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título: suor da carne
data de publicação: 28/03/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #suor
personagens: lara e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. E hoje eu vou contar para vocês a história da Lara. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha] 


A Lara ela conheceu um cara aí no Twitter e eles marcaram uma conversa num café, pra quebrar o gelo e tal… — Isso tem muitos anos já, na época que eu contava histórias ainda por escrito no Twitter. — E aí eles marcaram, foi tudo lindo, eles conversaram bastante, se deram super bem… No café a Lara chegou primeiro, ela comprou o café dela, e aí depois ele chegou e se apresentou e tal, e aí ele foi lá e comprou o café dele — tipo na Pôneibucks, que você tem que ir até o caixa para comprar o seu café — e na hora de ir embora eles trocaram uns beijos e marcaram ali um novo encontro para um sábado. E aí durante a semana eles conversaram bastante e acabaram falando umas putarias. Isso significava que aquele encontro do sábado seria, sei lá: “Vamos tomar cerveja e depois vamos para o motel ou vamos um pra casa do outro”, era isso que Lara esperava. 


Eles se encontraram direto no bar, o bar era perto da casa da Lara, então ela costuma marcar esse primeiro encontro num lugar que, se der alguma coisa ruim, era perto da casa dela, né? E aí eles sentaram na mesa, super de amorzinho assim, super fofinhos e tal… E a Lara ela não bebe, então ela pediu ali um refrigerante e o cara pediu uma caipiroska. — A caipiroska ela é mais cara porque ela é com vodca, né? — Junto com a caipiroska, ele pediu uma porção de filezinho mignonzinho, cortadinho, sem cebola… — Ainda bem que ele pediu sem cebola. — Mas ali a Lara já pensou: “Poxa, ele vai comer carne?”, porque a ideia era depois eles terem um negocinho, né? Então, como é que você vai me pedir uma carne? — Meio pesado, mas tudo bem… — E aí veio um negócio bonito, uma cesta bonita de pães, com alguns patês, que era uma cortesia do bar, couvertzinho ali… A Lara deu uma beliscadinha porque ela queria depois transar com ele. — Então ela não queria comer muito… — Conversa vai, conversa vem, o cara pediu mais uma caipiroska, comeu toda aquela travessa de carne… 


E, não satisfeito, ele pediu meia porção de calabresa com queijo e uma cerveja. Enquanto isso, a Lara tava lá no pãozinho — cortesia do bar — e no refrigerante. O cara terminou a meia porção de calabresa com queijo e pediu uma porção de torresmo. — Gente, como que ele ia fazer qualquer coisa comendo tudo isso? — E mais uma cerveja… — E não era, assim, a cerveja mais baratinha… Era uma cerveja mais carinha. — Lara já assustada do tanto que esse cara comeu, ela convidou ele para ir até a casa dela, porque se não o cara ia ficar ali comendo e, poxa, e depois, né? Bom, aí o cara foi e pediu a conta… — Esse barzinho era um barzinho ali no Itaim, então bairro mais chique e tal, né? — E a conta deu duzentos e tantos reais. Ele virou pra Lara e falou assim: “Bom, vamos rachar”. — Ela só consumiu uma coca, gente… Ela não triscou naquela carne, naquela calabresa com queijo, naquele torresmo… Ela não comeu nada. — E aí a Lara, já irritada, virou pro cara e falou assim: “Não, não, vamos cada um pagar o que consumiu”, nisso o cara foi ficando amarelo… 


E começou a dar nele uma coisa que eu chamo de “o suor da carne”. [risos] Quando a pessoa come muita carne, eu tenho milhares de anos que não como carne, mas por exemplo, vai num churrasco e vê aquela pessoa que ela não come nenhum acompanhamento, nada, ela só come carne… Vai chegar num determinado ponto daquele churrasco que ela vai tá com um suor meio grosso, que pra mim isso é o suor da carne. [risos] E aí esse cara ele começou a passar mal, assim… Começou a passar mal porque, sei lá, conta, a parte dele era tipo uns 240 reais e a parte da Lara era 12 reais… — Que é caro já, né? Mas esse era o correto e ele acho que não estava preparado, né? Pra ela falar que não, que ela ia pagar só a parte dela. O certo seria ele pagar a dela, não seria? Mas ele não pagou. — O cara virou para a Lara e falou assim, já suando, passando mal: “Eu só tenho 53 reais”. Ele não tinha nem a metade da conta… Porque se a conta, vai, deu 250 e poucos, ele não tinha 125, ele tinha 53 reais… Como assim? Como ele pediu tudo aquilo de comida? O que ela pensou: “Talvez que ela fosse ficar sem jeito, e aí ela, sei lá, ia acabar pagando sozinha?”. [risos] 


Foi ele que escolheu o bar, então ele devia saber os preços — ou pelo menos ter pesquisado, né? — então esse cara ele começou a passar mal real… E a Lara que não é trouxa e nem nada… — Porque, gente, eu nessa hora eu acho que eu já tinha dado o meu cartão para pagar, assim, porque fica aquele clima, sei lá, o garçom ficar por ali, né? — E aí ela falou pra ele que só tinha 30 reais, que por isso que ela não tinha comido nada… O que era uma mentira, mas ela não queria pagar, né? A conta toda. E esse cara suava… E ele suava e ele passava mal, assim, ele não se mexia na cadeira… — E, gente, assim… O cara comeu três porções, duas cervejas, umas três ou sei lá, umas três caipiroskas, e aí ele quis culpar a Lara. — Ele virou pra Lara e falou: “Nossa, mas como você é mesquinha, hein?”. — Gente, o cara comeu três porções… Que isso? Não jantou? Por que não jantou em casa? Comeu miojo antes de ir, sabe? Não jantou… — 


A Lara chamou o garçom enquanto ela estava ali sendo xingada pelo cara e falou: “Olha, eu só vou pagar o que eu consumi”, [risos] se os pães, sei lá, custassem alguma coisa, ela ia pagar também… Mas não, a conta da Lara deu 13,70. E aí nisso, esse cara começou a ligar pros amigos dele, pra ver se alguém ia lá acertar a conta pra ele. A Lara pagou ali a conta dela e falou: “Bom, vou nessa… [risos] Tudo de bom pra você”, e aí ele ficou lá no telefone, telefonando pros amigos, sei lá, pra algum parente, pra alguém ir lá pagar a conta dele. E a Lara não sabe quem que foi lá que ajudou ele, que pagou essa conta… Ela me falou que esse 53 reais que ele tinha, ainda tinha que sobrar para o táxi, pra ele voltar pra casa… — O que esse cara pensou? — Esse cara ainda espalhou pelo Twitter que ela era uma caloteira, que ela foi no barzinho com ele e não quis dividir a conta. — Olha que mau caráter… — Como que você sai com alguém… — Eu, se não tenho dinheiro, gente, eu nem saio da minha casa, não saio… E dinheiro, assim, sei lá, pelo menos 50 reais… 

Ele tinha 50 reais, mas então ele tinha que falar: “Ah, vamos tomar uma cerveja aqui e depois vamos pra sua casa”, que a cerveja dele fosse 20 reais, desse uns 22, ele ainda ficava com 28 pra ele usar no táxi depois, né? Mas não, o cara pediu três porções, filezinho, que já não é barato, depois meia porção de calabresa com queijo e depois torresmo. E não deu uma dor de barriga nesse cara? [risos] — Ela foi corajosa, porque eu teria acertado essa conta inteira, assim, só pela vergonha, sabe? Aquela vergonha de tá todo mundo olhando… Mas ela foi linda embora, falou: “Eu não devo nada pra ele, né?”. O que pegou também foi que ele começou a chamar ela de mesquinha, começou a ficar nervoso, sabe?

Se ele não tivesse falado ainda, sei lá, que ele estava meio passando mal, se ele estivesse falado com jeitinho: “Poxa, me ajuda”, ela não ia pagar, porque Lara não ia pagar, mas eu pagaria… Até com ele xingando acho que eu pagaria, só pela vergonha, assim, sei lá, de ninguém chamar a polícia… Ela falou: “Vou pagar o que eu consumi… Devo alguma coisa dos pães?”, ele falou: “Não, não”, o garçom… “Os pães são cortesia” e o cara lá passando mal… [risos] Amo… [risos] 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Raquel de Portugal. Lara do céu, eu acho que você fez certinho, era o primeiro encontro de vocês e o cara me come tudo isso? [risos] Meu Deus, ele encheu a pança achando que você ia pagar tudo. Nossa Senhora… E você está certa, você tem que pagar o que você consumiu. Se você tivesse encostado na carne, nos torresmos, aí era justo você pagar metade, mas como você não encostou em nada, é justo você não pagar. E meu Deus, eu teria ido embora também, né? [risos] Porque [risos] não dá para ficar pagando coisa pelos outros. E eu concordo com a Déia, se eu estou sem dinheiro, eu não saio de casa para não passar essa vergonha, né? Imagina teu cartão da “não autorizada”? Acho que é o meu maior pânico da vida, é isso. Mas fica bem, Lara, um beijo. 

Assinante 2: Fala, pessoal, aqui é a Nuara de Porto Alegre. Eu nunca me senti tão representada por uma história em todo esse podcast, porque, assim, eu posso ser uma pessoa envergonhada? Sim, mas acima de tudo, eu sou uma pessoa mão de vaca e no meu dinheirinho ninguém vai mexer. Realmente pra mim não tem constrangimento que vá me fazer pagar uma conta numa situação cara de pau dessas… A pessoas sai sem dinheiro, come horrores… Não, para mim não. Eu teria super feito exatamente a mesma coisa que a Lara. Amei, minha ídola. 

[trilha]

Déia Freitas: Então é isso, gente… Um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.