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título: marina
data de publicação: 03/03/2022
quadro: alarme
hashtag: #marina
personagens: marina aguiar

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Atenção, Alarme. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um episódio do quadro Alarme. — E eu não estou sozinha, meu publi. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo é a Pfizer. — Olha que massa. — A Pfizer me convidou para participar de uma campanha muito bacana com a #BoraFalardeCâncer. E o objetivo é desmistificar a doença, sabe? Falar sobre trazer informação de qualidade sobre câncer. E vocês podem acompanhar a campanha no Instagram da Pfizer, que é @pfizer.brasil. Eu vou deixar tudo aqui na descrição do episódio. E a ideia é abrir um diálogo, saca? O diálogo é o primeiro passo para um diagnóstico precoce. E hoje a gente vai falar sobre leucemia… E eu vou contar para vocês a história da Marina Aguiar. Então vamos lá, vamos de histórias. 

[trilha] 

Em 2006 a Marina tinha ali seus 17 anos e era uma garota cheia de vida aí, super saudável, e ela passou ali na faculdade para cursar Odontologia. Então ela estava numa alegria que só, né? Cheia de planos aí, tudo dando muito certo pra Marina. E aí lá para abril — de 2006 — ela começou a sentir umas dores, assim, muito fortes nas pernas. Junto com essa dor nas pernas veio uma fraqueza, uma febre, uma anemia e ela tinha muito, muito, suor noturno. E aí ela foi num médico, não conseguiu descobrir o que ela tinha. Foi em outro, também não conseguiu descobrir… Então, num período ali de quatro meses a Marina passou por seis médicos. Passou por ortopedista, neurologista, reumatologista, mas ninguém conseguia identificar a causa das dores da Marina. 

Um falava que era estresse, o outro falava que era dor psicológica… Aí foi realmente diagnosticada uma anemia, né? E o outro falava: “Ah, uma dor aí nos nervos e nã nã nã”. E aí ela tinha vários diagnósticos incertos e não achava ali o que ela tinha, não conseguia achar um remédio, nada… Mas pelo menos anemia ela tinha. A Marina foi atrás de um hematologista. — para acompanhar melhor aí essa anemia que ela tinha — E, gente… Esse médico assim que ele bateu o olho na Marina ele suspeitou de leucemia. E aí foi lá, fez um exame chamado “mielograma” — que é um exame da medula óssea — e foi diagnosticado mesmo que ela tinha uma leucemia e que ia precisar fazer quimio. [música de tensão]

Marina tinha uma leucemia linfocítica aguda, mais conhecida como LLA… E a LLA é uma leucemia muito comum em criança e muito curável, então ali na faixa entre os 2 aninhos e 9 anos, ela é muito curável… Só que a Marina estava ali já fazendo, agora ela já estava com 18 anos… Então as notícias não eram tão boas. Ela tinha que começar a quimio, não tinha convênio médico e foi fazer o seu tratamento pelo SUS. — Viva o SUS. — Entre idas e vindas, a Marina ficou internada no Hospital das Clínicas por oito meses e, naquela altura do campeonato, a Mariana não estava preocupada se o cabelo dela ia cair, com várias questões, assim, em relação à doença, ela tava preocupada que ela ia ter que trancar a faculdade… EIa ia ter que parar de estudar. 

E ela tinha passado numa federal, então ela estava, assim, arrasada. E ali no Hospital das Clínicas onde ela estava, ela estava numa enfermaria, né? Que tinha seis leitos — na área de onco—hematologia — e ali tinham várias adolescentes internadas, né? Tratando também a mesma doença que ela, tratando outras doenças… E a mãe da Marina ali não desgrudava, estava sempre junto com ela. Só que acontecia assim: a Marina fazia o ciclo de quimioterapia, era liberada para ir para casa, — depois de, tipo, 40 dias internada — ficava em casa um ou dois dias, aí já dava febre de novo nela e ela tinha que voltar para a internação. — Então, por isso que ela ficou oito meses internada, assim… Quando acabava os ciclos ela ficava, tipo, dois, três dias em casa, no máximo, e já tinha que ser internada de novo. — 

Então, a rotina da Marina era: Sete dias de quimioterapia, três dias em casa, febre, 15 dias internada tomando antibiótico para tratar várias infecções que ela teve. Então, se ela teve amigdalite, pneumonia, candidíase esofágica, diarreia, infecção fúngica… — Sem contar aí os efeitos colaterais da quimioterapia: gastrite, pancreatite. — Ela fez transfusão de mais de 35 bolsas de sangue e mais de 12 bolsas de plaquetas. Era assim, gente, era indo e voltando do hospital. E, no meio disso tudo, a Marina queria estudar. Então ela entrou na Justiça para ter o direito de conseguir acompanhar aí o curso dela. — Pelo menos naquele primeiro ano à distância. — 

E aí os amigos de curso, os colegas de curso da Marina passavam a matéria para ela. Ela estudava quando ela estava bem… — Quando eu estava se sentindo bem fisicamente. — E os professores iam até o hospital para aplicar as provas na Marina e assim ela foi cursando aí o primeiro ano de Odontologia. Só que no final de setembro daquele ano, a Marina teve uma notícia ruim… Ela fez outro exame — outro mielograma — e descobriu que o organismo dela reagiu mal à quimioterapia… E a doença não tinha entrado em remissão. Então, aí agora era partir para um transplante de medula óssea. E o único irmão que a Marina tinha na época tinha 12 anos e ele não foi 100% compatível com ela. Os pais também não eram 100% compatíveis, ela entrou no cadastro que chama “REDOME”. — Inclusive, eu estou nesse cadastro e é uma coisa que eu queria deixar aqui… É um à parte que eu estou fazendo aqui: sejam doadores de medula óssea. O cadastramento é simples, você procura… Aqui em São Paulo é a Santa Casa, eu não sei nos outros estados como é, mas geralmente é a Santa Casa ou o Hospital das Clínicas, enfim… Você doa um pouco do seu sangue. É só isso, gente, é apenas isso… O seu sangue fica lá num banco que, se alguém for compatível com você, eles te ligam e aí você vai fazer o procedimento de doação de medula, que também é uma coisa mais simples assim… Não é nada… Vou pedir para Marina, no final do episódio, falar pra gente como é esse transplante de medula. Eu já estou no banco, sei lá, há pelo menos uns 15 anos acho… Mas tô lá. Então agora vamos voltar aqui. — 

A Marina não encontrou ninguém compatível, — ali no cadastro do REDOME, né? — e aí as opções foram acabando, né? — Agora a gente já tinha entrado em 2007. — Em abril de 2007 deram alta pra Marina, porque não tinha mais o que fazer, assim… Ela já tinha passado por oito ciclos de quimioterapia e não resolvia. E aí ela foi praticamente liberada… — Tipo uma sentença de morte mesmo. “Agora é só esperar”. — E aí os pais da Marina não conformados, eles falaram: “Não, tem uma chance… Se a gente tiver um filho e usar o cordão umbilical, né? A gente pode usar as células tronco do cordão umbilical”. E aí o médico chegou a comentar com eles que talvez a Marina não aguentasse os nove meses da gestação até o bebezinho nascer pra usar aí esse cordão. 

Mas mesmo assim os pais da Marina resolveram tentar e na segunda tentativa de fertilização in vitro, eles engravidaram. E aí a mãe da Marina estava grávida de gêmeos… Só que tinha uma questão: Geralmente gêmeos eles nascem antes… Eles não chegam ali até 39, 40 semanas que é quando o cordão já está bem cheio de sangue, né? E que você pode usar aquelas células tronco. E os bebezinhos eles nasceram na 27ª semana… Eles nasceram muito pequenininhos, ficaram na UTI, nasceram com 900 gramas cada um. — Com baixo peso. — O umbiguinho tinha pouquíssimas células tronco, não deu para aproveitar nada… E aí eles voltaram à estaca zero, só que agora eles tinham três filhos correndo risco de morte, né? — Que eram os dois bebezinhos e a Marina. — 

Os bebezinhos ficaram um tempo internados e eles conseguiram sair dessa, ficaram 45 dias na UTI… E aí, assim, eles foram ganhando peso e tal, foram ficando legais assim, não tiveram nenhuma sequela. E aí tinha que esperar os pezinhos completarem um ano para fazer a compatibilidade, né? E aí, gente, quando os bebezinhos completaram um ano… — a Marina ainda estava lá esperando. — Resultado: Os bebês não eram compatíveis com Marina… Enquanto isso, a Marina ia aí vivendo como dava. Ela começou um novo ciclo de quimioterapia, — um outro protocolo — e, nesse meio tempo, ela foi se interessando por medicina e aí um dia, — um pouco antes de começar um novo ciclo de quimioterapia — ela resolveu prestar vestibular para medicina, assim, sabe? Sem nenhuma intenção de passar. E não é que Marina passou? 40 dias depois ela recebeu ali um comunicado da Universidade dizendo que ela tinha passado. 

Só que os pais dela não queriam que ela cursasse, né? Porque ela não podia ficar muito exposta, né? E estudando medicina ela ia ficar muito exposta, ia ter que estar no hospital para outras coisas que não a quimioterapia e tal… Só que aí conversando com os médicos da Marina e fazendo direitinho ali tudo o que eles falaram, a Marina pode começar a cursar Medicina. E aí a Marina fez dois anos de medicina, conciliando com a quimioterapia… Até que o médico falou: “Olha, eu não posso mais te dar nenhuma medicação tão forte. A gente vai ter que finalizar esse tratamento, porque não tem organismo que aguente”. Ela já tinha tido pancreatite e tal, a função renal da Marina já estava meio alterada… Então o médico falou: “Bom, a gente tem que parar por aqui”. E aí a Marina ficou realizando ali hemogramas — semanais — e consultas ao hematologista para identificar qualquer sinal de recidiva da doença, de uma volta da doença, o mais rápido possível… — E aqui uma coisa muito bonita que a Marina falou, assim… — 

Como um ato de fé na vida e em Deus, — porque ela é uma pessoa religiosa também — a Marina resolveu mudar a data de aniversário dela. Então, quando terminou a quimioterapia que o médico falou: “Não vou continuar”, ela falou: “Bom, essa vai ser a minha data de aniversário e, daqui para frente, eu vou viver e vou comemorar essa data como sendo a data do meu renascimento.” Então no dia que terminou a quimio, — não tinha mais o que se fazer, né? — e era só agora acompanhar, a Marina criou esse novo aniversário. E assim os anos foram passando… 1, 2, 5, 8, 10 anos… Quando Marina fez 10 anos do novo aniversário ela fez um bolo de 10 quilos, de vários andares. — Eu amo bolo… — E foi a maior comemoração, assim, da vida dela. 10 anos depois do fim da última quimioterapia que não tinha mais o que ser feito e ela estava comemorando… 

E a vida acadêmica da Marina foi: Ela se formou em medicina, fez dois anos de residência em clínica médica e depois ela foi fazer residência em hematologia no mesmo hospital em que ela finalizou o tratamento. Pelo mesmo hospital que ela ia como paciente e que ela teve alta no dia 1 de abril de 2007, que ela disse que ela não voltaria mais lá, ela voltou… Mas agora como uma médica residente. A Marina foi a primeira residente de Hematologia do Hospital do Câncer de Goiás depois dos médicos que atendiam ela. Então eles que foram os residentes antes, e aí ficaram lá e tal atendendo, e a Marina depois voltou para ser residente lá… Isso em 2016. E era uma coisa, assim, muito louca, né? Muito emocionante. Porque aquelas enfermeiras que tantas vezes tiraram sangue ali das veias da Marina, os maqueiros que carregavam ela na maca — pra lá e pra cá — agora viam a Marina ali andando pelo hospital, saudável e fazendo residência, né? Atendendo as pessoas. 

A Marina ficou lá por dois anos na Hematologia do Hospital do Câncer de Goiás, terminou a residência lá e resolveu fazer outra residência em Transplante de Medula Óssea no Inca, no Rio de Janeiro. Também foi maravilhoso… E, em 2019, ela foi para Brasília trabalhar também na área de oncologia e agora… — A notícia, assim, o auge… — Em 2021 a Marina foi convidada para coordenar o serviço de Hematologia e Transplante de Medula Óssea do Hospital do Câncer de Goiás. — Sim… — Aquele hospital onde ela foi tratada e que ela tinha feito residência. — Gente… — E agora eu não tenho nem mais o que falar, né? Eu vou deixar a Marina falar um pouco pra gente, contar um pouco da história dela. Primeiro como paciente e depois a gente vai ouvir a Marina falar sobre transplantes de medula óssea, falar sobre o tratamento… E é isso, gente, vamos ter aí um pouco de Marina pra gente ouvir. 

[trilha] 

Marina Aguiar: Oi, meu nome é Marina Aguiar, atualmente eu tenho 33 anos, mas quando eu tinha 18 anos eu fui diagnosticada com leucemia linfoide aguda. O ano era de 2006, eu tinha acabado de passar no vestibular, estava ali cursando o primeiro ano e, no meio do ano, eu comecei a sentir umas dores muito fortes nas minhas pernas, uma dor óssea… E com isso veio também uma anemia que ninguém descobria o porquê dela, veio febre, comecei a emagrecer e comecei a buscar vários médicos, mas ninguém descobria ao certo que eu tinha. Passaram quatro meses, os sintomas pioraram e, por conta da anemia, fui encaminhada para um hematologista. O Hematologista ele já me pediu minha o mielograma, que é o exame da medula óssea. Depois desse exame fui diagnosticada. Meu diagnóstico foi um pouco tarde ali por conta dessa demora, estava com 93% de células leucêmicas no meu sangue e eu tive que internar de imediato para iniciar o tratamento. 

Tive que me internar no hospital público de Goiânia. Fiz o primeiro ciclo de quimioterapia, o segundo ciclo e não tive uma boa resposta. Como eu não obtive uma boa resposta, fui encaminhada para transplante de medula óssea, que é a outra alternativa terapêutica. Só que o meu irmão não era compatível comigo. Por conta disso, foi procurado então um doador para mim através do banco de doadores voluntários, o REDOME, mas também eu não tive muito sucesso nessa busca. Por causa disso, minha família, meus amigos e toda a minha cidade começou uma grande campanha de incentivo ao cadastro no banco de doadores de medula óssea. Quanto mais pessoas estivessem cadastradas, aumentava minha chance de conseguir um doador compatível. Na época eu saí em vários jornais, em televisão, chamando realmente todo mundo e informando o quão importante era o cadastro no banco de doadores. 

Mesmo depois dos oito meses do tratamento e dos vários ciclos de quimio, eu não consegui achar o meu doador compatível. Quando então eu terminei os oito ciclos de quimio, eu não tinha doador, então não teve como ser encaminhada por transplante. Por causa disso eu fui tida como uma paciente refratária e sem oportunidade de um medicamento que fosse eficaz ou uma terapia que eu tivesse uma chance maior de cura. E fui encaminhada para uma quimioterapia paliativa… Meus pais não aceitaram, né? E, como um ato de fé, decidiram fazer fertilização in vitro. Ela já era laqueada, né? Laqueada há 12 anos, então não podia ter filhos pelo método normal… Então teve que fazer esse tratamento de fertilização in vitro para engravidar. 

Essa alternativa foi para que eu conseguisse um transplante através do sangue do cordão umbilical e da placenta do meu irmão que viesse a ser gerado. Outros médicos foram bem claros que tudo isso poderia dar errado, eu poderia não sobreviver aos nove meses de gestação… A vontade de viver era muito maior e por isso a minha mãe engravidou. Como foi um tratamento de fertilização in vitro, onde você pode colocar mais do que um óvulo, a minha mãe engravidou de gêmeos. A gente ficou muito feliz, mas ao mesmo tempo o médico falou que não era uma alternativa tão boa, porque como eu já era adulta, eu já tinha um peso acima de 50 quilos, por isso o transplante de cordão umbilical precisaria de muita quantidade de células coletadas durante o parto. E, como num parto gemelar nem sempre a gente consegue levar até as 39 semanas de gestação, talvez isso seria ruim, porque um parto prematuro viria com menos quantidade de células e, infelizmente, foi exatamente isso que aconteceu. 

Quando a minha mãe estava com 27 semanas de gestação, a gente teve que levar ela às pressas para a maternidade para fazer um parto de urgência. Foi um parto de risco, meus irmãos nasceram com 900 gramas e foram direto para a UTI neonatal. Foi coletada as células, mas em pequena quantidade. Então não daria para eu fazer meu transplante através das células do cordão umbilical… Eu tinha voltado à estaca zero e não tinha nenhuma esperança terapêutica que pudesse me levar à cura. Com 45 ias de UTI os meus irmãos tiveram alta, saíram totalmente saudáveis. Em casa então a gente tentava ter uma vida normal, por conta de não ter um doador compatível, eu iniciei um tipo de protocolo de quimioterapia um pouco ainda mais intenso do que o primeiro que eu tinha feito. 

Nem sempre as pessoas conseguem tomar tanta quimioterapia assim, porque são agressivas, tem muito efeito colateral, são tóxicas para o organismo, mas como era jovem, com 18 anos, os médicos tentaram para que eu pudesse aguentar até ter o transplante de medula óssea. Não foi fácil, eu tive várias infecções… A minha função renal é alterada até hoje por conta dessas altas doses de quimioterapia. Apesar de todas as intercorrências, ainda assim, com muita esperança e muita fé de poder viver muitos anos pela frente. Eu nunca desisti da vida, de lutar… Independente dos resultados dos exames eu continuava sonhando. Por causa disso, eu decidi prestar vestibular pra medicina. Nesse período, eu comecei a me interessar muito pelos assuntos da hematologia, pra conhecer mais sobre essas doenças que cometiam tantos jovens… E, além disso, eu queria fazer medicina para ser uma médica diferente, para poder ter os dois lados da experiência, tanto quanto o paciente tanto quanto médica. 

Eu queria fazer uma medicina mais humana, mais empática, onde você sente realmente o que o paciente está descrevendo, todas as mágoas, todas as dores… Então foi isso que aconteceu, eu decidi então prestar o vestibular novamente e, mesmo eu não achando que eu ia passar, porque eu já estava ali há dois anos sem estudar para essas provas de vestibular, mesmo assim eu fui na fé. Meses depois, a minha prima me ligou falando que eu tinha passado, “parabéns” e eu nem lembrava, na verdade. Meus pais na época ficaram com muito medo, porque não queria deixar que eu fosse para ambientes onde eu pudesse entrar em contato com bactérias e vírus como nos hospitais. 

No primeiro ano de medicina eu fiquei mais nas aulas teóricas, às vezes eu matava algumas aulas… Nos dias em que eu ficava o dia inteiro tomando quimioterapia no hospital, esses dias eu tinha que estudar em casa à noite. E foi assim os meus primeiros anos da medicina, muita determinação, muita dedicação e também muito esforço, muita força de vontade e eu consegui fazer ali a faculdade e ir vivendo um dia de cada vez. Quando os meus irmãos fizeram um ano de idade, a gente fez o teste de compatibilidade e nenhum dos dois foram compatíveis comigo. Nessa época eu fiquei bem chateada, fiquei bem triste, pensativa… E foi nessa época que o médico falou: “Marina, nós já estamos aqui fazendo dois anos a mais de quimioterapia. Vamos parar com tudo agora, aguardar os resultados e aguardar se a leucemia vai progredir, se a leucemia vai voltar… E, se acaso ela voltar, a gente faz mais quimioterapia de novo. E procure o doador para o transplante de medula óssea”. 

Então eu parei de tomar as quimioterapias, fiz o exame da medula óssea e, finalmente, eu estava com 0% de células leucêmicas no corpo. Isso era um resultado muito bom, mas a gente ainda sabia que o alto risco da leucemia voltar era muito grande, porque eu não tinha tido uma boa resposta inicial à quimioterapia. Quando eu saí do hospital pela última vez, foi dia 1 de abril de 2007, aquele dia eu determinei que era o último dia que eu voltaria para o hospital. E, por isso, eu decidi mudar a data do aniversário. Não comemoro mais meu aniversário na data biológica, comemoro no dia primeiro de abril. Porque eu não tinha muita expectativa de dias pela frente, quanto mais anos pela frente… Então eu decidi comemorar por estar viva. E esse ano de 2022 eu faço exatamente 15 anos de renascimento. 

[trilha] 

Marina Aguiar: Eu sou médica hematologista, especialista em Transplante de Medula Óssea. Atuo hoje em Goiânia como coordenadora de Serviço de Hematologia e Transplante de Medula Óssea do Hospital do Câncer de Goiás. Trato de doenças oncológicas que são as leucemias, os linfomas, os mielomas e outras mais. Para quem não sabe, o transplante de medula óssea é uma forma de se tratar também essas doenças caso o paciente seja refratário à quimioterapia, seja um paciente de alto risco ou, por exemplo, quando volta a leucemia, volta o linfoma, a gente tem essa alternativa do transplante de medula óssea. O cadastro no banco de doadores voluntários de medula óssea é essencial para que os pacientes que não tenham um doador 100% compatível familiar, consigam ter, através do banco de doadores, uma possibilidade, uma chance de cura… Dar a ele a melhor forma de se tratar uma doença. 

Eu sempre falo das campanhas e sempre incentivo, porque realmente é essencial que as pessoas se conscientizem de que o cadastro é muito importante e pode salvar vidas. Então, se você tem entre 18 e 35 anos, você pode se cadastrar para ser um doador. Você pode ir num hemocentro da cidade ou no hemocentro mais próximo da cidade e lá você vai fazer o seu cadastro e vai coletar 5 ml do sangue para que a gente consiga ver então se ele vai ser compatível com algum paciente que está precisando de um doador para o transplante de medula óssea. Muita gente acha que vai se cadastrar e logo depois vai ser chamado para fazer a doação de medula. Para você ser compatível com alguém não aparentado, a chance é de uma a 100 mil para que o paciente ache um doador no banco de doadores voluntários. Então, é bem complicado… Por isso a gente precisa ter uma maior quantidade de pessoas possíveis cadastradas. 

Então, tem muitas pessoas que se cadastram e demoram anos e anos para serem chamadas, ou tem gente que até mesmo se cadastrou e nunca foi chamada para fazer uma doação de medula, porque essa compatibilidade é realmente uma em 100 mil, é muito difícil. Caso você seja chamado, eles vão entrar em contato com o telefone que você deixou no seu cadastro. Por isso é muito importante deixar sempre atualizado o número de telefone e endereço. Primeiro a gente faz uma bateria de exames no doador para ver também se ele está apto a fazer essa doação de medula. A doação é realizada de duas formas diferentes, primeiro ela pode ser realizada diretamente com uma coleta da medula óssea e essa forma é realizada em um centro cirúrgico, então a gente organiza um dia, o paciente interna bem cedinho, vai para o centro cirúrgico onde ele vai receber uma anestesia e a gente vai fazer uma punção da medula óssea dele. 

A medula óssea, nada mais é do que o tutano do osso, e aí lá a gente vai coletar o sangue diretamente da medula óssea. A pessoa recebe anestesia, dorme durante todo o processo, acorda logo depois e já pode se movimentar… Não tem pontos, não tem nada. E a pessoa pode ter alta no outro dia, só mesmo com repouso relativo, mais para recuperação e remédio para dor caso ela tenha dor no local. Essa é a forma da coleta de medula óssea cirúrgica. A outra forma também de coleta para as pessoas que às vezes têm medo de ficar em centro cirúrgico ou receber alguma anestesia, é a coleta no banco de sangue mesmo. Através do sangue periférico, da veia do braço… Esse paciente ele vai receber um tipo de medicação que é um estimulador de células da imunidade, que a gente chama “granulokine”. Por que a gente faz essa medicação? A gente faz essa medicação dias antes da coleta para que as células [jovens], as células troncos que estão presentes na medula óssea, sejam intensamente produzidas e possam ir para o sangue periférico, o sangue que corre nas nossas veias. 

E aí quando essas células então vão para o sangue das veias, é o momento que a gente faz a dosagem e faz a coleta através de uma coleta de sangue normal mesmo. Então a pessoa vai no banco de sangue, faz a punção na veia, o sangue sai por um lado do cateter, passa por uma máquina de aférese e essa máquina vai mesmo só coletar as células tronco, as células jovens da medula óssea que vão ser infundidas no paciente. Todas as outras células vão voltar para o braço do doador normalmente. O doador volta para casa nesse mesmo dia, não tem cortes, não tem efeitos colaterais… A medula óssea é um tecido que se regenera rápido e fácil. Então, dentro de 7 a 15 dias a medula óssea já vai estar totalmente regenerada. O doador não vai estar sentindo nada, já com o hemograma recuperado, totalmente saudável e normal, já até mesmo para fazer uma outra doação caso queira e caso encontre novamente outro paciente. 

Então, tem gente que acha que depois da doação fica com alguma sequela, fica prejudicado e isso não acontece. O transplante de medula óssea para o paciente também não tem cortes, não é uma cirurgia, é um procedimento. O paciente fica então internado, recebe uma quimioterapia em altíssimas doses para que a medula dele seja totalmente destruída. A gente faz os dias de quimio, a medula óssea dele é destruída, ele fica com anemia, fica com plaquetas baixa, mas a gente infunde essas células do doador, as células jovens, as células tronco… São infundidas como se fosse uma transfusão de sangue para que elas ocupem o espaço da medula óssea onde foi destruída e ali se regenera e comece a produzir as suas próprias células sanguíneas. 

A gente aguarda um período de tempo normal onde essas células tronco consigam ocupar o espaço da medula óssea do paciente e começar a produzir as suas próprias células. Depois desse período mais crítico, onde pode ocorrer infecção, onde pode ocorrer algumas intercorrências, a gente tenta deixar esse paciente o máximo possível monitorizado com todo o suporte possível para que a medula óssea nova e saudável dele comece a produzir suas próprias células. E assim é feita a doação de medula óssea… É muito importante que a gente fale que é um procedimento então que a gente faz todos os exames no doador possível para que nada de errado aconteça e ele não vai ter nenhum tipo de sequela depois, porque a medula óssea é um tecido que regenera. 

Eu quero agradecer ao convite, agradecer pela oportunidade… Porque eu acho que realmente é muito importante a gente divulgar e informar sobre o cadastro e doação de medula óssea, tanto para a população que quer ser doadora como também para o paciente que precisa ser informado do melhor tratamento possível. Hoje em dia nós já temos várias possibilidades de cura para a leucemia através da tecnologia e do avanço da medicina, a gente já tem quimioterápicos bem específicos, anticorpos bem específicos que agem diretamente naquela célula leucêmica, aquela célula alterada… Então, essas medicações novas são extremamente importantes nesse tratamento, principalmente das leucemias refratárias, das leucemias recidivadas… E esse tratamento é uma ótima oportunidade também pra esse paciente que voltou a sua leucemia e pode utilizá-lo como ponte para um transplante de medula óssea. É uma combinação terapêutica de grande valia para os nossos pacientes hoje em dia. 

Para quem gosta de saber mais sobre leucemia, sobre hematologia em geral, sobre transplante de medula óssea, convido vocês também a estarem lá no meu Instagram @dramarinaaguiar. Lá eu tiro todas as dúvidas… Caso você queira ser um doador de medula óssea e ficou em dúvida, pode me perguntar por lá, eu tenho vários vídeos e vários posts falando sobre isso. 

[trilha] 

Déia Freitas: E essa foi a incrível Marina falando como paciente e médica. Obrigada, Pfizer, amei participar da campanha. #BoraFalardeCâncer. Eu vou deixar todas as infos na descrição aqui do episódio. Sigam a @pfizer.brasil lá no Instagram. Valeu, Pfizer, tamo junto. Beijo grande. 

[vinheta] Alarme é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta] 

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.