles voltaram, que eles chegaram em casa e que ele começou ali a desfazer a mala, ela falou: “Olha, nem desfaz, porque eu quero o divórcio”. 


Aí ele quis dar uma charada, quis falar que não era isso que ela estava pensando e nã nã nã. Só que ela não caiu mais nessa, né? Final da história: Eles se divorciaram, ele casou com aquela moça da firma, casou mesmo, papel passado e tudo… E hoje em dia… Vocês estão preparados? Quem é amante dele é a Marlene. Gente, hoje em dia a Marlene sai com ele de vez em quando, assim, pra transar… E ele continua chamando ela de “vida”, porque ele chama todas as mulheres de vida e ela acha que ok ela transar com o ex. Agora que ele está casado, ela se sente vingada e ela, assim, ela gosta… Então ela tem lá os namoradinho dela e tal, os ficantezinhos e, de vez em quando, ela transa com o ex. Eu fiquei chocada… — Chocada, Marlene. — Ainda perguntei: “Mas você não fica mal, sei lá, né? Não tem medo de voltar a gostar dele, entrar nessa cilada de novo?”, ela falou: “Não… Eu agora eu estou em outro patamar, assim… Não ligo. E de vez em quando ele vem aqui e a gente transa sim”. — Eu fiquei em choque. [risos] — Mas, né? O que eu vou dizer pra você, Marlene? Além de que eu acho isso uma furada.

[trilha]

Assinante 1: Olá, Déia, olá, todo mundo, eu sou Fernanda e falo de Portugal. Ô, Marlene… Então, não quero te julgar, juro, só você sabe o que você passou, mas assim, de um olhar de quem está vendo de fora, eu acho que você merece mais, eu acho que você merece um relacionamento saudável, de um lugar feliz, sabe? Um recomeço… E ficar mexendo nessa história, por mais que você não seja mais apaixonado por ele, é uma história já pesada, cheia de mágoas, cheia de feridas, será que vale a pena? Será que essa vingança vale a pena? E, assim, a parte que mais me irrita nessa história é que esse babaca desse seu ex ele faz tudo isso, ele é um cretino e no final ele consegue tudo o que ele quer. Ele continua com você, continua com as outras… Nada mudou na vida dele, ele continua tendo todas as vantagens de ser um babaca, sabe? Isso me deixa realmente muito chateada. É isso, Marlene, bola pra frente, vai arranjar um relacionamento melhor, ou mesmo sozinha, mas sai dessa história horrorosa. Beijos. 

Assinante 2: Oi, meu nome é Natácia e eu falo do Japão. Marlene, eu não te julgo porque eu sou dessas… Eu com certeza faria isso e te digo mais: Eu ia dar um jeito de estragar a vida dele de qualquer forma, mas eu, como sou um ser nem um pouco evoluído e vingativo, eu não te julgo, eu acho que tu tá mais do que certa. Tudo de bom para ti, espero que tu não caia na cilada de se apaixonar por ele de novo, né? Felicidade. 

[trilha] 

Déia Freitas: Ouça Jogo de Cartas gratuitamente na Deezer e conheça aí o capítulo da história do nosso país que foi fundamental para moldar os direitos femininos, — que a gente tem atualmente, né? —mas que não está presente nos livros de história e é pouco conhecido até hoje. Jogo de Cartas é mais um podcast aí que tem rádio Novelo. — Que eu amo tanto. — Valeu, Deezer, obrigada pela parceria. Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.