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título: dr. requeijão
data de publicação: 16/01/2023
quadro: mico meu
hashtag: #requeijao
personagens: déia freitas e janaína

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Ops. Mico Meu, haha. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Mico Meu… – E hoje eu não tô sozinha, meu publii. – [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é o Sony Chanel, com um anúncio maravilhoso para quem é super fã aí da série Grey’s Anatomy. No dia 17 de janeiro às 21h estreia no Sony Channel a décima nona temporada de Grey’s Anatomy. – Gente… – E pra comemorar a chegada dessa temporada – quem não curte aí Grey’s Anatomy? – a minha prima Janaína perdeu uma aposta para mim e aí, se ela perdesse, eu ia contar aqui uma história dela, uma passagem aí vergonhosa da vida de minha prima Janaína. [risos] E é isso que vai acontecer agora, eu vou contar aqui uma história de uma cirurgia que a Janaína fez. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]


O ano não vou lembrar porque, assim, não existia nem carro de aplicativo ainda, era uma outra época… E a Janaína era uma pessoa que tinha muita gastrite, assim, uma pessoa nervosíssima, com gastrite. E um dia ela estava indo para o cabeleireiro… – Aliás, um cabeleireiro ótimo que a gente tinha e que depois largou a profissão para ser cantor sertanejo e, enfim, foi muito triste essa época, a gente perdeu um excelente cabeleireiro e nem sei se deu certo a carreira dele aí de cantor sertanejo na noite, deve ter dado, né? Porque não voltou pro cabelo, enfim… – Janaína estava indo para o nosso cabeleireiro quando, de repente, ela sentiu uma dor, mas muito, muito forte no estômago, na boca do estômago… E ela começou a passar mal e quando você passa mal você liga o quê? Pro SAMU, né? Não, a Janaina ligou para mim falando que ela estava no ônibus e que ela ia desmaiar. – Parecia, né? A Janaína nunca desmaiou na vida. –


E aí eu disse pra ela: “Janaína, desce desse ônibus, né?”, e aí ela desceu do ônibus e ela estava cega, não conseguia ver nada assim, com muita dor, muita dor… – Não tinha mesmo carro de aplicativo na época. – E onde ela desceu tinha um ponto de táxi em frente, só que ela não lembrava. E aí ela comigo no telefone, eu falei: “Janaína, olha, do outro lado da rua, tem um ponto de táxi”. Aí foi lá, pegou o táxi passando muito mal… – E o taxista veio dando receita para ela de coisinhas pro estômago, sabe? – Chegou em casa, tomou um boldo, sei lá, deitou, passou um pouco… Naquele dia, de madrugada, a Janaína acordou passando muito mal, muito mal… Meu tio Arnaldo ainda, o pai dela, estava vivo, ela acordou o pai e já me ligou… [efeito sonoro de telefone chamando] – Porque a gente mora no mesmo quintal aqui, eu moro nos fundos, ela mora na frente… –


E era umas duas e pouco da manhã… Meu tio tinha feito um boldo pra ela, eu falei: “Não adianta boldo, a Janaína tá vomitando óleo”. – Ela estava vomitando óleo, gente… Sabe assim a garota do exorcista que vomitava uma coisa verde? A Janaína vomitava tipo óleo mesmo, como se ela fosse um frasquinho de azeite. [risos] Ela é baixinha, sabe? Um frasquinho de azeite. – Ela vomitava óleo… Eu falei: “Não adianta, a gente tem que ir pro hospital… Eu nunca vi ninguém vomitar óleo.” – Não tinha comida, nada, era óleo puro… – E aí a gente chegou no PS a plantonista tava dormindo, óbvio, porque não tinha ninguém pra atender. Estava certa ela, tava lá tirando um cochilo. E aí fui lá, cutuquei a médica, falei: “moça, minha prima tá aí vomitando óleo”. [risos] E aí ela foi atender a Janaína e, na hora que ela viu, ela já sacou que era vesícula e queria explicar pra Janaína o que estava acontecendo.


A Janaína falou: [efeito de voz fina] “Médica, pelo amor de Deus, primeiro me dá um remédio, alguma coisa, depois explica”. E aí explicou, deu ali uma coisa paliativa e falou: “Olha, marca um gastro… Já marca um cirurgião gastro, porque provavelmente você vai ter que operar”. Janaína é toda cagona para qualquer coisa assim de cirurgia, nunca tinha feito nada… Então eu falou: “Bom, vamos no médico, né?”, e aí nessa primeira consulta que ela foi, eu não pude ir, ela foi sozinha… – Porque geralmente a gente vai junto assim, né? – E a médica, aquela plantonista, tinha sido tão sensacional que ela já tinha pedido os exames pra Janaína. Então, quando ela foi pro cirurgião, ela já foi com os exames e chegou lá o médico, que era um médico sensacional… – Que a gente pode chamar aqui de Dr. Renato. – Pensa num cara gente boa, falante, assim, felizinho.


E aí ele pegou os exames e falou: [efeito voz fina] “Olha, provavelmente tem uma pedra mesmo, mas essa pedra foi pro fígado, e aí a gente tem que fazer uma incisão e tirar essa pedra”, enfim, falou lá o que tinha que fazer e marcou a cirurgia pra abril e até lá, assim, ela tinha que passar algumas consultas e tal… E nesse primeiro dia que eu não fui com a Janaína no médico, quando ela chegou eu perguntei: “E aí e tal?”, e perguntei também como era o atendimento médico. – Porque a gente sabe que é uma realidade que para pessoas negras, principalmente para mulheres negras, o atendimento médico às vezes é um pouco hostil. – E aí ela falou muito feliz, falou: “Nossa, o médico foi maravilhoso, ele foi sensacional e nã nã nã. Só que tem uma coisa… O Dr. Renato tem uma coisa”. Falei: “O quê?”, ela falou: “Déia, quando ele fala, ele vai juntando aquele creminho branco no canto da boca… E aí eu não consigo mais ficar olhando pra ele, que eu só fico olhando para aquele creminho no canto da boca, parece um Requeijão”. [risos]


E aí é toda vez que ela ia no médico conversar com o Dr. Renato, ela fixava nessa coisa… – Quando a gente fala muito e não toma água, sabe? Que aí o canto da boca fica…. Eu estou até passando a mão aqui, ó… Faz aí você também aqui, ó, cantinho da boca, sabe? Fica aquela coisinha branca…. – Isso virou uma coisa entre a gente assim, de falar… E aí a Janaína começou a chamar ele de “Reque”, de “requeijão por causa do cantinho da boca. “Ah, o Dr. Requeijão ele é maravilhoso”. – Dr. Requeijão… Mas assim entre ali nós duas só, né? – Chegou o dia da cirurgia… – A cirurgia eu fui junto com a Janaína e meu tio Arnaldo também. – Era para durar uma hora e meia e durou três horas e meia, porque não achavam a tal pedra, enfim, né? E tirou a vesícula… A pedra dela que tinha ido para o fígado provavelmente o fígado da Janaína comeu a pedra… [risos] Porque não acharam… Procuraram de todo jeito, não acharam, enfim… Tiraram a vesícula da Janaína.


E quando ela saiu da sala do centro cirúrgico, ela passaria pela gente com a maca e iria para o quarto e a gente já poderia ficar com ela ali no quarto. – Então pensa a cena, ó: A gente tá do lado de fora do centro cirúrgico… Então tem lá o centro cirúrgico, tem um corredor do hospital e a gente tá aqui, que tipo não é na parte geral do hospital, é na ala cirúrgica… – E a gente estava lá porque como demorou muito, a gente ficava perguntando pra enfermeira e tal, o médico falou: “Ah, deixa eles aqui, né? Quando ela sair eles já vão ver que ela está bem e tal”, e aí ele vinha depois pra explicar pra gente o procedimento que ele tinha feito, que a Janaína estava totalmente ainda da anestesia. Só que a Janaína, como ela saiu dessa anestesia? Ela saiu tentando levantar dessa maca, com duas enfermeiras segurando ela e gritando [efeito de voz fina] “Requeijão, eu te amo… Requeijão, eu te amo. Requeijão, você é tudo na minha vida”, e só eu e ela sabia que Requeijão era o Dr. Renato. – Por causa da babinha ali do canto da boca. –


E eu: “Janaína, cala a boca”, mas ela estava muito doida… Ela tentava sair da maca, sabe assim? Doida. E aí ele veio pra tentar explicar pra gente e ele tirou a touquinha, a máscara e tal pra falar com a gente ali, explicar… E a Janaína ficava tentando segurar nele e falar: “Requeijão, vem aqui, Requeijão, eu te amo” e ele falava assim pra mim: “Requeijão? Quem é Requeijão?”, sem saber o que fazer, né? Eu falei: “Não, ela tá falando de comida… Ela ama requeijão, catupiry, cremes”.., [risos] Falei: “Janaína ama cremes. [risos] Ela tá doida, não liga, não”, porque tava doida, Janaína tava doida. Tanto que ela foi para o quarto e eu tive que ficar um tempo no quarto, que ela estava com aquela camisola pelada atrás e queria sair correndo pelo hospital. Eu nunca vi uma pessoa ficar desse jeito como esse efeito de anestesia, assim. – Nunca vi… [risos] –


E aí ela ficou, ia dormir lá e eu tive que ficar esse tempo até ela melhorar, porque ela estava mal… – Mal que eu digo louca. Janaína fico louca, queria sair correndo, queria se jogar na janela, ficou gritando: “Requeijão, Requeijão” e Requeijão era o médico. – Aí quando ela ficou melhor, eu falei: “Bom, você dorme aqui que amanhã o seu pai vem te buscar”, porque eu tinha que trabalhar, não podia ficar lá com ela o tempo todo, né? E aí fui, trabalhei, e vim para casa para cuidar também dos nossos cachorros, na época a gente não tinha gato e tal.. No dia seguinte, meu tio – Arnaldo – pegou meu outro tio, que a gente tinha, né? Que também já faleceu… Um tio chamado Tio Alcir, que é o apelido dele, era “Zua”, de zoeira mesmo. Então foi lá o meu tio Arnaldo e meu tio Zua buscar a Janaína no hospital. E aí fizeram o papelzinho pra entrar, porque era, assim, final de visita e ela já podia sair de alta, né? Então os dois puderam subir. Só que meus meus dois tios eles eram muito, assim, idosinhos mesmo assim, muito gente caipira do interior…


E eles não sabiam onde era o quarto e, em vez de perguntar, o meu tio Arnaldo e meu tio Zua ficaram duas horas rodando todos os andares e entrando em todos os quartos do hospital, procurando minha prima. [risos] – Duas horas… – A Janaína já estava de alta, já tinha desocupado o quarto e ninguém achava eles. [risos] Eles estavam perdidos no hospital… [risos] Janaína já estava falada porque causou um show na ala, né? Então a enfermagem já estava de olho, tipo “ela é louca”, e aí agora os familiares também, né? Que não ajudam [risos] e tavam perdidos… – Precisaram procurar, botar a segurança para procurar os meus tios. – Perdidos dentro do hospital pra trazer a paciente, né? [risos] E ainda perguntaram: “Vocês tem condição de levar? Vai ficar os três perdidos”. E aí depois de praticamente três horas, a Janaína chegou em casa com os meus tios, eu estava trabalhando e no outro dia tinha um retorno com o Dr. Renato – vulgo Requeijão – pra saber aí como que estava e ele explicar mais assim certinho como foi e como seria agora o pós operatório e tal. 


E aí a gente foi… A primeira pergunta que a Janaína fez foi: “Onde ficava a vesícula?”, porque ela não tinha nem noção de onde era. E aí ele explicou e tal, deu aquela aula para a gente, falou tudo que ela podia fazer e que ela não podia fazer, o que ela podia comer, o que ela não podia comer. E aí a Janaína falou: “Olha, Dr. Renato, eu estou acho que ficando gripada, com dor de garganta, que eu estou com uma dor aqui na garganta”, aí o Dr. Renato falou pra ela assim: “Ah, não, isso não é dor de garganta, não, é por causa do tubo mesmo”. A Janaína falou pra ele: “Que tubo?”, falou: “Ué, pra cirurgia você foi entubada, né?”. A Janaína… Eu não sei o que ela pensou de como seria uma cirurgia dessa, – que foi uma cirurgia longa até, né? – eu não sei o que que ela pensou… Que ela jamais imaginou que ela fosse entubada. Esta criatura começou a passar mal no consultório do Dr. Renato só de saber que tinha sido entubada. Quer dizer, já tinha dado tudo certo, ela já estava no consultório falando com o médico, mas ela começou a passar mal porque ela ficou em choque que ela não imaginava que tinha sido entubada. 


[trilha]


Janaína: Oi, Não Inviabilizers, aqui é a Janaína, prima da Andréia, a dona desse mico… Depois que a Andréia me contou eu não tinha cara pra olhar pra ele, mas ele era muito gente boa, Dr. Reque. Gosto dele… Guardei minhas pedrinhas por um bom tempo. Depois eu desapeguei delas.. .Não sei nem porque eu guardei, mas eu guardei, enfim… Passou e espero não perder mais nada com a Andréia porque ó família pra passar vergonha, viu? Aqui ninguém ficou ileso, até os que já se foram. Um beijo povo, fiquem com Deus…

[trilha]

Déia Freitas: Olha aí a Janaína falando… Tem esse detalhe também. Ela guardou as pedras que acharam lá na vesícula, no fígado dela, sei lá, lá dentro dela. [risos] Janaína guardou as pedras por um tempo até eu fazer ela jogar fora. – Pelo amor, né? – E tá morrendo de medo de perder mais uma aposta pra mim, porque assim na história dessa família não falta, infelizmente.

[trilha]

Déia Freitas: A nova temporada de Grey’s Anatomy é um lançamento exclusivo do Sony Channel. Você pode assistir a décima nona temporada de Grey’s no dia 17 às 21h. – Novos episódios toda terça às 21h, nove da noite. Eu tenho tantas memórias de Grey’s Anatomy, gente… Tantas… – Amo… – Um beijo, gente, valeu, Sony Channel e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmai.com. Mico Meu é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]