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título: genes
data de publicação: 06/03/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #genes
personagens: ruth, raquel, marco aurélio e ricardo


TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas:  Hoje a história é a história de duas irmãs. Eu vou dar o nome de Ruth e Raquel por causa da novela, mas eu não lembro nem quem era a boa quem era a ruim, então vai, qualquer uma é a Ruth e qualquer uma é a Raquel, depois a gente interpreta aí. A Ruth é a mais velha tem 26 anos e a Raquel é a mais nova, tem 24. As duas cresceram no interior de São Paulo.

No começo, né, quando eram criancinhas eram bem amigas e aí depois na adolescência começou já azedar a coisa, por quê? Todo namorado que a Ruth conseguia a Raquel ia lá e ficava com o cara também e muitas vezes os caras deixavam, né, da Ruth para ficar com a Raquel. Então a Raquel sempre tomou os namorados da Ruth. Isso foi da adolescência até a faculdade. Era sempre esse problema. Os pais da Ruth e Raquel decidiram que não iam interferir na briga delas, então assim não importava se a Ruth amava muito um cara e a Raquel ia lá e ficava com o cara, os pais não se metiam, né, nem culpavam a Ruth o que eu acho errado, mas tudo bem, e também nem ficavam muito dando trela para Raquel.

E ficava nisso… As duas brigavam muito, era sempre por causa de namorado então chegou num ponto que a Ruth não levava mais os namorados em casa porque parecia que a Raquel queria competir mesmo, ela queria ver até onde ela conseguia chegar, né, até onde ela podia roubar os namorados da irmã. Quando a Ruth fez 20 anos ela começou a namorar um cara que ela gostava muito, assim muito mesmo do cara, e, né, por sorte ele não era um canalha como os outros que queria ficar com as duas irmãs. Então a Raquel deu muito em cima dele e o cara não aceitou, o cara saiu fora. A gente vai chamar esse cara de Marco Aurélio, então Marco Aurélio gostava muito da Ruth, a Ruth gostava dele, mas a Raquel infernizou tanto que o namoro não deu certo, eles ficaram um ano, um ano e pouquinho juntos, se separaram e segue a vida, né?

Elas faziam faculdade em faculdades diferentes, então a Ruth tomava muito cuidado com isso de levar caras em casa – pensa você não poder levar seu namorado em casa porque sua irmã pode pegar seu namorado. Complicado, né? – Aí, meus amigos e minhas amigas, a Raquel “a fura olho”, conheceu um cara chamado Ricardo. Se apaixonou por este Ricardo e casou com o Ricardo, e aí é que a coisa começa a ficar complicada. Por quê? Porque assim, a Raquel ela fazia faculdade e trabalhava num jornal, né, ela fazia faculdade de Jornalismo, mas ela já estava, meio que ali na área como estagiária.

E ela casou e foi transferida, não era bem transferida, ela foi fazer uma matéria, ajudar numa matéria lá, em outro Estado e ficou três semanas longe de casa, do marido… Assim, ela nem teve lua de mel. Nessas três semanas que Raquel estava fora, a mãe delas, né, falou: “olha, Ricardo, em vez de você ficar lá na casa, sozinho, né, vem dormir aqui [risadas] em casa, né? Sou só eu, o meu marido e a Ruth, né, você pode ficar aqui dormindo no quarto que era da Raquel”. É, ok, Ricardo achou ótimo, né, porque ele não ia ficar sozinho, ele ia ter alguém ali para fazer as coisas para ele e tal. E ele foi dormir, passar essas três semanas na casa de Ruth, né, enquanto a irmã estava longe. 

E Ruth digamos assim – Ruth é de escorpião –, Ruth estava numa vibe vingativa, e aí ela lembrou de todos os caras que ela tinha perdido na mão de Raquel, inclusive, daquele cara que ela gostava tanto, né, que só não deu certo porque a Raquel infernizou. E aí Ruth deu uma investida no Ricardo, e o Ricardo como já não era flor que se cheire – porque se você tá recém-casado, né, não teve nem lua de mel e você já tá aí todo animado com a sua cunhada, você também não é coisa boa, né? – Ricardo sucumbiu e aí essas três semanas na casa da mãe de Raquel e Ruth foi assim, praticamente uma lua de mel de Ricardo, só que com a irmã errada. 

Ruth não se apaixonou por Ricardo, Ruth não tinha interesse em manter um relacionamento paralelo com Ricardo. Ruth queria vingança e por vingança ela ficou com o marido da irmã. Tanto que assim, na cabeça da Ruth quando a Raquel voltasse ela ia contar e falar: “olha, eu passei três semanas com seu marido aí, feliz relacionamento para você daqui para frente agora”. Só que quando Raquel estava lá, sei lá onde, fazendo a matéria, Raquel ficou tocada com esse gesto da mãe e da irmã de acolher Ricardo, e começou, né, a conversar mais com a irmã, chegou até a pedir desculpa – olha só gente, Raquel – Raquel falou: “olha, a gente era muito imatura, eu sei que eu fiz errado que eu roubei seus namorados, queria muito você me desculpasse, agora eu sei, né, o que é gostar de uma pessoa de verdade, né, e o Ricardo é um cara excelente para mim, obrigada por acolher o Ricardo aí… e nã nã…”.

Pensa, Ruth acolheu Ricardo demais, né, ele foi super acolhido nos braços de Ruth. Só que aí ela começou a dar uma amolecida também, tipo “será que Raquel mudou mesmo? Agora eu vou estragar o casamento deles que nem começou” – Aqui só entre nós Ruth, meio que, né, já estava estragado, [risadas] já estragou Ruth, mas tudo bem, os dois estragaram, né, Ricardo e Ruth –. E aí ela deu para trás, falou: “ah, não vou contar nada. Fica com o Ricardo aí, esquece”. Eles já tinham conversado também, o Ricardo com aquele papo, né, que estava carente porque não deu para ter a lua de mel com a Raquel, mas que não gostaria que a Ruth levasse isso para frente, e nã nã, – aquele papo de homem canalha, né? –. 

E a Ruth, também não estava mais interessada e falou: “Ah, ótimo, então a gente fica assim mesmo” e Raquel voltou, voltou já numa outra vibe, praticamente boazinha Raquel, pessoa ótima. Aí também parece que Ruth tirou aquele ranço, né, que ela tinha da irmã do peito porque, ó a vingança: ela passou a lua de mel com o marido da irmã. Então ela estava vingada, estava tudo ótimo, né, entre todos. Tudo estava correndo super bem, agora eles tinham almoços de domingo, né, a família toda. Não tinha clima nenhum entre Ruth e Ricardo, porque aí a Raquel voltou, Ricardo focou em Raquel só que [risos] — Por que que as pessoas não usam camisinha, gente? Sério, vocês acham que todo mundo é assim, é limpinho, ou não tem uma “DSTzinha”, ou não vai pegar um filhinho? — Então, para encurtar a história Ruth pegou filhinho, Ruth estava grávida e o único cara que ela tinha transado naquele ano, era março, tinha sido Ricardo o marido da irmã, ou seja, o filho era de Ricardo. 

A Ruth perdeu o chão gente, ela me contando que ela olhava no espelho assim e falava: “você é burra, quando que você achou que uma vingança ia dar certo fora de novela? [risos] E agora o quê que eu faço?”. E Ruth, assim, torceu demais para aquela gravidez não vingar, porque o aborto não era uma opção para ela, é contra a religião dela, não pensava em abortar, mas ela achou que não seria pecado torcer para perder a criança — tipo, “não vou fazer nada, só vou ficar aqui mentalizando, [risos] que eu não posso ser mãe agora”. 

E nessa de torcida aí, passou o primeiro trimestre, né, Ruth — torceu, torceu, mas a torcida lá, da natureza [risos] foi maior —, e ela estava grávida mesmo e agora ela já tinha que começar a pensar num plano B. E tinha uma coisa que realmente era muito comprometedora nesta gravidez, o que complicava um pouco mais a vida de Ruth é que Ricardo era ruivo, muito, muito, muito ruivo. Ela deu um exemplo para mim assim: os pelos do saco de Ricardo eram ruivos, ruivo, inteiro ruivo então o medo dela maior era nascer uma criancinha ruiva — porque pensa [contendo a risada], ela tinha pesadelos: ela na maternidade, a mãe, o pai e a irmã, todo mundo esperando a criança nascer e aí nascia e vinha a enfermeira com uma criança ruiva e todo mundo começava a gritar [risos]. Todo mundo começava a gritar e correr pelo hospital como se a criança fosse um monstro ruivo, — esse era um pesadelo recorrente de Ruth — mereceu também, né Ruth? 

E assim, ela tinha que falar agora alguma coisa pra família, o quê que ela ia falar? Chamou o pai, a mãe e falou: “olha, eu saí aí com um cara no carnaval, eu não sei quem é esse cara e eu tô grávida”, o pai dela ficou passado, né, chorou “você deu esse desgosto para mim” — imagina o tamanho do desgosto se o veinho soubesse, hein — “você deu esse desgosto para mim, que não sei…”, a mãe ficou triste também, mas no final acolheram a filha e, bom, tá grávida? Tá grávida. Vamos, né, acolher aí o nosso neto e não tem outro jeito.

E a Ruth resolveu que não ia comentar nada com o Ricardo, não ia falar para ele que o filho era dele, ia deixar no ar, porque Ricardo também não sabia que ela só tinha tido ele de parceiro, né, então ela falou: “ah, também não devo explicação pro Ricardo, se nascer ruivo aí é uma outra batalha que eu tenho que enfrentar, até lá eu não vou contar para o Ricardo, e não contou.

E a Raquel ficou super feliz com a gravidez da irmã, “não, porque eu e o Ricardo a gente tem que ser os padrinhos dessa criança”, — Ricardo mais que o padrinho, né, quase pai, ou seja, pai — “não, porque a gente vai ser padrinhos”, a primeira roupinha foi a Raquel que deu, né, antes de nascer. E a Ruth assim passada com a mão no rosto olhando e pensando “meu Deus do céu, quê que vai ser dessa família a hora que nascer uma criança com aquele cabelinho de fogo?”. 

Ruth, então, começou a fazer o pré-natal com uma médica, uma obstetra e a única coisa que ela perguntava para médica toda vez que ela ia era: “qual a probabilidade de nascer ruivo? E se nascer ruivo?”, e a médica ficava assim: “mas por que que você acha, né”, porque assim, todo mundo já sabia da história que ela não sabia quem era o pai e aí a médica achou que, bom, “se você tá me falando isso que o cara pode ser o ruivo, vai facilitar para você, então vamos torcer para nascer ruivo”, e ela chorava e falava para médica: “não, não pode nascer ruivo”, a médica achou que ela estava meio “piradinha” por causa da gravidez, não levou tão a sério, né, essa questão. 

E para as outras pessoas, óbvio, ela não contava esse medo que ela tinha da criança nascer ruiva, mas absolutamente, tudo que tinha no Google sobre a probabilidade de nascer uma criança ruiva, Ruth sabia, e ela só pedia isso para Deus, fez promessa “pelo amor de Deus, não nasça ruivo”, porque ela já tinha na cabeça dela que ela ia assumir essa criança sozinha. 

A vida de Ruth agora era baseada em pesquisar no Google “gene: azão azão azinho azão azinho azinho”, para ver se talvez ela pudesse ter um filho ruivo, torcendo para não, comer e sair para fazer compras com Raquel. Porque agora Raquel tinha virado a tia louca do bebê, Raquel queria comprar tudo para criança, tudo! “Não, porque eu sou a madrinha dessa criança”, e outra coisa, Ruth não quis saber se era menino ou menina — porque assim ela não identificava como uma ruiva ou um ruivo [risos], ela não quis saber —, então aí Raquel comprava tudo amarelo, tudo verdinho, tudo branquinho, tudo “beginho”, porque, né, ainda tem muito essa coisa do rosa e azul, — Alô, Ministra? — e ela não queria errar, né, então, “ah, vou comprar tudo assim mais neutro para o meu sobrinho/sobrinha ela falava, e assim, Raquel numa felicidade com essa criança — se ela imaginasse, hein?.

Ruth escolheu um parto natural e conforme a gravidez foi evoluindo Ricardo continuava na dele, como se nada tivesse acontecido. Em nenhum momento acho que Ricardo pensou que o filho fosse dele, — não sei porque, né, mas ele estava ótimo, zero preocupado, nenhuma vez perguntou para Ruth “olha, tem alguma chance de ser meu filho?” Não perguntou, gente, então olha o nível deste elemento, né. O tempo foi passando e chegou o dia do parto de Ruth, o fatídico dia e ela tinha escolhido que ia ser parto normal e tudo, não ia apressar nada, então ela começou a sentir as dores em casa e adivinha gente, quem levou ela para o hospital e ligou para médica? Raquel. E quem foi junto com Raquel? Ricardo.

Quando a médica chegou no hospital e viu ali a Ruth cercada por Raquel e Ricardo, na hora ela se ligou a questão do ruivo “meu Deus do céu, é o marido da irmã!”, e o quê que a médica pensou? A médica foi muito inteligente, ela falou: “se eles ficarem aqui, eu vou ter que chamar a irmã para ver o parto”, olha a médica, a médica falou para eles assim “olha, pelo que eu tô vendo aqui não nasce hoje, vão para casa, dá uma descansada e quando tiver perto de nascer eu ligo para vocês”, mas o parto ia acontecer naquele dia, é que ela não queria que os dois estivessem presentes porque tinha uma chance de nascer ruivo.

E a hora que a Ruth viu que a médica estava falando isso, a cara dela deu uma aliviada, porque ela estava com a mesma preocupação — pensa, melhor médica, né. —  A médica foi muito rápida assim, né, sacou muito rápido e mandou os dois para casa, e a Ruth assim a parte ruim é que ela teve a criança sozinha, a parte boa a criança não nasceu ruiva [êeee], a criança nasceu com o cabelo pretinho, um menino de cabelo preto, então assim, não tinha como, ela ainda olhou bem para ver se não tinha a fuça do Ricardo e não, era um mix assim, ela que sabia até achou meio parecido — mas criança tem cara de joelho, né —, primeiro dia o importante era a cor do cabelo, aí ela viu bem cabeludinho pretinho e estava ótimo já, já deu aquela aliviada.

Ruth amamentando seu bebezinho pensou “cabelinho preto, vida nova, agora eu registro só no meu nome e bola para frente, né, acabou o pânico, acabou tudo”, e ela resolveu dar o nome do menino de Marco Aurélio que era o nome daquele cara que ela tanto amou no passado. E aí o tempo passou um pouco, os avós, assim, babando no neto, a tia Raquel super empolgada também, até tio Ricardo, né, todo mundo ali em volta do bebezinho, do pequeno Marco Aurélio. 

E o tempo foi passando, o aniversáriozinho de Marco Aurélio de um ano, e ela postou várias coisas no Facebook e não se sabe como, isso chegou até o Marco Aurélio, lembra o amor dela do passado? E eles se encontraram no Facebook, ele viu que ela tinha um bebezinho com o nome dele… —  Pensa, gente, que amorzinho? — apesar de toda sordidez. E aí ela acabou convidando o Marco Aurélio para o aniversário do Marco Auréliozinho de um ano, e ele foi e ele se reencontraram, e assim, deu aquele frio na barriga e eles voltaram a namorar porque agora Raquel estava casada, né, com Ricardo não ia mais encher o saco deles, ele também disse que sempre gostou da Ruth e eles voltaram a namorar. 

Então agora, a vida da Ruth estava excelente, ela tinha um bebezinho que ela amava muito, que ela jamais ia contar nem para os pais, para ninguém, que era filho do Ricardo, então isso era um ponto que ela não ia falar para ninguém e ela começou aí um namoro com o Marco Aurélio do passado que era o amor da vida dela. E o namoro ficou tão intenso, tão assim, legal, que ela cometeu um erro — eu acho que foi um erro porque, né — ela resolveu contar para o Marco Aurélio que o filho era do Ricardo… PRA QUÊ, Ruth? Sério Ruth, pra quê? Sério gente, só a médica sabia, não estava bom? Por que que tem que dar prova de amor, de não ter segredo, todo mundo tem segredo… Pra quê, Ruth, você foi contar, o segredo mais sórdido da sua vida para um cara que você tá amando agora, mas que você não sabe se vai amar daqui cinco anos, entendeu? E o quê que esse cara vai fazer com essa informação? Não tinha pra quê contar para o Marco Aurélio, agora se fosse uma novela, a gente tinha que torcer, sei lá, para o Marco Aurélio morrer [risos] e levar esse segredo para o túmulo? Mas como é vida real, né.

O Marco Aurélio ficou puto da vida, e assim, sabe esses caras certinhos demais? Quê que o cara que nada tinha a ver com a história resolveu fazer? Adivinha, gente? Marco Aurélio, agregado, coadjuvante da história, quase um figurante de fundo, resolveu que ele tinha que fazer o quê? [repetindo a palavra “justiça” como em um protesto] justiça, justiça, justiça. E aí, o zé povinho foi lá no trabalho do Ricardo, deu um soco na cara do Ricardo e falou assim “por que você não assumiu o seu filho?” [risos], Ricardo que nem sabia porque, né, a Ruth nunca contou para ele, ele também, sei lá, se fez de sonso ou nunca desconfiou, levou um soco. E agora ele estava sabendo que era o pai da criança da Ruth pelo agregado Marco Aurélio, que estava chegando ali, chegando no bonde agora.

Qual foi a reação de Ricardo? Ricardo começou a chorar compulsivamente nos braços de quem, minha gente? Marco Aurélio, “eu não sabia, cara, eu nunca soube, o Marquinho é meu filho, eu amo Marquinho, como que a Ruth fez isso comigo? Me privar, meu filho…”, Ricardo pirou! Gente, o pessoal ali esqueceu que tinha Raquel, que tinha pai e mãe de Raquel, e os dois ficaram lá abraçados chorando. Marco Aurélio pegou o telefone, ainda com Ricardo chorando de fundo e falou “olha Ruth, estou saindo da sua vida porque você tem que ficar com o pai do seu filho” — sério, Marco Aurélio assim… Tipo, ele só passou pela história para causar transtorno e foi embora. 

Falou que não ia mais ter um relacionamento com Ruth, que já estava apaixonado de novo, então quer dizer, segunda vez que, né, não dá certo, tá vendo como não dá para homenagear homem? Você vai pôr ainda o nome da criança do cara que tá desgraçando sua vida. A vida toda você vai ter que olhar para o Marco Aurélinho e falar “putz, pus o nome do cara”. Ricardo enlouqueceu na firma, ele queria porque queria, ficou ligando para Ruth que eles tinham que conversar, que ele queria assumir o Marquinho, e que isso e que aquilo, que não, que ele ia largar a Raquel para ficar com ela, e assim, a Ruth não gostava dele, nunca gostou dele, nunca quis ficar com ele e também nem queria que ele assumisse a criança — apesar de que a gente também tem que ver o lado do Marquinho, né… Estar com o pai tão perto e nunca conheceu o pai, complicado também, né… Ó a situação Ruth —, só que o cara ficou louco, queria porque queria contar pra todo mundo.

E agora o Marquinhos já estava ficando na creche e quem pegava o Marquinho na creche era a Raquel. Raquel saia mais cedo do trabalho, cada uma tinha um horário lá e pegava o Marquinho na creche e levava para casa da mãe lá, porque a Ruth ainda morava com os pais, né. E nesse dia ela deixou o Marquinho e deixou um embrulhinho junto com Marquinho, e deu na mão da mãe e falou: “olha, isso aqui você não abre, só entrega para Ruth para ela abrir”. E a mãe deixou lá em cima da mesa, a hora que a Ruth chegou falou: “ó, sua irmã passou aí, deixou o Marquinho e deixou esse embrulhinho para você”, quando ela abriu o embrulhinho, adivinha? Um sapatinho de nenê: Raquel estava grávida, [entonação grave] Raquel grávida. 

Quando ela chegou em casa, Raquel, ela fez a mesma coisa, deixou um sapatinho lá e saiu para ir no mercado, Ricardo chegou transtornado já querendo contar tudo só que a sorte é que ela estava no mercado… Raquel estava no mercado. E aí ele viu o sapatinho em cima da mesa, e achou o quê? Que de repente a Raquel já tivesse descoberto também, pegou o telefone e ligou para Ruth — ainda bem que não ligou para Raquel —, falou: “tem um sapatinho aqui, você já contou para sua irmã?”, e aí Ruth contou para ele que Raquel estava grávida, então quer dizer, mudou a história. Ele ia contar, ele ia largar da Raquel, mas agora a Raquel estava grávida também — e eu acho que essa gravidez da Raquel neste momento foi uma benção, né, porque aí o Ricardo deu uma acalmada, tipo, “poxa, pera aí não posso também atropelar, agora minha esposa está grávida, eu vou com mais calma”.

E a Ruth conseguiu convencer o Ricardo a deixar as coisas como estavam, ela falou: “olha, quando eu precisar de alguma coisa para o Marquinho eu falo com você se eu não conseguir sozinha e tal, e mais pra frente a gente vê o que a gente faz”, porque assim, o Ricardo também não tinha tirado da cabeça a ideia de ser o pai do Marquinho, né, de assumir e, sei lá, como ele achou que isso podia ter um final feliz. E meio que todo mundo se acertou e a vida foi correndo mais um pouquinho, Raquel com dois meses de gestação tá no metrô indo para o trabalho, encontra quem? — Quem é a pessoa? O maior desserviço da história? — Marco Aurélio, né? 

E o sem noção já chegou falando com ela — Marco Aurélio, assim, como que você chega em alguém que você não tem nem tanto contato, que no passado você já até tretou porque você não quis ficar com a pessoa? —, e fala assim: “ô Raquel, nossa, sinto muito, cachorrada, né, o que eles fizeram com você? E até comigo, né, porque quando eu voltei a namorar a sua irmã jamais imaginava que o Marquinho fosse filho do Ricardo”. N-o m-e-t-r-ô, ela em pé no metrô, pálida, Raquel passou mal, tipo, passar mal de ter que descer na próxima estação e chamar os funcionários do metrô… Graças ao Marco Aurélio, Raquel passou mal, foi parar no hospital e Raquel perdeu o bebê, gente. 

Lá do hospital depois, né, que ela ficou sabendo que ela tinha perdido o bebê ela ligou para Ruth e falou: “olha, eu já tô sabendo de tudo, que o Ricardo é o pai do Marquinho”, e aí a Ruth ficou também desesperada, falou: “eu tinha combinado com o Ricardo de não falar nada, não significou nada o que a gente teve, foi um deslize”, e a Raquel falou: “olha, eu nem terminei de falar Ruth, o Ricardo morreu para mim, você morreu para mim, só que o Marquinho não tem culpa de nada e o Marquinho merece saber quem é o pai dele, merece ter um registro, merece pensão, merece tudo, então você cria vergonha na cara e faz as coisas certas pelo seu filho”, e desligou o telefone na cara de Ruth — lembrando gente que a Ruth que me escreveu e não Raquel, viu?

E agora assim, sei lá, é o momento mais triste pra mim da história, porque a Raquel além de ter perdido a criança ficou muito, muito, muito triste e contou para os pais. Lógico, né? Porque a Raquel que foi tão errada na adolescência e no começo da idade adulta foi a primeira falar que: “olha, não tem que ter mentira, tem que contar ué, aconteceu, tem que contar”, e aí contou para o pai e para mãe também, quer dizer, segundo desgosto que a Ruth estava dando para eles e tal. 

Todo mundo ficou com ódio do Ricardo, todo mundo ficou com ódio da Ruth. Só que aquela coisa, a Raquel saiu da casa que ela morava com o Ricardo que era uma casa alugada e voltou a morar na casa dos pais, então, ela ia ter que conviver com a Ruth, né, elas iam ter que conviver ali até, sei lá, Ruth sair de casa? Mas a Ruth também não tinha condição de sair de casa, então, estava todo mundo de novo sob o mesmo teto, né. Só que Raquel cortou realmente Ruth de tudo, ela não falava com a Ruth… Não fala ainda com a Ruth, não olha na cara da Ruth, é como se a Ruth não existisse. E ela, a Raquel, é madrinha, né, do Marquinho e a Raquel gosta muito do Marquinho, cuida do Marquinho, continua fazendo as mesmas coisas pelo sobrinho, mas pela Ruth não.

E a Ruth percebeu que a Raquel mudou, a Raquel virou uma pessoa, assim, mais triste, mais calada, pensativa, sabe? Aí quando o Ricardo vai lá buscar o Marquinho, né, porque ele fica com Marquinho agora, um final de semana sim e um não, mas aí ela fica pior, sabe? Ela fica mais chateada. Mas ela não fala nada para Ruth, ela não perturba, ela não faz cara feia, nada, ela só trata como se a Ruth não existisse.

E a Ruth, o quê que ela queria saber da gente? Como melhorar essa situação, não sei se é melhorar é a palavra, né, porque como que ela pode ter o perdão da irmã? Eu acho tão difícil isso, gente, a Ruth faz terapia desde que engravidou, ela já tinha esse acompanhamento aí, já fazia terapia… A Raquel depois que separou de Ricardo ficou um tempo bem deprimida, e aí a mãe obrigou também a ir para terapia, com uma outra terapeuta que não era a mesma da Ruth. Então as duas fazem terapia e tal, mas ainda a ferida é muito aberta, né? E aí tem o Marquinho que tá sempre ali, que é uma prova da traição da irmã, e tem o Ricardo que vai lá a cada 15 dias e que tem todo um contato, às vezes, ele vai pegar a criança, né, o Marquinho na escola. 

E a Ruth queria uma ideia da gente como que ela pode fazer para resolver isso, porque agora também o Marquinho já tá um pouquinho maior, ela já até tentou falar com Raquel algumas vezes, mas a Raquel não está aberta. E eu, sinceramente, acho que ela tinha que esperar, ninguém é obrigada a te perdoar, né? E no núcleo cômico da história ainda tem o Marco Aurélio, que agora virou o melhor amigo do Ricardo. Às vezes o Ricardo vai buscar o Marquinho e o Marco Aurélio tá junto, aquele “bonachão”, o cara que fez a coisa certa, e eles estão agora super amigos. 

A Ruth não pode nem olhar para a cara de Marco Aurélio. Raquel também tem ranço… Pelo menos isso elas concordam. Eu acho que aí já tinha que unir as irmãs no ódio, né, contra Marco Aurélio? Pode ser um caminho aí, hein Ruth? Pega nesse ódio aí do Marco Aurélio as duas, quem sabe, né, vocês não se juntam aí para dar um pau nele. 

Sejam gentis com a Ruth todo mundo aí, né, pode errar, a gente tá aí para jogo, todo mundo, e ela errou. A Ruth sabe que errou, errou feio, errou rude, errou Ruth, né Ruth? Só que ela quer agora retomar, porque assim, quando ela ficou grávida do Marquinho a relação dela com a Raquel mudou muito, elas ficaram muito amigas e de repente agora acabou tudo. Eu não sei, eu acho que o caminho é agarrar um ódio aí pro Marco Aurélio, e quem sabe o ódio junte as duas de novo, porque por amor eu acho que vai ser um pouco mais complicado. Precisa deixar a Raquel, né, digerir isso aí, não é fácil também, essa sequência de descobrir a traição do marido com a irmã, perder o bebê, é um combo, né, de coisa ruim que não passa, né?

Ruth me lembrou de uma coisa que eu esqueci de contar que é puro ódio. O Marco Aurélio — esse zé povinho, esse cara que eu nem sei o que dizer de Marco Aurélio — agora ele tá com uma ideia, porque ele virou melhor amigo do Ricardo, de que o batizado lá que teve, como Ricardo é o pai, ele não pode ser pai-padrinho; e agora o Marco Aurélio tá se achando no direito de pedir para o amigo Ricardo para ir na igreja pra ver se dá para rebatizar Marquinho sendo ele o desgracento: o padrinho da criança, gente, sério? #teodeioMarcoAurelio.

Então é isso, gente, deixem aí, lá no grupo, as suas mensagens para Ruth, sejam educados, sejam gentis e logo eu volto aí com outra história, um beijo.

[trilha]

Déia Freitas: Se você tem uma história para um dos quadros aqui do nosso canal Não Inviabilize, escreva para o e-mail naoinviabilize@gmail.com. Gente, minha equipe técnica, edição e sonorização: Léo Mogli. Voz das vinhetas, tem uma linda que faz as minhas vinhetas que é a Priscila Armani, lá no site eu tenho também dois colaboradores; revisão de textos Gabriela Leite e apoio Bruno Bezerra. E, gente, tem o grupo do Telegram, você vai na busca e coloca “Não Inviabilize”, você vai achar o nosso grupo, a gente conversa sobre todas as histórias, lá vocês podem sugerir coisas também. E no grupo eu tenho dois queridos que são voluntários, que são os moderadores, que é a Elizabeth e o Dourado. Então, vão lá, vão para o grupo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.