Skip to main content

título: cordão
data de publicação: 09/01/2023
quadro: mico meu
hashtag: #cordao
personagens: kimberly

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Ops. Mico Meu, haha. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei pra um Mico Meu. [risos] E hoje eu vou contar pra vocês a história da Kimberly. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Kimberly conheceu um rapaz aí e ela começou a namorar esse rapaz… E eles estudavam na mesma universidade. Então, enquanto eles estavam ali durante o curso, os dois já estavam no último ano, tudo funcionou muito bem. Acontece que depois que acabou o curso, esse rapaz voltou para assumir os negócios da família… — família rica. — E Kimberly ali, classe C, foi atrás de um trabalho na área em que ela se formou. Então, já começa por aí… — Eu sempre falo que eu acho um pouco problemático relacionamentos, assim, entre classes sociais que tenham muita diferença… Acaba dando uma pesada, assim, pra quem é mais da classe C, né? Você vai se envolver com uma pessoa rica e vai rolar um preconceito, né? —


Começou a acontecer com a Kimberly… ela ainda não tinha conhecido a família do namorado, mas já as vezes eles estavam juntos na kitnet da Kimberly e ele fazia FaceTime e a mãe do cara sempre assim, com aquela cara de nojo, sabe? — Pra mim já não dá… — o tempo passou mais um pouco e o cara falou: “Olha…” — ele já deu aquela adiantada, né? Porque sabia que podia dar problema. — “Minha família não é tão legal, mas eu acho que você precisa conhece-los e nã nã nã… Eu vou marcar um almoço na casa da minha mãe, super informal”. — Pra vocês terem uma ideia… — A casa do cara tem quadra de tênis… — Então você tira por aí, né? Pra mim, só tem quadras de tênis quem é rico ou num Clube. Odeio Clube também, mas em Clube é que tem, né? —


Então, a casa do cara com quadra de tênis… Eles marcaram um almoço que seria, assim, permeado ali por partidas de tênis. Era um brunch… — É brunch que fala, né? Brunch? Então já viu, né? — E aí ele falou assim pra Kimberly… [risos] “Kimberly, vá com roupas esportivas e roupas claras”. — Ainda tem isso, gente… Ele escolhe, né? O tipo de roupa que você vai… Tem todo um dress code aí pra seguir. — E aí Kimberly falou: “Puts, como é que eu não vou passar feio? Que roupa que eu vou? Não tenho roupa de marca, como é que vai ser?”. E aí, Kimberly optou pelo básico… — E um básico que eu gosto muito, que é o conjunto de moletom, as duas peças da mesma cor e o tênis. — Então ela foi de moletom… Estava meio friozinho, assim, de moletom branco. Então o agasalho, a blusa e a calça de moletom branco e um tênis branco no pé. — Estava ótima… — 


Estava ótima, estava dentro da proposta… — Ela não ia jogar tênis, porque se não o moletom pode atrapalhar um pouco os movimentos, mas ela não ia jogar, não sabe jogar, não sabe nem pegar numa raquete, assim como nós, a maioria dos ouvintes do podcast. — E aí lá foi Kimberly, arrumadinha, bonitinha mesmo, conhecer a família do cara. Chegando na casa do cara, ela viu que tinha lá primos, alguns amigos e todo mundo… — Sabe aqueles estilos assim de cara que anda com a blusinha no ombro assim? Todos assim… Imagina assim: uma galera toda de tons pastéis. Você via que era aquela gente rica que a gente odeia. — E aí ele apresentou, ele foi muito educado… Ele apresentou a Kimberly pra todo mundo e uma hora ela ouviu as primas lá do cara implicando… — Porque a Kimberly… Aqui eu usei o nome “Kimberly”, mas ela tem outro nome que é tipo americanizado, né? — Então ela viu as primas rindo do nome dela. — Então, para mim, aí já é pegar a raquete já dar umas raquetadas ali nos ricos e ir embora, né? Mas Kimberly não ia sair fora. —


E aí, gente… Tinha lá uma mesa longe da parte das quadras onde estavam as pessoas… Isso a Kimberly falou que era onze horas da manhã e as pessoas já estavam bebendo um espumantezinho. [risos] — Aí não vou criticar, viu, Kimberly? [risos] Um pão na chapa e um vinho… [risos] Não vamos falar disso, deixa o pessoal beber. [risos] — E aí estava lá o pessoal já tomando uma cana onze horas da manhã e Kimberly falou: “Bom, beber eu não vou, que eu não vou dar defeito aqui, né? Não vou beber”. E aí ela foi lá e começou a pegar as coisinhas. E, assim, tinha muitas coisinhas, tipo vários patêzinhos… — Pela uma coisa que ela falou lá das bolinhas, deve ser caviar aquilo… Kimberly não sabe não sabe distinguir porque não era preto, né? Ela falou: “olha, eu procurei no Google e caviar era preto, mas o que tinha lá não era preto, mas eram as bolinhas e tal”, falei: “Bom, sagu não era porque sagu é de festa de pobre” [risos] e sagu não passa no pão. [risos] A referência que a gente tem é o sagu, né? As bolinhas de farinha. [risos] —


Aí Kimberly comeu… — Não exageradamente, de maneira fina, mas toda hora ela passava na mesinha e pegava um negocinho. Eu faria? Eu faria. — E aqui nós temos que voltar um pouco quando Kimberly estava ali se arrumando pra ir… [efeito sonoro de fita rebobinando] O que aconteceu? Kimberly, enquanto ela estava na faculdade, ela comia muita tranqueira, muita tranqueira… Depois da faculdade, comendo, se alimentando melhor, Kimberly deu uma emagrecida… E aí a calça de moletom estava meio larga, mas ok, né? — Dá para fazer um estilo aí? Fica até legal. — Só que o quê que… O que Kimberly [risos] fez? Kimberly pegou aquele cordão da calça de moletom e deu ali três nós bem apertados. Ainda falei: “Kimberly, você não pensou a hora que você precisasse fazer xixi? Ia ser uma luta pra tirar, né?”. — Nózinho de cordão, assim, quando o cordão é mais fino, é difícil, né? De algodão ainda o cordão… Se é um nylon solta mais fácil, mas de algodão… — E aí Kimberly falou: “É, depois eu pensei nisso, mas falei: “Bom, na hora de fazer um xixizinho, nem que eu demore ali uns dez minutinhos disfarçando e soltando os nózinhos, tudo bem”.


E aí Kimberly foi para a festa… Então, agora retomando… Voltamos lá para o brunch, onde Kimberly estava se deliciando com todos os patês e todas as coisas, vários sucos, porque ela não ia beber, né? Não ia tomar bebida alcoólica. E ela percebeu que as pessoas comiam muito pouco real, assim, elas não iam toda hora na mesinha quanto ela ia. [risos] Ela falou: “Ah, não vou ter outra oportunidade, então eu vou mesmo me esbaldar aqui, mas vou comer discretamente”. — Não fez feio, Kimberly não fez feio. — E, assim, toda hora o namorado dela vinha, ela circulava, tava bem… Ela percebeu ali que ela não era do meio, todo mundo percebeu que ela não era do meio, mas Kimberly estava bem, né? — E um detalhe: Kimberly falou que todas as pessoas eram brancas ali. Kimberly também branca, tá? —


Só que ela percebeu… — Aí a gente fala que quando tem preconceito de classe também… — Que mesmo sendo uma branca no meio dos brancos, ela era diferente. Todo mundo sacava que ela não pertencia àquele meio. Isso acontece também, acontece real… Se ela fosse preta então, capaz de não ter nem conseguido entrar. Kimberly tá ali comeu um negocinho, comeu outro negocinho, tomou sucão, copos de suco… — Ê, Kimberly… — E, de repente… [efeito sonoro de batidas na madeira] Kimberly falou que não foi uma pontada que ela sentiu assim na barriga, foi uma cólica daquela que já vem, já vem pra ir… Entendeu? [risos] — Já vem pra você correr pro banheiro. — Aí Kimberley pensou: “Lascou, vai me dar uma dor de barriga aqui. Onde que é o lavabo?”. Que eles estavam tipo uma área externa, e ali ela nem saberia onde é o banheiro.


Então, ela entrou na casa e perguntou ali onde era o lavabo e foi indicado pra ela… —Quando você está com dor de barriga, quanto mais perto você chega do banheiro, do vaso sanitário, mais difícil fica de você segurar. Você vai tirando ali a calça rápido e vrau, né? Sentou, foi. [risos] Alívio. E foi isso que foi acontecendo com Kimberly. — Conforme ela entrou no banheiro e travou a porta do lavabo. Um lavabo chique… A Kimberly não sabe identificar se aquilo era um mármore, mas branco de fora a fora, com umas manchinhas, assim… O chão também… — Mármore, vamos pôr aí que é mármore. — E aí, conforme Kimberly travou a porta do banheiro, que ela olhou para o vaso, ela falou: “Puta, aí o organismo já falando pra você, “agora eu vou, agora eu vou”.


Kimberly botou a mão na calça para descer, calça bem presa na cintura. — Por quê? — Porque Kimberly deu três nós pra amarrar a calça… E aí, gente, começou uma luta pra tentar desamarrar e o tempo passando e Kimberly não conseguindo segurar. Até que ela fez um movimento assim, meio que de tentar fechar as pernas… — Sabe quando você está assim esfregando uma perna na outra? Apertada assim? Pra ver se o cocô não saía… — E o cocô saiu. Kimberly foi alvejada pelo seu próprio jato de cocô, que bateu nesse moletom branco… [risos] E escorreu por suas pernas. Kimberly não conseguiu desamarrar o cordão e cagou na calça. [risos] Saiu com pressão que Kimberly disse que sentiu a calcinha, tipo, ensopar, bater, voltar na bunda… — E aí, gente… Moleton branco, a calcinha que ela estava nude, pra não aparecer ali no moletom, moletom grosso, mas moletom também não foi herói. [risos] Não tinha como… [risos] —


E aí Kimberly estava no banheiro da casa da mãe do cara toda cagada… — Toda cagada… — E o tênis cagado, a meia cagada, calça cagada… Segundo Kimberly, a merda subiu até a cintura. [risos] — Desculpa, Kimberly… [risos] Olha, eu ri com Kimberly, tá? Ela já está bem com essa história, se não eu não estava rindo aqui. — E aí, gente, para mais sorte da Kimberly, ela estava com o celular… Quando ela entrou no banheiro, ela botou o celular ali em cima da piazona bonitona ali do lavabo e se cagou. E aí ela teve que ligar para o namorado e chamar o namorado para dentro do lavabo, um lavabo grande… Só que nessa altura, a merda de Kimberly já tinha até entrado toda dentro do tênis… E o cheiro tava insuportável. Aí ela chamou o cara, o cara veio, o cara ficou horrorizado… — A palavra é: horror. [risos] — E aí ele não sabia como resolver. Assim, ele ficou atônito mesmo, em choque mesmo. — Não perguntou nem pra ela, assim, como aconteceu, ele só olhava aquilo e pensava: “Meu Deus, minha família, a casa da minha mãe… Vai ter que implodir isso aqui e fazer outra”. [risos] E a Kimberly falou que realmente o cheiro era de morte, que ele… Ó, me dá ânsia também. Ó… — 


Ele ficou com aquela ânsia e ele saiu do banheiro, ele falou: “Kimberly, vou te telefonar, não consigo ficar aqui dentro”. E aí ligou pra dentro do banheiro pra falar com Kimberly, porque não estava dando… [risos] Deve ter se afastado do lavabo, ido lá fora tomar um ar. [risos] E aí ele foi lá e pegou um uniforme, provavelmente de algum funcionário, de alguma funcionária de lá, uma calça dessas de uniforme mesmo, sabe? De funcionário e uma Havaianas. — Ele não poderia, sei lá, pegar uma calça da mãe dele e um sapato, sabe? Eu não sei, ficou estranho… Ficou estranho… E ele deu um saco de lixo pra ela. —

Quando você tem o seu melhor tênis, você mesmo que ele esteja cagado, você não vai jogar ele no lixo, você vai querer limpar. E aí, Kimberly falou: “Bom, agora eu já estou toda fodida mesmo” e pegou e botou, tirou o tênis e tal, sujou todo o chão de bosta… Uma coisa louca, e a Kimberly começou a lavar o tênis dentro da pia do lavabo. [risos] A pessoa pobre também é foda. [risos] Aí tirou o tanto de merda que deu ali do tênis… A meia ela falou: “Bom, eu vou passar uma água em tudo aqui, boto dentro do saco e vou levar pra minha casa”. E aí Kimberly saiu na frente de todo mundo — e essa a parte que eu acho mais problemática — com aquela calça claramente de uniforme e havaianas. Todo mundo ficou em choque…


Ela saiu do lavabo, passou pela sala, tinha gente sentado, conversando, enfim, a casa estava aberta, né? E foi até onde estava o carro do cara. E o cara foi lá e disse que tinha chamado um carro de aplicativo, porque ele não poderia sair da festa àquela hora. — Ô, gente… — O banheiro ficou interditado? Ficou. Porque Kimberley falou: “Eu não vou… Eu não tenho nem como lavar esse banheiro, o banheiro vai ficar aí”. Ela o tanto que tinha lá de papel, teve que lavar a bunda praticamente na pia… [risos] — Ê, Kimberly… — Pra sair minimamente, assim, aceitável, mas ainda com aquela Havaianas e com aquela calça totalmente destoando de todo mundo que estava ali. Então, assim eu achei que ele podia ser mais delicado e ter dado uma roupa pra Kimberly mais discreta, pra que ela não se sentisse como ela se sentiu, humilhada. Não por ser uma calça de uniforme e uma Havaianas, porque isso a gente usa, mas por ser naquela situação, né? A gente entende esse sentimento da Kimberly, que ali pareceu que ele ficou com raiva e realmente quis mostrar pra Kimberly qual era o lugar dela.


Essa é a sensação que Kimberly teve, então, é uma coisa que a gente tem que respeitar e só ela estava na situação… Ela sentiu que ele passou essa mensagem, né? Tipo: “Olha, realmente você não pertence aqui, tá aqui o seu lugar”. Ele não foi grosseiro, mas ele foi seco e ele foi insensível, né? — Então a gente já odeia ele, óbvio. — E aí Kimberly entrou no carro de aplicativo com aquele saco fedendo a bosta… [risos] E aí foi a hora que ela realmente chorou e viu que, né? Não dá pra namorar alguém numa classe social muito diferente da sua, porque você está sujeito a esse tipo de coisa, né? E aí a Kimberly foi pra casa e falou: “Eu vou bloquear ele em tudo, né? Quando eu chegar, vou escrever um texto”. E aí, quando ela chegou em casa… — Gente, namoro de mais de ano, tá? — Ele já tinha bloqueado a Kimberley em tudo. Bem feito aí que o banheiro ficou todo cagado. [risos] Mas ao mesmo tempo fico triste porque não são eles que vão limpar, né? Provavelmente vão colocar um funcionário, uma funcionária para limpar a merda na casa deles, como eles fazem sempre, né?


A Kimberly ficou mal um tempo, depois passou… E aí vai contando para as amigas a história, todo mundo vai rindo e hoje é uma história engraçada, assim, no meio das amigas da Kimberly. — Então, foi por isso que eu ri, tá?  — Mas a real é essa, se Kimberly não tivesse dado tanto nó naquele cordão do moletom, [risos] não estaria cagada na festa ali de pessoas ricas. [risos] — Ê, Kimberly… [risos] Falei uns dez “Ê, Kimberly” hoje, hein? — [risos] Essa é a história da Kimberly, sejam gentis com ela.


[trilha]

Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, aqui é Paula de São Paulo. Oi, Déia, oi, Kimberly, acabei de ouvir sua história e eu ri muito com a Déia… Mas conforme foi chegando o final da história esse sentimento mudou pra muita raiva e ódio desse cara que merecia além de muita cadeira, muita raquetada. Kimberly, pensa, ó: Esse sufoco que você passou nesse banheiro chique com o nó triplo na sua casa serviu pra que esse cara saísse da sua vida, né? Eu imagino que tenha sido complicado pra você porque um relacionamento de mais de ano acabar desse jeito, né? Mas ainda bem que vocês não tiveram algo assim… Não casaram, enfim… O sofrimento foi, hoje você ri da história, ainda bem… [risos] E eu espero que você esteja muito bem hoje. Um beijo, Kimberly. 

Assinante 2: Olá, todo mundo… Olá, aqui é a Ana, eu falo do Rio de Janeiro. Kimberly, traída pelo próprio cordão da calça… [riso] Realmente, né? A gente só conhece a pessoa na hora do aperto… Porque era pra essa situação ser cômica, mas o cara resolveu ser um belíssimo de um babaca em vez de mostrar que gostava mesmo de você ali, dando uma assistência, porque a situação foi braba. [risos] Mas foi livramento, cara, ele ter saído da sua vida… O banheiro sujo foi merecido sim. Ainda bem que essa coisa toda pelo saiu uma situação engraçada. Eu espero que você esteja bem, tá? E um grande beijo. 


[trilha]


Déia Freitas: Um beijo, Kimberley. A gente riu muito, foi muito divertido. Gente, eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva paranaoinviabilize@gmai.com. Mico Meu é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]