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título: a chefe
data de publicação: 15/01/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #chefe
personagens: fabiane e chefe

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu não estou sozinha. [efeito sonoro de crianças contentes] — Meu publi. — A Johnson & Johnson me convidou para uma campanha maravilhosa sobre saúde mental e eu sugeri que a gente contasse histórias de mulheres que já foram tiradas aí como malucas em algum momento da vida. Semana passada eu contei a história da Jamile, então volta o feed aqui para acompanhar e hoje eu vou contar mais uma história da nossa trilogia, onde as protagonistas não estão malucas, mas que de alguma forma, tiveram a sua paz de espírito e a sua saúde mental afetadas pela interação com pessoas tóxicas. Hoje eu vou contar para vocês a história da Fabiane, o assédio moral e a perseguição que ela sofreu por conta de uma chefe. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Fabiane trabalha numa transportadora, — Que é uma empresa muito, muito grande. — é uma empresa familiar… Então sabe aquelas empresas onde uma pessoa fundou e aí todas as pessoas da família trabalham ali? Então é assim essa transportadora — Que a gente vai chamar de Transportadora Pônei. — que a Fabiane trabalha. E a Fabiane ela não é uma terceirizada, ela é uma efetivada, mas é uma empresa que tem muitos terceirizados também. E entre os efetivados, ela tem uma chefe… E essa chefe é uma chefe que — Por exemplo…. — ela ameaça os terceirizados. Então, se você não faz as coisas que ela quer, — Fora da sua tarefa, além da sua atividade de trabalho. — ela liga na empresa do terceirizado e pede para substituir ou mandar embora. 

Então ela coloca os funcionários terceirizados para fazer supermercado para ela, pra buscar a filha dela na escola, pRA passear com o cachorro… Funções que não tem a ver com o que aquela pessoa foi contratada para fazer ali dentro, né? Só que essa empresa familiar é aquele tipo de empresa que é muito, muito, muito difícil mandar alguém efetivado embora. Então, ou você pede a conta ou eles tentam resolver… Então ela foi ficando e adquirindo cada vez mais poder ali dentro. — Essa chefe da Fabiane. — E como a Fabiane ela já tinha tido ali algumas rusgas, algumas questões… — Relativas a trabalho. — Então, uma parte do trabalho que a Fabiana precisa desenvolver, ela precisa que essa chefe faça a função dela e, geralmente, ela não faz. Então, ou a Fabiane tinha que fazer ali o trabalho das duas ou acontecia um conflito. 

E assim elas foram levando, com a Fabiane sabendo que essa chefe sempre falava mal dela. — Em outros setores ali da empresa. — Só que também não demitia, ela não tinha… Por mais que ela fosse chefe e tivesse muito poder lá dentro, só quem demitia era o dono. E ninguém chegava no dono ali para pedir a demissão de ninguém. — Então todo mundo tentava administrar ali os conflitos. — E essa chefe era tão péssima, que quando ela entrava de férias, tinha comemoração. Tanto os terceirizados quanto os efetivados eles faziam uma festa. — Quando ela saía de férias, para a gente ver que tipo de pessoa, né? Pessoa boa… Só que não. — 

E a Fabiane, num passado recente, ela teve, foi diagnosticada com depressão e passou a tomar medicamento. Ela teve algumas crises e tal, isso foi controlado. — Com o medicamento ali pelo psiquiatra, tudo certinho… — E quando ela teve uma das crises, ela levou um atestado e lá no atestado tinha o CID, tinha o que tinha acontecido tudo certinho. — Com o CID de depressão. — E essa chefe começou a espalhar dentro da empresa que a Fabiane era louca… — Veja bem… — Então, ela ia nos departamentos falando: “ah, teve um surto… Essa aí é louca, trouxe atestado de louca”, sendo que estava lá no atestado dela o CID de depressão. — E essa chefe espalhou isso aí entre os departamentos. — 

E aí tudo o que a Fabiana precisava fazer que dependia dessa chefe e essa chefe não fazia, em qualquer reunião, qualquer coisa, essa chefe tratava a Fabiane como se ela fosse uma pessoa que não tivesse capacidade de fazer as coisas e sempre por trás ali falando: “Ah, essa aí é louca”. — “Essa aí é louca”. — Até que chegamos num dia que uma determinada tarefa da Fabiane era liberar um caminhão, que era um caminhão de ração. Era um caminhão de ração que ia para um abrigo… — Estava tudo certo, só precisava da assinatura desta criatura que era a chefe dela. — E essa chefe não estava lá — No dia. — e não assinou. E como era uma coisa que, assim, os animais eles precisavam daquela ração, senão eles iam começar a passar fome, a Fabiane peitou essa chefe… Aconteceu ali um bate-boca entre elas. 

Essa chefe acabou liberando, né? — O caminhão. — Porque o que tinha que ser feito era esse caminhão ser liberado… E tudo isso aconteceu na frente do cara que dirigia o caminhão. O que aconteceu? Esse cara precisava da assinatura para sair, essa assinatura não vinha, ele foi lá na Fabiane e falou: “Olha, eu estou aqui com a documentação, eu preciso sair com esse caminhão, essa reação precisa chegar hoje ainda no lugar, só que está sem assinatura, não consigo fazer nada e nã nã nã”. A Fabiane na hora pegou aquele processo que ela já tinha despachado na semana passada… — Quer dizer, já era para aquele caminhão ter ido semana passada e o caminhão não foi, porque essa chefe ficou retendo ali a documentação e não assinava. — 

E ela pegou esse cara, pegou a documentação e foi lá na sala da chefe… E aí elas tiveram uma discussão na frente desse cara. As duas acabaram gritando uma com a outra, o caminhão foi liberado [efeito sonoro de automóvel se movendo em alta velocidade], o cara foi embora… — Levar ração. — Mas quando eles saíram da sala, o cara falou: “Olha, qualquer problema que der aqui, você pode me chamar que eu testemunho a seu favor”, né? — Porque ele viu ali tudo o que aconteceu. — E aí passou… Cada uma foi para sua sala. — Fabiane foi para a sala dela. — E, no dia seguinte, logo cedo, ela descobriu que essa chefe tinha aberto ali no RH, — Como se fosse um processo administrativo pedindo a demissão da Fabiane. — dizendo que a Fabiane tinha ameaçado ela… Ameaçado bater nela, ameaçado ela de morte… — Só que a Fabiane tinha o funcionário e tinha outras pessoas ali do departamento que presenciaram o bate-boca. — 

E a Fabiane falou: “Bom, eu vou me defender, né? Então, se ela abriu um processo, eu também vou”. — Eles têm lá dentro uma possibilidade de abrir um processo interno para resolver a questão. — E aí a coisa piorou de um dia para o outro de uma maneira surreal… Além dessa chefe espalhar que a Fabiane era uma pessoa louca, no dia seguinte, essa chefe estava de manhã com a filha dela, — Que tem aí uns vinte e poucos anos. — na porta da sala da Fabiane, as duas ameaçando a Fabiane. Em nenhum momento, no dia que elas bateram boca ali por causa do caminhão de ração, rolou… Elas nem se aproximaram. — Foi um bate-boca, assim, de longe. — E aí essa chefe falou para filha que a Fabiane estava ameaçando bater nela. 

E aí essa filha foi lá dentro da empresa, na porta da sala da Fabiane, ameaçar… E aí a Fabiane ligou para o RH e falou: “Olha, eu tô aqui sendo ameaçada pela chefe e pela filha dela”. — “Aqui na porta da minha sala…”. — E o RH pediu para que ela fosse para casa. E aí essa filha da chefe saiu atrás da Fabiane, foi atrás dela até o estacionamento, xingando, gritando e ameaçando… Fabiane entrou no carro, — Com essa filha da chefe ainda ameaçando ela ali do lado de fora. — e aí ela ficou tão nervosa que ela acabou ligando para uma amiga de dentro da empresa mesmo, e essa amiga falou pra ela: “Olha, faça um B.O., faça um boletim de ocorrência agora”. 

E aí ela foi e fez um boletim de ocorrência de ameaça contra essa chefe e essa filha. E foi aberto um inquérito… — E, assim, tinha tudo filmado, enfim… Tinha tudo. — E a delegada resolveu levar pra frente essa denúncia de ameaça e mandou uma intimação. — Assim, a Fabiane não tinha o endereço da filha dessa chefe, então a intimação foi para a empresa. — Então, dali a uns dias a Fabiane estava na mesa dela ali trabalhando quando a chefe ficou P da vida e começou a gritar lá dentro que a filha tinha sido intimada, que nã nã nã… E aquele clima horrível, né? — Ela fazendo pressão na Fabiane para retirar a queixa de ameaça. — 

Essa chefe quando viu que a Fabiane não ia recuar, aí ela mudou o tom… — Mudou o tom. — Foi até o RH disposta a retirar a queixa, — Que ela fez contra a Fabiane. — desde que a Fabiane tirasse aí o boletim de ameaça. Por fim, elas chegaram ali num acordo. A Fabiane foi até a delegacia falar o que tinha acontecido e sobre esse acordo, e a delegada falou: “Olha, tudo bem então, mas em todo caso você pode voltar e a gente dá sequência aí a sua queixa”. E a empresa resolveu fazer o quê? Aposentar essa chefe. Então ela foi aposentada e melhorou para todo mundo. — Mas o que eu fico chateada é porque ela não teve nenhuma punição, né? Ela foi aposentada, enfim… Ela queria continuar trabalhando, mas a empresa acho que deve ter dado para ela opção: ou demissão ou aposentadoria. E aí ela se aposentou. — 

A Fabiane continua trabalhando nessa empresa… E aí disse que depois que essa chefe saiu, tudo mudou, inclusive alguns protocolos de denúncia de dentro da empresa mudaram também. — Por causa da atitude da Fabiane. — E, gente, uma coisa que eu percebi é que, assim, ela fazia isso com todos os funcionários… E a Fabiane bateu de frente com ela, foi perseguida, até o ponto em que ela foi e fez uma queixa formal na delegacia. Então, às vezes, eu acho que a gente precisa mesmo dar esse passo a mais. — Ela sabia que, sei lá, de repente ela podia ser mandada embora… — Mas aquilo saiu do âmbito só da empresa e passou a realmente ser uma queixa-crime. 

Então, eu vejo aí um ponto de esperança também, né? Da gente, de repente, quem está numa situação dessa que não vê para onde correr, porque todo mundo precisa trabalhar, o caminho é realmente fazer um boletim de ocorrência, pelo menos pra dar um se liga nessa empresa e nesse funcionário aí que está solto fazendo tudo o que quer. A Fabiane continua tratando da depressão e depois que a chefe saiu, muita gente veio falar com ela, que não acreditava nas coisas que essa chefe falava… — Mas era todo mundo muito oprimido lá. — E o ambiente melhorou 100%, agora tá todo mundo mais vigilante, né? Começou alguém ali com algum comportamento meio padrão como era dessa chefe, o RH já é notificado e a coisa anda de outra forma. 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, gente, aqui é a Juliana de Maceió. E eu estava ouvindo essa história eu fiquei com muita raiva, de várias coisas… Primeiro, que é assédio, e assédio é algo horrível de se lidar. Só quem já passou por isso que sabe. Segundo, porque é assédio de chefe, ou seja, muita gente não pode ter o poder na mão que extrapola qualquer limite. E, terceiro, essa história da filha dela vir te ameaçar dentro do trabalho? Não, cara, é inadmissível isso… Pois eu teria feito sim a denúncia e não teria tirado, ela ia responder essa denúncia pro resto da vida dela. E essa chefe que ganhou aposentadoria, pra ela foi um presente. Ela agora está de boa em casa, tranquila, enquanto passou a vida toda fazendo maldade. E o que me deixa com mais raiva nessa história toda é essa história de passar os outros como louca… Tu não pode discordar de ninguém, tu não pode cobrar ninguém, tu não pode fazer o teu trabalho que é dada como louca… E ainda mais essa questão mental, que as pessoas pensam que todo mundo que tem depressão é louca ou que tem qualquer outra questão psiquiátrica é louca… Minha gente, isso é de outro século, enfim… Ouvi aqui com raiva, mas foi muito legal essa história. Um beijo. 

Assinante 2: Fabiane, aqui é a Gica e eu quero te mandar um beijo, porque você é o que? É uma heroína. Achei que você foi certíssima em manter a sua posição. Achei que você foi maravilhosa em ir lá encarar essa história e abrir o B.O.. E concordo com você nessa questão de ter negociado isso, ter retirado o seu B.O., pra também fazer com que a chefe tirasse a queixa em seu nome lá no RH. Nessas horas, a gente tem que ser político. Eu entendo o que você fez o melhor pra sua situação, pra não bagunçar a sua situação na empresa. Que deve ser ótima, né? Porque, afinal, com uma chefe dessa você não saiu, continua lá, então, meus parabéns pela sua resiliência e pela sua determinação. Um beijo grande. 

Déia Freitas: Então essa é a história da Fabiane. Que bom, né? Que essa chefe, de uma forma ou de outra, acabou saindo de lá. E, gente, eu falo para Fabiane e falo para vocês que: você não está maluca. Mesmo que você tenha um chefe ou uma chefe que tente te provar ao contrário, por você sentir o que você sente, por você se posicionar, você não está maluca. E a minha parceria com a Johnson & Johnson está aí pra te dizer isso. Eu vou deixar dois links aqui importantes para vocês, o link do movimento Falar Inspira Vida, que é: falarinspiravida.com.br e também vou deixar um link aqui de um conteúdo que vocês podem acessar mesmo sem ter Alexa, que é: jnjbrasil.com.br/alexa-vamos-cuidar. E aí você pode baixar ali o aplicativo e começar a usar, tá? Então é isso, eu volto com mais uma história, com a nossa terceira história para fechar aí essa campanha bacana que a Johnson & Johnson está fazendo. Então um beijo e até breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.