Skip to main content

título: trezentos
data de publicação: 31/01/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #trezentos
personagens: dora e douglas

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje vou contar para vocês a história da Dora. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Dora aí depois do auge da pandemia, que as coisas foram meio que ficando melhores e tal, resolveu no mês de julho ir para uma baladinha aí. [música animada] E aí nessa balada ela estava lá dançando. e nã nã nã… — Não sabia nem mais dançar depois de tanto tempo. — E ela viu um cara… Um cara muito interessante assim, e o cara estava olhando pra ela e tal, nã nã nã. Surgiu aquele clima, eles começaram a conversar e rolou ali. — Na balada mesmo. — Rolou um amasso… E aí a Dora curtiu, eles estavam na mesma vibe, conversaram bastante, riram bastante, o cara super simpático. — Eu vou dar um nome pra esse cara, o nome desse cara vai ser “Douglas”. — Dora ficou lá conversando com o Douglas e tal e, num determinado ponto da noite, a Dora convidou o Douglas para ir para pra casa dela. — Foi a Dora que convidou. —

E aí o Douglas se animou e tal, né? Chamou ali um carro de aplicativo e eles foram pra casa da Dora. [efeito sonoro de carro se movimentando] Chegou lá na casa da Dora, tudo rolou, foi muito bom. — Inclusive, eles transaram duas vezes. — A Dora não teve problema nenhum com o Douglas em relação à camisinha, ele mesmo tinha, ele usou… — Assim, impecável. — E aí depois da segunda ali, da segunda vez do rala e rola, a Dora deu uma dormidinha, pegou no sono e acordou só no dia seguinte de manhã. Quando ela acordou, ela viu que o Douglas não estava mais lá. — Aí a primeira coisa que bate é um medinho, né? “Deixa eu ver aqui se minha TV tá aqui, se meu videogame está aqui… [música de tensão] Sabe essas coisas assim? E, gente, tava tudo lá… Tudo lá. —

A Dora foi olhar o banheiro, foi olhar a cozinha, olhou ali a sala dela e o quarto… — Porque a casa também não é grande. — E tava tudo perfeito assim, não tinha nada. Pelo menos, aparentemente, o cara não levou nada, estava tudo certo. E quando ela… — Porque quando a primeira vez que ela acordou, ela já saiu do quarto correndo pra ver as coisas assim. — Quando ela voltou para o quarto, ela viu que ali em cima da penteadeira dela tinha um dobradinho de dinheiro, só que Dora não tava com dinheiro. E ela viu ali… — Dora morando sozinha, então, né? Como que apareceu aquele dinheiro ali? — Ela viu que tinha seis notas de 50 reais. [efeito sonoro de caixa registradora]

E aí ela falou: “Bom, esse dinheiro com certeza o Douglas tirou do bolso, colocou aqui e, na hora que se vestiu, esqueceu”. Falou: “Bom, vou tomar um banho, tomar café e aí já mando mensagem para ele falando que o dinheiro tá aqui, né?” — Assim, tudo muito de boa, né? Tranquilo. — Daí a Dora fez ali as coisinhas dela e tal e pegou e mandou uma mensagem para ele: “Oi, Douglas você esqueceu um dinheiro aqui em casa, me fala sua conta que eu vou depositar pra você”. E aí demorou, assim, umas duas horas para o Douglas responder, e aí a primeira coisa que ele falou foi: “Oi, Dora, como é que você tá? Eu adorei a noite de ontem e nã nã nã”. — Sendo que a Dora não tinha falado nada dessas coisas, ela falou direto do dinheiro, né? — 

Aí ele falou assim: “Olha, por favor, não fica chateada comigo, não me bloqueia, mas eu queria te contar uma coisa…”. [música de suspense] E a Dora sem entender nada, falou: “Ish, o que será, né?”, mas não pensou em nada assim, porque a casa dela estava intacta. — O que será que ele tinha aprontado? É a única coisa que vinha na cabeça dela. — Ele contou para Dora que pagar pela transa era um lance para ele assim, era um fetiche dele. E que ele tinha deixado o dinheiro para ela. A Dora ficou lendo aquela mensagem e ficou assim… — De início ficou puta, tipo: “Meu, o que ele está achando que eu sou?”, mas ele continuou escrevendo, tipo, explicando e falando isso: “Eu sei que você não é uma prostituta, eu sei que a gente não combinou nada, eu sei de tudo isso, entendeu? Mas é uma coisa assim que, para mim, o meu prazer maior está nisso”. 

E aí a Dora ficou sem entender, e ele falou: “Ah, faz o que você quiser com o dinheiro, gasta com você, doa, mas é seu”. — “E saiba que eu estou feliz e nã nã nã”, assim… — A Dora ficou em choque, aqueles 300 reais ali… — Que ela podia comprar várias coisinhas. [risos] — Mas que ela ficou com muito receio assim, né? Porque é uma coisa muito doida. — O que o cara estava falando para ela… — E tinha um detalhe que tornava tudo ainda mais estranho, porque o cara escreveu para ela assim: “Eu não sou rico pra bancar esse meu fetiche, então eu consigo fazer isso duas vezes no mês. Então, se se eu consigo transar duas vezes no mês, eu acabo deixando esse presente”. — Ele chamou de presente. — 

Então, ele chamou de presente e, assim, ele ia colocando os textos muito grandes que a Dora sacou que ele estava copiando, sei lá, do bloco de notas e colando… — Porque não deve ser a primeira vez que isso aconteceu. E como ele já começou o texto, tipo: “por favor, não me bloqueia”, com certeza teve gente que bloqueou, né? — E a Dora tinha um monte de perguntas assim, mas ela estava muito sem jeito assim de perguntar. Porque, primeiro, era muito surreal que um cara da classe trabalhadora separasse 600 reais do salário dele todo mês pra, tipo, bancar esse fetiche dele, né? E a pergunta que ela não fez e que… — Eu faria, acho, sei lá… — Por quê 300 reais? De onde que ele tirou esse número, né? 

Tudo bem, ele tem 600 pra gastar e ele gasta duas vezes, tipo, duas vezes de 300… Por que não três de 200? — Sei lá. [risos] Sabe assim? Eu ia querer saber detalhes, eu acho. — E aí Dora meio que deu uma insistida que ela queria devolver o dinheiro, ele disse que não, que ele estava feliz que, por favor, que ela aceitasse e que, em nenhum momento era pra ela achar que isso é porque ele achava que ela fosse uma prostituta ou algo do tipo… E, assim, né? Fez o texto dele ali, terminou o texto dizendo que, se a Dora quisesse, quando ela quisesse, ela podia ligar para ele para ele ir lá… Mas ele meio que, no texto dele, ele deu a entender que, tipo, ele iria somente quando ele tivesse dinheiro porque é isso… Se ele for, ele deixa ali os trezentinhos. [risos] — Gente, é muito louco isso, né? —

E aí a Dora falou: “Não, lógico que não”, mas assim, foi uma transa muito boa, o cara é muito agradável… Mas ao mesmo tempo eu fico pensando, será que para uma segunda vez não deve ter uma pegadinha? Não deve ser, sei lá… Para mim é pegadinha do satanás aí chamar ele de novo, sabe? Mesmo que o cara seja bacana… Não sei, não acho que o cara esteja errado de ter um fetiche dele e bancar esse fetiche, mas também assim, não acho certo ele deixar o dinheiro depois de uma transa, sabe? Assim, fiquei muito confusa, muito confusa… Ao mesmo tempo que fiquei revoltada, será que eu gastaria o dinheiro? Não sei nem se eu conseguiria tirar esse montinho aí, essas seis notas de 50 reais ali da minha penteadeira. Acho que ia ficar ali um tempo, sei lá… E depois, sei lá você pega 50 — Pra ir na padaria sabe assim? [risos] —

Aí depois que você tirou 50, parece aquele filme do Débi & Lóide lá, que eles vão gastando o dinheiro da mala e falando que vão repor depois, né? Então não sei, gente, não sei o que dizer… A Dora gastou dinheiro sim. E às vezes ela pensa nele assim, ela sabe que é um cara que ele mesmo disse lá na balada, ele disse que ele não estava procurando uma namorada, nada, enfim… Ela sabe que não é pra nada sério, mesmo porque ele tem aí essas questões, né? Vai saber se é só assim que ele consegue se relacionar. Então aí se ele só tem 600, ele só transa duas vezes por mês e, isso num namoro, isso é complicado, né? Ou você tinha que botar um valor menor, sei lá. 

Então, às vezes ela pensa nele e ela sente vontade de chamar ele de novo pela transa, não pelos 300 reais, mas ela sabe que se ele vier, ele vai deixar 300 reais. Então ela fica pensando: “Poxa, o cara vai achar então que eu sou interesseira, que eu tô chamando ele por causa disso”. Eu não tenho nem como opinar nessa história. [risos] — Tô que nem a Glória Pires assim. [risos] Aquele meme dela, né? — Eu não tenho nem como opinar, não sei o que dizer assim… Vocês acham que ela deve? Se ela tá com vontade de transar com o cara de novo, chamar o Douglas de novo? Ou não? Eu não chamaria, porque não sei, me parece que deve ter uma pegadinha aí… 

A coisa dele também ser da classe trabalhadora e tirar esses 600 reais ali do ganho dele me dá uma sensação de, sei lá, eu ia estar explorando um pouco mais, sei lá. [risos] — Não sei explicar, gente, não sei. — Mas também é o fetiche do cara, ele gosta, ele faz porque ele quer, enfim… Não sei. 

[trilha]

Assinante 1: Eu sou Renata, falo de Lisboa. Ô, Dora, esse o fetiche dele cria uma série de valores, de questões com relação a vocês dois. Eu deixaria pra lá transar com ele e chamaria ele pra gastar esses 300 reais num restaurante ou dois, sairia com ele para ir no cinema, para conhecer melhor e deixava a transa para um outro momento, pra entender o cara, né? Ele parece legal. Fica aí minha dica. Um abraço pra todos, Déia, Não Inviabilizers, até a próxima. 

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, aqui é Jana de Salvador, Bahia. Dora, mulher, primeira vez que eu vejo aqui no Picolé de Limão um caso que é um cara que, em vez de roubar dinheiro, ele dá. Isso pra mim é reparação histórica. Me diga como é viver o meu sonho… Homem gato, lindo, legal, transa bem e ainda te paga… Aff, pra mim é tudo. Eu acho assim, primeiro que não existe esse negócio de explorar, porque o cara tá fazendo isso porque ele quer, é um fetiche dele e ele se planeja financeiramente pra poder fazer isso… Se não for fazer com você, vai fazer com outras pessoas, então que seja pra você comprar uns mimozinhos. E, segundo, você vai se impedir de viver ver uma coisa legal ali, uma transa bacana com a pessoa que você tem uma afinidade, uma química, por causa de dinheiro? Ah, mulher, não… Aproveite. Se você não tiver coragem de gastar, põe o dinheiro na poupança que depois você decide que você vai fazer com ele. Mas se eu fosse você, me jogava nessa situação, viu? E compartilhe o endereço da balada, para gente saber se a gente consegue arranjar um desses também. [risos]

Déia Freitas: Deixe suas mensagens pra Dora lá no nosso grupo do Telegram. — Se você não está ainda no nosso grupo Telegram… — É só jogar lá na busca “Não Inviabilize” que o grupo aparece, tá bom? Um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.