título: líquidos
data de publicação: 29/04/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #liquidos
personagens: marcela e seu pedro
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é a ActionAid… Eu não sou de falar de investimentos por aqui, mas esse aqui muda o futuro das pessoas de verdade. E é muita gente beneficiada com a doação de quem quer fazer a diferença no mundo. E a ActionAid quer te fazer um convite: Com a doação de apenas R$1,80 por dia, você pode apadrinhar uma criança e ajudá-la aí a ter acesso a moradia, estudo, saúde… — Coisas fundamentais para que ela tenha aí um futuro digno. — Então entra lá no site, faça seu cadastro e invista nos sonhos de uma criança. — Sim, você pode fazer aí a diferença. — O site é: apadrinhehoje.org.br. — Eu vou deixar o link certinho aqui na descrição do episódio, então é só você entrar no site da ActionAid que é apadrinhehoje.org.br e fazer aí a sua doação. —
E hoje eu vou contar para vocês a história da Marcela. — Essa história foi um pouco antes da pandemia, então tem uns aninhos aí. — Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]Numa balada Marcela conheceu um cara, ficou com esse cara aí três meses e engravidou… — Sim, Marcela engravidou. — E o cara sumiu. Marcela teve uma gravidez meio conturbada, ela já morava sozinha, com os pais morando longe e tendo até um bom suporte ali nas amizades, né? — Mas é aquela coisa, né? Não é toda hora que alguém está disponível pra te ajudar. Se for num horário de trabalho, dependendo do trabalho da pessoa, ela não vai conseguir sair pra te ajudar, enfim… — Uns dias antes da data marcada do parto, a Marcela acordou com muita dor nas costas… Uma dor nas costas, um incômodo, um desconforto… Ela aguentou esse desconforto até mais ou menos umas 14 horas. Não conseguiu almoçar, estava mal, tava estranha… Só que ela não achou que isso fosse do parto. — Como não, Marcela? [risos] Eu, sei lá, se eu estivesse grávida e me desse qualquer coisa, eu ia achar que era o parto, qualquer coisa. Dor de cabeça? Parto. Dor na unha? Parto… Tudo, parto. —
E aí ela começou a sentir uma dor que, assim, ela falou pra mim a Marcela: “Andréia, não era nem como uma cólica menstrual, era menos. Então eu falei “não é dor de parto”. — Porque na cabeça de Marcela, ela achou que fosse uma coisa que ela vê… A gente vê as mulheres, sei lá, em filme… [risos] Eu só vi assim, longe, meio que com dor, gritando ou algo assim, meio mal… Então ela achou que fosse assim. Que eu acho que também deve varias de corpo pra corpo, né? — E só deu aquela dorzinha e tal… Só que quando deu mais ou menos ali cinco e meia da tarde, essa dorzinha tava muito rápida e ela não conseguia respirar direito. Ela falou: “Bom, eu vou pegar a bolsinha do meu filho e vou pro hospital”. Sozinha, sem cartão de crédito para pedir no aplicativo um carro, esperando a amiga dela vir buscar. Só que a amiga falou: “Amiga, eu preciso sair daqui 18 horas, eu não posso sair antes, eu já tenho umas faltas, eu não posso me complicar. Você aguenta meia horinha? Eu saio daqui e chego aqui em 15 minutos”
Só que é aquela coisa, o corpo ele não espera… Marcela resolveu descer lá para o saguão do prédio que ela morava — esses prédios sem porteiro, só com porteiro eletrônico — e aí, enquanto ela estava lá, com dor, não conseguia nem ficar em pé, chegou o seu Pedro… Seu Pedro estava chegando do trabalho, eles tendo pouco contato, só de bom dia, boa tarde, mas muitos anos morando juntos ali no mesmo prédio, né? Seu Pedro falou: “Marcela, você está com uma cara péssima. O que aconteceu?”. A Marcela falou: “Eu não sei, não é dia ainda do meu parto, mas eu estou passando mal”, Seu Pedro falou para Marcela: “Eu te levo”. Marcela mandou mensagem para Miguel, falou: “Um vizinho meu aqui vai me levar para o hospital” e o hospital era uns 20 minutos ali da casa deles…
Acontece que, no meio do caminho, a Marcela foi sentindo… O que ela me falou? “Foi instinto… Eu tava de vestido já, um vestidão largo… Meu instinto foi: dentro do carro, com aquela dor que eu tava… Não me pergunte como, mas eu tirei a calcinha e botei a calcinha dentro da minha bolsa… E aí foi questão de, sei lá, três, quatro minutos… Eu me ajeitei ali no banco de trás do carro e o bebê nasceu”. [efeito sonoro de bebê chorando] O menininho nasceu no carro ali do Seu Pedro”. “Ai, que coisa linda, nasceu…”, o Seu Pedro correu mais, chegou na porta do hospital buzinando já e socorreram ali mãe e filho, Marcela e o bebezinho. E Marcela não viu mais seu Pedro — porque seu Pedro, sei lá, foi embora —, eram umas amigas que iam ficar com ela e deu tudo certo. Marcela ficou só até o outro dia no hospital, porque o parto dela já aconteceu no carro, né? Uma amiga foi buscar e ela foi para casa. — E aí um pouco de dificuldade para o bebê mamar, mas aí deu tudo certo, gente, estava tudo certo… — Um mês se passou, tudo certo… Bebezinho mamando legal, voando de saúde, muito bem. Marcela estava ainda um pouco sambada, né? Porque, assim, teve um filho, e aí o bebê não dorme todas as horas, enfim, estava muito cansada, de licença maternidade… Ela tem um trabalho estável e o prédio que ela mora é um prédio ali classe C, assim, um prédio de três andares, assim, sem nada, com pessoas da classe trabalhadora morando ali. — Inclusive, seu Pedro. —
Passado um mês do parto de Marcela, a esposa do seu Pedro tocou no interfone lá [efeito sonoro de interfone tocando] de Marcela. E, Marcela, naquela correria de um mês de bebê, não tinha dado tempo dela ainda tocar lá. — Na verdade, ela meio que esqueceu de pelo menos tocar lá pra agradecer o Seu Pedro, né? Porque, poxa, acabou de ter neném, enfim, acontece… — E aí a esposa falou: “Oi, Marcela, tudo bem? Você tá bem? Bebê tá bem? Tudo bem?”, e aí a mulher do Seu Pedro falou assim: “Olha, eu vou deixar para você um envelope lá na caixa do correio”. — Que as caixas são lá embaixo, lá na recepção. — E a Marcela falou: “Ah, tudo bem então, obrigada”. Marcela demorou ainda uns dias para pegar esse envelope. — Na cabeça da Marcela era o quê? Uma correspondência que, sei lá, foi lá pra casa do Seu Pedro com a esposa, enfim… — Quando ela pegou esse envelope, o Seu Pedro, em decorrência do parto, teve que trocar o banco traseiro, não teve como lavar… Perdeu o banco, perdeu o banco com aquela quantidade de líquidos que saiu de Marcela… Sangue, sei lá, aquele líquido que sai antes, enfim… A placenta acho que não tinha saído da Marcela ainda, acho que demora um pouquinho para sair. Ou se saiu também no carro, pegaram, né? Junto com o bebê ali, mas enfim… —
Ele perdeu o banco e ele estava cobrando agora, tinha a nota fiscal, o valor desse banco. Marcela ficou em choque, porque assim, ela não imaginou isso, né? Na cabeça da Marcela foi ele que se ofereceu para levar ela. — E aqui eu e Marcela a gente pensa diferente… — Então, ela não se sentiu na obrigação de pagar. E eu aqui discordo da Marcela, porque eu me sinto responsável, gente… Então, em algum momento da minha vida ali, com o meu bebê, eu ia mandar uma mensagem… Primeiro para agradecer: “Obrigada, seu Pedro, por ter me socorrido, me levado para o hospital. Eu sujei o seu carro… Veja como ficou essa limpeza, o que eu posso fazer pra resolver isso? Muito obrigada”, sim, uma mensagem… Mas a Marcela eu entendo, ela é mãe solo ali… Ela não pensou nisso, né? Tava lá na caixa do correio dela essa conta e a Marcela cismou que não era responsabilidade dela e interfonou pra esposa do Seu Pedro e disse que não ia pagar.
E aí meio que elas discutiram e depois, umas duas vezes, a mulher do seu Pedro cobrou de novo. E aí a Marcela ficou nervosa, o leite dela começou a secar, enfim, ela falou isso pra mulher e a mulher não entrou em contato e ela não pagou esse banco, nem parcialmente, nem nada, porque a Marcela acha que ele ofereceu ajuda… — Seu Pedro tem o direito de cobrar esse banco também da Marcela? Se foi ele que quis ajudar… Porque eu, falando de mim, eu me ofereceria porque a pessoa me ajudou, entendeu? Porque eu sou assim, mas na cabeça da Marcela, eles não poderiam ter cobrado ela disso. Mas sei lá, ele cobrou, talvez porque foi não foi barato, né? E ele achou que, poxa, “ela teve o bebê no meu banco, será que ela não pode pagar esse banco, né?”. E, assim, não é um banco de, ah, uma Porsche, é um banco de um carro popular… — E é isso, a Marcela não pagou, não conversou mais com eles, nem olha na cara deles no prédio. Isso já passou… Eles não cobram mais também, mas ela teve essa discussão com a esposa do Seu Pedro. O que vocês acham?
[trilha]Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, oi, Marcela, meu nome é Vauline, eu sou aqui de Salvador, Bahia. Assim, Marcela, o Pedro se ofereceu pra te ajudar, mas pense que se ele não tivesse se oferecido, talvez você tivesse tido seu filho ali na porta do prédio e talvez até tivesse tido um problema no parto, enfim, ter complicado a sua vida toda e de seu filho. Então, sim, graças a Deus que ele te ofereceu ajuda, né, cara? Então, assim, gratidão é uma coisa muito bonita e, assim, um mês, Marcela? Eu tenho dois filhos, eu sei o que é ser recém parida, mesmo você estando sozinha e tal, tem momento que o bebê dorme e que você pode dar um pulinho lá, três minutinhos, bater na porta e dizer: “Pô, valeu, obrigada”. Então, assim, eu acho que não é desculpa, não, para não ter tido essa gratidão. Talvez até por isso mesmo, pela, entre aspas, ingratidão, de não ter ido agradecer, ele: “Pô, não, eu quero que ela pague sim”, então acho que você tem que pagar, não vai lhe matar pagar isso. E pensa que dor de barriga não dá uma vez só, Marcela, Deus livre e guarde, você mora sozinha, de madrugada você sente alguma coisa, seu bebê sente alguma coisa, vai ser bom que alguém se ofereça para te ajudar… Vai ser muito importante, não é? Pense nisso, tá bom? É isso aí. Beijão.
Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, eu sou a Luísa, falo de Montreal, no Canadá. E eu queria falar que eu tô muito chateada com essa história da Marcela, assim, um pouco chocada, na verdade… Eu queria pontuar que, Marcela, o seu vizinho te ofereceu uma carona, se ele tivesse te mandado uma mensagem cobrando depois a quilometragem e o valor da corrida, pagaria, mas diria: “poxa, chato, né? Totalmente errado da parte dele”, não é isso que ele está te cobrando, né? Ele tá te cobrando, poxa, por algo que ele precisou trocar em decorrência de uma emergência que acabou acontecendo no carro dele porque ele quis ser gentil e te ajudar, né? Aí a gente fala tanto de ajudar, de construir uma comunidade em que todo mundo se ajuda, o nosso vizinho nos ajuda dessa maneira e a gente diz que a responsabilidade não é nossa? Você não sabe da questão financeira dele, o quanto esse dinheiro fez falta pra ele e ainda assim ele quis te ajudar, né? Então, bem chato… Espero que você realmente pense nisso E um beijo.
[trilha]Déia Freitas: Com apenas R$1,80 por dia, você pode ajudar a mudar a história de uma criança e você aumenta e muito a perspectiva dela de mudar de vida. — Por meio da educação. — Você colabora para o combate à fome e também para que ela tenha acesso a água potável pra toda aquela região ali que ela está inserida, que ela vive, e ainda promove uma melhoria na qualidade de vida não só da criança apadrinhada, mas da família inteira. Conheça a ActionAid em: apadrinhehoje.org.br faça o seu cadastro e apadrinhe aí uma criança. Valeu, ActionAid. Um beijo, gente, e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]