título: roupas
data de publicação: 08/02/2024
quadro: luz acesa
hashtag: #roupas
personagens: dona nice
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Luz Acesa. — E hoje eu não tô, sozinha, meu publiii… — [[efeito sonoro de crianças sorrindo maleficamente]] Quem está aqui comigo hoje de novo — amo — é a HBO Max e a série “True Detective”. A quarta temporada, que se chama “True Detective: Terra Noturna” acabou de estrear e, gente, True Detective é super premiada, a série já ganhou o Emmy cinco vezes. Ela é uma antologia, você não precisa ter visto as temporadas anteriores, já que cada temporada tem uma história diferente. — Eu sugiro que você veja tudo para você pegar a vibe da série. — True Detective é uma série HBO Originals. — Amo, ó, meu inglês… [risos] O inglês Joel Santana, eu amo. [risos] — True Detective é uma série HBO Originals, estreada pela vencedora do Oscar, Jodie Foster, e pela também incrível, Kali Reis. — Que eu já falei aqui, que além de excelente atriz, ela é uma boxeadora aí de primeira. — A série mistura thriller sobrenatural, investigação criminal e mistérios que fazem a gente querer realmente maratonar para descobrir tudo de uma vez só. — Eu amo. —
A quarta temporada acabou de chegar, assina HBO Max e todo domingo tem um episódio novo. — Sério, gente, True Detective é muito bom, não é à toa que ganhou tantos prêmios. — Eu vou deixar o link certinho aqui na descrição do episódio. E, olha, eu tenho que dizer que essa história me assustou além da parte sobrenatural, assim… O que aconteceu com Dona Nice foi muito sério. Eu vou contar hoje para vocês a história da Dona Nice quando ela era jovem e o que aconteceu quando ela mudou de casa junto com a família. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]Dona Nice, sua mãe, seu pai e seu irmão mudaram de cidade para uma cidadezinha no interior aí do Brasil e mudaram para uma casa muito boa, assim, em vista de onde eles moravam antes, né? Era uma casa ali que tinha seus três quartos, uma boa sala, uma sala de jantar, uma casa boa, assim, muito boa. O pai da Nice tinha ido trabalhar nessa cidade numa extensão dos trilhos de trem, pra aí uma concessionária dessas de ferrovia e tal. — Que nem brasileira era, mas estava fazendo aqui os trilhos de trem no Brasil. — Dona Nice amou a casa e o irmão dela também. Só que, assim, a mãe dela, de dona Nice, logo se inteirou ali, arrumou umas amigas e tal, então elas começaram a fazer obras na Igreja. — Católica. — Então, geralmente, a mãe estava assim, durante o dia fazia as coisas de casa ali e depois do almoço ia pra a igreja de manhã, ali, depois do café ia ajeitar as coisas e ia para a igreja…
E Nice ela estava com 16 anos e era uma época que você estudava até a quarta série, então ali até você ter 10, 11 anos e depois não estudava mais, assim… Não é que você não ia porque você não queria, porque o estudo era até ali e quem estudava mais era só quem tinha dinheiro, né? Então ela estava já em casa, fazia as coisas de casa, ajudava a mãe e o irmão de dona Nice — Nicinha, como ela era chamada na época, o irmão de Nicinha — já trabalhava numa venda de frutas e verduras de fazer entregas. Então ele fazia as entregas e também não estava em casa. Então, quem ficava mais em casa era a Nice. Um dia, umas três horas da tarde, a Nice estava ali fazendo alguma coisa — que ela não lembra bem, mas alguma coisa de casa —, quando ela sentiu um vento passar nas costas dela e ela estava num lugar ali que não tinha, assim, duas janelas para fazer aquela corrente de vento… Ela achou estranho e Nice virou, mas assim, não pensando em nada, né? Assim “ai, nossa um vento, né?”.
Quando Nice virou, ela virou de frente pra onde vinha o vento e ela viu o vestido da mãe dela flutuando, como se estivesse vestido em alguém. — Você põe o vestido e ele marca ali seu corpo um pouco. — Então, parecia que tinha um corpo dentro do vestido, uma pessoa dentro do vestido, mas você não via nada… Você só via o vestido flutuando. Ela não conseguia entender o que estava acontecendo, como assim um vestido voando? E ainda, assim, ela não associou com nada sobrenatural. Então ela foi na direção do vestido e pegou o vestido. Conforme ela esticou a mão para encostar no vestido, Nice foi jogada longe. E aí sim, só aí Nice falou: “Meu Deus do céu, isso não é de Deus”. E aí Nice saiu correndo de casa e foi pra igreja, porque a mãe dela tava lá na igreja… — Igreja Católica. — E aí chegou na igreja esbaforida e pedindo para falar com a mãe, a mãe foi e ela falou baixinho, que ela não conhecia ninguém na cidade… A mãe tava enturmada, mas ela com aquelas senhoras não, né?
E aí ela foi e falou pra mãe: “Mãe, aconteceu uma coisa, seu vestido estava voando lá em casa, não sei o que”. E aí a mãe da Nice falou: “Para com isso, menina, vai pra casa” e mandou a Nice embora, não foi com a Nice. E aí Nice ficou do lado de fora da casa até que o irmão dela chegasse — que era o primeiro a chegar ali do trabalho, né? Depois que ele entregava de bicicleta as verduras e frutas e tal —, e aí ele chegou de bicicleta e ela contou pro irmão, o irmão riu, entrou na casa e nada aconteceu. E aí o pai chegou, ninguém comentava desses assuntos com o pai… A mãe voltou da igreja, não tocou no assunto, falou que aquilo era uma besteira da Nice, né? E todos foram dormir. Nice não conseguia dormir e ela ficou sentada na cama, rezando… E rezando pedindo a Deus que ela não visse mais nada. Só que conforme ela estava ali rezando, umas roupas que estavam numa cadeira no quarto [efeito sonoro de suspense] começaram a levantar e tomar forma, como se aquelas roupas fossem colocadas em pessoas, assim. — Sabe quando você vai botar um vestido que você levanta os braços e aí o vestido desce e aí já fica marcado no seu corpo? —
As roupas flutuaram e já tomaram a silhueta de corpos ali, assim… E a Nice falou que eram umas cinco peças de roupa assim, flutuando pelo quarto, flutuando em volta dela e esbarrando nela, como se tivesse atacando ela. E aí a Nice fez uma coisa que eu acho que a maioria das pessoas faria: Ela saiu do quarto gritando. — Gritando… — E, conforme ela saiu do quarto gritando, aquelas roupas foram atrás dela, do corredor até a sala, e aí acordou os pais e acordou o irmão e eles saíram do quarto e viram o quê? Aquelas roupas no chão. E a Nice gritando muito, gritando muito e aquilo passou a acontecer frequentemente… Só a Nice via aquelas roupas flutuando. E aí um dia — era uma manhã — a mãe da Nice não tinha ido pra igreja… Ela sempre ia, aquele dia ela não foi e chegaram dois homens vestidos de branco na casa da Nice, pegaram a Nice com força, na frente da mãe dela, com ordem da mãe dela e levaram a Nice internada para um hospital psiquiátrico.
Tinha sido um acordo entre os pais e o irmão — fizeram ali sem a Nice saber — internaram a Nice num hospital psiquiátrico… — E, assim, foi uma passagem da vida da Nice, assim, muito, muito, muito horrível e que a gente não vai tocar aqui. — Ela ficou internada um mês nesse hospital psiquiátrico e ela acha que os pais e o irmão, por eles, deixariam ela lá a vida toda. Por que eles tiraram a Nice do hospital psiquiátrico? Porque depois de uns 20 dias que a Nice estava internada, os pais e o irmão começaram a ver as roupas flutuando em casa. E eles também eram atacados pelas roupas, que provavelmente seriam espíritos vestindo as roupas. — Eu não sei dizer o que era isso… — Enquanto isso, a Nice estava lá, sofrendo muito, muito, sendo torturada no hospital psiquiátrico. Esses espíritos que estavam nessa casa, com a Nice eles parecia que eles zombavam, eles giravam em torno da Nice… — Não sei… —
Agora, dos outros três da família, eles começaram a atacar e a machucar as pessoas da família da Nice, os três. E aí depois que eles foram saber que aquela casa tinham várias histórias, que ninguém ficava lá porque a casa ela tinha sido construída por um cara que tinha muitas plantações de café num determinado lugar ali perto e um dia ele cismou que a mulher dele ia fugir com um escravo dele e ele matou toda a família. Ele matou esse escravo — que era um escravo que trabalhava na casa, ficava lá dentro da casa —, matou a esposa e matou as seis crianças… — Essa era a história que corria na cidade sobre aquela casa. — O pai e a mãe da Nice, mais o irmão, eles se mudaram da casa, e aí vocês me perguntam: “E aí, agora que eles viram que aquilo era real e que o que ela estava vendo ela não estava louca, eles tiraram ela do hospital psiquiátrico?”, não… Eles mudaram e quando deu um mês ali que ela estava internada, eles tinham que assinar e renovar o negócio, porque ela foi para um lugar que era, assim, você tinha que pagar umas taxas, não era totalmente público e como eles não renovaram, não apareceram, o hospital jogou a Nice na rua.
A Nice foi abrigada num convento onde ela ficou por dois anos e, nesse convento, ela também via muita assombração e ficava atormentada. Ela chegou até a pensar que realmente devia ter algum problema psiquiátrico, porque onde ela ia ela via assombração. — Mas, gente, convento… Grande possibilidade de ter, né? De ter coisa. — E aí ela ficou por dois anos nesse convento, quando ela conheceu um rapaz que entregava leite lá no convento e eles se apaixonaram e casaram. [efeito sonoro de sino soando] E o casamento durou tipo 50 anos, até que ele falecesse. Ao longo da vida, Nice reencontrou alguns parentes — de antes de eles terem mudado para aquela casa mal—assombrada, que era tudo na casa, né? O que tinha ficou na casa, não foi nem embora com a Nice e nem com a família dela — e, por esses familiares, ela ficou sabendo do paradeiro dos pais e do irmão e que eles não queriam mais contato com ela, porque como ela foi para um hospital psiquiátrico, ela ficou marcada, então seria ali uma mulher que não prestava mais para a família.
E aí que ela ficou sabendo que eles tinham sido atormentados também pelos fantasmas e por tudo ali que acontecia naquela casa, que com eles tinha sido pior até, que eles eram bem machucados assim… — Por esses espíritos que estavam nessa casa. — Dona Nice hoje uma idosinha muito fofa, maravilhosa, disse que nunca mais ela deixou roupa largada na cadeira e nada… E que até hoje ela lembra da visão, assim, das roupas flutuando, girando em torno dela e passando por ela, encostando nela com o formato mesmo dos corpos dentro da roupa. — Não era roupa, assim, sabe? Sem nada, só voando, não, era como se as pessoas tivessem vestido as roupas ali da Nice. —
Então, essa é a história da Nice… Me assustou mais a parte onde ela não foi compreendida e foi jogada num hospital psiquiátrico, né? E depois foi jogada na rua e a família realmente virou as costas pra ela, do nada. Assim, porque ela gritou, que ela ficou assombrada… Então, isso me assustou mais do que os vestidos e as roupas todas flutuando, mas confesso para vocês que pensar em estar assim aqui, ó, agora parada, e uma roupa minha subir flutuando e tomar corpo, já me apavora…
[trilha]Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Thaís de São Paulo. Nossa Senhora, como eu fiquei com medo dessa história… Medo dos mortos e também medo dos vivos, como é comum a gente ver nas histórias de Luz Acesa. Sinto muito que isso tenha acontecido com a senhora, principalmente o período de internação, acho que ninguém merece passar por isso, fiquei muito feliz no final da história de saber que a senhora ficou bem, encontrou um amor, construiu uma família… Acho que esse também é um momento importante de lembrar que dia 18 de maio é o dia da Luta Antimanicomial, que é muito importante… Foi muito importante nesse país. E é isso, um beijo, se cuide e beijo Déia.
Assinante 2: Oi, gente, meu nome é Blenda, eu falo do Rio de Janeiro. Por uma incrível coincidência, eu estava arrumando meu guarda-roupa agora e desde muito nova minha vó sempre brigou comigo pra eu nunca deixar roupa jogada, roupa embolada porque atraía coisas ruins… E agora depois de ouvir a história da Dona Nice, eu confirmo que minha vó está coberta de razão. Então, do mesmo jeito que Dona Nice disse que não deixava mais roupas jogadas, eu vou ouvi-la e ouvir o conselho da minha vozózinha que nunca errou e pararei de deixar roupas jogadas. E eu aconselho a todos a fazerem o mesmo: Arrumem seus guarda-roupas.
[trilha]Déia Freitas: A quarta temporada da aclamada série True Detective, intitulada “True Detective: Terra Noturna”, acabou de chegar. Então, ó, entra, assina HBO Max… A série mistura thriller sobrenatural com investigação criminal, cheia de mistérios. — E, gente, tem Jodie Foster, né? Precisa falar mais nada. — Assina HBO Max, todo domingo tem um episódio novo pra você assistir e a gente comentar aí, pode ser até nas nossos lives de quinta—feira. — Então é isso, gente… — Valeu, HBO Max. — Eu volto em breve. — Amo… —
[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]