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título: debaixo da cama
data de publicação: 24/07/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #debaixo
personagens: cássia

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra um Luz Acesa. E hoje eu vou contar para vocês a história da Cássia. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Cássia ela trabalha aí em um banco como caixa, escriturária, enfim, tem um serviço mais básico no banco. É um serviço intermediário que ela tá enquanto ela se forma na faculdade. A Cássia só teve oportunidade de fazer faculdade agora, depois dos 30, então ela tem muita coisa pra conquistar ainda e está aí na batalha. E, entre essas coisas que Cássia está conquistando, ela conquistou agora a oportunidade de morar sozinha. Cássia conseguiu um pequeno apartamento no centro da cidade de onde ela mora — é perto do banco, então ela vai a pé — e é um apartamentinho pequeno, mas assim, super ótimo, num prédio muito antigo e esse é o problema… 

Cássia se mudou num sábado de manhã. E é um prédio que os os proprietários ali eles eliminaram a figura do porteiro e colocaram um porteiro eletrônico. Então, quem chega lá toca o seu andar lá, o seu apartamento e você destrava e a pessoa sobe. — A segurança ficou um pouco comprometida? Eu acredito que sim, mas é o que os prédios antigos vêm fazendo também, né? — Nesse prédio, quando você entra, continua tendo a mesinha da portaria, a cadeira ali, mas não tem mais a figura de um porteiro e isso foi passado para Cássia bem antes dela alugar e tal. — E ensinaram lá como é que faz, né? Pra você ver pela câmera quem vai entrar, quem está te chamando ali e você deixar entrar. —  Os elevadores eles têm a manutenção em dia, são reformados, mas são elevadores antigos. E Cássia ela fez toda a mudança ali pelo elevador de serviço e, quando ela terminou, ela estava tão feliz, tão eufórica, assim, que ela tinha subido as coisas… — Ainda tinha tudo para arrumar, hein? — Ela falou: “Bom, agora eu tenho só que descer pra subir as minhas plantas e eu vou descer pela escada, pra conhecer a escada”. Cássia morando ali, no quinto andar, resolveu descer as escadas. 

Ela desceu um lance, dois lances… No terceiro lance, ela encontrou ali uma senhora e ela falou pra senhora: “Bom dia”, “Ah, bom dia”, nem falou que era nova no prédio, nada e a senhora simplesmente não olhou para ela e continuou subindo. Cássia falou: “Bom, primeira antipática que eu encontrei no prédio, né?”. Desceu, pegou as plantas ali que faltavam, botou no elevador e subiu. Quando Cássia chegou no quinto andar, que era o andar dela, essa senhora estava lá. E essa senhora estava vestida como se fosse um desses vestidinhos de viscose, sabe assim? E aí Cássia reparou que ela estava descalça. [efeito sonoro de tensão] Ela estava ali, são quatro apartamentos por andar, ela estava na porta de um dos apartamentos olhando pra Cássia. Cássia falou de novo: “Bom dia”, ela não respondeu de novo e Cássia entrou no apartamento com as plantas. [efeito sonoro de porta batendo] 

Ali era móvel para arrastar, coisa para fazer, enfim… Cássia demorou o sábado inteiro e uma parte do domingo para poder ajeitar suas coisinhas ali no apartamento novo… Segunda—feira pela manhã, Cássia acordou para ir trabalhar e, quando ela chegou na sua cozinha, ela reparou que tinha ali uma frigideira em cima da pia que ela não lembrava de ter deixado. [efeito sonoro de tensão] Cássia fez ali seu café, lavou a loucinha e tal, saiu, foi trabalhar, foi para o banco. Lá pelas sete da noite, que ela chegou no apartamento dela — foi um dia que ela não ia pra faculdade —, os armários da cozinha estavam todos com a porta aberta. E eram armários que já eram daquela cozinha… Cássia não precisou botar armários, eram armários que estavam conservados e tal, mas as coisas delas já estavam dentro do armário, né? Cássia não pensou, fechou as portas ali do armário e foi fazer as suas coisinhas e foi deitar, que no outro dia cedo aí sim ela já teria faculdade, então ela tinha que fazer uma marmitinha a mais, enfim, coisas de quem passa o dia inteiro fora de casa. 

Quando deu dez horas da noite — que era o horário da Cássia dormir — ela sentou na cama e foi fazer ali uma prece que ela faz — nada muito elaborado, um Pai—Nosso que seja, para agradecer ali as coisas que ela estava conquistando… — quando, de repente… [efeito sonoro de tensão] A Cássia sentiu que algo segurou seu tornozelo. [música de suspense] O que você pensa? — Eu: um bandido, “está embaixo da cama, pegou meu pé já aqui”. — A Cássia se desvencilhou daquela mão e correu para a porta da sala e já saiu gritando. [efeitos sonoros de gritos] Acordou o andar ali, os outros três apartamentos… Um cara saiu, ela nem conhecia o cara… Ela falou: “Tem alguém no meu apartamento, pelo amor de Deus, tem alguém no meu apartamento”. O cara pegou uma barra de ferro… — Quem tem uma barra de ferro no apartamento? O cara tinha… — Pegou uma barra de ferro e entrou no apartamento da Cássia, olhou tudo, não tinha nada… Enquanto isso, a esposa do cara ficou junto com a Cássia. O Cara olhou e falou: “Olha, moça, não tem nada…”, aí eles se apresentaram ali e tal e falou, sei lá: “Meu nome é Éder, essa aqui é minha esposa Joana e tal” e a Cássia falou: “Meu Deus, mas seguraram meu tornozelo”. A Joana olhou para o marido, para o Éder, e eles fizeram uma cara assim e falaram: “Não foi nada… Às vezes você tá muito cansada” e entraram, né? “Ah, tudo bem, qualquer coisa você chama”. 

Cássia entrou novamente para o seu apartamentinho, o cara tinha olhado tudo, não tinha ninguém e Cássia foi tentar dormir… Foi deitar e, assim, que a Cássia deitou, ela ouviu um barulho embaixo da cama. Em vez de ficar com medo, a Cássia ficou irritada, irritada… Tipo: “Olha o escândalo que eu já fiz, já chamei vizinho… Não tem nada nessa casa. Para. Isso é coisa da minha cabeça”. E aí a Cássia, do jeito que ela estava deitada… — Sabe quando você se debruça para olhar embaixo da cama? — Assim que Cássia se debruçou e olhou embaixo da cama… [efeito sonoro de tensão] Ela deu de cara com aquela senhora que ela tinha encontrado na escada, depois no andar dela e agora a senhora estava embaixo da cama dela… Ainda assim, Cássia não pensou em fantasma, aparição, assombração… Cássia pensou numa senhora, talvez com alguma questão mental e que, numa bobeada, entrou e se escondeu na casa. 

Cássia abaixada do jeito que estava, falou: “Senhora, por favor… A senhora não mora aqui… Vem aqui que eu te ajudo” e já foi descendo da cama e agachando assim — tipo de gatinho no chão — pra ajudar a senhora a sair debaixo da cama. Quando Cássia já estava no chão e ela ficou meio que quase deitada, olhando para baixo da cama para a senhora, o rosto dessa senhora começou a enrugar, enrugar, enrugar e fechar, fechar, fechar… E a senhora desapareceu… A Cássia ficou com vergonha de gritar, porque ela já tinha gritado muito… E ela ali no chão, do jeito que ela tava, ela começou a passar mal, a ter uma palpitação e falou: “Meu Deus, não pode ser”. Só que ao mesmo tempo que a senhora sumiu de debaixo da cama, ela escutou barulho na cozinha dela… Ela falou: “Não, não pode ser”. Passando mal, Cássia levantou e foi até a cozinha… Chegando na cozinha, a senhora estava lá, abrindo armários, mexendo em tudo, em tudo… E ela via a Cássia e era como se ela estivesse brava, querendo mostrar que era ela que morava ali. 

E aí a Cássia não aguentou, saiu e foi bater ali no apartamento do Éder e da Joana e falar: “Meu Deus do céu, tem uma senhora no meu apartamento e ela não é viva. Vocês me desculpem, eu não tenho com quem falar isso agora, eu não consigo ficar lá”. E aí a Joana olhou para o marido e falou: “Entra, entra aqui” e eles contaram que aquele apartamento estava sempre para alugar, porque aquela senhora que ela estava vendo ali era uma senhora que tinha morado ali — vai, X, dona Maria — e que ela não tinha saído do apartamento. Ela morreu ali… E, detalhe: Ela foi encontrada morta embaixo da cama. E pelo que o Éder e a Joana sabem, foi alguma foi alguma coisa que deu nela de saúde e ela acabou rolando por baixo da cama, sei lá, teve um piripaque, morreu. E agora, todo mundo que alugava aquele apartamento, falava que ela continuava embaixo da cama… Então ela sai, ela mexe nas coisas do banheiro, ela mexe nas coisas da cozinha e ela volta para debaixo da cama. E alguns moradores encontram com ela pela escada e, a Dona Maria, ela nunca pegava o elevador. Ela tinha medo de elevador… Então, ela só ia pela escada… Então, muitos moradores ainda encontram a Dona Maria pela escada. 

E aí, sabendo da história da dona Maria e sabendo que ela aparece lá, Cássia resolveu ficar… Cássia resolveu ficar e, sei lá, rezar, tentar que Dona Maria saísse. Só que ela aguentou um mês. O mês ali de aluguel, porque falou que Dona Maria fica embaixo da cama e ela arranha a cama, ela puxa seu pé, ela geme e dá risada baixinho, assim, pra assustar mesmo… — Dona Maria, olha… Nem sei porque dei nome, hein, Dona Maria? Nem sei… Estou aí botando na conta do além que a senhora não sabe o que está fazendo. — E que Dona Maria fica a maior parte do tempo mesmo embaixo da cama e que, à vezes, a Cássia chegava e sabe quando você vem do corredor, você entra no seu quarto, você olha embaixo da cama e você vê os pezinhos descalços de dona Maria? — Os pezinhos sujo ainda de dona Maria embaixo da cama. — Você não via a Dona Maria andando pelo apartamento, ela aparecia na cozinha — no banheiro Cássia disse que nunca viu — ou estava embaixo da cama. 

E aí, eu que sou dos anos 80, eu lembro de uma música… [risos] Ai, vou quebrar o clima… Mas quando eu li essa história tinha uma música da minha época que eu não sei quem cantava, mas eu era criança ainda, que era: [cantarolando] A véia debaixo da cama… A véia pegava um gato… Eu não sei, não lembro a letra, mas era “a véia debaixo da cama”. E aí é a dona Maria a véia embaixo da cama… [risos] Ai, desculpa… [risos] Aí deu um mês, a Cássia não aguentou e acabou saindo do apartamento, acabou pagando a multa e saiu para um outro apartamento, um pouco mais longe de onde ela tinha alugado, que era muito bom o ponto ali onde ela estava, mas ela foi para um lugar mais longe — mas em paz — sem nenhum espírito aí. Então, Dona Maria morreu naquele apartamento, viveu muitos e muitos anos ali e ficou ali… Agora vamos ver, quem sabe alguém consegue tirar a véia debaixo da cama. [risos] A Dona Maria. — Eu vou depois pesquisar essa música, porque realmente ela existe. Será que é coisa do meu imaginário infantil? Não é, não. Eu lembro dessa música “a véia debaixo da cama”, o Didi cantando. Bom, coisa de trapalhões, né? —

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, tudo bom? Sou Carol Rodrigues de Fortaleza, Ceará. Eu tava ouvindo um episódio de parecido e o nome é “Maldade” e, assim como a Cássia, essa moça também foi embora. E eu acho que esse é o melhor conselho, sabe assim? Eu acho que quando esses seres assim estão presos naquele lugar, é muito difícil eles se desapegarem. Eu acho melhor partir pra outra, né? Igual como a Cássia fez. Cara, eu ri muito quando a Déia falou que a Dona Maria não merecia nome, [risos] porque ela arengou que só com a pobre da Cássia, viu? Mas, ó, eu lembro demais da música e eu tenho a letra aqui e eu acho que era o Didi que cantava: [cantarolando] A Véia debaixo da cama, a véia criava o rato… Na noite que se danava, o rato chiava e a véia dizia: Ai meu Deus se acaba tudo , tanto bem que eu te queria… [risos] Cheiro, gente… 

Assinante 2: Olá, Déia, olá, Não Inviabilizers, eu sou Lívia Montes Claros, Minas Gerais. E com certeza iria tomar a mesma atitude da casa, gente, não dá para concorrer contra fantasmas, não, meus amores… Morro de medo, não sou nem maluca. Eu fiquei mais chocada ainda porque histórias de espíritos atazanando o apartamento não é a primeira… Então eu já tenho na minha lista: não alugar nenhum outro apartamento… Sem antes olhar a história do lugar, qualquer sinal, assim, meio paranormal, já não, entendeu? Gente, eu estou chocada, chocada com essa história… 

[trilha]

Déia Freitas: Então é isso, gente… Desculpa quebrar o clima de terror com a véia debaixo da cama, musiquinha, mas a música existe sim e eu vou procurar para vocês. Um beijo, Deus me livre, hein, Dona Maria? E eu volto em breve. 

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.