título: ele voltou
data de publicação: 09/04/2023
quadro: religiosidade
hashtag: #elevoltou
personagens: jesus
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Religiosidade, pra quem tem religião. Ou não. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E cheguei pra este quadro novo, que agora vai se chamar “Religiosidade”. Eu estou aqui de volta, porque nós começamos na sexta-feira a contar uma história, que foi a Via Crúcis – que só quem passou foi Jesus – e nós fizemos a nossa Via Sacra, ouvindo a história dele e refletindo, vendo como a história contada sobre Jesus diz muito sobre os tempos que vivemos atualmente. – E, assim, eu acho que de tempos em tempos, né? Sempre rola. Inclusive, eu não preciso nem relatar aqui as analogias que a gente pode fazer com os tempos que vivemos agora. Mas a ideia era essa, pra quem tem fé e acredita, sentir a história de uma maneira e, pra quem não acredita, achar só uma história interessante de se ouvir. – Então, o quadro Religiosidade, ele não vem aí pra levantar nenhuma bandeira religiosa, muito menos pra, sei lá, levantar debates polêmicos, nada disso…
Eu sou uma contadora de histórias, eu gosto de contar histórias… Inclusive, quero contar aí histórias de divindades indígenas, de orixás e, enfim… A minha formação foi cristã, – Hoje em dia não tenho nenhuma religião, mas eu fui criada numa família cristã. – então eu tenho certa facilidade pra falar do assunto. Mas agora, por exemplo, pra contar uma história de um orixá aqui, eu preciso ter uma pessoa da religião me contando essa história e me dando todo um primeiro leque de informações… Pra eu poder dar uma pesquisada e tal e montar uma história. É um quadro que não depende de mim… Eu posso aqui contar as histórias que eu aprendia e que eu pesquisava, mas são todas histórias aí da época que eu fiz o catecismo, enfim, né?
Então, pra outras religiões, eu dependo que vocês enviem os relatos, vai ser muito legal contar. Estou aqui aberta a isso. Então, hoje eu quero trazer aqui a história de Jesus, depois que ele morre, né? A descida de Jesus ao subsolo, a mansão dos mortos e, logo depois, a sua ressuscitação. É basicamente um relato de fé que eu estou contando aqui, do que eu reuni da Bíblia e de algumas coisas que eu pesquisei. Não encarem aí como nada comprobatório ou científico, é um relato de fé. Então, vamos lá, vamos de história.
[trilha]A descida de Jesus a mansão dos mortos… E aqui eu preciso separar esse relato em três visões aí de vertentes cristãs. Então, a gente vai falar aqui como foi essa descida de Jesus para os católicos, para os protestantes e para os espíritas, como cada um viu esse momento, logo depois que Jesus morreu. Lembrando que a gente parou quando Jesus foi preparado, o corpo de Jesus foi preparado por Nicodemos e sepultado no túmulo do riquíssimo José de Arimateia. Na Bíblia diz que Jesus sofreu e morreu como uma pessoa de carne e osso, que ele sentiu todas as dores e todos os medos de um mortal. Mas aí, a partir do momento que Jesus morreu, ele deixou de ser mortal e ele passou aí a ser o salvador da humanidade.
E assim que Jesus morre, ele desce a mansão dos mortos. E aqui estão três visões dessa descida de Jesus. A primeira, segundo os católicos, a mansão dos mortos não é o inferno. Na visão da Igreja Católica, a mansão dos mortos é um lugar de espera, onde estavam ali os justos que morreram antes de Jesus e que, assim, que Jesus morreu, ele desceu lá e levou toda essa galera da mansão dos mortos pro céu. – Então, para a Igreja Católica, era um lugar de espera onde estavam ali os justos. – Já para os protestantes, quando Jesus morreu, ele desceu ao inferno, perdoou todo mundo que estava lá e levou toda essa galera pro céu. – Então, para os protestantes, Deus tem a visão de tudo, inclusive do inferno. Então, Jesus foi lá e pegou essas pessoas que estavam no inferno, perdoou e levou para o céu. –
Já os espíritas, acreditam que Jesus, assim que morreu, desceu as esferas inferiores e trouxe a galera para um plano espiritual mais bacana, assim, com mais oportunidades. – Então, para os espíritas, não existe assim um lugar… Um inferno, sabe? São várias camadas, vários lugares que você pode ir dependendo da sua evolução espiritual. – Mas independente dessas três visões de que para onde Jesus foi assim que ele morreu? A questão é que quando ele morreu, ele deixou de ser humano e passou aí a ser o salvador do mundo e também voltou lá pra salvar essas pessoas que estavam, enfim, por aí… – Então, você vê, né? [risos] Jesus morreu e não teve um minuto de paz, já teve serviço? [risos] Bom, acho que aqui deu para entender esse trabalho que Jesus teve depois que ele morreu, né? –
Existem pequenas diferenças nos relatos da ressuscitação de Jesus nos quatro evangelhos canônicos. Então eu vou juntar aí todos e dar uma versão aqui do que foi. Era madrugada de domingo, o dia estava, assim, quase nascendo e na frente ali do sepulcro de Jesus, tinha uma pedra muito pesada, enorme, fechando o sepulcro e tinham quatro guardas romanos que estavam super entediados, porque nada acontecia ali, na frente daquela pedra, tomando conta daquele túmulo. E por que aqueles quatro soldados romanos estavam lá? Porque os sacerdotes, assim que Jesus morreu, eles correram até Pilatos e pediram que ele mandasse, tipo, muitos soldados para guardar o túmulo, né? Com medo que os seguidores de Jesus roubassem ali o corpo de Jesus e criassem um lugar de peregrinação.
Eles queriam apagar qualquer referência de Jesus na Terra. – Eles tinham medo que o legado de Jesus continuasse depois que ele morreu. – E aí eles foram lá e pediram esses muitos guardas para o Pilatos. Só que, como eu disse pra vocês, Pilatos tinha mais que fazer. [risos] Pilatos estava cheio de problemas e problemas sérios. – Quase, assim, caindo o governo tal. – E aí ele virou para os sacerdotes e falou: “Gente, eu não entendo essa fixação que vocês têm em Jesus. O cara já tá morto. Eu já fiz tudo o que vocês pediram, agora se vira… Vocês não têm também os guardas de vocês? Manda lá. Quer tomar conta? Manda vocês, eu não vou mandar um guarda daqui. Daqui não vai sair uma tirinha de couro pra lá”. E aí os sacerdotes falaram: “Bom, então não vamos mandar muito, pra não desfalcar aqui a nossa guarda. Vamos mandar só quatro por vez”.
Então eles mandavam ali, né? Os guardas em um turno, sempre quatro guardas pra tomar conta do sepulcro de Jesus. E aí, nesse comecinho de manhã de domingo, de repente, os guardas que estavam ali parados, sem fazer nada, já de saco cheio também, ouviram um estrondo. E, depois desse estrondo, um clarão…E o que era esse estrondo? A pedra imensa, pesada, que precisaria de muitos homens pra tirar do lugar do sepulcro ali – da entrada do sepulcro de Jesus, tinha sido removida – e, conforme essa pedra foi removida, esse clarão foi aparecendo, os guardas viram um anjo. – E aí, assim, né? Chocados, passados… – E eles estavam ali, perplexos, paralisados de medo e tal, sem entender. Quando eles olharam pra dentro do sepulcro, que agora estava aberto, o sepulcro tava vazio. Não tinha mais nada lá dentro, só o pano que envolvia o corpo de Jesus. – A chamada mortalha. –
E os guardas ficaram assim, em choque. – Inclusive, sobre essa mortalha que seria o Santo Sudário, vocês podem pesquisar sobre o Sudário de Turim, que inclusive foi, se não me engano, apresentado no Vaticano há dois anos. Mas existem muitas evidências de que não é verdadeiro. Não foi a mortalha que envolveu Cristo. Então, há uma polêmica aí. Se vocês quiserem, pesquisem mais. – E aí os guardas, né? Sem entender nada, e aquele anjo que não falou nada, que eles também nem sabiam o que era. Eles saíram correndo, deram no pé e foram contar para os sacerdotes o que tinha acontecido. Enquanto isso, Maria de Magdala, a Maria Madalena, estava junto com a Salomé e a Maria, mãe de Tiago. Praticamente todo mundo se chamava Maria… Porque elas tinham combinado de ir cedinho até o sepulcro de Jesus ungir o corpo de Jesus com ervas aromáticas e nã nã nã…
Só que elas estavam apreensivas porque, primeiro, elas não sabiam como elas iam tirar aquela pedra imensa da entrada do sepulcro, né? E também tinha a questão dos guardas, enfim, muita coisa… Só que elas sabiam que elas tinham que ir, principalmente Maria Madalena. E aí, mesmo com tudo pra dar errado, elas resolveram ir e tentar entrar no sepulcro de Jesus pra ali fazer aí as coisinhas delas, o que elas queriam fazer e tal de rituais no corpo de Jesus. Só que, assim que elas chegaram lá, o choque… A pedra estava tombada de lado e o sepulcro estava vazio. – Antes, quando eu pensava no sepulcro, eu pensava num lugar muito grande, assim… Só que não… – Era como se fosse uma caverninha, assim, né? Então, sem a pedra na frente, você olhava você já havia só ali aquela mesa de pedra sem o corpo de Jesus em cima. – Então já dava para ver, né? Você chegou na porta ali, você viu. –
E aí elas pensaram o que qualquer um pensaria: “Puts… Roubaram. Roubaram o corpo de Jesus, e agora e tal?”. E elas começaram a ficar apavoradas. E aí, aquele anjo que já tinha aparecido para os romanos, apareceu de novo e falou: “Não, gente… Então, ele voltou. Ele ressuscitou, tá por aí, tá vivão”. E aí, num misto de alegria e de perplexidade… Porque, como assim? Ele voltou mesmo? Elas foram correndo avisar os apóstolos, né? Tipo: “Mano, ele voltou”… E Jesus tinha falado para os apóstolos que ele ia voltar. Só que, né? Enfim… Quando elas chegaram lá e contaram, ninguém acreditou. Inclusive o Pedro, ele resolveu ir até o sepulcro pra verificar se realmente as mulheres estavam falando a verdade, né? E mesmo Jesus dizendo que voltaria e tal, eles só acreditaram na hora que eles viram Jesus.
E isso passou-se ali um dia, né? O burburinho foi crescendo… “Voltou?”, “Não voltou?”, “Onde é que tá?”, “Como é que tá?” e, quando foi no começo da noite, Jesus apareceu de carne, osso e chagas na frente dos apóstolos e falou: “Então, eu voltei pra cear com vocês”. – Então, essa primeira aparição de Jesus ele não voltou, assim, ah, com um brilho em volta… Ah, um espírito, um espectro… Não, ele voltou como um cara de carne e osso e apareceu lá… Tanto que ceou com os apóstolos. -Jesus passou 40 dias na Terra entre as pessoas antes de ascender aos céus aí. Então, eu acho que eu tenho que encerrar aqui essa história, que é uma história só da ressurreição de Jesus. Então aí a Páscoa é isso, uma época de renovar as esperanças e pra quem acredita no retorno de Jesus, enfim, nã nã nã… Aqui eu queria só contar a história.
[trilha]
Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, eu sou Isamara, falo aqui de Taubaté. Assim como a Déia, eu também fui criada numa família cristã e, apesar de não praticar hoje, ainda carrego muito desses ensinamentos que eu tive no meu crescimento com a minha avó e eu acho que a principal lição que a gente tira da história de Jesus é do amor, o não julgamento, a proximidade com as minorias… Era isso que Jesus prezava. E é isso que a gente vê tão pouco nos dias de hoje quando falamos de religiosos e religiosidade no geral, né? Então, acho que ouvindo a história de Jesus e vendo o quanto ele sofreu, é mais impressionante como ele continuou amando a todos. Então, vamos carregar essa palavra de Jesus para a vida, o amor e o não julgamento. Um abraço a todos.
Assinante 2: Eu sou a Giovana, falo de Sorocaba, interior de São Paulo. Eu achei incrível a forma como você contou essa história, de Jesus, uma história que a gente já está até que familiarizado, só que normalmente são histórias que são contadas para nós em outra perspectiva, numa perspectiva do medo, da condenação, numa perspectiva mais doutrinadora mesmo. Eu até pensei que você fez por mim um trabalho que anos de catequese e crisma não me colocaram numa situação de de me interessar tanto pela história de Jesus, que é uma história muito linda, muito sofrida e complexa. Achei incrível a forma como você trouxe isso pra gente. Obrigada.
[trilha]Déia Freitas: Acho que é a história é essa, então esses 40 dias, se vocês quiserem, eu posso fazer um episódio só sobre isso e também sobre os apóstolos. Estou aberta aqui a contar histórias de outras religiões, mas eu quero contar tendo embasamento de religiosos aí, né? Pra me contar a história dos orixás, das divindades indígenas e, enfim, de todas as religiões aí que vocês quiserem ouvir as histórias. Gostei muito de trazer essa história para cá. – Tenho mais histórias lá no Twitter, tenho histórias acho que de Santo Antônio, São Cosmo e São Damião, que mais que eu tenho? São Francisco não lembro se eu fiz, mas tem umas histórias lá. – Tem mais algumas pra contar aí pra vocês. Então, eu vou trazendo aos poucos, eu quero mesclar com histórias de outras religiões, então fico aí aguardando o e-mail de vocês.
Pra quem é de Páscoa, uma boa Páscoa. Pra quem não é de Páscoa, um bom domingo. E amanhã estou aí de volta com mais histórias. Um beijo e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Religiosidade é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]