título: beata
data de publicação: 04/09/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #beata
personagens: luiz felipe
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. e hoje eu vou contar para vocês a história do Luiz Felipe. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]
O Luiz Felipe ele cresceu numa família muito, muito aí católica e numa cidade de interior… Hoje ele tem 30 anos, tá na capital, mas ele vem dessa família, da família tradicional brasileira, católica. — E que tem ali as coisas mais certinhas, entre aspas, né? — E Luiz Felipe quase dois anos, perdeu a mãe. Infelizmente, Dona Maria Aparecida ela estava doente, ela ficou doente e faleceu. Então, foi um baque muito, muito, muito duro para o Luiz Felipe. Luiz Felipe, filho único, ficou muito arrasado… Ficou só ele e o pai, o pai morando lá no interior. A família do Luiz Felipe — do lado da mãe, da dona Maria Aparecida — são em quatro irmãs, Dona Maria Aparecida e mais três… E todas morando nessa mesma cidade, na mesma rua. O suporte familiar ali, uma ajuda a outra a cuidar e tal, então o pai do Luiz Felipe não ficou tão, assim, desamparado…
E o Luiz Felipe achou que o pai ia dar uma definhada e, depois de quatro meses que a mãe tinha morrido, que ele voltou lá, ele viu que o pai tava tão até que bem, né? Então ele ficou feliz, falou: “Bom, meu pai tá aqui, tá cuidado, né? Tá retomando a vidinha dele aí e tá tudo certo”. E aí precisavam resolver as coisas do inventário — da parte da mãe, o pai ia continuar morando na casa, óbvio, né? — e aí eles deram enrolada e esse ano Luiz Felipe foi pra lá pra resolver essas questões do inventário. E, quando a mãe morreu, os dois ficaram muito sensíveis, né? E uma coisa que o Luiz Felipe falou é: “Poxa, pai, eu não tenho um irmão… Só tenho o senhor, se o senhor morrer primeiro que eu e nã nã nã”, enfim, aquele desespero quando você perde um familiar que você ama muito, enfim, você começa a questionar outras coisas e Luiz Felipe passou por isso. Dessa última vez que o Luiz Felipe foi pra cidade dele, o pai dele chamou pra conversar, falou: “Olha, meu filho, eu pensei muito e a gente precisa conversar, porque eu vi que você ficou muito sentido de você ser um menino sozinho…”. — Mesmo o Luiz Felipe tendo 30 anos agora, o pai dele chama ele de “menino”. — Então: “Um menino sozinho e nã nã nã”…
E o Luiz Felipe ali, ouvindo… E aí, de repente o pai fala assim pra ele: “Eu preciso te confessar uma coisa… Luiz Felipe, meu filho, você tem um irmão…”, “Eu tenho um irmão?”, “Sim, você tem um irmão… Talvez dois”, [risos] Luiz Felipe ficou olhando para cara do pai… E aí o pai, que sempre também foi muito católico e todo mundo muito “ah, o pecado”, acabou contando para o Luiz Felipe que tinha tido uma relação extraconjugal e que dessa relação poderia ser que… Um filho ele tinha certeza que era dele, o outro ele não sabia e que ele queria falar isso para o Luiz Felipe, mas ele não poderia contar quem seriam os seus irmãos. E aí o Luiz Felipe falou: “Pai, mas você está me falando que você foi infiel com a mamãe, que você teve um caso, que você teve filho fora do casamento e eu não vou saber quem é meu irmão ou quem são meus irmãos?”. E aí o pai não contou, Luiz Felipe ficou bem, bem, bem chocado, mas ele queria saber… E aí ele começou a pressionar o pai para saber quem eram os irmãos. E o pai, depois de mais alguns meses — agora tem um tempinho — contou para o Luiz Felipe quem são seus irmãos. [música animada]
Bom, os irmãos do Luiz Felipe — na verdade, meio irmãos — são dois primos. Sim, o pai do Luiz Felipe, marido de dona Maria Aparecida, teve um caso com uma das irmãs de Dona Aparecida. O mundo de Luiz Felipe caiu, porque esta irmã que teve o caso ela é conhecida na cidade como “A Beata”. — Então, sabe aquela pessoa que condena todo mundo? Que reza, reza, reza, que está sempre na igreja? É essa mulher… — Essa foi a mulher que teve um, talvez dois filhos com o pai do Luiz Filipe. E aí o Luiz Felipe ele ficou revoltadíssimo… Revoltadíssimo. Porque quando ele saiu de casa para morar na cidade, um primo dele que poderia ser um dos irmãos, porque esta mulher — tia do Luiz Felipe — tem quatro filhos e tanto ela quanto o marido dela, eles são pessoas muito desagradáveis. — Segundo o Luiz Felipe. — Então marido dela, que seria o corno, ele também é muito: “As pessoas são pecadoras e isso e aquilo” e um dos primos do Luiz Felipe é gay… E aí, quando Luiz Felipe foi morar na capital, esse primo sofria tanto na mão desse casal, dos pais, que o Luiz Felipe falou: “Vem morar comigo, eu vou morar com a minha noiva daqui uns dois anos, mas até lá você se ajeita, vem morar comigo”.
Então, ele pegou o primo dele, que tinha acabado de fazer 17 anos e falou: “Vem morar comigo, eu vou te dar comida, você vai estudar aqui, eu vou fazer tudo por você”, porque ele estava vendo que o menino ia acabar cometendo uma loucura por causa dos pais, que ficavam falando que ele era um pecador e nã nã nã. — Então, é esse tipo de gente da família brasileira… — Então, o Luiz Felipe ficou muito revoltado com essa tia e resolveu mandar mensagens para a tia dizendo que o pai tinha contado que tinha caso e falando que queria saber qual dos quatro ali eram os irmãos. — Torcendo pra ser aquele que a gente pode chamar aqui de Igor. — Torcendo pro Igor, seu irmão dele, que o Igor era o irmão que ele… O primo que ele pegou, tirou lá da casa… E aí a tia deu um sermão nele, falou que era mentira do pai do Luiz Filipe, que nã nã nã, mas também ficou na dela. O que o Luiz Felipe resolveu fazer? Resolveu conversar com Igor, seu primo e contar pro Igor. O Igor agora — já com seus 20 e pouquinhos — também ficou revoltado e falou: “Vamos fazer um DNA nós dois? Pra ver se a gente é primo, irmão, tal”, e aí fizeram o DNA e, infelizmente, o Igor não é o irmão do Luiz Felipe.
Só que o Igor — que sofreu muito na mão dos pais — resolveu contar para os pais… Para o pai dele, que ele sabia da história. — Agora aqui eu acho que é bom a gente fazer um gráfico depois… — A história espalhou na família, tinha gente que já sabia e aqui agora entram mais duas pessoas, que são as outras tias do Luiz Felipe. Então tem a dona Maria Aparecida, que é a mãe do Luiz Felipe, tem a tia Sônia, tem a tia Augusta e tem a Beata, que é essa mais problemática, que ninguém gosta. Começou todo mundo a querer fazer um DNA daqui, um DNA dali, porque tinha rumores, porque isso, porque aquilo…A família entrou numa briga sem fim e os resultados de DNA foram ficando prontos… Sônia e Augusta tinham [risos] suspeitas sobre os filhos da Beata em relação aos seus maridos e agora anota aí: O Igor, filho da beata, o pai dele não é o pai dele. O pai dele é o marido da tia Sônia. O outro filho da beata, o pai é o marido da Tia Augusta. O outro filho da Beata é o irmão do Luiz Felipe… — Eu não estou dando nome porque é muito nome… Então o Luiz Felipe tem um irmão. —
E o quarto filho da Beata não é nem do marido… Ninguém sabia de quem era. E este menino, que não é mais um menino — que tem 22 anos — enlouqueceu porque queria saber quem era o pai. E nessa história toda, o pai, que é o marido da Beata, como se nada tivesse acontecendo… Não ligando… Porque, segundo tia Sônia, parece que ele não pode ter filho e ele já sabia desde criança que ele não podia ter filho, porque parece que ele tomou um coice de um boi. — [risos] Ai, eu não sei porque eu estou rindo, mas achei curioso. [riso] — Então, ele provavelmente queria uma família com muitos filhos e não ligou da Beata ter caso com todos os cunhados… — Porque ela teve um filho com cada marido das irmãs. — Então, três filhos da beata agora já com os pais certos, que são os maridos de Dona Maria Aparecida, que é a mãe do Luiz Filipe, da Sônia e da Augusta… Faltava descobrir — vamos dar um nome esse menino? Caio… — quem era o pai do Caio. E aí atormenta a vida da Beata, a Beata achando que todo mundo estava errado e que ela estava certa.
O Igor — que foi meio que expulso, entre aspas, da família — era o mais alegre de todos, vendo a casa de todo mundo cair… E agora todo mundo queria saber quem era o pai do Caio, inclusive o Caio. E ela não contava, ela não contava, ela não contava… Até que uma tia avó mandou uma mensagem para o Caio falando: [efeito sonoro de áudio afastado] “Olha, Caio, eu acho que você merece sim saber quem é o seu pai e não sei se você está preparado para isso, mas o seu pai é o Padre Fulano”. [efeito sonoro de tensão] Que é um padre que não está mais nem lá na cidade… E agora o Caio, junto com o Luiz Filipe, estão atrás do padre para ver se o padre faz o DNA para saber se ele é o filho do padre. — Tá bom pra vocês? — A tia do Luiz Felipe continua achando que que ela não fez nada de errado e, inclusive, falou pra tia Sonia e pra tia Augusta que elas que não souberam segurar os maridos e que ela pode dar filhos melhores para os maridos delas. E o tio do Luiz Felipe, que é o corno, continua sendo a pessoa mais homofóbica, racista, enfim, aquele combo, é o tio, marido da beata… O tio do Luiz Felipe.
A cereja do bolo é: O Luiz Felipe acha que o pai dele tá felizinho daquele jeito porque ele voltou a ter caso com a Beata. — O pai de Luiz Felipe não admite que ninguém fale mal da Beata, nada. — Eu falei: “Bom, Luiz Felipe, se o seu próprio marido da Beata não liga, por que você também vai ligar? Tragédia não vai acontecer nessa família…”, porque o Luiz Felipe acha que tudo que está sendo revelado agora pelos mais novos, essa geração mais velha todo mundo já meio que sabia, porque o Luiz Felipe falou: “Andréia, depois que eu vi os meus primos e o meu irmão, assim… O meu primo que é meu irmão, ele é a minha cara.. o Igor ele é a cara do marido da tia Sônia”, sabe assim? [risos] Ou da Augusta… Não lembro qual dos dois agora. Quem tá fora da família acho que percebeu também antes, não sei, assim… E o engraçado é que o Luiz Felipe falou isso, falou: “Todo mundo ali é muito, assim, do tradicional, da família e todo mundo comendo todo mundo, todo mundo traindo todo mundo, enfim…”, nem todo mundo, né? Só os maridos e a tia, que era a mais beata, de fazer realmente assim novenas, novenas… A mulher das novenas, uma pessoa realmente preconceituosa, uma pessoa que perseguiu o próprio filho, que é o Igor, por ser gay, né? Tá lá…
O casamento não foi abalado, os quatro filhos dela, um de cada pai, nenhum do marido. —Porque, assim, por mim tudo bem, né? — O pior é que ela teve filho com os maridos das irmãs dela, isso que me pega… Todos os maridos… Não é assim, ah, você catou um, você catou os três… Teve um filho com cada marido das suas irmãs… E agora o Caio, talvez filho do padre. — Não sei se o padre vai fazer DNA, se não vai… Ela não fala. — Ela dá umas — pras duas, pra Tia Sônia pra Augusta — “Ah, vocês não são mulheres suficientes, por isso que vocês não seguraram o marido de vocês. Mas Deus está do meu lado”. — Deus está do seu lado? [risos] Como assim Deus está do seu lado? [risos] Você traiu Deus e o mundo, Sodoma e Gomorra… Deus está do seu lado? [risos] Enfim, X… — Então agora o Luiz Felipe está aí nesse núcleo familiar, descobriu que ele tem um irmão e é um primo que se dá super bem, então tá tudo certo… Mas ele tem mais afinidade com o Igor, porque ele abraçou o Igor, levou para a cidade e tal, então ele tem um pouco mais afinidade com o Igor do que com o próprio irmão—primo… Porque é um irmão—primo, né?
Ainda bem que descobriram agora que todo mundo já passou dos 20, porque aí cada um assimila de um jeito. Uma coisa curiosa é que todos os filhos são homens. — Então, de mulher nessa família tem a Maria Aparecida, que já faleceu, a tia Sônia, a tia Augusta e a Beata. — Essa é a história do Luiz Felipe… — Precisamos de um gráfico para entender quem é quem, quem é a mãe de quem, quem é pai de quem. — E essas duas pessoas, com personalidades mais horríveis, que é a Beata e o seu marido, são aí os que estavam no centro da coisa, um como o corno e ela como a pegadora da família. — Dentro do núcleo familiar… Porque ela não pegou os caras de fora, aparentemente… A gente não sabe também… Mas tipo, teve filho com os maridos das irmãs. Então, fica aí o exemplo da família tradicional brasileira da cidade de interior, que tem até aí um, talvez, suposto filho de padre. —
Assinante 1: Oi, gente, aqui a Ariana, fala dos Estados Unidos. Eu fiquei igual aquele meme da Nazaré Tedesco tentando entender quem é filho de quem, quase que eu peguei um papel pra anotar o nome de cada um para poder entender direito. Mas nossa, que confusão… E quando eu fiquei vendo lá que o quarto filho não tinha pai, não tinha pai, eu só fiquei assim: “Que não seja o padre, não seja o padre, não seja o padre” e foi o padre… Assim, o plot estava perfeito para uma série. [risos] Adorei… [riso] Desculpa aí, Luiz Felipe, sinto muito pela sua perda na sua família e por toda essa confusão, mas nossa, foi de uma entretenimento e tanto. Beijo.
Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui quem fala é o Alberto de São Paulo. Luiz Felipe, meus sentimentos pela perda da sua mãe… É um misto de tristeza, mas ao mesmo tempo saber que você tem um irmão. Pena que numa situação totalmente, assim, ruim, né? É uma história de múltiplas traições. Espero que você fique bem. Eu sou uma pessoa homossexual e fico muito feliz que você acolheu seu primo, viu? Um beijo pra todos.
[trilha]Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram, [risos] sejam gentis com o Luiz Felipe… E tudo começou aí com a confissão do pai dele, né? — E o Luiz Felipe quis ir atrás, enfim, os jovens são mais arrojados. [risos] — Um beijo, gente, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]