Skip to main content

título: invisível
data de publicação: 20/05/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #invisivel
personagens: raquele e dona meire

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é a Hidrabene. — A nossa amiga cor de rosinha que eu amo. — Vocês já me ouviram falar aqui — muitas vezes até — sobre o meu queridinho Kit Pônei Bene. [risos] — Amo… — No meu Kit Pônei Bene tem quatro produtos que fazem maravilhas na sua pele: a máscara rosa, a espuma de limpeza facial — que parece que você está passando uma nuvem no rosto, é isso —, o Sérum Hyaluronic Filler e o Vit C facial Fator de Proteção Solar 50. Esse é o meu Kit Pônei Beni que eu amo e sempre falo aqui, mas agora eu tenho um segundo kit na idra Bene… — Sim. — [efeito sonoro de crianças contentes] Agora, além do meu Kit Pônei Bene, tem o Kit Pônei Cara Lavada. [risos] Gente, eu amo demais… [risos] — 

E no meu Kit Pônei Cara Lavada eu vou dar para vocês aqui a letra dos produtos que eu uso, assim, ó: “Vou ali, vou na padaria, vou na esquina”, mal saio, né? Todo mundo sabe… Se preciso sair, assim, e não é uma coisa tão elaborada, eu tô sempre com a minha pele impecável, por quê? — Anota aí o meu Kit Pônei Cara Cavada. — De saída: sabonete líquido, camomila. — Gente, o cheirinho dele é maravilhoso e, além de tudo, ele remove as impurezas de forma suave e eficaz. — Daí você está ali com a sua pele limpinha, você vai passar o quê? O creme ultra repair — amo —, ele acalma e regenera a pele. — E é indicado para todos os tipos de pele, é para hidratar, gente, pra você ficar ali, que seu rosto tá limpinho… — Hidratou, fechou. O que tá faltando? Tá faltando um protetor solar. Aí você vai pegar o quê? Oil Control fator de proteção solar 60. — Que controla a oleosidade e promove um efeito matte duradouro enquanto protege aí da radiação solar. Sério, eu tenho a pele bem oleosa e ele segura. — 

Você já limpou, você já hidratou, você já protegeu… O que você vai fazer agora? Vai passar aí uma corzinha suave na sua boquinha, nas suas bochechas. — Com o quê? O quê? O quê? — O lançamento da Hidrabene, o Lip Tint Frutas Vermelhas, que hidrata, cuida e deixa a make aí, os lábios naturalmente coloridos. Esse Kit Pônei Cara Lavada tá demais, tá perfeito e ele é perfeito aí pra uma rotina prática de cuidados assim, sabe? Dia a dia. “Ai, limpei, hidratei, protegi, dei uma corzinha e fui”, é isso. [risos] Acessa: Hidrabene.com.br e vai lá conhecer meus dois kits, o Kit Pônei Bene e o novíssimo Kit Pônei Cara Lavada. [risos] — Eu amo demais. [risos] Eu vou deixar o link certinho aqui na descrição do episódio e fica com a gente que tem cupom de desconto aqui no final. — E hoje eu vou contar para vocês a história da Raquele. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Raquele sempre foi uma criança muito animada, muito fofinha, muito querida e, quando ela tinha ali os seus quatro aninhos, a Dona Meire — mãe de Raquele — engravidou novamente e teve aí mais uma menininha. [efeito sonoro de bebê chorando] E aí foi uma festa, né? A Raquele tratava aquela menininha como se fosse a boneca dela, cuidava muito… O tempo foi passando, Raquele estava ali agora com seus seis para sete anos e a menininha mais nova, que a gente pode chamar de “Giovanna”, estava com seus dois aninhos, o pai foi embora. Arrumou uma outra mulher e foi embora. — Então ficou ali Dona Meire, com as duas crianças, com Raquele e Giovanna. — E uma luta, né? Primeiro para conseguir pensão, mas aí conseguiu. — Não uma pensão justa, mas enfim, dava para ajudar. — Dona Meire trabalhando muito e as crianças indo para creche de segunda a sexta—feira. — Era essa a rotina… —


Aquela vida de mãe solo muito corrida… Quando Raquele fez sete anos, ela foi para a escola, então agora ela ficava metade do período na escola, metade a Dona Meire pagava para vizinha cuidar da Raquele e a Giovanna ficava ainda tempo integral na creche. Bom, o tempo passou mais um pouco, Raquele fez nove anos e agora a Giovanna estava com cinco aninhos. Tinha uma coisa boa que na escolinha que tinha lá perto da casa delas, tinha tipo um prézinho, então agora a Giovanna com cinco anos ela já podia ir para esse prézinho e ficar meio período. — Não era muita diferença para Dona Meire pagar, então era melhor que as duas ficassem juntas com a vizinha no período da tarde até Dona Meire chegar, em vez da Giovana ficar na creche, não ver a irmã desde cedo, enfim… — De manhã ia para escola a Raquele, ia para o prézinho a Giovanna e, à tarde, a vizinha buscava as duas, dava almoço, ficava com elas até que chegasse, cinco horas da tarde. — Essa era a rotina, uma rotina bem corrida, difícil, apertada financeiramente, apertada de tempo para Dona Meire, para poder cuidar de tudo. —


Quando a Giovanna estava com seus cinco anos, ali pela metade do ano, ela começou a ficar estranha, ficar mais quieta, ficar, assim, meio molinha… E a vizinha, que a gente vai chamar aqui de “Dona Cida”, a Dona Cida avisou, falou: “Ó, Meire, a Giovanna tá estranha, tá meio molinha, eu acho que eu vou levar ela no posto… Posso levar ela no posto tal” e aí levou no posto… — A Meire ela tinha que trabalhar, ela não tinha tempo de fazer esse corre com as crianças, se não ela ia perder o emprego dela. — Quando elas iam para o posto de saúde, a Raquele tinha que ir junto no posto de saúde, então elas estavam sempre juntas, a Cida, a Raquele e a Giovanna. Foi fazendo exame e tal, acharam que era uma anemia, foram tratando, só que tinha que voltar no posto… E, numa dessas idas ao posto, a Cida atravessando a rua com as duas crianças, a Giovanna escapou da mão dela, se soltou da mão dela e foi atropelada. [efeito sonoro de carro freando bruscamente]


E, assim, gente, basta um segundo e eu não sei… Não dá nem para culpar a Cida. — Eu  era uma criança que saía correndo… A minha tia falou que uma vez a gente estava na loja do Baú da Felicidade do Silvio Santos e eu soltei da mão dela e saí correndo, saí da loja, saí da calçada e alguém me segurou, que eu ia pro meio da rua. Eu era esse tipo de criança que corria. — A Giovanna nunca tinha feito isso e, nesse dia, ela correu e foi atropelada… Giovanna ficou internada um tempo, mas ela tinha sofrido ferimentos mais graves e a Giovanna, com cinco aninhos, ela faleceu. Bom, mundo da Raquele acabou… Mundo de Dona Meire acabou e até também o mundo da Cida, ela ficou tão inconformada que ela ficou em depressão e acabou indo morar com uma das filhas em outro lugar. — Porque era insuportável para ela ficar naquela casa lembrando da Giovanna e, assim, se sentindo realmente culpada do que aconteceu, que foi uma fatalidade, gente, foi uma fatalidade. Criança realmente é um segundo, a gente tem que estar sempre muito atenta. —


Raquele ela não conseguia processar muito bem o que tinha acontecido, né? E ela só via ali que a mãe chorava muito, que a mãe estava muito mal, ela também sentia saudade da Giovanna — mas o processo de luto da criança é diferente do processo de luto de um adulto — e a Raquele não entendia porque a mãe agora, que antes era tão amorosa, não conseguia mais abraçar a Raquele, não conseguia mais dar aquele carinho… Porque ela estava sofrendo, ela estava mal, a Raquele também não tinha com quem conversar sobre isso, não era uma época que, sei lá, que colocavam psicólogos à disposição, enfim, você ia tratando ali das suas dores e suas queixas do jeito que dava. E aí a Raquele foi entendendo que ela tinha que ser uma menininha forte, porque a mãe dela estava fragilizada, a mãe dela não estava aguentando nada. Foi um processo muito difícil esse começo pra Dona Meire, ela deixou de fazer as coisas pra Raquele… Ela não conseguia pentear o cabelo daquele, não conseguia fazer as coisinhas, sabe assim para a Raquele? E aí a Raquele se viu muito negligenciada… E uma irmã da Meire — vendo a situação — pegou a Raquele para criar. — Sabe aquela coisa de criar? — 

Pelo menos até a Dona Meire estar com a cabeça melhor, e aí foram três anos da vida da Raquele muito difíceis, porque essa tia fazia a Raquele de empregada e tratava a Raquele muito mal, falava com todas as letras que a culpa da morte da Giovanna era da Raquele, porque a Raquele já era maior, não tinha nada que estar de mão dada com a Cida, a Cida tinha que estar prestando atenção integralmente só na Giovanna, enfim, umas atrocidades. E a Raquele ficou dois anos e pouco essa tia, até que a Dona Meire pegou ela de volta, só que Dona Meire já estava mudada. — Eu não sou mãe, mas eu imagino o que deve ser a perda de um filho. Então, o luto é eterno, né? Você passa um dia, passa dois, passa um ano, vinte, mas é um filho que você perdeu, né? Eu acredito que seja assim… — Ela não era mais aquela mulher amorosa, tudo ela falava de Giovanna, ela tinha feito um mural com as fotos da Giovanna… 


E a partir desse dia, que a Raquele voltou para casa, ela nunca mais foi vista pela mãe. — Enxergada, sabe? — Então ela tirava 10 numa prova e Dona Meire comentava: “Nossa, será que a Giovanna tiraria 10 também? Será que a Giovanna estaria estudando nessa escola?”. Qualquer coisa que a Raquele fizesse, a mãe lembrava da Giovanna, falava da Giovanna. A Raquele uma vez num aniversário ela queria um vestido e a Giovanna sempre gostou muito de amarelo, ela escolheu um vestido amarelo e a Dona Meire não comprou… Falou: “Você escolhe outra cor ou você não vai ter vestido, porque amarelo era a cor da sua irmã e você não vai botar um vestido da cor que a sua irmã gostava”. Ela escolheu uma outra cor do vestido e aquele momento que seria mágico, que seria tão feliz para ela — do aniversário, dela escolher um vestido para usar no aniversário — se tornou mais uma vez um momento triste ali, né? E ela não conseguia entender, ela foi crescendo desse jeito, com todas as conquistas, tudo o que ela fazia, Dona Meire não estava nem aí.


A Raquele ela era completamente invisível para a mãe, a mãe mal olhava para ela… Acredito que porque as duas, Giovanna e Raquele, elas eram muito parecidas, então olhar para Raquele talvez fosse ver a Giovanna, né? E ela não tinha conseguido trabalhar isso ainda, mas isso muitos anos… E assim ela foi crescendo… Na adolescência ela tinha muitas coisas que ela queria perguntar para a mãe dela, por exemplo, quando ela ficou menstruada, ela foi avisar a mãe, a mãe deu um absorvente na mão dela, mas não explicou nada, não falou nada… E aí ela falou: “Ah, mãe, me explica, sei lá, me fala alguma coisa” e aí a Dona Meire falou para ela que “nossa, menina, você tem que ser mais esperta, você tem que ser…”, sabe assim? “Mais safa… Se fosse a sua irmã, não ia estar me fazendo esse tipo de pergunta idiota”. — Então, mais uma vez, num momento que seria de mãe e filha, de acolhimento, ela teve esse tipo de resposta. —


A mãe nunca mais comemorou aniversário da Raquele, falou que naquela casa ninguém mais faria festa. Nunca mais. — Então, nenhum Natal era comemorado, nenhum aniversário era comemorado… Não existia nenhum tipo de festa porque ela achava que isso era uma falta de respeito com a Giovanna, que não estava mais lá. — Quando a Raquele fez 15 anos, a Raquele falou: “Mãe, deixa eu fazer pelo menos um bolo para mim, né?”, família pobre, mas dava para ter um bolinho, sabe? E aí a Dona Meire ficou muito nervosa porque ela já tinha falado que nunca ia ter festa… E a Raquele adolescente chorou, deu uma esperneada porque ela queria uma festinha, alguma coisa, né? E com 15 anos ela não trabalhava, não tinha dinheiro para fazer ela mesma um bolinho, sei lá, comprar um bolinho ou alguma coisa. Nesse dia, a Dona Meire falou uma das coisas mais duras para Raquele, que foi: “Eu preferia que você tivesse ido no lugar da Giovanna”. 


A partir desse dia, a Raquele nunca mais pediu nada para a mãe e nunca mais falou nada dessas coisas para mãe. Então, nem quando ela estava triste, nem das conquistas, nem se ela passava de ano… Mesmo não falando, Dona Meire não perguntava, não queria saber. Nessa época, estava começando o Facebook, Dona Meire fez um Facebook e todo dia ela postava coisas sobre a Giovanna, fotos… — Fazia aquelas montagens, sabe? Que o Facebook tem, tipo slidezinhos. — Falava: “Minha filha, eu te amo”, “minha filha, eu te amo muito e nã nã nã” e foi fazendo essas postagens… Até que um dia ela postou alguma coisa e, talvez, num ato falho escreveu: “Giovanna minha única filha”. E Raquele estava também no Facebook, ela tinha acabado de fazer 19 anos… Uma colega de trabalho da Dona Meire, que a gente pode chamar aqui de… Eu sempre uso os mesmos nomes de senhora… Dona Dilma. — Amo. — Dona Dilma escreveu pra ela: “Ô, Meire, você esqueceu da Raquele? A Giovanna não é sua única filha, não, você tem que olhar pra frente”, isso no Facebook… “Está ridículo isso já, você tem outra filha… Eu trabalho com você tem dez anos, o que você faz com a Raquele não é coisa que mãe faz”. — Amo já Dona Dilma. —


E aí aquilo virou uma briga no Facebook, nos comentários, porque algumas pessoas escreviam assim: “Ah, tem que respeitar o luto dela, cuidado com as suas palavras” e outras pessoas falavam: “É, dá uma olhada no que a Dilma falou, Meire, tem um pouco de razão”. E talvez essa chamada da Dona Dilma, acendeu alguma coisa na Dona Meire e com 19 anos ali, a Dona Meire tentou uma aproximação com a Raquele. — Só que aí, gente, já era tarde… — A Raquele já estava fazendo um movimento para sair de casa… Quando ela fez 15 anos, ela entrou num cursinho de projeto social — se envolveu muito, se engajou muito — e com 19 anos ela tinha passado no vestibular. — E a mãe nem sabia, porque a mãe nem ligava, né? — Estava prestes a entrar na faculdade e, nesse movimento, ela conseguiu… — Sabe quando você consegue moradia estudantil? — Ela conseguiu uma moradia estudantil, ela já trabalhava meio período, então ela estava saindo de casa. — E ela tinha muita mágoa da mãe também, né? — E aí ela foi morar num outro estado. — E aí eu acho que Dona Meire deu uma acordada, tipo: “Eu já perdi uma filha e agora eu estou perdendo outra”, né? —


E Dona Meire tentava até uma aproximação, mas a Raquele estava muito machucada e, na faculdade, ela teve a oportunidade de fazer terapia. — Se inscrever, sabe quando você faz gratuito? E ela conseguiu uma vaga. — Então a terapia ajudou muito a entender o luto da mãe, mas também entender que ela não tinha culpa e o que a mãe tinha feito com ela realmente não tinha sido legal, né? E aí, a partir do momento que ela entendeu isso, foi mais difícil fazer esse retorno de sentimento em relação a Dona Meire. Mas com o passar do tempo, a Raquele foi amolecendo o coração, se entendendo melhor na terapia. Dona Meire nunca quis fazer terapia, nunca quis ir para terapia e foi se reaproximando da mãe, até que Raquele conheceu Renato, apaixonados, iam se casar. Era só a Raquele se formar… — Ele já era formado. — Na formatura da Raquele, Dona Meire que tinha já uma condição de vida melhor e podia muito bem sim pegar um ônibus e ir, ela não foi. Disse que: “Ah, tô com uma dorzinha aqui nas costas”, não foi na formatura da filha e a filha tinha mandado convite… Sabe aquela coisa que você compra os convites? Então, assim, mandou um convite para mãe e tal e a mãe não foi na formatura da Raquele.

Raquele foi se apegando mais a família do namorado ali, que virou noivo — e que agora então ia virar marido, né? — e eles combinaram, fizeram um esforço para ter uma festa, tanto a família do Renato quanto a própria a Raquele eles queriam ter uma festa de casamento, casar na igreja, essas coisas. E aí a Raquele escolheu o vestido de noiva sozinha porque a mãe também não quis vir… — E a gente não está falando aqui, gente, de muito longe, tipo, sei lá, uma morando em Santo André e a outra morando na Praia Grande… Tipo, uma hora… Você pega ônibus aqui na rodoviária e em uma hora você está na Praia Grande. Custa, sei lá, R$50 a passagem, então não era uma coisa que não dava pra ela fazer, né? — Tipo ir pelo menos um sábado ajudar a Raquele a escolher o vestido, ela não quis ir. No casamento a Raquele já não estava esperando que a mãe aparecesse — tanto que ela nem viu essa coisa de roupa, não sabia se a mãe dela ia ficar no altar — e foi fazendo as coisas sem contar com Dona Meire, mas Dona Meire ali na semana do casamento disse que ia sim e que ia para ficar no altar e que já tinha comprado uma roupa, tudo…


Dia da noiva, Raquele ali no momento mais especial da vida, chegou Dona Meire… — Bem na hora de arrumar ali a Raquele para pôr o vestido… Então, assim, um momento muito especial, né? — E quando ela viu a Raquele sorrindo, de vestido e tal, ela falou na frente de todas as pessoas que estavam ali, cabelereiro, maquiadora, algumas amigas da Raquele, enfim, todo mundo que estava ali: “Ah, você está muito bonita, mas a Giovanna estaria mais”. E aí completou com: “Eu não consigo, esse dia…”, que era o dia do casamento, né? “Não significa nada para mim”, e aí a Dona Meire ficou no altar ainda assim… — Porque a Raquele começou a chorar, tiveram que refazer a maquiagem, aquela coisa… — Não contaram para o Renato, que era capaz dele não deixar a Dona Meire ficar no altar e ela ficou no altar o tempo todo chorando… — Tem até nas filmagens algumas vezes ela falando o nome da Giovanna. — E essa foi a última vez que a Raquele falou e viu a mãe. Isso já tem quatro anos… Agora eles estão se preparando para a Raquele engravidar, né? Enfim, eles querem ter um bebê.


E aí vai ser outra coisa que talvez a Raquele queira falar com a mãe, mas ela sabe que a mãe não vai reagir bem ou vai tornar aquele momento algo da Giovanna. A Raquele escreveu para a gente para tentar entender do que a gente acha até que ponto o luto de uma mãe por um filho é válido a ponto de destruir a vida de outros filhos assim… Porque a Raquele falou: “Andréia, eu não posso falar para você que eu sou feliz, eu tenho meu marido, a gente se ama, mas eu não sou feliz. Primeiro que eu carrego uma culpa que eu não sei se a minha mãe acha que eu tenho culpa da minha irmã ter morrido. Depois eu tive que ouvir da boca dela que ela preferia que eu tivesse morrido no lugar da Giovanna, sem eu ter feito absolutamente nada para ela, por eu ter pedido um bolo de aniversário. E eu sou invisível para ela, nada que eu faço existe pra ela, porque não é a Giovanna que está aqui para ver e para fazer. Então, até que ponto eu tenho que entender o luto da minha mãe? Mesmo destruindo a minha vida assim”.


E é uma história complicada, né, gente? Porque ao mesmo tempo que dá pra entender a dor da Dona Meire, até que ponto é a dor dela ou, sei lá, a dor que ela quer causar a filha? Porque eu acho que chega a um ponto que isso acaba se misturando, né? A dor que ela sentia pela perda da Giovanna com o ressentimento talvez que ela tenha… A gente nunca vai saber, porque ela não fala sobre isso. Ela não fala. Às vezes que ela falou foi sempre nesse tom de que preferia que fosse a Giovanna viva, se ela tivesse que escolher. E mesmo aquele movimento que a amiga dela lá de trabalho, a Dilma fez, não surtiu muito efeito, né? Talvez ela tenha… A Raquele hoje acha que a Dona Meire só foi procurar ela naquela época por causa dessa pressão assim, sabe? Social… Tipo: “Estão vendo que eu não sou uma boa mãe? Deixa eu me esforçar um pouco”, mas hoje em dia a Raquele sente muita mágoa e raiva da mãe, porque ela entendeu na terapia que ela não fez nada para merecer o tratamento que a mãe deu, independente do luto da mãe, das questões da mãe. Então, acho que é muito importante isso, dela entender que ela não precisa carregar aquela culpa porque ela não tem culpa, de fato. 


Só que aí o jeito que as coisas se desdobram é nisso, assim, ela não consegue mais conversar com a mãe. Só que chega em momentos, assim, especiais como agora, ela quer engravidar e ela fica pensando: “Mas e aí, né? Porque minha mãe vai querer aparecer nesse momento e vai falar alguma coisa puxando a Giovanna, né?”. Hoje em dia a Giovanna é uma lembrança, uma saudade e tal, mas ela procura não pensar na irmã, porque incrivelmente, pensar hoje na Giovanna é pensar em todo o descaso da Dona Meire com ela. — Eu resolvi dar nome aqui pra Dona Meire, porque, enfim, é uma mãe de luto… Mas eu entendo também que em alguns momentos dessa história ela não merecia ter nome mesmo, né? — Então acho que é um ponto para a gente conversar sobre, quando a mãe perde um filho, parece que o mundo acabou… Mas tem os outros filhos, né? E aí, como é que você faz? Como é que você acorda no dia seguinte? E nos outros dias e nos outros… Como fazer para que esse luto não atravesse a vida dos seus filhos de uma maneira quase irreparável, né?

Essa é a história da Raquele… Só um adendo aqui, porque a gente sempre acaba falando mal de homem, e aí vocês vão falar: “Andréia, fala mal de homem todo dia”, só para vocês terem uma ideia, quando a Giovanna morreu, o pai entrou na justiça pra pedir aquela parte da pensão, tipo, se ele pagava R$300, ele entrou na justiça para pagar só 150, o que ele não foi acatado. Ainda bem, né? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, estou falando desde Londres. Raquele, todos os dias nós somos inundados pelo mito da família perfeita, das mães amorosas, dos pais presentes… Só que a realidade é que isso não acontece para todo mundo. Não aconteceu para mim, não aconteceu para você. Então, no dia que eu parei de ter expectativas, eu me senti livre e nisso a terapia me ajudou. Infelizmente, essa mãe amorosa, essa mãe com a qual você quer compartilhar as suas coisas, ela não existe mais, ela partiu no dia do acidente. Os nossos pais não são perfeitos, eles são pessoas diferentes da gente, então eles não vão cumprir as nossas expectativas e você tem que entender isso. Eu espero que o passado com sua mãe não te impeça de ser a mãe amorosa que você não teve. Um abraço muito grande. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é o Yago de Fortaleza. Às vezes é muito difícil a gente enxergar nossas mães como pessoas que também tem defeitos e, por mais que também seja a primeira vez delas vivendo a vida, não é justo que a Raquele tenha que ficar pra sempre ouvindo que a mãe dela preferia que ela tivesse ido no lugar da Giovanna. E, assim, Raquele, a culpa não é sua… Foi tudo uma fatalidade, como a Déia, falou, a Giovanna era uma criança, você também era uma criança, não se inviabilize por isso, siga sua vida… Sei que pode ser difícil, mas erga a cabeça e saiba que você não errou… Não tente buscar a aprovação da sua mãe, não tente buscar algo que ela não está disposta a te dar. Eu acho que assim você vai poder seguir com um coração mais leve. Um beijo e fica bem. 

[trilha] 

Déia Freitas: Não esquece: Além do meu Kit Pônei Bene, agora eu tenho também o Kit Pônei Cara Lavada [risos] com quatro produtinhos maravilhosos que deixam aí a sua rotina prática e perfeita para todos os dias. O meu Kit Pônei Cara Lavada vem com sabonete líquido camomila, o creme Ultra Repair, o Oil Control Fator de Proteção Solar 60 e o Lip Tint Frutas Vermelhas. — Gente, é um luxo, sabe? Eu tenho dois kits na Hidrabene, é muito luxo… — E usando o nosso cupom: PICOLE10 — tudo junto, sem acento, letra maiúscula e o número “10” —, você ganha 10% de desconto em todo o site sem valor mínimo. Acesse aí: hidrabene.com.br e vem conhecer meus dois kits. — Por favor, me dá esse ar da graça? Vai lá conhecer meus kits. — Valeu Hidrabene, te amo muito… — Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]