título: apetite
data de publicação: 17/08/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #apetite
personagens: kátia e murilo
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Bom, vamos hoje, em ambiente corporativo aí a história de Kátia e Murilo. É a Kátia que me escreve, né? E ela tem alguns probleminhas aí pra gente ajudar a resolver.
[trilha]Bom, a Kátia trabalha numa multinacional famosa, grande, que tem um monte de benefícios para os funcionários, e ela dentro lá do setor dela ela é considerada uma funcionária Sênior, então, quem entra tem um salário um pouco menor, aí conforme o tempo vai passando, se você concluir as etapas lá, sei lá… E aí ela é uma funcionária mais antiga, que tem um salário maior e um pouco mais de benefício. O Murilo ele tem o mesmo cargo da Kátia, só que ele é um funcionário novo, entrou na firma agora e, né, tá todo mundo ainda naquele clima “Ah, Murilo” porque ele é um cara muito bonito que chamou atenção ali das meninas e todo mundo ficou bem empolgado, né, as meninas ficaram muito empolgadas com o Murilo. E a função da Kátia, aí que tá, era ensinar o Murilo, né? Então, assim, por mais que ele já tivesse um tanto de conhecimento daquela vaga, tinha que explicar pra ele como funcionam as coisas ali naquela firma, então os procedimentos são outros, protocolos são outros, e ela tinha esse papel de ensinar o Murilo.
Então eles passaram nos primeiros dez dias muito tempo juntos, e ele ali na mesa do lado dela, os dois aprendendo… Ela também aprendeu umas coisas que ele trouxe da outra empresa, trocando informação, conversa vai, conversa vem, rolou um clima. Só que aquela coisa: empresa, o cara novo, você vai dar essa brecha? — Você não vai dar essa brecha, né, Kátia? — E a Kátia ficou só naquela mesmo de, ai, curtir, achar gatinho, saber que ele também tá interessado, mas não passou disso. E como eles passavam o tempo todo juntos, eles iam almoçar juntos e a empresa é assim, quando você entra lá você escolhe se você vai querer o VA, que é o vale-alimentação pra você usar no supermercado, ou VR que é o vale-refeição pra você comer onde você quiser comer, tem essa diferença. E o bonito do Murilo escolheu VA como a maioria das pessoas… — A minha prima trabalha numa empresa dessas aí também grandes, e ela escolheu o VA que é ótimo porque ela faz a compra do mês todo no vale, né? —
Se a pessoa não tem dinheiro e ela escolheu o VA pra fazer compra de mercado, o quê que o trabalhador faz minha gente? O trabalhador leva marmita. — Eu sou uma marmiteira de mão cheia, como eu sou freela e não tenho benefício, minha vida é a marmita — E o Murilo, bonitão, não levava marmita. Kátia não é adepta do vale-alimentação, ela escolheu o vale-refeição e ela come num lugar lá numa padaria de um senhorzinho lá, — que a gente vai chamar de Seu Manuel — come na padaria do Seu Manuel todo dia, e é uma padaria chique. E a maioria dos gerentes, do pessoal assim com um pouco mais de grana da firma, acaba comendo nesse lugar, nessa padaria chique aí que, além de ter os lanches e tal, serve refeições também na hora do almoço, e aí você pode escolher lá, você vai por peso no self-service ou você pede os pratos mais caros do cardápio, você escolhe, né? É uma padaria bem variada, bem dessas chiquetosas.
E a Kátia estava acostumado a comer lá, só que Kátia é um passarinho, e aí pra ela compensava comer por quilo. — Pra mim não compensa que eu amo arroz e feijão, arroz e feijão pesa, então se tivesse um pratinho feito ali pra mim era a pedida — Mas pra Kátia o self-service adiantava, né? Ela ia lá, pegava uma saladinha, uma coisinha, estava ótimo pra ela. E ela foi todos esses dias na padaria e levou o Murilo junto, primeiro dia que foram almoçar lá na padaria Kátia quis ser gentil, eu faria a mesma coisa, e falou: “Olha, Murilo, vamos lá almoçar, hoje é por minha conta, assim já te apresento a padaria, já te apresento o pessoal lá da padaria e tal”, e eles foram. Chegou lá… — Pô, você vê a pessoa que vai pagar a sua comida pegando lá no self-service que é o mais barato, o quê que você vai fazer? Você vai pegar o pratinho atrás dela ali, fazer o seu pratinho bem pequeno também porque você não é sem educação e vai no esquema que a pessoa que tá pagando pra você vai, né? —
O que Murilo fez? Murilo sentou bonitão na mesa, pediu uma limonadona lá diferente com leite condensado… — Quem que pede uma limonada com leite condensado na conta do outro? — Olhou bem o cardápio e falou: “Olha, eu quero esse Rondelli [falando e rindo ao mesmo tempo] especial” e ele pediu lá um Rondelli especial, não satisfeito, pediu uma carne e mais o sucão lá com leite condensado — Ô, gente, aí Kátia já podia ter cortado, né? Primeiro dia o cara já me dá uma dessa? Você não vai cortar? Eu já falo “Ô, bonitão, aqui ó, meu prato deu vinte conto, eu vou até vinte conto com você, passou disso é seu, hein?” — Eu vou frisar o Rondelli especial que é uma coisa que me deixa indignada, entendeu? Trinta e cinco reais o Rondelli especial, mais quase dezenove lá da carne e mais a limonada, doze conto. Ô, Murilo, primeiro dia? Convidado de Kátia? E Kátia lá comendo um arrozinho com cenoura e salada, pratinho de quinze, vinte conto? Com Coca, sabe? —
Murilo deu essa. Então, pra mim, se no primeiro dia o cara já te dá uma conta de setenta reais praticamente, no restaurante comendo coisa que você nunca nem comeu, você não vai chamar o segundo dia, você vai chamar? Kátia chamou. E aí só que ela não chamou ele como convidado, né? Falou: “Olha, vamos lá, né, você quer comer?”, ele falou: “Ah, eu tô sem grana”, ela falou: “Não, marca lá na minha conta, eu te apresento o Seu Manuel e depois você acerta”. E o Seu Manuel também era meio desonestinho, por que o que ele fazia? Ele não aceitava vale-refeição na padaria, uma padaria chique que ele dizia que, para controlar o fluxo e tal, ele não aceitava, não tinha um adesivo lá aceitando VR, só que dos funcionários dessa multinacional, como ia só a elitona assim, só galera mais legal, ele aceitava. Então ele falava: “Olha, pra não passar o VR aqui e todo mundo ver, a gente faz por mês, final do mês vou marcando aqui, você vem e acerta comigo”. — Eu odeio fiado, não faço fiado nunca, detesto dever. — Não faço nunca fiado, então pra mim esse esquema aí do Seu Manuel já não ia funcionar, ou eu pago ali na hora com todo mundo vendo, ele me dá minha notinha e acabou ou não ia ter jogo.
Mas todo mundo ali estava acostumado com esse esquema, aí nesses primeiros dez dias, tirando o primeiro dia que a Kátia pagou, o Murilo foi marcando na conta dela. Ela apresentou o Murilo pro Seu Manuel e falou: “Ó, o Murilo vai marcar aqui as coisas na minha conta e depois aí eu me acerto com ele”, falou assim pro Seu Manuel, então o quê que você entende? Eu entendi igual Seu Manuel, ela está se responsabilizando pelo Murilo, porque ninguém conhece Murilo e ela ali deu o aval pro cara ir lá a hora que ele quisesse e marcasse as coisas na conta dela. — E aqui não é o caso de culpar a vítima, né? [risos] Mas ô, Kátia… Você dá um aval pro cara que comeu o Rondelli especial e a limonada com leite condensado na sua conta no primeiro dia? Você dá o aval pra ele gastar o que ele quisesse na padaria lá na conta do ambicioso do Seu Manuel? Também não foi uma das melhores ideias que você teve, né, vamos combinar. —
E aí o tempo foi passando, ela ensinou lá o Murilo tudo que ela tinha que ensinar e quando eles começaram aí, ela tinha acabado de pagar, então estava começo de mês ali, tinha um mês todo da coisa funcionando. E fora a questão do trabalho, ela realmente começou a gostar do Murilo, coisa errada, né? Porque estão ali na firma, cara novo, ela chefe dele, por mais que eles tenham o mesmo cargo, ela tá parece que dois níveis acima, então não é o seu papel, né, Kátia? De dar em cima do Murilo. Mas o Murilo todo lindão, cheio de charme, garoto gosta de um leite condensado no suco, que irresistível, né? E aí ela deu uns pega no Murilo, saiu com Murilo uns dias e, assim, sempre frisando que na empresa eles nunca iam poder ter nada. Até trocar mensagens com ele ela evitou — Por que, né? Também velhaca, não vai dar esse mole. —
Mas eles começaram a sair, deu um mês que ele estava na firma e uns vinte dias que eles estavam saindo. E, nestes vinte dias que a Kátia estava saindo com o Murilo, eles estavam saindo escondidos, ela teve a impressão, mas nem podia se aprofundar, não tinha como, que Murilo também estava de trelelê ali com Jussara do financeiro. Mas ela não tinha nada sério com ele, e também, de repente achou que era só coisa da cabeça dela, né? Que ele estava ali, mas ele era bem mais receptivo assim com a Jussara, quando a Jussara vinha falar alguma coisa, e ela ficou ali, né, só de olho, mas também não podia fazer nada, não era um relacionamento sério, eles estavam só se pegando. Bom, chegou o dia do pagamento e também o dia de ir lá passar o cartão do vale-refeição na maquininha do Seu Manuel lá, que era tudo discretamente, né?
E lá foi Kátia, agora eles já não almoçavam juntos, ela e o Murilo. Ela tinha voltado pro horário dela de almoço normal, então eles tinham horários diferentes e ela foi lá pagar. Passou a maquininha lá, o Seu Manuel falou: “Olha, saldo insuficiente”, “Como assim saldo insuficiente?”. Ela recebia da firma em torno de 750 reais de vale-refeição e gastava ali no Seu Manuel, vai, chutando alto, nos dias assim, que você leva alguém pra comer e a pessoa come um Rondelli especial: 450… Sobrava ainda uns trezentinho pra ela ir pra uma baladinha que aceita V.R., um posto de gasolina ali pra você comprar um negocinho na conveniência, então sempre sobrava.
E como assim? Passou 750, porque ela pegou cheio, né? Carregou o cartão, a firma carregou o cartão… É como um cartão de crédito e ela foi passar lá. Um cartão de débito, na verdade, e ela foi passar lá e saldo insuficiente? Aí ela falou: “Seu Manuel, como assim? Tem 750 pau aí, e deve ter um finalzinho ainda do mês passado, ele falou: “Olha, sua conta aqui tá 1.272” [risos] — Desculpa Kátia, 1.272 é o número. — Kátia na hora sentiu aquela dormência nas pernas, né? “Meu, vou desmaiar aqui, como assim quase 1.300, sendo que eu gasto 400?”, aí Seu Manuel virou todo bonito pra ela e falou: “Olha, tem aqui uns 900 reais do rapaz lá que você autorizou a pegar na sua conta”, segundo o Seu Manuel com as notinhas você passa lá, você pega as coisas e depois você assina a sua notinha pra ter a certeza que aquela notinha é sua.
O Murilo chegava de manhã, ia lá tomava aquele cafezão reforçado com mamão… — E assim, quando você compra um mamão na feira é um preço, quando ele tá cortadinho em cubinho num potinho de plástico na padaria é oito pau seu mamão, foi lá de um real pra oito e setenta e nove. — Então, Murilo comia um mamão pra dar aquela calibrada no intestino, Murilo tomava um cappuccino reforçado ali com canela, coisa que você está ali no trampo você não faz, né? Depois ia, almoçava, comia um Rondelli especial, comia um galeto, pedia ali um risoto de cogumelos ali com uma carne, que a carne aí ia a parte… — Detalhe que Murilo nenhum dia comeu no self-service — Pelas notinhas ali tudo à la carte, porque a Kátia quis ver as notas, né?
E, reparem, tinha dia que ele estava com alguém e ele pagava pra pessoa… Quer dizer, a Kátia está financiando duas pessoas sem saber e já desconfiada que a segunda pessoa era quem? Jussara do financeiro. Kátia bem brava deu uma dura ali no Seu Manuel porque, né? Ele tinha também que ter pelo menos avisado, né, falado: “Ó, o cara tá vindo aqui todo dia, tá pegando coisa todo dia”, mas em todo caso ela ficou naquelas, né? Ela falou: “Bom, vai ver ele recebeu também hoje, como eu e não deu tempo ainda de ele vir aqui pagar, né?”. Aí ela passou uns oitocentos e pouco no VR dela, quer dizer, zerou o VR, e ainda ficou devendo quinhentos reais pro Seu Manuel. Qual era a intenção dela? Chegar lá na firma e falar: “Ô, Murilo, precisa ir lá acertar sua conta lá na padaria, né? E me devolver aqui a minha parte que eu tive que passar lá, paguei pra você lá uns trezentos contos”.
Daí a Kátia voltou pro escritório e chamou o Murilo, que agora ela já estava na sala dela, eles não estavam mais na mesa perto, nada, porque já tinha passado a fase de treinamento. Ela falou: “Murilo, então, que horas que você vai passar lá no Seu Manuel pra acertar na padaria lá o que você pegou?”, ele falou: “Como?”, ela falou: “É, precisa acertar lá”, ele falou: “Não, mas eu não pego o VR, eu pego o VA, né? Eu vou fazer compras com esse dinheiro”, aí ela ainda ficou meio sem entender, e falou: “Mas, é… Você comeu lá, né? Você precisa ir acertar lá”, ele falou: “Ah, eu entendi que você tinha falado que eu podia ir lá comer, não que eu tinha que pagar” [risos] — Ô, gente, GENTE… — A Kátia ficou meio sem reação assim, porque você não espera, né? que a pessoa vai te falar isso. —
Aí ele vendo que a cara dela devia tá péssima, assim, incrédula, ele falou: “Olha, eu não tenho como acertar uma conta nesse valor aí, eu já pedi o V.A. porque sou eu, minha mulher e meu bebezinho, como que agora eu vou gastar novecentos reais na padaria?” [efeito sonoro] “Oi? Você, sua mulher e seu bebezinho? Que bebezinho? Que mulher?” a Kátia perguntou pra ele, aí ele falou assim: “Ué, eu achei que você soubesse que eu fosse casado”. Kátia em choque, passada, fúcsia, paralisada. O cara que gastou novecentos reais na padaria comendo um mamãozinho no potinho de plástico e [falando e rindo ao mesmo tempo] Rondelli especial… — Depois eu perguntei pra Kátia “Como é esse Rondelli especial?” Porque eu fiquei curiosa, né? Depois a gente vai falar disso — Mas, esse cara ali falando pra Kátia que não ia pagar porque ele achou realmente que a Kátia fosse bancar ele [risos] aquele mês… Olha, imagino que não, né?
E que: “é, ué, ele tinha as obrigações dele lá na família”, como que ele ia agora tirar um dinheiro do pagamento, porque já que ele recebia V.A., ele não tinha V.R. pra passar lá na padaria, como que ele ia tirar um dinheiro do pagamento dele com o bebezinho e tudo lá? Não tem. Bebezinho gasta, né? A gente sabe. Então agora, Kátia tinha as seguintes infos: Murilo, casado, pai de bebezinho — Comedor de mamão e Rondelli especial — não ia pagar a conta. E ela meio que quis dar uma dura nele, ele virou calmamente pra ela e falou: “Olha, você como minha chefe não pode falar assim comigo, isso é assédio moral, se eu fizer uma reclamação no RH sobre isso, a gente vai ter problema”. — Eu fiquei em choque com essa fala de Murilo — E a Kátia parou pra pensar e, realmente, se ele chegar no RH e falar: “Olha, eu tive um caso com a minha chefe e ela falou que eu podia comer lá no restaurante que ela pagava, agora ela tá me cobrando, me ameaçando”, ela vai demitida na hora, ele pode não passar na experiência, mas tipo, a carreira dela que ela já tem uma carreira lá na multinacional, acaba.
E aí ela ficou naquelas, né? “Meu, vou ter que dar um jeito de pagar o Seu Manuel, que eu não posso colocar minha carreira em risco”, só que aí… — Não digo que foi um erro de Kátia, porque o erro de Kátia já foi lá atrás de ter ficado com Murilo, porque eu acho que se ela só tivesse dado o negócio da conta, ela podia até jogar mesmo ali na firma falar: “Pô, eu falei pro cara que ele podia comer na minha conta e o cara foi lá e gastou novecentos pau?”, que você tá na firma ali você pode comentar, né? Até com chefes, de repente… Depois de três meses vazava com o Murilo dali, mas o erro dela foi se envolver, foi sair com Murilo… — Parece que Murilo percebeu ali que a Kátia vacilou, que ela ia deixar quieto aquilo e ele começou a ser folgado no trampo.
O cara chegava meio atrasado, o cara não fazia um negocinho aqui, um negocinho ali e sempre que a Kátia tinha que cobrar ele do trampo ele metia essa do assédio. Então, veladamente Murilo começou a chantagear a Kátia. A questão lá da padaria a Kátia teve que azeitar e entubar essa conta e pagou lá o Seu Manuel, avisou o Seu Manuel que na conta dela ninguém estava permitido mais a pegar nada. Depois disso Murilo não voltou na padaria, porque ele deve estar em dúvida também se ela pagou ou se a conta tá lá pra ele pagar, né? Inclusive ela avisou o Seu Manuel e falou: “Ó, se ele vier aqui pagar, você aceita e depois a gente acerta, fica de crédito aí pra mim”, mas ele nunca mais voltou na padaria.
Ele já está lá há sete meses, e ele sempre faz esse tipo de coisa, já tem funcionário achando que ele é protegidinho da Kátia e eles não saíram mais depois desse rolo aí da conta. Eles não saíram mais, só que ele sempre joga essa cartinha porque ele viu que a Kátia ficou com medo. — Eu achei certo essa do Seu Manuel, ela tinha que azeitar e entubar mesmo porque ela deu a conta, era responsabilidade dela, perdeu… Perdeu novecentos reais de Rondelli especial pra esse maldito. — Mas e agora? A pergunta que Kátia tem pra gente é: como que ela sai dessa sem ferrar a carreira dela e vazar com o cara de lá? Porque o cara, além de tudo, ele não é um bom funcionário. Então agora ela já não sabe se ele não é um bom funcionário porque ele não era mesmo, ou se ele está se aproveitando aí dessa questão deles terem dormido juntos e tal, e toda hora ele fala isso de assédio pra poder ser folgado.
Inclusive, teve um tempo aí, que ele entrou numas de faltar e falava que era por causa do bebezinho, não trazia atestado… E, assim, a Kátia tem o poder de abonar, mas estava ficando feio já, né? E aí ela teve que chamar ele e falar: “Olha, eu não posso mais abonar”, ele falou: “Bom, você que sabe”, e a Kátia já tá num ponto assim emocional que ela olha pra ele e ela treme. Ela é a chefe dele, mas quem tá no comando ali é o Murilo. — O quê que eu penso sobre isso, né? Já tem aquele ditado lá: “Onde você ganha o pão não se come a carne” e a gente tem que levar isso um pouco a sério, porque vocês estão vendo aí, dá merda. Mas tudo bem, já foi, agora tem que consertar porque ela já tá num ponto emocional que daqui a pouco ela vai pedir a conta. E é um trabalho que ela gosta, numa empresa top e, que, pô, ela vai sair, perder todos os benefícios por causa de um cara que tá aprontando, entendeu? Que deu calote?
O que eu sugeri pra Kátia? A Kátia é chefe dele e tem um certo poder na mão, então eu perguntei pra ela se teria um outro setor, uma filial, sei lá, o raio que o parta pra ela transferir esse cara. Porque eu não sei, eu me sinto um pouco desconfortável com o fato dela demitir porque ela também errou, né? Ela não devia sair com funcionário que é subordinado dela, então ela errou também. E o cara tá se aproveitando disso, é um mau-caráter e tal e, se ele não for um bom funcionário em outro setor, ele vai ser mandado embora por outra pessoa, entendeu? E aí ela corta realmente qualquer relação com ele. E seria importante que não fosse ela que assinasse essa transferência, aí eu perguntei pra ela: “Kátia não tem nenhuma parça aí? Nenhuma amiga sua que dá pra fazer isso aí, assim, bem bolado?” E ela tem uma amiga no RH que conseguiria fazer isso aí, passar ele pra um outro setor, porque aí também não demite o cara que tá lá com o bebezinho, sei lá. E se o cara for pilantra lá, se o cara não for um bom trabalhador no outro setor, ele vai ser espirrado, vai ser mandado embora, que aí não cai pra ela, entendeu?
Essa é a minha sugestão, né, pessoal, pra Kátia. Mas ela tá num estado assim, psicológico deplorável, já falei pra ela: “Olha, procura uma terapia também”, porque agora ela tem medo dele, sabe aquele medo da ameaça que todo dia você não sabe se você vai chegar lá e você vai ser chamada no RH? Mas eu também falei pra ela, você não trocava mensagem com ele, você não vacilou nessas coisas, tem alguma chance de ele ter filmado você? Ela acha que não. Porque ela também qualquer coisa pode mentir, falar: “Eu nunca fiquei com esse cara, não, tá doido? Só emprestei minha conta pra ele lá no Seu Manuel e ele me deixou um rombo de novecentos reais, fora isso nunca tive nada com esse zé mané, não”. Mas é aquela coisa, né? Quando a gente é honesto, a gente treme mesmo, eu falo assim: “Ah, vai lá e qualquer coisa você mente”, mas na hora não consegue mentir, a gente se entrega. Eu, pelo menos, sou a primeira a me entregar e falar: “Fui pra cama com ele, cadê onde eu assino aí? Me dá o meu seguro desemprego”, porque eu não ia conseguir entrar nesse mesmo jogo dele e fazer toda essa cena.
Agora transferir o cara eu acho sossegado, acho bem relax, porque aí ele que se vire lá no departamento. Se ele for um folgado lá ele vai ser demitido e foda-se. E vocês, que conselho vocês têm aí pra Kátia? Lembrando sempre, né, de ser educado aí, ser gentil com ela e vamos ver se a gente dá uma luz aí pra essa moça que tá bem, assim, sem rumo. — Sobre o [risos] Rondelli especial, a Kátia falou que é um prato assim, maravilhoso, que vem o Rondelli, o recheio… São parece que seis tipos de queijo, não é quatro queijos, quatro queijos é a gente aí num boteco. Lá tem seis tipos de queijo, no recheio também tem nozes, e aí vem um molho branco lá com umas coisas que ela falou que eu também já esqueci. E falou que o prato finíssimo, também trinta e cinco reais, né? E o Murilo, ele comeu desse Rondelli especial aí umas dez vezes na conta de Kátia. Só de Rondelli especial é 350 reais, quem que vive assim? Só no Rondelli especial, não é mais cheque especial, agora é Rondelli especial. —
Então, é esse aí o dilema de Kátia, né? Como se livrar desse cara, desse sanguessuga desonesto que tá na cola dela. Lembrando que a gente tem um grupo pra debater aqui as histórias e o nome do grupo aí é @naoenviabilize, tudo junto, sem acento. Então quem quiser corre lá, dá seu palpite, dá sua opinião pra Kátia e vamos que vamos. Um beijo.
[trilha]Se você tem uma história para um dos quadros aqui do nosso canal Não Inviabilize, escreva para o e-mail: naoinviabilize@gmail.com. Gente, minha equipe técnica: edição e sonorização, Léo Mogli. Voz das vinhetas, tem uma linda que faz as minhas vinhetas, que é a Priscila Armani, lá no site eu tenho também dois colaboradores, revisão de textos Gabriela Leite e apoio Bruno Bezerra. E gente, tem o grupo do Telegram, você vai na busca e coloca “Não Inviabilize” e você vai achar o nosso grupo, a gente conversa sobre todas as histórias, lá vocês podem sugerir coisas também. E no grupo eu tenho dois queridos que são voluntários, que são os moderadores, que é a Elizabeth e o Dourado, então vão lá, vão pro grupo.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]