título: engomadinho
data de publicação: 01/02/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #engomadinho
personagens: juninho e um cara
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi. — [efeito sonoro de crianças contentes] Gente, vocês não vão acreditar quem está aqui comigo hoje. — A Netflix… [som de abertura da Netflix] — Sim, a Netflix… — A Netflix me convidou para contar o mês todo aqui no canal histórias de golpe para gente comentar a minissérie “Inventando Anna” da Shonda Rhimes, que estreia dia 11 de fevereiro. A série é baseada na história real da golpista Anna Delvey. Além de oito histórias de golpe que eu vou contar aqui no podcast, eu vou fazer dois episódios especiais: um contando a história da Ana Delvey e a sua prisão e outro contando a história da série e o seu desenrolar.
Detalhe: esses dois episódios especiais eu vou contar aqui no podcast e ao vivo no Twitter. — Socorro… E vou avisar vocês antes. — Vai rolar aí semana que vem, mas eu aviso vocês antes. E hoje eu vou contar para vocês a história do Juninho. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]O Juninho começou ali a cursar a faculdade dele com 17, finalzinho dos 17 para 18 anos. E, na sala de aula, tinha um professor, tinha mais ou menos ali os seus 28, 29 anos, muito gato… O cara era gato, professor do Juninho, andava muito bem arrumado, o cara só andava, assim, de roupas de marca…— Ali, na estica… — Os dois se curtiram, rolou um flerte e eles começaram a ficar. — Eu acho problemático, já falei aqui… Relacionamentos entre professores e alunos, mas enfim, eles começaram a ficar. — Estava tudo incrível e este cara resolveu pedir Juninho em namoro. — Só que tinha uma questão. — Nem o Juninho era assumido pra família e nem o cara era assumido também para a família dele. Então, esse namoro era um namoro sério, mas somente assumido ali no círculo de amigos. — Com as famílias não. —
Uma coisa que eu preciso destacar aqui é que este cara, — Que a gente vai chamar de engomadinho. — além dele andar muito, muito bem arrumado, sempre com grifes assim, com roupas caras, ele era um cara que gostava ali de ostentar e de dar presentes caros. Ele chegou a dar telefone caro para o Juninho… Enfim, o cara esbanjava dinheiro. Convidava as pessoas, sei lá, para ir em algum lugar e ele pagava a conta… Ele era esse tipo de cara. Sempre com muito dinheiro, sempre ostentando. O detalhe é que o Juninho nunca deixou que ele pagasse as coisas. — As contas, as coisas do Juninho… — Então o Juninho recebia ali um presente ou outro, mas esse cara gostava muito de gastar. — E de dar presentes, ele era um cara que esbanjava. —
E aquilo tudo assustava um pouco o Juninho, né? Primeiro a diferença de idade, 10 anos e, segundo que o Juninho vinha da classe C. — E como ele diz aqui no e—mail dele. — Na casa dele, era um feito o dia que eles conseguiam comprar requeijão… Então, pensa: Aí você começa a namorar um cara que está num outro nível, né? Tá numa classe A ali que você nunca teve acesso… Mas o Juninho achava ok, né? Porque o cara é rico. — Ele pensou: “Sei lá, rico deve gastar assim, deve gastar bastante coisa”. Enfim, não era do mundo do Juninho. — Segundo o cara, os pais eram separados… Os pais desse cara eram muito bem de vida e, esse cara, além de dar aulas lá na faculdade do Juninho, ele era empresário, ele tinha uma agência de turismo e só atendia, assim, pessoas de dinheiro.
A agência estava indo tão bem de viagens, que ele resolveu contratar o Juninho. [efeito sonoro de caixa registradora] Como o Juninho não tinha experiência nenhuma, ele ficava no atendimento. Então ele mostrava os pacotes, eram viagens mais personalizadas, né? Então, assim, ele fazia esses roteiros e tal, só que a parte da grana, de fechar negócio era sempre o engomadinho, sempre o cara. Depois de um ano que eles estavam juntos, namorando, e o Juninho trabalhando para ele, de repente, esse cara pediu falência. Ele disse que ele tomou um golpe e que teria que mandar o Juninho embora. — Ele pagou todos os direitos do Juninho… — Só que quando o Juninho pegou a carteira dele profissional, ele não tinha sido registrado na área de turismo, ele tinha sido registrado como atendente de lanchonete.
Aí ele falou: “Gente, como assim, né?”, aí ele foi falar com o cara, o cara falou: “Olha, com certeza foi um mal entendido com a minha contadora, foi um erro dela e nós vamos consertar”. Só que nunca que ele consertou… E Juninho falou: “Ah, sei lá, foi um erro, né? Mais pra frente ele vai consertar” e deixou aquilo meio de lado… Porque o cara, gente, ele tinha muita lábia… Muita lábia. Sabe um cara que fala bem, que te convence? Então Juninho acreditou 100% que aquilo tinha sido um erro da contadora. Esse cara começou a vender as viagens que ele vendia agora sem ter um espaço físico. — Sem ter a agência. — Então, às vezes dava problema ali com algum passageiro, o Juninho estava junto, — Porque ele já manjava das coisas e tal. — mas segundo o Juninho, era tudo resolvível… E ele só ficava sabendo das coisas, assim, bem por cima.
Em relação ao relacionamento deles, já estava meio tóxico assim… Porque um tinha muito ciúme do outro, então eles meio que se isolaram… Mas a coisa foi andando. — Desse jeito. — O Juninho ele fazia o atendimento ali na agência, né? E ele nunca recebeu comissão. — Pelas vendas, né? — Era sempre tudo este cara. Até que um dia ele encontrou uma amiga rica deste cara, essa amiga rica foi alertar o Juninho, dizendo que esse cara era um golpista, que ele enrolava, que ele pegava o dinheiro dos pacotes e depois não tinha mais pacotes de viagem, enfim… Falou várias ali pro Juninho e o Juninho ficou super dividido, chocado, né? E foi falar com o namorado… O namorado, com a lábia dele, conseguiu convencer o Juninho de que aquela amiga era louca, né? — Aquele louca que a gente já sabe… Entre aspas. —
Que ela era muito superficial, que ela estava inventando coisa… Agora já eram quatro anos de relacionamento e o Juninho já não estava mais envolvido na vida profissional do namorado. Ele já trabalhava numa galeria de arte e não sabia mais o que o cara fazia. Ele falava que ele estava ali vendendo as viagens, né? Personalizadas para os clientes ricos. De repente, do nada, esse namorado do Juninho resolveu criar uma sociedade com um amigo dele aí que era envolvido em política. E na hora o Juninho falou pra ele: “Amor, será? Isso não vai dar certo. Você vai abrir sociedade?”. Só que quando o cara comentou com ele, ele já tinha feito… Ele já era sócio deste político… Porque ele queria usar ali a visibilidade e a credibilidade deste político para vender ainda mais viagens, né?
E aí com essa nova sociedade, o Juninho, o namorado, esse político e a esposa começaram a jantar fora… — A ter um convívio, né? — Esse convívio durou um certo tempo… Até que um dia, o Juninho estava lá na galeria de arte que ele trabalhava, atendendo alguns clientes, quando o telefone dele começou a tocar de maneira, assim, muito insistente. E ele viu que era a esposa desse político. — Só que ele não podia parar pra atender. — E aí ele foi ficando angustiado, angustiado… E ela começou a mandar mensagem e, nas mensagens, ela xingava o Juninho de tudo quanto é nome… E ela chamava o Juninho de golpista, de estelionatário e ele não estava entendendo nada e ele não podia sair.
Depois de algumas horas que ele terminou o atendimento, — Porque, enfim, galeria de arte… Enfim… — ele foi ligar para esta esposa do político e ela estava muito brava. Primeiro não queria falar com ele, mas ele insistiu e falou: “Olha, eu não estou sabendo de nada”. E aí ela começou a contar… — Gente, este namorado do Juninho… — Tinha vendido vários pacotes, várias viagens, só que os vouchers eram todos falsos. Os hotéis sequer haviam sido reservados… As reservas que ele fez não tinham sido pagas. E a pessoa chegava às vezes, conseguia viajar, e o seguro saúde que ele tinha vendido, já havia sido usado por outra pessoa. E o Juninho, ouvindo tudo isso dessa esposa lá do político, ele ali no trabalho, sem poder fazer nada… E ele começou a ligar para o namorado, só que o namorado não atendia.
Ele falou: “Bom, a hora que eu sair aqui da galeria eu vou atrás dele para saber pessoalmente o que está acontecendo, né?”. Só que quando ele saiu do trabalho, o namorado ligou dizendo que estava viajando para resolver essas questões, que era tudo um mal entendido. E aí o Juninho ficou sem saber se era verdade ou não, porque esse cara tinha muita lábia e ele estava muito sossegado, dizendo que era tudo um mal entendido, né? Ele disse, inclusive, que a mulher do político lá era muito passional, que ela estava exagerando e que o Juninho podia ficar tranquilo, que estava tudo certo, tudo sob controle. O Juninho ficou com a pulga atrás da orelha, mas até então ele não tinha o que fazer, porque o namorado agora nem lá estava, tinha viajado…
Até que uma bomba maior explodiu. Uma pessoa que foi lesada por este namorado do Juninho fez um post, — No Facebook. — contando tudo o que tinha acontecido com ela, como ela tinha sido lesada e várias pessoas apareceram expondo este namorado do Juninho e dizendo que tinham sofrido o mesmo golpe. — E vocês lembram lá da amiga ricaça que tentou alertar o Juninho? — Ela foi nesse post, marcou o Juninho, colocou ali o perfil do Juninho e disse: “Este é o namorado deste golpista e eles dão os golpes juntos”. A vida do Juninho que até então era um rapaz que já tinha se formado na universidade, neste ponto, ele já estava com este namorado há seis anos, passou de um rapaz comum, para um golpista… Sendo atacado nas redes sociais, sendo xingado ali no inbox do Facebook dele.
A vida dele virou um inferno… E o namorado? Desaparecido. Mudando de número de telefone e sempre avisando o Juninho que estava tudo bem, que era só um mal entendido e que logo tudo seria resolvido. Para vocês terem uma ideia da lábia deste cara, ele vendia os pacotes sem nenhum contrato… A galera confiava nele e, quando ele ficou meio com a credibilidade meio assim, ele tinha aquele político que todo mundo confiava também. Então ele vendia os pacotes mais ou menos ali no que a gente diria no passado: “no fio do bigode”. — Sem contrato, tudo de boca. — E as pessoas davam o dinheiro pra ele, não tinha contrato, então como é que você vai acusar o cara? Você deu dinheiro para ele, você não assinou nada, você não fechou nenhum pacote… — Pelo menos não em contrato. — Tamanha era a lábia e o poder de convencimento desse cara.
Depois de um mês de muita agressividade nas redes e de ser taxado como golpista, o nosso amigo Juninho teve que começar a conversar com as pessoas, chamar no Inbox… — Porque tinha gente ameaçando ele de morte. — Pra explicar que ele também tinha tomado um golpe… Porque depois desse um mês de inferno, o cara finalmente admitiu que ele estava já em outro estado e que praticamente ele tinha fugido, mas ele continuava insistindo que “Ah, não era assim, porque as pessoas exageram e nã nã nã”. O Juninho passou semanas sem comer e dormir direito. Cada notificação do celular que ele recebia, dava um aperto no peito dele. — E, assim, ele disse: “Déia, eu devia ter visto sinais”, mas ele não enganou só o Juninho, ele enganou todo mundo que estava ali em volta… Os amigos, as pessoas que compravam os pacotes… Ele conseguia levar na lábia todo mundo.
E foi um bom tempo aí até o Juninho se explicar, de pessoa por pessoa, para dizer que ele não tinha absolutamente nada a ver, que ele não tinha recebido um real daquilo, que ele não tinha participado dos golpes do ex—namorado dele, porque até então, né? — Nesse meio tempo, aí nessa turbulência toda, ele terminou com o golpista. —
[trilha]Assinante 1: Oi, gente, aqui é a Jaqueline de Brasília. E eu digo para vocês, como grande fã de Shonda Rhimes, que essa parceria Netflix, Déia Freitas e Shonda Rhimes era o crossover que a gente precisava. Essa história de Juninho é um golpe triste, né? Eu só posso mandar um abraço muito carinhoso para o Juninho, porque é isso… Imagina você viver tanto tempo dentro de um relacionamento com uma pessoa que não tem caráter, né? E você demorar a descobrir isso… Então, espero que Juninho possa pegar os caquinhos dele e se reconstruir autônomo desse relacionamento, mas eu te digo que essa história me deixou ainda mais curiosa pra ver essa série nova da Netflix. Então é isso, gente, um abraço.
Assinante 2: Oi, oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, eu sou a Leila, falo de Brasília e tô, assim, em choque. Tadinho do nosso amigo Juninho, né? Que levou um golpe. Você não tinha como saber Juninho, a gente num relacionamento a gente fica cego, a gente ignora os sinais e, como você mesmo disse, ele tinha uma lábia muito forte, muito grande, pra você não ser pego isso é muito difícil também. Você [inaudível] um sentimento… Que tudo esteja bem contigo, Juninho. E, Déia, eu estou louca para assistir a essa série que você falou. Netflix, muito obrigada pelos mimos. Um beijo.
Déia Freitas: E essa a história do Juninho é muito na mesma vibe da série Inventando Anna. Eu assisti, gostei muito e tenho certeza que quem curte Picolé de Limão também vai gostar. Sábado eu volto com mais uma história de golpe, valeu, Netflix e volto também com mais informações do meu Spaces contando história ao vivo lá no Twitter. Um beijo e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]