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título: desaparecida
data de publicação: 22/06/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #desaparecida
personagens: gutierrez e marlene

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei para um Luz Acesa. Hoje eu vou contar para vocês a história do senhor Gutiérrez. Essa história se passa nos anos 80… Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

O seu Gutierrez era policial militar, — nos anos 80 — hoje ele já é reformado, já está aposentado. E ele estava ali na rua com o parceiro dele, em patrulhamento, quando entrou uma chamada que era para ele ir verificar. [efeito sonoro de carro dando partida e sirenes de policia] Chegando lá, ele viu que se tratava de uma briga familiar e que era uma mãe, uma senhora já de idade, brigando com o genro… Dizendo que o genro tinha sumido com a filha dela. — Que seria a esposa do cara. — O cara alegava que a esposa tinha ido embora e a mãe dizia que ela jamais faria isso, né? Que eles tinham acabado de ter um bebezinho. — Inclusive era ela que estava cuidando do bebezinho e que ela jamais iria embora sem o filho e nã nã nã. —

E aí eles estavam brigando, né? E chamaram a polícia porque ela tinha ido para cima dele, enfim… E aí o seu Gutierrez ali e o parceiro tentaram apaziguar as coisas, né? — O que eles chamam de desinteligência. — E se prontificaram a levar a senhora pra fazer um boletim de ocorrência do desaparecimento da filha, porque já tinha mais de dez dias, então ela já poderia fazer esse boletim. E ali o seu Gutiérrez ficou um pouco intrigado, porque, assim, o marido não fez o boletim de ocorrência de desaparecimento da esposa. Ficou combinado ali que ninguém ia prestar queixa contra ninguém e eles levaram essa senhora muito aflita até a delegacia e deixaram ela lá, porque, assim, nada mais tinha a ser feito ali pela Polícia Militar, né? Somente agora a investigação com a Polícia Civil, então o trabalho do seu Gutiérrez terminava ali.

Então ele foi, participou de outras ocorrências e tal, passou o dia, terminou o turno dele e ele foi para casa. Assim que o seu Gutiérrez pegou no sono, ele começou a sonhar com uma moça que estava na beira de o que parecia um lago ou uma represa, e ela estava muito, muito, muito inchada e, quando ele chegava mais perto, ela olhava pra a cara dele… Ela virava, olhava para a cara dele assim e parecia que ia engolir ele. [efeito sonoro de tensão e alguém se assustando] E aí ele acordou assustado… Ele falou: “Nossa, né? Que coisa… Que coisa horrível”. Ele estava de folga, ele só ia trabalhar depois de dois dias ali, né? Em turnos, né? E nesse dia de folga ele também sonhou com a moça… Dessa vez ela não estava brava como ela estava no primeiro sonho, ela estava chorando muito. [efeito sonoro de pessoa chorando] Só que sempre muito… Cada vez mais inchada e chorando.

No terceiro dia, ele na viatura… — Quem dirigia era o parceiro dele. — Ele na viatura e, do nada, essa moça aparecia como se fosse na frente dele, assim… — Dentro da viatura. — Só o rosto dela… E aí ele assustava e o parceiro dele falou: “Cara, o que você tem, né? Você está todo estranho aí”, e o seu Gutiérrez falava: “Não, tem nada, não… Estou só sobressaltado aqui e tal” e o amigo dele ficou meio cabreiro assim, ele falou: “Não, você não está bem, você está estranho e tal, né?”, e passou… Nesse dia desse turno que ele estava estranho, tinha pouquíssimas ocorrências, né? E eles faziam uma determinada área e o seu Gutierrez falou pro parceiro dele assim: “Vamos passar na casa daquela senhora?”. — Deu uma vontade nele que ele não sabe de onde é e porque, nada… E ele queria passar na casa lá daquela senhora que estava com a filha desaparecida, mas até então ele não tinha ligado uma coisa a outra, né? —

E aí o colega dele ainda brincou falou: “Ué, você está caçando ocorrência? Vamos passar lá por quê, né?” e tal, ele falou: “Não, vamos dar um pulo lá”… E eles foram, o colega dele ficou no carro ali, meio que descansando… — Já não querendo treta… — E ele foi, bateu palmas, a mulher saiu e aí ele perguntou, né? Se tinha encontrado a filha, o que tinha acontecido… Ela falou que fez B.O, passou tudo lá para o investigador nã nã nã e ela convidou o seu Gutierrez pra tomar um café, comer uma fatia de bolo. Aí o outro — o parceiro dele, quando ouviu a palavra bolo [risos] — desceu e eles entraram. E aí eles comeram o bolo e tal, — tudo muito rápido que eles tinham que sair — e seu Gutiérrez perguntando… 

E aí o seu Gutiérrez, até então, não tinha visto uma foto da filha dessa senhora. E quando eles estavam pra sair, o seu Gutiérrez falou: “Você tem uma foto dessa moça para me dar?” e ela falou: “Claro, tenho sim” e foi lá e pegou uma foto… O nome da moça era Marlene. E quando ele pegou na foto, que ele segurou a foto, na hora ele viu essa moça… [efeito sonoro de suspense] — E, assim, seu Gutiérrez nunca teve nenhuma visão paranormal, nunca foi médium, nada… Nem antes e nem depois desse fato. — Na hora que ele pegou na foto dela, ele viu essa moça como se fosse numa represa assim, enroscado em algum galho, em alguma coisa, assim, morta… E aí deu aquele susto nele, ele pegou a foto, falou: “ah, obrigado e tal”.

E quando eles entraram na viatura, [efeito sonoro de porta de carro batendo] ele falou pro amigo dele, ele falou: “Ó, vou te contar o que está acontecendo comigo”. E aí quando ele contou pro amigo que estava vendo aquela moça da foto em sonho e que ele quando pegou na foto ele viu ela morta, o cara ficou super assustado, mas acreditou nele… E nisso eles estavam ainda na porta da casa da mãe dessa senhora, né? Da mãe da Marlene. — Que a gente pode chamar de dona Maria… Na porta da dona Maria. — E aí nisso, o cara que era o marido, ele vinha vindo… Porque eles moravam no fundo da casa e, conforme ele chegou e ele viu a polícia, ele parou ali para perguntar se alguém tinha achado, encontrado ela por aí, “bebendo com algum cara”, ele falou assim…

E quando o seu Gutiérrez olhou para os pés desse cara… [efeito sonoro de tensão] Ele via… — Pensa assim ó… — Pensa: Ele estava no chão, na calçada, mas parecia que ele estava numa lama e saindo muita água, embaixo dos pés dele. E ele via isso… E ele ainda cutucou o cara e falou: “Me fala, como que tá aí… O pé dele tá molhado?” e o outro PM falou: “Não, o pé dele tá seco, tá na calçada”. — Então ele vivia esse lodo e via essa água embaixo dos pés desse cara. — Na cabeça do seu Gutierrez ele falou: “Pronto, esse cara matou a esposa e jogou ali em alguma represa”. E aí ele ficou com isso na cabeça, ele era um PM, ele não podia fazer nada. — Não era da alçada dele investigar nada… — Mas o amigo dele acreditou totalmente nele e falou assim: “A gente pode ir lá na delegacia ver quem está com esse caso… Só numa cortesia mesmo pra saber”.

E eles foram e era um investigador lá que estava cheio de coisa para fazer, não tinha nem conseguido pegar nesse caso ainda, porque era um caso de desaparecimento, então, assim, ninguém tinha muita prioridade nesses casos. E aí o colega dele falou: “Conta para ele” [risos] e o seu Gutiérrez falou: “Não vou contar, imagina”, “Conta pra ele”… E aí eles contaram para o investigador e, pasmem, o investigador também acreditou. — O investigador que já estava nisso há 20 anos, ele falou que ele nunca duvida dessas coisas, assim, que ele já tinha tido outras experiências nessa vibe e que ele não duvidava. — E aí ele falou: “Bom, eu vou dar prioridade para esse caso e vamos ver”. E aí passou uns 20 dias, ele parou de sonhar com essa moça e, depois de 20 dias, eles resolveram voltar na delegacia num turno lá e o marido da moça já estava preso.

O que esse investigador fez? Ele convocou o cara pra ir lá prestar depoimento… — Porque até então só quem tinha ido fazer o boletim de ocorrência tinha sido a mãe da Marlene. — E, quando ele chegou lá, esse investigador mentiu… Falou: “Ó, a gente já sabe que você matou a Marlene e que você jogou ela na represa. Você vai querer contar agora, vai querer dificultar… Como é que é?” e o cara começou a chorar… O investigador mentiu, jogou verde, assim, tipo, falando do sonho do Gutiérrez e o cara começou a chorar e ele confessou. Confessou que a Marlene queria realmente ir embora, mas queria levar o filho e tal e que aí num dia ele matou e botou a Marlene no carro… Dona Maria não tinha nem acordado ainda, — ele fez isso de madrugada — saiu, voltou e falou que ela tinha ido embora… E ele não jogou só o corpo da Marlene, ele jogou uma mala junto e, quando acharam o corpo dela, estava muito já, assim, decomposta e acharam a mala também que ele tinha jogado, que era para fingir que, tipo, ela tinha ido embora.

Agora me diz, o que rolou? Por que só o seu Gutiérrez? Tipo, não aconteceu nada com mais ninguém… E era a moça então que estava aparecendo nos sonhos dele, ela já morta, né? Seu Gutiérrez lembra que ele acompanhou esse caso, de longe, mas acompanhou… Acabou até saindo no jornal e tal… O caso, né? — Não o sonho dele, essas coisas, não… — E o cara pegou 12 anos de cadeia pelo assassinato da esposa. Foi a única experiência sobrenatural do seu Gutiérrez e ele disse que era nítido, assim, tanto ver a moça na represa quanto quando ele encontrou o marido e viu como se ele estivesse lá com os pés naquela represa e minando água, assim, saindo água ali no barro e tal. Gente, não é louco isso? Eu fiquei meio cismada.

[trilha]

Assinante 1: Aqui é a Jaque Epifânio, de BH. Achei muito interessante aí como se deu o caso, como ele foi desvendado e acho que, nesse caso, acredito que todas as pessoas tenham uma predisposição pra estarem mais abertas, né? Pra se comunicar aí com o além, com o outro lado, com as pessoas que já fizeram a passagem. E, no caso do seu Gutierrez, era uma delas. Ele, ao longo da vida, pode não ter tido uma outra oportunidade de trabalhar essa predisposição que acredito que ele deva ter nascido com ela, mas numa questão de necessidade ele foi o mecanismo que a vítima, que essa moça encontrou de comunicar pra poder desvendar o caso e ela também ter paz, né? E fazer sua passagem aí com mais tranquilidade, tá bom? Beijo, Não Inviabilizers e até a próxima história.

Assinante 2: Oi, gente, meu nome é Carol, eu sou de São Paulo e eu tenho tantas coisas pra falar sobre esse caso que eu nem sei por onde começar… Mas a primeira é que a Déia perguntou: “Ah, como só o seu Gutierrez via a moça, né?”, provavelmente ele tinha uma mediunidade não desenvolvida e a moça percebeu… E aí viu, né? Nele uma forma de explicar e de solucionar o caso dela, né? De dar uma paz pra mãe e pro filho sobre onde ela estava, né? E ela poder descansar em paz também. E eu fico P da vida porque eles foram lá na delegacia e o investigador falou assim: “Ah, eu vou deixar esse caso pra depois porque eu tô cheio de coisa pra fazer”, “ah, é só uma mulher desaparecida 10 dias, né? E a mãe da mulher falando que tem certeza que a filha não ia abandonar o filho e tá lá desaparecida há dez dias… Depois eu dou atenção pra esse caso”. Ou seja, se o seu Gutierrez não tivesse visto o fantasma dela e se o investigador e o amigo não tivessem acreditado nele, provavelmente até hoje ela estaria no fundo da represa e o filho dela acreditando que a mãe tinha abandonado ele pra fugir com outro homem. É inaceitável o quanto a nossa sociedade não evoluiu até hoje… Mas é isso, um beijo, galera. 

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo o que aconteceu com o seu Gutierrez, vocês acham que a moça se ligou nele no dia da ocorrência? Por que essa conexão com ele que era um total estranho? Então é isso, gente, eu volto em breve. Um beijo.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.