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título: fritadeira
data de publicação: 19/11/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #fritadeira
personagens: marcela, júnior e estela

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Voltei para mais uma história do nosso Picolé de Limão. A história que eu vou contar pra vocês agora é a história da Marcela e do Júnior.

[trilha]

A Marcela e o Júnior eles se conheceram na faculdade, fizeram o mesmo curso e se formaram juntos. E o Júnior ele já tinha uma casa própria, porque os pais morreram muito cedo, o pai do Júnior morreu ele tinha dez anos, a mãe do Júnior morreu ele tinha 16 anos. — É exatamente o que aconteceu comigo. Inclusive, as mesmas idades, quase. — Só que o Júnior tinha uma irmã, uma irmã muito pequena, a diferença de idade deles de 11 anos. — Eu não sei fazer essa conta, eu fiz essa conta certeza? Enfim… —

Quando a mãe do Júnior morreu, ele teve que criar a irmãzinha que era de outro pai. — É isso mesmo. Então, quando a mãe morreu, a criancinha tinha cinco e ele tinha dezesseis. É isso mesmo, são onze anos. [risos] Aquela burra de conta… Onze anos de diferença. — Então ele praticamente criou a irmã como filha, foi assim totalmente como filha mesmo. Inclusive ele abriu mão de várias coisas, fez faculdade um pouco mais tarde, tudo pensando na Estela, que é irmã dele. Então o Júnior já tinha essa casa e essa casa é do Júnior e da Estela. É uma herança.

E aí a Marcela começou a namorar com o Júnior e eles casaram. E agora a Estela tem 23 anos… — Faz as contas [risos] 34… — O Júnior tem 34 e a Marcela tem 30. Então não tá muito fora da faixa. E moram os três na mesma casa, é uma casa de três quartos que acomoda bem os três, mas com alguns “porém”. Um: a Estela ela não queria a Marcela na casa. Aí falei para Marcela, quem me escreveu foi a Marcela, falei: “bom, até consigo entender isso”, mas ao mesmo tempo, eles não querem vender a casa, porque é uma casa de família que está há muito tempo com eles e nã nã nã. Então não existe a possibilidade de vender a casa, dividir o dinheiro e cada um comprar, sei lá, um apartamento com o dinheiro. Não existe essa possibilidade, mesmo porque o Júnior e a Estela, os irmãos, eles deixam claro que eles querem morar juntos. Então, futuramente, se a Estela conhecer alguém, for se casar, eles querem reformar e, tipo, dividir o imóvel em dois para fazer duas casas, e a Marcela falou que dá para fazer isso.

Então, o que a Marcela começou a falar? Já que esse é o plano do futuro, e ela não estava se dando bem com a Estela, agora que eles estavam casados, por que não fazer essa reforma, dividindo as casas? Porque aí ela teria privacidade com o marido e a Estela também teria a privacidade dela e ficaria de boa. Sei lá, evita um pouco a convivência total, né? — Tipo, dividir cozinha, dividir tudo… Dá uma estressada… — O Júnior não gostou da ideia, porque achou que a Marcela estava querendo afastar e irmã dele e a Estela deu uma surtada, fez escândalo, chorou… Ficou três dias na casa da amiga e o Júnior lá paparicando ela e tal.

E aí aquela coisa, o Júnior paga a faculdade dela, ela faz uma faculdade particular, tem um incentivo, uma bolsa, alguma coisa assim, mas ele que paga o restante, e ele banca, tipo, tudo, ela não trabalha e nada. E aí a Marcela se ressente, porque ela trabalha e ela tem que pôr as coisas na casa, porque uma boa parte do dinheiro do Júnior fica com as coisas da irmã. Só que aí, o Júnior numa briga deu a entender para ela que ela não paga aluguel, que ela não tem esse gasto de aluguel e condomínio porque mora na casa dele. — Eu achei isso péssimo, porque tudo bem que a casa dele, mas ela está lá porque ela casou com ele, né? — Então ele parece que acha que ela tem que pagar as coisas a mais. — Achei péssimo isso. —

Aí o que acontecia? Muitas vezes a Estela pegava a roupa da Marcela, não devolvia ou devolvia suja, rasgada e saía muita briga. Ai a Marcela começou a engolir um pouco de sapo pra não afetar o casamento dela com Júnior… Só que a Marcela ela é doente pela fritadeira que ela ganhou de casamento da mãe dela. — Agora acho que está mais barato, mas é aquela, que era a mais cara de todas, sabe? — E ela ama a fritadeira dela, ama… Então, assim, ela não deixa nem o Júnior e nem a Estela usar a fritadeira. Não deixa. É uma coisa que é dela, na casa que tudo é compartilhado, ela tem essa coisinha que é dela, que ela ganhou da mãe dela, passou um tempo a mãe dela faleceu, então, tipo, é o último presente que mãe dela deu pra ela. — Eu também entendo isso. Também tenho ciúmes de algumas coisas minhas que eu não deixo ninguém usar. E é isso aí, as pessoas têm que entender, né? —

E, um dia, a Estela, essa menina chata e mimada, ela cismou que ela queria usar a fritadeira, mas ela não sabia mexer direito, aí deu um rolo, quase danificou e aí saiu uma briga feia ali na frente do Júnior. A Marcela falou: “olha, eu engulo um monte de sapo, mas a minha fritadeira, que eu ganhei da minha mãe… Do mesmo jeito que vocês têm coisas aqui que eu não posso mexer de decoração, porque era da mãe de vocês, eu não quero que ninguém toque na minha filha fritadeira”. Aí o Júnior entendeu, falou para Estela não mexer na fritadeira e ainda falou pra Estela que se ela quisesse, ele comprava uma fritadeira pra ela. — Ô, gente… —

Aí a Estela falou que não precisava também, tipo, [voz irritante] “engole essa fritadeira, eu não quero mais e nã nã nã”. E passou… Um dia a Marcela chega do trabalho e a fritadeira dela está no chão… E eles não tem gato, eles não têm cachorro… O marido chega bem mais tarde que ela e só tava a Estela na casa. Marcela falou: “Andréia, ela fica no fundo do balcão, não tinha como ela cair, porque fica em um canto que só tem eletrodomésticos”. Ela fala que prar cair a fritadeira, tinha que ter caído o liquidificador, e não caiu. O liquidificador tava na frente…

Então, o que ela acha, mas ela não tem como provar? Que foi a Estela que jogou a fritadeira no chão. Ela não tem como provar, mas, gente, eu concordo com ela, acho que foi também… Porque aí ela começou a gritar, ela chamou a Estela e a Estela só foi até a porta da cozinha, olhou, riu e voltou para o quarto. Aí deu cinco minutos na Marcela, viu a cara e escutou a Estela rindo e ela pegou a Estela pelos cabelos e arrastou a Estela de volta para a cozinha e esfregou a cara dela no chão da cozinha. — Complicado… —

A hora que o Júnior chegou, a Estela mentiu que não riu e que não jogou nada no chão. E a Marcela, vendo que o Júnior estava muito bravo porque a Estela falou que foi agredida, ela também falou: “eu não agredi ninguém, não pus a mãe em ninguém”, e aí também a Estela não tinha como provar, mas ela realmente fez… Ela pegou, puxou a menina pelo cabelo… — “Menina, 23 anos… A menina… — Puxou pelo cabelo e esfregou a cara dela no chão. Aí deram aquelas roladas, brigaram… Depois desse dia, a vida da Marcela virou um inferno, porque aí, realmente, a Estela começou a rasgar a roupa dela… Às vezes o sapato que ela gostava, assim, um sapato de salto, um scarpin de salto, o salto estava quebrado… Só tinha como ser a Estela, porque o marido dela não ia fazer isso, né? E ela foi saturando, saturando, saturando…

E ai veio a pandemia, o que ela fez? Ela resolveu ir para a casa da irmã dela, que mora no interior e ficar por lá. Ela achou, conversou com o Júnior, falou: “eu acho que é melhor, eu vou poder trabalhar em home office. Então eu trabalho de lá, porque senão, se eu ficar aqui, eu vou ter que ficar o dia inteiro com a Estela e não vai dar certo”. Aí quando ela tava lá, mês passado, comecinho do mês passado que ela tava lá na casa da irmã dela, ela descobriu que ela estava grávida. Ela está grávida do Júnior e eles estão em quarentena separada, eles não estão realmente se vendo, não estão furando a quarentena. E ela contou para ele por vídeo chamada…

E, gente, a reação dele na vídeo chamada… Ela fala que foi a pior possível, ele diz que ele ficou surpreso para o mal, assim. Então, ela deve ter engravidado um pouco antes de ter ido para casa da irmã, né? E aí, gente, mais uns dias aí depois que ela deu a notícia, o cara pediu o divórcio. O Júnior pediu o divórcio com ela grávida, falou que eu não estava dando mais certo, que ele vai dar todo suporte para o filho, que é melhor que ela tá longe, que ele viu que, como ela está longe, ele não sentiu falta… A irmã dele, lógico, tá dando força pra ele, fica postando coisas do tipo “só notícias maravilhosa”… — Indiretas, né? — Fica postando indiretas para Marcela.

Só que a Marcela gosta dele, do Júnior, e acha que todo o problema é a Estela, e aí ela queria ver com vocês aí, se alguém tem algum conselho para ela reconquistar o Júnior. Eu acho um investimento perdido. Eu sei que não é fácil, não deve ser fácil estar grávida e não ter a participação do marido. Ele já deixou claro que ele vai fazer tudo pela criança depois que a criança nasceu, mas agora ela não tem suporte nenhum, né? Ela tem, lógico, o convênio firma dela lá, as coisas dela, mas o suporte emocional só da irmã que mora no interior onde ela tá na casa…

E eu não entendo… Marcela, você quer reconquistar um cara desse? Que falou pra você depois que você falou que estava grávida que não te quer mais? Que prefere que você não volte? Que vai pagar a pensão, como se você estivesse só pedindo alguma coisa? Vale a pena? Eu não consigo entender, gente, sério mesmo. Mas ela disse que seria muito importante voltar com ele agora, que ela está fragilizada e tal, que ela até topa voltar lá para casa deles, que não é mais a casa deles, né? Porque ele, dias depois, ele pegou todas as coisas dela, contratou um negócio de mudança, agora na quarentena, e mandou tudo pra casa da irmã dela…

Então, como é que vai voltar, né? Levar o caminhão de mudança de volta? Aí, não sei… Sem contar que a Estela vai estar lá, vai continuar tudo igual? E agora como você grávida, sem sossego, você não vai ter sossego… Depois a Estela pode reclamar, já pensou? Que o bebê chora… Ai, não sei, eu não consigo entender, gente. Eu sei que é muito difícil para Marcela, inclusive, eu até falei para ela sobre fazer uma terapia online, ela tem condição financeira para isso e o convênio dela até paga algumas sessões, acho importante… Mas, no mais, Júnior ele vive pra irmã dele, eles passaram por muita coisa então eu até entendo isso, mas poxa, ele fez uma escolha também de casar, né? Podia ter separado a casa. Pô, vai ficar lado a lado as casas. Ficava a Estela na casinha dela, ajudava a montar tudo e ele na casinha dele com a Marcela, por que não quis?

Então, acho complicado… Eu não investiria nesse relacionamento, acho furada. Sei lá, vai ficar se humilhando? Ela já tentou algumas coisas, mandou uma cesta de café da manhã para ele, ele não recebeu, e aí a cesta já estava paga, ela teve que pedir para ele entregar na casa de uma amiga, porque como ela está no interior… Ai, gente, olha, me dá desgosto, sabe? E a coisa realmente piorou por conta da fritadeira, que agora está quebrada, ela usa a fritadeira como relíquia, só como uma coisa que a mãe dela deu pra ela de presente, guardada e só. Me dá um desgosto… Então, por favor, sejam gentis com a Marcela, aconselhem a Marcela, o que vocês acham… Ela deve realmente ficar insistindo em voltar esse cara? Porque eu acho ele péssimo, desculpa. E é isso, um beijo e eu volto daqui a pouco.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.